domingo, 29 de setembro de 2013

ESPECIAL MTV BRASIL: Os VJs

Fechando esse especial MTV Brasil, fica aqui minha homenagem aos meus VJs prediletos. Eles não somente me entreteram, mas também transmitiram muito do conhecimento de cultura pop. 

Fábio Massari
Honestamente não lembro tanto assim do Massari na MTV. Fui conhecer mais seu trabalho - como idealizador do livro sobre o Frank Zappa, textos e seus programas de rádio - posteriormente. Mas lembro que quando assistia o saudoso Lado B, ficava abismado como não conhecia nada e ao mesmo tempo gostava de tudo que ele mostrava. Recentemente, no seu especial para o retrospectivo My MTV, ele passou um clipe do Atari Teenage Riot que resume bem isso.

Gastão Moreira
O lado pesado da MTV. O responsável pelo lendário Fúria Metal (e posteriormente apenas Fúria). Honestamente, lembro de pouca coisa também, mas o suficiente pra despertar o interesse inicial pelo heavy metal. Deixo como clipe o sempre necessário AC/DC, banda predileta do Gastão. E já trago aqui uma novidade: o Gastão vai apresentar um programa semanal no YouTube chamado Heavy Lero junto do Bento Araújo, editor/criador da Poeira Zine. O programa vai ser dirigido pelo Edgard Piccoli, também ex-VJ da MTV. Promete!

João Gordo
O apresentador mais divertido da história recente da televisão brasileira. Ótimo entrevistador, engraçado, descarado e de carreira musical irreparável, tanto que é exatamente um clipe do Ratos de Porão que eu vou postar aqui.

Kid Vinil
Figura emblemática do rock brasileiro. Se para uma geração de punks ele foi fundamental devido as informações que compartilhava via programas de rádio, para mim ficou a imagem dele apresentado verdadeiros clássicos do "segundo escalão" do rock alternativo no Lado B. Lembro que foi num desses programas que eu conheci o Television. Talvez por isso sinta certo carinho pelo esquecido álbum Television (1992), que contém a ótima faixa "Call Mr. Lee", apresentada para mim pelo Kid.

Sabrina Parlatore
Tudo bem, ela podia não manjar grande coisa de música, mas era linda, simpática e chamava muitos dos clipes que eu mais curtia dentro da programação do Top 10. "Around The World" do RCHP é um deles. Era uma infância feliz.

Fica aqui também uma singela citação aos figuraças Cazé e Thunderbird, os engraçados Marco Bianchi, Paulo Bonfa e todos do Hermes & Renato, a linda Cuca e a apaixonante Luiza Micheletti.

sábado, 28 de setembro de 2013

TEM QUE OUVIR: Gong - Angel's Egg (1973)

O Gong é uma banda ímpar na história da música. Pelo grupo passaram alguns dos melhores instrumentistas das últimas cinco décadas, vide Steve Hillage, Kevin Ayers, Allan Holdsworth, Bill Bruford, Dave Stewart, Arthur Brown, além de seu enigmático líder Daevid Allen. A banda não tem uma nacionalidade específica. Alguns dizem que eles são franceses, outros ingleses, fato é que pertencem a cultuada cena de Canterbury. O som é uma mistura indefinida de jazz rock, rock progressivo, música psicodélica e space rock. Resumindo: para compreender o Gong é necessária a audição de vários discos, sendo o Angel's Egg (1973), a segunda parte da trilogia Radio Gnome Invisible, uma ótima porta de entrada.


"Other Side Of The Sky", faixa que abre o álbum, explora a gama infinita de sons que o Gong oferecia. Começa sendo um jazz, onde o saxofone do Didlier Malherbe é a peça fundamental, mas logo vira um som espacial, coberto pela pitoresca técnica do Daevid Allen na guitarra, chamada glissando, que consiste em usar um objeto metálico para produzir sons que se confundem entre o slide guitar e os sintetizadores.

O experimentalismo da "Sold To The Highest Buddha" se assemelha a um mantra jazzistico, enquanto "Prostitute Poem" é um jazz rock lisérgico que faria até mesmo o Frank Zappa ficar com inveja. As letras narradas pelo Daevid Allen são equivalentes ao surrealismo da capa do disco.

O cultuado guitarrista Steve Hillage - que fez parte do obscuro e excelente grupo Khan - se mostra não só um instrumentista de mão cheia, mas também excelente compositor, como pode ser percebido na sofisticada "I Never Glid Before", com direito a frases atonais e ritmos quebrados. 

