quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

ACHADOS DA SEMANA: Madlib, Return to Forever, Emicida e Little Quail And The Mad Birds

Uma mudança no blog: O "ALGO ENTRE" acaba de virar "ACHADOS DA SEMANA". O conceito é o mesmo: Músicas que entrem si não dizem nada, mas que brotaram na minha frente e quero compartilhar.

MADLIB
Uma aula de groove, de produção, de hip hop... de música.

RETURN TO FOREVER
A formação da banda é tão impressionante que dispensa comentários. Apenas dê o play ai.

EMICIDA
Com direito a participação do grande Wilson das Neves.

LITTLE QUAIL AND THE MAN BIRDS
Me deu saudade da MTV Brasil dos anos 90.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

TEM QUE OUVIR: Santana - Abraxas (1970)

O cruzamento da música latina com o rock já havia chamando atenção desde a clássica interpretação de Ritchie Valens para "La Bamba". Entretanto, é justo afirmar que a grande miscigenação sonora ocorreu via Santana, e me refiro não somente ao lendário guitarrista Carlos Santana, mas a toda sua banda que levara seu sobrenome.


Se a apresentação histórica no festival de Woodstock - diga-se de passagem, regada a ácido - colocou-os sob os holofotes tanto da mídia quanto do público, o disco Abraxas (1970) consolidou a sonoridade do grupo.

Além da capa linda e altamente psicodélica, musicalmente o álbum também embarca no clima lisérgico de São Francisco. O começo com a transcendental "Singing Winds, Crying Beasts" é repleto de teclados jazzisticos, além guitarras e congas hipnóticas. A viagem se prolonga através da incrível "Incident At Neshabur", uma aula de improvisação e groove.

"Black Magic Woman / Gypsy Queen" (Peter Green) é de naturalmente melódica, ganhando ainda mais força através do timbre volumoso e gordo. Com seu fraseado típico, o Santana está a todo momento tentando (e conseguindo) domar a guitarra. Em "Samba Pa Ti" essa abordagem alcança níveis estratosféricos. Espetacular!

Puxando o caldo para os ritmos latinos - além obviamente da língua -, temos o mambo "Oye Como Va" e a ótima "Se A Cabo", onde Gregg Rolie (teclados), Michael Shrieve (bateria) e José Areas (timbales) deixam explicito a qualidade técnica do grupo. Isso, claro, sem nunca perder o astral dançante. 

É justo dizer que esse álbum ajudou a colocar não somente o Santana no mapa rock, mas todo um continente.

RETROSPECTIVA 2014: Bandas que acabaram / Bandas que voltaram

Bandas Que Acabaram
Golpe de Estado
Após a conversão do Catalau, a saída do Paulo Zinner e, agora, a morte do Hélcio Aguirra, duvido que o Nelson Brito consiga sustentar a banda com dignidade. Uma pena. Vai fazer falta.

Allman Brothers Band
Gregg Allman tá velhinho, então decidiu pendurar as chuteiras. Fez bem. Todas as atenções dos fãs se voltam agora para o Gov't Mule e para a Tedeschi Trucks Band.

Mötley Crüe
Dizem que estão em tour de despedida. Vai até quando essa picaretagem?

Madame Saatan
Era uma banda bacana. Apenas isso.

Crystal Castles
Mesmo sendo apenas um duo, as divergências internas não sustentaram a banda. Se preparem para duas boas carreiras solo.

Beady Eye
Boa banda, mas nada que uma provável carreira solo do Liam não dê conta.

Macaco Bong
Após várias tretas e muita polêmica jogada no ventilador, Bruno Kayapy decidiu encerrar a banda. Uma carreira solo dele atende bem essa lacuna.

O Chiclete com Banana também acabou, mas acho que nem para o carnaval da Bahia eles farão falta.


Bandas Que Voltaram
King Crimson
Uma volta do nada! Três bateras no palco, agenda lotada, disco ao vivo... é a grande volta do ano!

Electric Light Orchestra
Engoliram o Reino Unido. Por lá todos estão respirar ELO. Parece um sonho. É a volta do pop perfeito.

Ira!
Scandurra e Nasi voltaram a ser amigos ou vale tudo pela grana? Não sei, mas fato é que a banda é ótima e a volta por si só já é motivo para comemorar. Mas que o Gaspar e Jung fazem falta, fazem.

Módulo 1000
Esse revival do rock nacional 70's está ao menos rendendo shows para esses grupos obscuros. Eu gosto disso. [1]

Ave Sangria
Esse revival do rock nacional 70's está ao menos rendendo shows para esses grupos obscuros. Eu gosto disso. [2]

RZO
Se o rap nacional está em alta, nada mais justo que o RZO pegar a onda.

Curved Air
Voltam toda hora, mas como ninguém da a mínima (ainda que a banda tenha bons momentos), eles anunciam novamente.

Savatage
A lendária banda de heavy metal está com shows agendados pra 2015. Vamos aguardar.

Henry Cow
Quem diria, uma reunião da maior banda do rock in opposition. Curioso.

Colosseum
Não só voltaram, como voltaram com a formação "clássica". Pena que a chance de passar pelo Brasil é de -17%.

Robertinho de Recife
E com esse post já fechado, não é que vejo um teaser de uma volta do Robertinho de Recife com disco novo e shows para o ano que vem. Que maluquice ótima.

Voltas que não tenho nada a dizer: The Unicorns, The Blood Brothers e Gram.

ALGO ENTRE: Júpiter Maçã e Billy Idol

JÚPITER MAÇÃ
Hisscivilization (2003), talvez melhor disco do Júpiter Maçã (ou Jupiter Apple). Psicodelia divertida, estranha e criativa. Ele não é só maluco, mas também muito talentoso.

BILLY IDOL
Um momento progressivo do Billy Idol, artistas fanfarrão, mas que tem bons momentos. Fora que eu gosto muito do guitarrista Steve Stevens. Vale checar esse disco novo.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

RETROSPECTIVA 2014: Mortes

Começarei a retrospectiva de 2014 lembrando os nomes da música que nos deixaram. Vamos a eles:

Phil Everly - (19/02/1939 - 03/01/2014).
Membro da dupla Everly Brothers. Ícone do rock n' roll e da música country. Um dos artistas mais influentes do seu tempo. 

Hélcio Aguirra - (03/04/1959 - 21/01/2014).
Guitarrista do Golpe de Estado. Especialista em amplificadores. Fez parte do Harppia. Um dos grandes nomes da guitarra hard rock brazuca. 

Roy Cicala - (1941 - 22/01/2014).
Produtor/engenheiro de som em clássicos do Elvis, Lennon, Sinatra, Hendrix, Bowie, Miles, Queen, Aerosmith, Kiss, Lou Reed, Prince, Madonna, dentre outros. Morou no fim de sua vida no Brasil.

Pete Seeger - (03/05/1919 - 27/01/2014).
Lenda da música folk. Influenciou nomes como Bob Dylan.

Bob Casale - (14/07/1952 - 17/02/2014).
Guitarrista fundador do Devo.

Paco de Lucia - (21/12/1947 - 26/02/2014).
Excepcional violonista que universalizou o flamenco.

Scott Asheton - (15/08/1949 - 15/03/2014).
Baterista do The Stooges.

Frankie Knuckles - (18/01/1955 - 31/03/2014).
DJ/produtor pioneiro da house music. Lenda da música eletrônica. 

Jair Rodrigues - (06/02/1939 - 08/05/2014).
Talentoso, versátil e bem humorado cantor/crooner brasileiro. 

Bobby Womack - (04/03/1944 - 27/06/14).
Lendário compositor/cantor de soul music e r&b. Relevante até o fim de sua vida. 

Charlie Haden - (06/08/1937 - 11/07/2014)
Baixista ícone do jazz. Tocou com Ornette Coleman.

Tommy Ramone - (29/01/1952 - 11/07/2014)
Primeiro baterista e produtor dos Ramones. Era o último da formação original ainda vivo.

Johnny Winter - (23/02/1944 - 16/07/2014)
Lendário guitarrista/cantor/compositor de blues rock. 

Ariano Suassuna - (16/06/1927 - 23/07/2014)
Romancista e poeta brasileiro, idealizador do Movimento Armorial, que lançou ao mundo muito da expressão cultural do Nordeste, representado musicalmente principalmente através do Quinteto Armorial. 

Dick Wagner - (14/12/1942 - 30/07/2014). 
Guitarrista que trabalhou com Alice Cooper, Lou Reed e Kiss, além de ter liderado o The Frost.

Gustavo Cerati - (11/08/1959 - 04/09/2014) 
Vocalista, guitarrista e líder do cultuado grupo argentino Soda Stereo.

Jack Bruce - (16/05/1943 - 25/10/13)
Espetacular baixista que fez parte do Cream. Gravou com nomes como Frank Zappa e Lou Reed, além de ter uma sensacional carreira solo.

Ian McLagan - (12/05/1945 - 03/12/14)
Tecladista britânico que fez parte do Small Faces e do Faces.

Joe Cocker - (20/05/1944 - 22/12/2014)
Lendário cantor britânico. Dono de voz inconfundível e apresentação memorável em Woodstock.

Quem mais morreu? Segue essa interminável lista:
- Nelson Ned (Cantor/compositor de música tipicamente popular conhecido por suas canções românticas/bregas, voz potente, vida conturbada e baixa estatura).
- Ronny Jordan (Guitarrista de acid jazz e smooth jazz). 
- Dennis Frederiksen (Cantor que passou pelo Toto).
- Ernesto Paulelli (Violonista da rádio Bandeirantes na década de 30 e personagem da clássica "Samba do Ernesto" do Adoniran Barbosa).
- Márcio Augusto Antonucci (Cantor da dupla Os Vips. Fez grande sucesso na Jovem Guarda).
- Riz Ortolani (Compositor italiano de trilha sonoras).
- Nonato Buzar (Compositor maranhense. Trabalhou em diversas trilhas/temas da Rede Globo).
- Peter Hurley (Baixista da banda Extreme Noise Terror).
- Rosina Pagã (Cantora brasileira que fez muito sucesso na década de 1930, no auge da era do rádio).
- Nelson Nicolaiewsky (Músico, compositor e humorista brasileiro).
- Francesco di Giacomo (Vocalista da banda de rock progressivo italiana Banco Del Mutuo Soccorso).
- DJ Rashad (DJ pioneiro da subvertente Footwork).
- Franny Breecher (Influente guitarrista da banda Bill Haley & His Comets).
- Selim Lemouchi (Guitarrista e fundador do The Devil's Blood).
- Michael Jagosz (Vocalista original do L.A. Guns).
- Oderus Urungus (Vocalista figuraça do Gwar).
- Paulo Schroeber (Talentoso guitarrista que fez parte do Almah).
- Dave Lamb (Integrante da dupla de folk Brown Bird).
- João Paulo Fofão (Respeitado baixista do meio gospel).
- Jason McCash (Ex-baixista do The Gates Of Slumbers).
- Shane Gibson (Guitarrista que substitui por anos o Brian "Head" no Korn).
- DJ E-Z Rock (Coautor da música "It Takes Two", sucesso de 1988 que misturava rap com house).
- H. R. Giger (Criador de capas de discos de artistas como Danzig, Carcass e Celtic Frost).
- Martin Lister (Tecladista do Alphaville).
- Júnior (Guitarrista da banda espanhol Los Brincos).
- Don Davis (Compositor, maestro e orquestrador de trilhas sonoras. Trabalhos em Matrix e Jurassic Park 3).
- Hélcio Milito (Baterista e percussionista do Tamba Trio. Tocou com os principais nomes da bossa nova).
- Rafael Fruhbeck de Burgos (Regente da orquestra sinfônica de Montreal). 
- Marlene (Cantora brasileira que fez muito sucesso na era de ouro do rádio).
- Jimmy Scott (Cantor americano de jazz, conhecido por alcançar notas incrivelmente altas). 
- Horace Silver (Pianista e compositor americano de hard bop e soul jazz).
- Gerry Goffin (Marido e compositor de inúmeros hits da Carole King).
- Jorge Amiden (Fundador do O Terço e integrante do cultuado Grupo Karma. Ficou famoso ao usar uma guitarra de três braços).
- John Spinks (Guitarrista da banda The Outfield, banda famosa pelo seu hit "Your Love").
- Vange Leonel (Cantora, compositora e ativista GLS. Fez parte do ótimo grupo Nau).
- Randy Coven (Baixista que trabalhou com Malmsteen, Leslie West, Ark, Steve Vai, dentre outros). 
- Idris Muhammad (Baterista americano que tocou com nomes como Grant Green e Ahmad Jamal).
- Fausto Fanti (Humorista/criador que fez parte do grupo Hermes e Renato. Na banda Massacration interpretava o guitarrista Blondie Hammet).
- Zé Menezes (Músico, compositor e produtor. Tocou com Roberto Carlos e foi autor do tema dos Trapalhões, além de arranjador da Rede Globo. Grande violonista). 
- Rod De'ath (Baterista que acompanhou o guitarrista Rory Gallagher).
- Kenny Drew (Pianista americano de Jazz).
- Jake Hooker (Guitarrista da banda Arrows).
- Maria "Tristessa" Kolokouri (Integrante do Astarte).
- Nessa Chascarrillo (Baterista da banda TPM (Trabalhar Para Morrer)).
- Brian Farmer (Técnico de guitarra que trabalhou com bandas como Grateful Dead, Allman Brothers Band e Gov't Mule).
- Jason Curley (Integrante da banda australiana Tumbleweed).
- Tim "Rawbiz" Willians (Baixista que tocou nos últimos quatro anos com o Suicidal Tendencies).
- Glenn Cornick (Fundador e primeiro baixista do Jethro Tull).
- Jimi Jamison (Vocalista do Survivor).
- Miltinho (Veterano sambista brasileiro). 
- Marcos Z (Dj do Madame Satã, dono de casa noturna, loja de discos, produtor de shows e discos).
- Robert Young (Formador e guitarrista do Primal Scream).
- Kurt Linhof (Importante luthier de guitarras).
- John Gustafson (Baixista que tocou em grupos como Roxy Music, Ian Gillan Band, Quatermass, dentre outros).
- Joe Sample (Tecladista ícone do jazz fusion e que participou de gravações clássica do Marvin Gaye).
- Paul Revere (Organista percursor do rock inglês).
- Mark Bell (Integrante do LFO. Produziu a Björk).
- Isaiah "Ikey" Owens (Tecladista do Mars Volta e da banda do Jack White).
- Clive Jones (Integrante dos ousados grupos Black Widow e Agony Bag).
- Alvin Stardust (Cantor e guitarrista inglês que fez sucesso no final da década de 1970).
- James Levesque (Baixista fundador do Agent Orange).
- Wayne Static (Frontman do Static-X).
- MC Lello (Um dos representantes do funk ostentação de São Paulo).
- Rick Rosas (Baixista que acompanhou o Neil Young).
- Big Bank Hank (Uma das vozes do Sugarhill Gang). 
- Jimmy Ruffin (Cantor de soul da gravadora Motown).
- Luciano Leindecker (Baixista da banda Cidadão Quem).
- Lynsey de Paul (Cantora pop inglesa que chegou a lançar singles de sucesso no começo de 70). 
- Clive Palmer (Importante músico do Folk Britânico).
- Clemilda (Cantora representante da música popular nordestina).
- Roberto Bolaños (Criador e interprete dos personagens Chaves e Chapolin, além de autor daquelas composições horrivelmente maravilhosas do programa).
- Bobby Keys (Lendário saxofonista que tocou, entre inúmeros artistas, com os Rolling Stones).
- John Fry (Produtor do Big Star).
- Larry Smith (Produtor do Run DMC).
- Chris Sheehan (Guitarrista do Sisters Of Mercy durante boa parte da década de 1990).