Entre faixas curtas, arranjos ousados, instrumentação incomum e composições esquisitamente frenéticas, está a sensacional "Only Way", dona de melodias angulares estranhamente atraentes.

Não é sempre que ouvimos um grupo tão livre de barreiras quanto o Gong, talvez por isso a banda tenha se tornado tão cultuada e ramificada, ainda que caminhando sempre fora do grande circuito. Angel's Egg é uma brisa complexa e revigorante. 

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

ALGO ENTRE: Johnny Mathis e Vive La Fête

JOHNNY MATHIS
Johnny Mathis, um dos melhores cantores da música popular americana na década de 1950, acompanhado dos guitarristas Al Caiola e Tony Mottola. Conheci por ser influência declarada do Lanny Gordin. Harmonias de chorar.

VIVE LA FÊTE
O pop francês contemporâneo em mais um ótimo momento.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

TEM QUE OUVIR: Elton John - Goodbye Yellow Brick Road (1973)

Acho bobagem o papo de que não se produz música boa atualmente. Todavia, ouvindo Goodbye Yellow Brick Road (1973) - clássico do Elton John, que colocou o artista no topo da Billboard -, é que entendemos o quanto a música pop ficou rasteira.



Esse álbum duplo se deve a um surto de criatividade que o Elton John obrigou-se a ter. Ao ser impedido de gravar no estúdio que tinha previamente agendado na Jamaica, já que o mesmo não oferecia condições técnicas para realizar o trabalho, Elton John se enclausurou diante das letras do seu parceiro Bernie Taupin e musicou tudo de forma brilhante.

A épica "Funeral For A Friend/Love Lies Bleeding" caminha entre o glam rock e o rock progressivo, transitando por ambos estilos com fluência, evidenciando o talento de Elton John enquanto compositor, pianista e cantor. Ainda que acessíveis, as músicas apresentam arranjos soberbos, arquitetados pelo Del Newman, vide a estonteante "Grey Seal" e maravilhosa balada "I've Seen That Movie Too".

Entre os melhores momentos de Elton John enquanto interprete estão verdadeiras pérolas da música pop, como "Bennie And The Jets" - um r&b que fez muito sucesso inclusive nas rádios de "música negra" - e "Candle In The Wind" - composta em homenagem a Marilyn Monroe e posteriormente dedicada a princesa Diana -. E o que dizer da faixa que nomeia o disco? Um dos grandes hits da música inglesa, dona de melodia maravilhosa e refrão exuberante.

O baixo ultra melódico do Dee Murray no arranjo épico de "Tha Ballad Of Danny Bailey (1909-34)", a força rockeira de "Saturday Night's Alright (For Fighting)" e o precioso final com "Harmony" estão também entre os destaques do disco.

Poucos ousam negar o talento do Elton John, mas muitos se esquecem que por trás de sua personalidade monárquica, histórias nebulosas, vestimentas espalhafatosas e projetos filantrópicos, está um dos maiores nomes na música pop de todos os tempos. Basta ouvir Goodbye Yellow Brick Road para perceber.

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Alfinetando o Rock In Rio

Antes de tudo, não me venham com aquela bobagem de "o festival chama Rock In Rio e não tem banda de rock", até porque o festival além de ter vários grupos de rock (que não necessariamente são bons, vide o Bon Jovi), ele nunca foi exclusivamente de rock.

Outros pontos importantes, mas que não vou tratar neste post:
1 - o financiamento público para festivais desta grandeza.
2 - a overdose de publicidade.
3 - a bajulação de "pseudos astros".
4 - a transmissão cheia de equívocos do Multishow.
5 - o público mais interessado em tirar fotos do que em ver os shows

Dito isso, agora sim posso falar do que realmente deveria importar: os shows!

Obs: não fui em nenhum dia do festival, assisti pela televisão ou pelo YouTube.
Obs: não assisti tudo. Perdão, mas tenho outras tarefas a cumprir.

AS PORCARIAS
- David Guetta: o Jesus Luz dos gringos. Sequer perdi tempo com isso.
- Ivete Sangalo: nem vi, mas creio que não perdi nada. E olha que nem acho ela de todo mal, só não importa mais.
- Marky Ramone + Michale Graves: pode até soar divertido, mas é picaretagem descarada.
- Capital Inicial: energia juvenil feita por quarentões. Pop rock medíocre.
- Florence And The Machine: não dá, numa boa.
- 30 Seconds To Mars: tudo culpa do U2.
- The Offspring: pegue o punk rock e tire dele a atitude, a energia e as boas composições.
- Jota Quest: o pop dançante que dá sono. Como pode isso?
- Jessie J: comecei a ver, mas me distrai com o vidro sujo da janela e fui limpa-lo.
- Alicia Keys: pode cantar/tocar bem, ser linda e até ter músicas legais, mas o show é um marasmo.
- Ghost: o conceito, a imagem e a postura é divertida, mas as músicas são fraquinhas.
- Nickelback: o rock que não é rock e nem serve ao pop. 
- Sebastian Bach: ao menos no passado ele fazia a cabeça das meninas, hoje nem isso consegue.
- Almah + Hibria: Edu Falaschi, na boa, vai fazer outra coisa da vida, nem que seja um blog. Infelizmente sua voz já era.
- Bon Jovi: nunca foi grande coisa, agora sem Sambora, sem Tico, resta saber: por que ainda tem gente que consome essa porcaria?
- John Mayer: gosto dele como guitarrista, mas sua carreira tomou um rumo descartável.
- Kiara Rocks: piada de mal gosto.
- Avenged Sevenfold: cresci ouvindo Slayer, não dá pra levar isso a sério.
- Os tributos ao Cazuza e ao Raul Seixas: ambos não mereciam tamanha ofensa.

LEGAIS
- Beyoncé: dentro da proposta ela não faz feio, muito pelo contrário, o show é bem animado e redondo. Ela é embaçada.
- Living Colour: no dia e lugar errado, mas tinha as pessoas certas assistindo. Bela banda.
- George Benson + Ivan Lins: queria criticar, mas não tem como, ambos mandam muito bem.
- Skank: nem assisti, mas prevejo um caminhão de hits bem executados.
- Dr. Sin + Roy Z + República: uma banda do coração (Dr. Sin) e uma boa descoberta (República). Pensando friamente talvez nem tenha sido tão bom, mas eu curti.
- Sepultura + Tambours Du Bronxs: mais uma vez juntos, bela sacada misturar os dois grupos.
- Metallica: não me empolga mais, todavia eles são consistentes no palco.
- Ben Harper + Charlie Musselwhite: esses caras sabem o que fazem. Selando a grande parceria.
- Moraes Moreira + Pepeu Gomes: tem como não curtir? Repertório acima de qualquer suspeita.
- Destruction + Krisiun: o inferno na Terra.
- Slayer: um cover de luxo do Slayer. Ainda assim, não é pouca coisa.

OS DESTAQUES
01: Muse 
Ainda não entendo o que as pessoas vêem de tão errado na banda. Tem elementos do pop, indie, rock, as composições são boas, todos tocam bem... resumindo, não é a "salvação do rock", mas o show é muito bom.

02: Justin Timberlake
Músicas divertidas, tudo bem tocado (banda impecável), o cara tem energia e carisma... Para o pop tá ótimo.

03: Alice In Chains
Ainda me emociono com as composições do Alice In Chains. O guitarrista Jerry Cantrell é um dos melhores da sua geração.

04: Rob Zombie
Aquele show divertido que qualquer um gostaria de estar. Filme de terror, zumbi, pin-up diabólico e John 5 na guitarra. Sensacional.

05: Bruce Springsteen & The E Street Band
Foi tanta babação de ovo durante a semana que eu até queria descer a lenha neste show, mas não tem como. A banda é ótima, as composições excelentes e o Bruce Springsteen é um grande performer. Histórico.

06: Iron Maiden
Surpreendeu. O repertorio é de excelência inegável, mas o que chamou minha atenção foi a performance. A banda continua impecável. O Bruce ainda canta demais.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Música Renascentista

Embalado pelo fim da exposição Mestres do Renascimento que rolou em São Paulo, decidi reouvir/pesquisar músicas do Renascimento. 

Estou longe de ser um apreciador/conhecedor da música erudita, entretanto, ora ou outra me pego nesta pesquisa eterna que envolve compreender a história da música. Farei aqui um breve resumo do que eu entendo por música renascentista. Fiquem à vontade para fazer qualquer correção nos comentários.

O Renascimento aconteceu entre os séculos XV e XVII, durante a transição do feudalismo para o capitalismo. É a ponte entre a Idade Média e a Idade Moderna, sendo uma ruptura nas estruturas medievais, tanto nas ciências quanto nas artes. Foi durante esse período que o iluminismo tomou o lugar do obscurantismo. Foi a época em que atuaram artistas como Michelangelo, Rafael, Leonardo da Vinci, Donatello, dentre outros. A igreja se mantinha poderosa, mas havia agora também as primeiras universidades europeias, que inclusive tinham a música como uma das matérias principais.



Na música é possível notar a lenta transformação do modelo modal para o tonal e da polifonia horizontal para harmonias verticais, visto que a música medieval era praticamente formada por melodias uníssonas. 