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

TEM QUE OUVIR: Ramones - Ramones (1976)

Antes dos Ramones surgirem, era extremamente intimidador para adolescentes montarem uma banda de rock. The Who, Led Zeppelin, Pink Floyd, Yes... nem todos eram capazes de alcançar aquele nível técnico e conceitual. Com os Ramones o sonho tornou-se possível e o rock voltou a encontrar no estilo básico - mas não medíocre - o seu encanto.


Lançado em 1976, o clássico disco homônimo de estreia dos Ramones não causou tanto impacto comercial quanto muitos imaginam. Todavia, hoje só de olharmos para a capa contendo aqueles quatro jovens de jeans rasgados, jaquetas de couro e all star sujos em frente a um muro pixado, já sabemos de imediato o que esperar.

Diferente de agora, onde bandas parecem brotar de pranchetas de estudantes de marketing direto para palcos do Lollapalooza, os Ramones ralaram durante anos nos lugares mais imundos de Nova York, dentre eles o mitológico CBGB. Devendo em habilidade técnica, mas distribuindo atitude, eles encaram plateias que iam de junkies anônimos a junkies famosos (vide Lou Reed e Iggy Pop).

Lançado pela Sire Records, Ramones custou 6.400 dólares - uma merreca impressionante para o mercado glamourizado da época - e poucas horas de estúdio. Disso vieram as clássicas "Blitzkrieg Bop" (dispensa apresentações), "Beat On The Brat" (com palhetadas certeiras de Johnny Ramone nos poucos power chords de sempre), "53rd & 3rd" (contendo uma letra espetacular de Dee Dee sobre a época que se prostituía para bancar o vício em heroína) e a encantadora "Judy Is A Punk" (onde a influência das girl groups se faz valer).

Em meio a coisas que eles "não queriam fazer" - vide as acachapantes"I Don't Wanna Go Down To The Basement" e "I Don't Wanna Walk Around With You" -, surge o momento romântico/melódico da boa balada "I Wanna Be Your Boyfriend" (com a interpretação singela e precisa de Joey) e o desejo de cheirar cola na impactante "Now I Wanna Sniff Some Glue". Todas extremamente curtas e trazendo tanta visceralidade quanto excelência pop.

Ainda que o proto-punk de bandas como Stooges, MC5 e New York Dolls já existisse e tenha influenciado diretamente o som dos Ramones, não é absurdo colocar o grupo nova-iorquino como o verdadeiro pilar do punk rock, tendo com os menos de 30 minutos deste disco influenciado gerações de bandas que vão do Bad Brains aos Green Day, passando pelo R.E.M., Metallica, Sonic Youth, Red Hot Chili Peppers, Melvins, Rancid e Pearl Jam.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

RETROSPECTIVA 2014

Mês de dezembro, mais um ano chegando ao fim. O quarto deste humilde blog. Da mesma forma que fiz nos anos anteriores, postarei uma retrospectiva contendo os grandes lançamentos (e relançamentos) do ano, as decepções, as músicas que não podem passar despercebidas, os melhores shows vistos por mim, os clipes mais legais, as bandas que voltaram, as que acabaram, além de uma pequena homenagem aos ídolos da música que morreram. Aguardem!

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

TEM QUE OUVIR: Robert Wyatt - Rock Bottom (1974)

Robert Wyatt já era um músico experiente em 1974. Havia virado as estruturas do rock de ponta cabeça a frente do Soft Machine, lendária banda de rock progressivo/jazz rock da vanguardista cena de Canterbury. Todavia, sua efervescência criativa aliada ao talento o levou para uma prestigiada carreira solo, justificada no belo Rock Bottom.


Wyatt, antes baterista, se viu diante de limitações oriundas de uma tragédia. Enquanto viajava com sua esposa, a atriz Alfreda Benge, sofreu um acidente que o tornou paraplégico. Foi na cadeira de rodas e após longo período de recuperação que ele compôs e gravou a obra.

Do clima frio, passando por texturas sensíveis e instrumentação refinada (com direito a clarinete, viola, sax e trompetes), o álbum é carregado por uma energia conturbada, mas que devido a qualidade de todos envolvidos, é exuberante em seu equilíbrio. Muito disso veio graças a produção do subestimado Nick Mason, baterista do Pink Floyd e amigo pessoal de Wyatt. A faixa "A Last Straw" chega até mesmo a remeter melodicamente a banda do produtor.

A percussão minimalista, que recorre ao uso de loops/programação (até então recurso incomum), é sonoramente precisa, além de ter sido uma solução inteligente para que Robert Wyatt, em meio as suas limitações, continuasse a implantar seu rico vocabulário rítmico em suas composições. Sua voz frágil e teclados jazzísticos também agregam valor a obra.

Se com o passar dos anos o engajamento político comunista do artista causou opiniões contrárias, aqui a abordagem poética e sentimental das letras sensibiliza a todos que dão a devida atenção. Da linda "Sea Song", passando pela quase world music "Little Red Riding Hood Hit The Road", o clima sombrio/estranho da dobradinha "Alifib" e "Alife", além das guitarras frippianas do Mike Oldfield em "Little Red Robin Rood Hood Hit The Road, o disco atinge a perfeição melódica, conquistada por um artista audacioso.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

TEM QUE OUVIR: Marianne Faithfull - Broken English (1979)

Existem duas Marianne Faithfull. A primeira é uma jovem lolita, linda e interprete de canções de sucesso da década de 1960, vide "This Little Bird". A segunda, uma cantora inspirada por seus romances fracassados e ingestão descontrolada de drogas. É justamente durante essa fase conturbada de sua vida que veio seu grande clássico, o denso Broken English (1979).


Se na juventude Marianne era uma namoradeira de astros como Mick Jagger (que com Keith Richards cedeu diversas canções para a moça, vide "As Tears Go By"), ao chegar na fase balzaquiana, ela colhia infidelidade de seus parceiros, que misturada ao seu voraz apetite por drogas, e a até mesmo a influência do punk rock das noites britânicas, desencadeou em poesias impactantes, que remetem diretamente a obra da Patti Smith (quem inspirou quem?).

Dentre as letras que mais chamam atenção está a amarga "Why D'Ya Do It", um épico dos conflitos, retratando o ciúme feminino de maneira exuberante. Um dos maiores textos da história da música. Algo que Lou Reed invejaria.

Instrumentalmente o disco não parece se apoiar em nenhum estilo, tendo vestígios de blues, reggae e folk somados a passagens eletrônicas frias, sendo um dos embriões da new wave, como pode ser conferido em "Broken English". Rouquidão, dramaticidade e bom gosto melódico fazem parte do leque vocal da artista, que emociona o ouvinte através de canções como "The Ballad Of Lucy Jordan" e, principalmente, "Working Class Hero".

Esse disco não serve de pano de fundo para ouvirmos enquanto fazemos outra atividade. Broken English merece atenção e cuidado no que diz respeito as composições. Só assim é possível desfrutar do que há de mais intenso e, até mesmo, punk - se não em sonoridade, com certeza em atitude -, na música daquele período.

TEM QUE OUVIR: Arcade Fire - Funeral (2004)

Se hoje o Arcade Fire está na crista da onda do rock alternativo, sendo headliner em festivais pelo mundo todo, isso não se deu de uma hora pra outra, mas sim através de uma discografia de alta regularidade que chama atenção desde seu primeiro álbum, o já clássico Funeral (2004).


Arquitetado diante da perda de familiares dos integrantes, o álbum é um tributo a morte. As canções rodeiam memórias e sentimentos profundos, mas que devido o instrumental grandioso, acaba soando mais esperançoso do que soturno. A sequência de "Neighbourhood" é o maior exemplo disso.

Assim como acontece com o Flaming Lips, a junção entre o pop rock - horas melodioso, horas barulhento -, a música folk tradicional e a sofisticação de arranjos orquestrados, é preciosa. E é exatamente essa riqueza proporcionada por violinos e pianos uma das grandes qualidades do grupo. Neste quesito, nada soa mais espetacular que a linda/épica "In The Backseat".

Como destaque é possível citar também a modernização do art rock em "Une Anée Sans Lumière", a vigorosa "Wake Up" e a bela balada "Crown of Love".

O álbum despertou interesse na época de seu lançamento via internet, chegando pouco tempo depois a nomes como David Bowie e U2, que não se acanharam ao elogiar a banda. Eis o começo de uma história exuberante que ainda está sendo escrita.

Uma curiosidade: na edição japonesa, o disco vem com uma versão bônus de "Aquarela do Brasil", clássico da música brasileira de autoria do Ary Barroso.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

ALGO ENTRE: Fito Paez e White Noise

FITO PAEZ
Um daquelas boas melodias do pop rock argentino. Ele é um grande compositor.


WHITE NOISE
Quando a música eletrônica, a psicodelia e a vanguarda se encontram numa coisa só. O debut deles - An Electric Storm (1969) -, é um clássico cult.

sábado, 29 de novembro de 2014

TEM QUE OUVIR: The Beach Boys - Pet Sounds (1966)

Existe ainda hoje quem de imediato associe os Beach Boys ao surf rock divertido de seus primeiros álbuns. Todavia, na hora de apontar o grande clássico na imensa discografia do grupo, é praticamente unânime a escolha de Pet Sounds (1966).


É lendária a "rivalidade" que o grupo teria com os Beatles (que acabara de lançar Rubber Soul), sendo cada disco uma resposta criativa ao "adversário". Mas muito mais que uma suposta competição, Pet Sounds (1966) é o registro que serve de base para muito do que a música popular iria (e irá) encarar nas décadas seguintes.

Composições não menos que geniais - superando os antigos temas: praia, sol, carros e biquíni - recebem arranjos absurdos e cristalinos. Isso foi arquitetado pela mente alucinante/paranoica/genial de Brian Wilson, que transitava entre as mais elaboradas estruturas da música erudita, experimentações psicodélicas e a abordagem acessível e melódica da música pop jovem. Daí brotam pérolas clássicas como a deliciosa (e mega citada em filmes) "Wouldn't  It Be Nice" e a sentimental "God Only Knows". Ambas tão solares quanto angustiantes.