Começa também a se dar mais valor para a orquestração (graças também evolução na construção dos instrumentos) e para a consolidação de gêneros, tanto profanos quanto sacros.

Melismas vocais derivados do canto gregoriano são substituídos por composições mais equilibradas. Há ainda pouca movimentação intervalar, sendo explorados apenas consonâncias e dando cada vez mais a impressão de centro tonal.

Aqui vão alguns dos compositores mais importantes do período com suas respectivas obras mais aclamadas. Eles aparecem em ordem cronológica:

Guillaume de Machaut (1300 - 1377)
Esse compositor francês é o principal expoente da ars nova (estilo derivado do aprimoramento das técnicas de notação musical, em contraposição a ars antiqua). Suas composições são a base da música renascentista. Sua "Missa de Notre Dame" representa um grande salto evolutivo composicional. Imagine ouvi-la numa catedral gótica. 

Guillaume Dufay - Ave Maria Stella (1397 - 1474)
Um dos compositores mais emblemáticos na transição da música medieval para a música renascentista. Embora bastante primário, há lindas polifonias em sua obra.

Giovanni Pierluigi da Palestrina (1525 - 1594)
O mais famoso compositor do século XVI. Italiano representante da escola Romana, Palestrina é peça fundamental no desenvolvimento da música sacra polifônica, principalmente no que diz respeito a contraponto. Neste sentido, vale lembrar sua "Missa Papae Marcelli".

Josquin des Prez (1450/1455 - 1521)
Compositor francês de sucesso no renascimento. Há ótimos registros do autor com performance do grupo Hespèrion XXI com regência do Jordi Savall, ambos especialistas em obras deste período.

Thomas Tallis (1505 - 1585)
Na Inglaterra havia o Thomas Tallis, autor de composições angelicais. É de chorar.

Giovanni Gastoldi (1554 - 1609) - Amor Vittorioso
Fora das igrejas, há também os madrigais, que diferente das músicas eclesiásticas que eram cantadas em latim, eram aqui cantadas na língua local, vide essa composição italiana de guerra.

John Dowland (1563 - 1626)
Vale ainda se atentar para a música feita na Inglaterra fora das igrejas. Elas exemplificam a tradição do trovadorismo. John Dowland é dos mais celebrados compositores neste sentido. Suas canções, guiadas comumente por alaúde, traduzem os sons profanos das ruas. Tem textos de amor, guerra, amizade... Neste sentido é bem contemporâneo.

William Byrd (1543 - 1623)
Outro cancioneiro inglês, esse talvez mais arrojado, mas igualmente popular e profano.

"Greensleeves"
Vale ainda lembrar essa histórica canção inglesa, mega interpretada ainda hoje por outros artistas, além de utilizada em séries e filmes. Já vi inclusive o Ritchie Blackmore tocando-a. Tremenda melodia. É a verdadeira música folk inglesa.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

TEM QUE OUVIR: Zé Ramalho - Zé Ramalho (1978)

O Brasil é musicalmente contraditório. Ainda que a mistura faça parte da cultura do país, o público é segmentado. É difícil encontrar alguém que consiga assimilar tanto Ratos de Porão quanto Milton Nascimento. Por isso, é espantoso ver o quanto um artista como o Zé Ramalho conseguiu atingir diferentes plateias, indo de parceria com Sepultura e Chitãozinho e Xororó à regravação de Luiz Gonzaga. Entretanto, seu maior triunfo - e talvez o que possibilitou tudo isso - foi justamente seu homônimo disco de estreia lançado em 1978. 


Ainda que vindo do Paêbirú (1975) - álbum gravado em parceria com o Lula Côrtes, que é cultuado principalmente devido sua raridade e musicalmente por apresentar a fusão do rock psicodélico com elementos da música nordestina -, Zé Ramalho (1978) é mesmo o seu debut.

A clássica "Avôhai" abre o disco carregada por elementos de música regional, violas de sonoridade metálica, brilhante linha de baixo, participação do Patrick Moraz (ex-Yes) nos teclados e uma letra sobrenatural em homenagem a seu avô. Uma canção ainda hoje emocionante e singular, presente no imaginário de qualquer brasileiro.

Com sua voz grave inconfundível, Zé Ramalho declama letras rebuscadas em cima de arranjos belíssimos. Músicas como "Vila do Sossego" e, principalmente, a lindíssima "Chão de Giz" (mais uma linha de baixo exuberante), são pontos altos em sua carreira. 