Entre orquestrações - com direito aos mais diversos pianos, instrumentos de cordas sinfônicos, trombetas, flautas, sinos, teremin, campainhas, latas, latidos e outras traquinarias -, e harmonias vocais alucinantes, destacam-se "You Still Believe In Me" e as lindas "Don't Talk" e "Caroline No". 

A colaboração de músicos requisitados da Wrecking Crew - vide Carol Kaye (baixo), Jim Gordon (bateria), Hal Blaine (percussão), Tommy Tedesco e Barney Kessel (guitarra) - e a utilização de técnicas de gravação como a wall of sound - de criação do lendário Phil Spector -, deram o toque de sofisticação e grandiosidade sonora necessária a obra, exemplificado na exuberante "Let's Go Away For Awhile".

A dramaticidade das interpretações e das letras também ajudaram no prestigio quase irracional que a obra ganhou com o passar dos anos, ainda que a Capitol não tenha se esforçado na divulgação do disco na época de seu lançamento. Um trabalho que transcende o tempo e, que no final das contas, sobrevive graças a profundidade do resultado sonoro. Clássico da capa até a última nota.

A neo-psicodelia que vale a pena

Neste exato momento em que escrevo essas mal traçadas linhas, está passando no canal BIS o show do Tame Impala no Popload Festival, um festival que merece aplausos por trazer ao Brasil bandas nem tão óbvias em lugares pequenos.

Mas voltando ao Tame Impala: não entendo essa aclamação. Acho a banda superestimada desde que ouvi o fraco Lonerism (2012). De que adianta guitarras vintages, delays intermináveis, luzes piscando e telão com cores lisérgicas, se as composições são insossas?

Com tantos grupos interessantes, impressiona muitos considerarem o Tame Impala como o grande representante desta nova cena psicodélica que vem há anos ganhando espaço. Pensando nisso, fiz uma lista só com bandas que lançaram discos em 2013. Tem psicodelia de todas as formas possíveis e de várias partes do mundo.

Obs: Desisti de assisti o show do Tame Impala. Preferi ver no SBT a homenagem ao criador do Chaves e Chapolin, o grande Roberto Bolaños.

Earthless

Thee Oh Sees

Acid Mothers Temple

Bombino

Catavento

Deerhunter

Foxygen

The Baggios

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

TEM QUE OUVIR: O Terço - Criaturas da Noite (1974)

Rio de Janeiro, conhecida musicalmente como o berço do samba, foi a cidade que mais abraçou o rock progressivo, que explodiu principalmente na Inglaterra na primeira metade da década de 1970. Do Rio saiu O Terço, grupo que lançou Criaturas da Noite (1974), um dos trabalhos fundamentais do rock nacional.


Já com dois discos na bagagem e mudanças de formação, a banda se encontrou na união de Sérgio Hinds (guitarra), Sérgio Magrão (baixo), Luiz Moreno (percussão) e Flavio Venturini (teclados), sendo que todos colaboram com sofisticadas harmonias vocais, vide o que acontece na linda "Criaturas da Noite", com direito a arranjo orquestrado e final épico.

"Hey Amigo", dona de espetacular introdução de dinâmica crescente, é um dos grandes clássicos do rock nacional setentista. O mesmo vale pra grandiosa "1974", que reúne o que há de mais viajante no progressivo, tendo leves toque de Pink Floyd e melodias fantásticas.

"Pano de Fundo" e "Volte Na Próxima Semana" transparecem uma estranheza tanto na letra (que lembra o que os Titãs faria anos depois) quanto no instrumental rebuscado. Já "Ponto Final" é uma bela composição calcada em teclados/sintetizadores modernos da época.

Somando ao estilo uma originalidade brasileira, característica herdada pelo Venturini (que fez parte do Clube da Esquina), O Terço conseguiu uma importante identidade sonora. Isso fica nítido na caipira "Queimada" (com direito a violas) e na folk "Jogo das Pedras".

Embora cultuado somente num nicho saudosista, ouvir Criaturas da Noite, além de ser uma experiência extremamente prazerosa, pode servir de aprendizado para as novas gerações de como fazer rock com raízes brasileiras.

ALGO ENTRE: Brian Eno e Geddy Lee

BRIAN ENO
Sabe a música da década de 1980? Pois então, foi o Brian Eno que inventou.

GEDDY LEE
Sonzeira que abre o disco solo do Geddy Lee. Conheci somente agora.

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

TEM QUE OUVIR: Neil Young - On The Beach (1974)

Após o sucesso comercial e artístico do álbum Harvest (1972), criou-se uma expectativa para o que o Neil Young estaria fazendo. Já tratado do vício em heroína e superando a perda de amigos para as drogas - incluindo o parceiro de Crazy Horse, Danny Whitten -, On The Beach (1974) é a lágrima cristalina de uma fase melancólica do artista, comumente chamada de ditch trilogy.


Embora de voz frágil, "Walk On" soa como um convite à superação. Todavia, a tristeza parece enraizada na doce balada caipira "See The Sky About To Rain" - com direito ao pedal steel fabuloso do Ben Keith - e na ritmicamente arrastada "On The Beach", que traz um dos grandes momentos na guitarra do Neil Young.

Os membros da The Band - Levon Helm (bateria) e Rick Danko (baixo) -, além de David Crosby (guitarra), colaboram em "Revolution Blues", que faz referência ao psicótico Charles Manson. O blues também dita o ritmo na ótima "Vampire Blues" - dona de um solo de guitarra estranhíssimo - e na longa "Ambulance Blues". Já a vibe rural puxada para a country music está presente no banjo de "For The Turnstiles".

O clima depressivo que rondava o artista não foi desta vez bem recebido pela crítica e as vendas do disco não corresponderam a expectativa. Todavia, após o Neil Young relutar durante anos em relançar a obra, o álbum ganhou seu devido reconhecimento, muito graças a sinceridade das composições e da interpretação, que captam a ressaca da contracultura.

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Pitacos sobre o show do Macca

Faz menos de 24 horas que presenciei o show do maior compositor vivo e, muito provavelmente, maior compositor da música POP de todos os tempos. É óbvio que estou falando de Paul McCartney. Como de costume, gosto de dar pitacos sobre o que vi, só que desta vez as 140 caracteres do Twitter não foram suficientes. Deste modo, meio embriagado, recorro a esse meu humilde blog.

1º Pitaco: Allianz Parque.
Pode chamar de clubismo, birra, inveja ou qualquer outra palavra que tente desmerecer a minha honesta opinião, mas o que penso é que o Allianz Parque é conceitualmente uma droga. É evidente que o fácil acesso é uma maravilha (que, diga-se de passagem, de nada adianta ter metrô do lado se quando os eventos acabam ele está fechado, vide ontem), mas me incomoda essa "modernização" sem propósito. Para espetáculos musicais, a nova arena nem se compara ao antigo Palestra Italia (melhorou muito no quesito acústica), mas para jogo acho lamentável. Deixa passar a euforia e começará a aparecer pessoas com saudades de comer amendoim, sentado no cimento, de chinelo, vendo o pequeno Palmeirinhas jogar. Cadeira numerada, escada rolante, cerveja sem álcool e ar condicionado é o escambal! Típico do futebol corporativo dos tempos atuais. Se for pra ser assim, sou bem mais o trambolho antiquado do Morumbi. Por isso reitero a grande lema da torcida do Juventus: "Ódio eterno ao futebol moderno!".

2º Pitaco: Que outro artista pode se orgulhar de ter esse nível de composições em seu repertório?
Eight Days A Week, All My Loving, Let Me Roll It, Nineteen Hundred And Eight-Five, Blackbird, Eleanor Rigby, Band On The Run, Back In The U.S.R.R., Let It Be, Live And Let Die, Hey Jude, Day Tripper, I Saw Here Standing There, Yesterday, Helter Skelter, Golden Slumbers, Carry That Weight e The End... só para citar algumas. É muita coisa, não!?

3º Pitaco: A simpatia.
Confesso que não esperava que um artista que não precisa provar mais nada para ninguém, com grana de enriquecer gerações e mais de 70 anos nas costas, pudesse soar tão revigorante quanto diziam. Mas é verdade. Ele é bem humorado e, mesmo que o show seja milimetricamente ensaiado, a espontaneidade com que ele lida com a plateia é de verdade, basta ver os vídeos da mesma tour em outros países.

4º Pitaco: O músico.
Tem baixista mais melódico que o Macca? Além disso, ele é um guitarrista e pianista esforçado com momentos de genialidade e cantor subestimado. Sua banda também é de nível elevadíssimo. Como é bom ver isso as vezes.

5º Pitaco: A praga do disco recente é uma injustiça com Paul.
Não importa o nível das composições que o Paul venha apresentar, nada se equivale ao estardalhaço emocional provocado no público no momento em que o primeiro acorde de uma das canções dos Beatles ecoa. Nem mesmo as do Wings parecem sensibilizar com a mesma intensidade a plateia, quem dera as boas faixas do disco New (2013). Mas até ai não dá para reclamar, é normal. Até os deuses sofrem com a "maldição do trabalho novo".

6º Pitaco: O público continua mal educado.
Infelizmente, não foram só as ótimas músicas já citadas que ouvi. Escutei também palmas de senhoras em tempos que faria os caras do Meshuggah coçarem a cabeça. Mas até ai faz parte do pacote. O que me irrita é papo furado durante as músicas e "rockeirice beberrona conservadora pseudosuperior" digna de me fazer querer sair de lá correndo direto para uma balada sertaneja. Tem que ter muito saco para aguentar esse público meia-idade advogado/rockeiro.

7º Pitaco: Sir nada, é Santo mesmo.
Se começar a chover em São Paulo como no dia do show e não enfrentarmos problemas sérios com o abastecimento de água e, o mais difícil, o Palmeiras voltar a ganhar títulos, pode canonizar o Paul porque seus milagres já estão ultrapassando os limites da arte.

sábado, 22 de novembro de 2014

TEM QUE OUVIR: Weezer - Weezer (1994)

Comportados, inteligentes e de classe média. Típicos geeks antes disso tornar-se moda. O diagnostico não parecia promissor para uma banda de rock em meio a popularidade niilista do grunge, mas o resultado alcançado pelo Weezer em seu álbum de estreia é arrebatador.


Produzido por Ric Ocasek (líder do The Cars) e apelidado por motivo óbvio de Blue Album, o disco parece transitar sonoramente entre as vertentes que eclodiam na época, do pop punk do Green Day, passando pelo shoegaze do My Bloody Valentine e a acessibilidade melódica do britpop do Blur. 

A explosão melancolicamente juvenil (e em 6/8) de "My Name Is Jonas" é revigorante. Na sequência, "No One Else" soa irresistível através de um instrumental incrivelmente simples, ótimos ganchos melódicos e timbres encorpados. A balada amargurada "The Word Has Turned And Left Me Here" completa a abertura do disco com chave de ouro.

Poucos são os hits do rock 90's tão divertidos quando "Buddy Holly", que se por si só já é atrativa, fica ainda melhor através do clássico clipe dirigido pelo Spike Jonze.

Não é difícil perceber traços de Pixies na dinâmica crescente da bonita "Holiday" e, principalmente, da delirante "Undertone - The Sweater Song", dona de refrão pegajoso e guitarras barulhentas. Já a ótima balada "Say It Ain't So" agrada devido seu groove aconchegante - embora a letra trate de conflitos familiares -, além de refrão explosivo.

"Surf Wax America" (com traços do que o Blink 182 viria a fazer posteriormente) e "In The Garage" (excelentes guitarras!) completam o álbum expondo a qualidade composicional do grupo dentro de uma fórmula aparentemente simples.

Todas as faixas revelam uma visão "romântica" da vida sofrida/fracassada de um jovem nerd. O Rivers Cuomo soube compor e interpretar canções que expõem não somente a sua personalidade, mas de boa parte da sua geração. Clássico do power pop/pop punk/emo/rock alternativo 90's.

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

TEM QUE OUVIR: Daniel Johnston - Hi, How Are You: The Unfinished Album (1983)

Atualmente, graças aos avanços das tecnologias, é perfeitamente possível gravar e distribuir suas músicas sem sequer sair de casa. Todavia, antes mesmo da softwares de áudio e redes sociais serem inventadas, um jovem chamado Daniel Johnston - motivado exclusivamente pelo impulso artístico que latejava em sua produtiva e enlouquecida mente -, produziu Hi, How Are You (1983), uma pérola cult.


Lo-fi e minimalista na essência, seja por limitações técnicas e/ou estética, a obra é antes de tudo uma manifestação espontânea e singela. Gravado em seu porão, com poucos recursos e muito ruído, Daniel Johnston, a beira de um colapso psicótico, transita entre Bob Dylan e Elton John, agregando valores punk (DIY) ao folk, "criando" o "mercado" alternativo/indie. 

Assim como a espetacular capa - que anos depois estamparia a camiseta do Kurt Cobain -, contendo um monstro esquisitóide e uma apresentação simpática, o disco é belo em sua inocência e dono de alta perspicácia composicional, seja através de melodias agradáveis ou de letras que fundem o nonsense com a tristeza de um coração partido. Deste modo, até mesmo o instrumental rústico, a execução falha e a voz tímida, parecem contribuir com a obra, dando ainda mais profundida emocional para as composições. Os destaques que correspondem esses valores são "Walking The Cow", "I Am A Baby (In My Universe)", "Desperate Man Blues" e "Hey Joe". 

Entre aparições na MTV, listas de melhores discos em fanzines que ninguém lê, fitas caseiras (escute a maravilhosa 1990), internações em manicômios, devaneios espirituais e auto-boicote, Daniel Johnston sobrevive através do culto de nomes como Nirvana, Pearl Jam, Sonic Youth, PJ Harvey, Beck, Yo La Tengo, Wilco e Flaming Lips. Isso definitivamente não é pouca coisa.

TEM QUE OUVIR: Gil Scott-Heron - Pieces Of A Man (1971)

Desvendar a origem de estilos musicais é uma brincadeira recorrente para quem gosta de música. No caso do rap, as especulações vão desde o cantochão e embolado até o Bob Dylan em "Like A Rolling Stone" e, mais sensatamente, Grandmaster Flash. No meio do caminho está Gil Scott-Heron que, se não criou o estilo, contribuiu diretamente através de suas composições engajadas e estilo próprio de cantar.


O discurso em prol de uma revolução racial/cultural/comportamental nos EUA, o groove facilmente sampleavel e o canto-falado de "The Revolution Will Not Be Televised", é ainda hoje impactante. Além de ser uma música fantástica por si só, não dá para desvincular a canção do que hip hop iria propor anos depois.

Entretanto, ainda que a faixa seja o suficiente para despertar a atenção para o álbum Pieces Of A Man (1971), nem de longe ela resume a qualidade do trabalho e do artista em questão. Muito pelo contrário, sendo esse o primeiro álbum de Scott-Heron em parceria com o pianista/flautista/compositor/produtor Brian Jackson, o que não falta são músicas fantásticas.

A jazzista "A Sign Of The Ages" tem melodias vocais adoráveis e passagens de piano (Brian Jackson), baixo acústico (Ron Carter) e bateria (Bernard Purdie) de genialidade absoluta. 

Mais puxada para a soul music, mas não menos sofisticada, está a brilhante "Or Down You Fall", com direito a ótimo solo de flauta.

E o que dizer da épica "The Prisioner"? Uma faixa extremamente ousada, ainda que mantendo uma adorável sensibilidade/acessibilidade melódica. Atenção para a linha de baixo.

Quem vai de encontro ao disco pelos caminhos "retrovisionados" do hip hop tem tudo para se surpreender com uma obra impecável que merece sair do limbo cult e ir direto para os clássicos da música.

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

ALGO ENTRE: Gojira e Fagner

GOJIRA
Vi uma entrevista recente do Slash onde ele fala que, se por um lado o rock atual está muito básico, o metal está em seu melhor momento. Tomando bandas como o Gojira como referência, eu chego conclusão que ele está certo.

FAGNER
É maravilhosamente "brega" e popular, mas também muito bem escrito e interpretado. Não só essa música, mas o disco inteiro. No baixo, o lendário Jamil Joanes. Meu disco de fazer faxina predileto (tô falando sério).

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

TEM QUE OUVIR: Meat Puppets - Meat Puppets II (1984)

Costumo brincar dizendo que algumas bandas são "tudo que o Nirvana queria ser". Entre Pixies, Sonic Youth, Teenage Fanclub e Dinosaur Jr., está principalmente o Meat Puppets.


Filhos do classic rock, mas oriundos da cena hardcore, o grupo chamou atenção do Greg Ginn (Black Flag) que os levou para a sua gravadora, a SST Records. Depois de um primeiro disco barulhento, a banda desenvolveu um estilo próprio no segundo trabalho, Meat Puppets II (1984). 

Os irmãos Curt e Cris Kirkwood não negam a típica caipirice americana em suas composições. Ora ou outra a banda pende para o rockabilly turbinado ("Split Myself in Two"), country music ("Magic Toy Missing", "Lost" e "Climbing") e o southern rock ("We're Here" e "The Whistling Song"), isso sem abandonar o espírito e a atitude visceral do hardcore, como fica explicito principalmente em "New Gods". Já as instrumentais "Aurora Borealis" e "I'm a Mindless Idiot" são inrotuláveis e desconcertantemente fantásticas.

Kurt Cobain, que ajudou a trazer o grupo para os holofotes através de menções em entrevistas e do convite para o MTV Unplugged do Nirvana, sempre aparentou querer fazer parte de uma banda com as proporções sonoras e comercias de Meat Puppets. As três canções do grupo interpretadas no show acústico da banda grunge estão presentes neste disco. São elas as surreais "Plateau", "Oh, Me" e "Lake Of Fire".

Meat Puppets II é o perfeito cruzamento de Neil Young e Grateful Dead com Dead Kennedys e Ramones. Tem como isso dar errado? Um clássico cult do hardcore/rock alternativo que precisa ser mais conhecido.

TEM QUE OUVIR: Isaac Hayes - Hot Buttered Soul (1969)

Tem quem não saiba, mas antes do Isaac Hayes lançar a fantástica trilha sonora para o filme Shaft (1971), de proporcionar a linda orquestração de "Ike's Rap II" - sampleada tanto pelo Portishead ("Glory Box") quanto pelos Racionais MC's ("Jorge da Capadócia") - e de emprestar sua voz para o personagem Chef (South Park), ele já desbravava a soul music através do emblemático Hot Buttered Soul (1969).


Lançado num momento em que grupos como o Grateful Dead trabalhavam em intermináveis jams, Isaac Hayes explorou a soul music sem se limitar a estruturas pré estabelecidas do mercado. A Stax corajosamente não rejeitou a ideia e bancou o projeto. Como resultado tivemos quatro longas e maravilhosas canções.

A magia do disco já começa pela simples e icônica capa, estampando a cabeça iluminada de Isaac Hayves. Servindo as composições, o grupo The Bar-Kays distribui balanço e sofisticação na execução.

Burt Bacharach e Hal David (sempre eles!) aparecem enquanto compositores da apaixonante/sexual/tarantinesca "Walk On By", canção de groove contido e preciso, contendo belos timbres de guitarra e teclados, linha de baixo envenenada e arranjo cinematográfico. É uma abertura épica perfeita para o que estaria por vir.

Se o blues funkeado recheado de wah wah de "Hyperbolicsyllabicsesquedalymistic" é reconhecido através dos samples de Public Enemy e Notorious B.I.G., "By The Time" por sua vez é um rap legitimo. Seu longo discurso inicial falado é um dos alicerces sonoros do hip hop. É preciso também destacar a doçura arrojada da ótima balada pop "One Woman".

Muito melhor que justificar a excelência do disco, é ir direito a fonte e ouvi-lo. Um épico da black music.

terça-feira, 28 de outubro de 2014

TEM QUE OUVIR: Oasis - Definitely Maybe (1994)

Embora grupos como o Suede viessem há anos levantando a bandeira do novo britpop, foi só com a morte do Kurt Cobain - que levara consigo o grunge -, que foi possível reconhecer essa nova cena inglesa como uma alternativa para o rock mainstream. Influenciado por Beatles - e sem a menor vergonha na cara de copiá-los (ou ao menos tentar) -, e nenhum compromisso com o bom mocismo, público e mídia logo acolheram o Oasis, que despontava com um envolvente disco de estreia, Definitely Maybe (1994).


Oriundos de Manchester, o quinteto liderado pelos irmãos Noel e Liam Gallagher logo de cara satiriza o próprio futuro em "Rock N' Roll Star". Simples e contagiantes, "Shakermaker" e "Cigarettes And Alcohol" - qualquer semelhança com o riff de "Get It On" do T. Rex não é mera coincidência - são de eficiência gritante.

O grupo acerta na leveza das baladas, sempre preenchidas por ótimas melodias, principalmente nos refrões, feitos para serem cantados a plenos pulmões, vide a maravilhosa "Live Forever" e a sacolejante "Digsy's Dinner". Vale também citar a doçura acústica de "Sad Song".

Entre baladas e rock n' roll certeiros, temos a fantástica "Supersonic", dona de uma atitude digna de nocaute. O mesmo vale pra "Up In The Sky" e "Bring It On Down". Já "Slide Away" é o pop rock noventista perfeito.

Seja devido uma demanda desesperada ou por qualidades reais, fato é que o Oasis estava no lugar e na hora certa, sendo que seu debut deu nova esperança para o rock britânico. E o melhor é que esse foi apenas o primeiro capitulo de uma história que deu saltos ainda maiores.

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

TEM QUE OUVIR: Chico Buarque - Construção (1971)

Lançado em 1971, Construção foi o primeiro grande disco do Chico Buarque, artista que há anos vinha demarcando seu espaço como grande compositor de música popular brasileira. O trabalho serviu não só como meio de protesto político, mas também como firmamento de uma identidade de canção popular nacional.


Não mais se resumindo a já datada bossa nova, aqui o carioca branquelo de olhos claros invoca ousadia tanto nas composições quanto nos arranjos, sendo vários deles de autoria do Magrão (MPB-4) e outros do Rogério Duprat, lendário maestro das orquestrações tropicalistas. A produção ficou a cargo do Roberto Menescal. A eficiência deste timaço pode ser sentida na tensa "Deus Lhe Pague".

Mas não paramos por aí nas parcerias. Toquinho e Vinícius de Moraes colaboram em composições como "Samba de Orly", canção em homenagem aos artistas exilados pelo regime militar - dentre eles Caetano Veloso e Gilberto Gil - e que traz no instrumental a presença do Trio Mocotó. Poeticamente, "Cordão" também aborda sua resistência a truculência política.

A proximidade com o dia a dia do ouvinte passa pela encantadora "Cotidiano". Já o lado lúdico e apaixonado é priorizado na bela "Valsinha". "Minha História" mais parece tentar recuperar o estilo pop feito pelo Wilson Simonal, enquanto "Acalanto" é uma refinada poesia musicada.

Todavia, o grande hino do disco é a faixa homônima "Construção". Além de conter um instrumental épico, graças ao maravilhoso arranjo que serve de cenário para a narrativa, sua letra é não menos que emblemática. É uma critica ferrenha a alienação do sistema capitalista e da ditadura militar. A estrutura é formada por 3 blocos de 17 versos que mantém uma alternância da proparoxítona final. Definitivamente uma construção poética brilhante.

Há poucos anos, Chico Buarque foi eleito pela revista Rolling Stone Brasil o maior artista brasileiro vivo. Já Construção levou medalha de bronze no pódio dos melhores discos brasileiros de todos os tempos, sendo a faixa-título escolhida como a maior composição da música brasileira. Superestimado ou não, a excelência, assim como a lenda, resiste. Estimulado pelas dificuldades politicas do período, Chico gravou um clássico definitivo.

domingo, 26 de outubro de 2014

ALGO ENTRE: Kamau e Maldita

KAMAU
A letra não acho grande coisa, mas a produção é bem boa. 

MALDITA
Lembrei dessa música. Essa banda era até que interessante. Que fim deu?

TEM QUE OUVIR: Travis - The Man Who (1999)

Houve um tempo que era necessário ser subversivo e visceral para lançar um grande trabalho de rock. Com o amadurecimento do estilo e cooptação feita pela música pop, a qualidade melódica tornou-se a grande força para o longo alcance de uma obra. Neste quesito, o Travis se saiu maravilhosamente bem no belo The Man Who (1999).


Produzido por Nigel Godrich (Paul McCartney, Radiohead, U2, R.E.M., Beck, Pavement, Ride) e bebendo da fonte rock inglês - a banda é escocesa -, dos Beatles até o Oasis, o Travis passou a dominar como poucos grupos o quesito composição. Abordando temas sentimentais através de doces melodias e arranjos soberbos/introspectivos, é impossível não se deixar levar pela beleza de "The Fear". 

Há quem acha as composições excessivamente românticas para uma banda de rock. Além disso, a suavidade proporcionada pelos violões em detrimento das guitarras não foi vista com bons olhos por alguns. Tudo besteira. A profundidade sonora das lindas "Are You Are", "The Last Of The Laugher" e "Luv" compensa qualquer peso caricato.

"Writing To Reach You" foi acusada de plagiar a introdução de "Wonderwall" do Oasis. O público pareceu não se importar e fez do disco o mais vendido de uma banda britânica na Inglaterra, chegando ao absurdo de ter uma cópia a cada oito lares do país. A melodia venceu. O rock comportado tinha alcançado seu espaço com dignidade. Pena que os herdeiros dessa postura não corresponderam. Não é mesmo, Coldplay?