Outra faixa que merece destaque é "A Dança das Borboletas", canção ímpar, de arranjo ousado, letra enigmática e guitarras lisérgicas do Sérgio Dias (eterno Mutantes).

O disco traz participações importantes nas composições, vide Alceu Valença no baião rockeiro "A Noite Preta" e Geraldo Azevedo no autentico folk brasileiro "Bicho de 7 Cabeças". Junto com o Zé Ramalho, esse dois artistas formaram uma cena importante do rock nordestino na década de 1970.

Zé Ramalho nunca mais repetiu tamanha excelência em sua discografia - embora com bons momentos -, mas seu álbum de estreia foi o suficiente para coloca-lo entre os principais nomes da música popular brasileira. 

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Bandas/Artistas da Argentina

Neste fim de semana vou para a Argentina. Para entrar no clima país, reouvi alguns bons sons produzidos por nossos vizinhos. Aqui vão algumas bandas/artistas que estão entre minhas prediletas.

Obs: Lembrando que o Carlos Gardel, por mais que seja um símbolo cultural da Argentina, nasceu na França.

Charly e Spinetta

Los Gatos
Cada país da América Latina tem sua Jovem Guarda. Na Argentina, o Los Gatos é o maior representante do momento embrionário do rock. Confesso que não faz minha cabeça, embora tenha sua graça.

Sui Generis
É incrível como o rock argentino da década de 1970 conseguiu popularidade e longevidade em seu país, ao contrário do rock brasileiro do mesmo período (inevitável comparação). Sui Generis foi a banda liderada pelo genial Charly García em parceria com o Nito Mestre. As maravilhosas composições transitam pelo folk rock e rock progressivo. A sofisticação é latente. Um grupo que inicia a carreira com "Canción Para Mi Muerte" já tem nossa atenção roubada.

Lá Máquina de Hacer Pájaros
Outro projeto do Charly García. O debut do grupo é um dos melhores discos do rock argentino. Sonoramente é muito calcado no rock progressivo.

Serú Girán
Trazendo na linha de frente o Charly García (novamente ele!) e o David Lebón, o grupo é uma das maiores referências do rock argentino. Suas composições são tão arrojadas quanto acessíveis. O baixista Pedro Aznar é um monstro. Adoro o álbum Las Grasa De Las Capitales (1979).

Almendra
Equivalente aos Mutantes no Brasil, essa banda liderada pelo genial Luis Alberto Spinetta tem em seu disco de estreia um dos principais pilares para o rock argentino.

Pescado Rabioso
Impossível citar apenas um grupo do Spinetta. Artaud (1973), disco do Pescado Rabioso, será sempre minha primeira recomendação quando se trata do rock argentino. Mais uma vez com influência do folk rock e do rock progressivo.

Invisible
Projeto ambicioso do Spinetta que transita entre o rock progressivo e o jazz-rock. Isso sempre com o lirismo de um grande compositor. El Jardín De Los Presentes (1976) é um disco espetacular.

Spinetta Jade
Já na década de 1980, o mestre do rock argentino montou o Spinetta Jade, projeto com enorme influência do jazz rock, aor, rock progressivo e pop. Não deixem de escutar o Bajo Begrano (1983). Ali fica clara a complexidade e a beleza de suas composições.

Color Humano
Ótimo grupo formado após dissolução do Almendra. Muito cultuado pelos fãs de rock psicodélico e hard rock setentista.

Aeroblus
Banda sensacional do guitarrista Pappo. O baterista deste poderoso power trio é o Rolando Castello Junior, mítico rockeiro brasileiro que passou pelo Made In Brazil e que encabeça a Patrulha do Espaço há mais de 30 anos. "Vamos A Buscar La Luz" é uma das minhas faixas de hardão prediletas.

Pappo's Blues
Grupo do lendário guitarrista. Seu disco Vol. 3 é uma pedrada. Para muito, um dos melhores guitarrista de rock de toda a América Latina. Na Argentina é uma unanimidade. 

Manal
Banda do exuberantes guitarrista Claudio Gabis. No homônimo disco de estreia lançado pelo grupo em 1970, é possível encontrar passagens quase jazzísticas. Muito bom.

Crucis
Quando o assunto é rock progressivo na América Latina, de imediato lembro de duas bandas: Som Nosso de Cada Dia (Brasil) e Crucis (Argentina). Flerta com o hardão.

Billy Bond y La Pesada del Rock and Roll
Lembram do figuração Billy Bond, o argentino com passagem pelo Joelho de Porco? Pois então, ele tem uma longa história pelo rock argentino, sendo esse grupo um destaque. Confesso que não ouvi tanto, embora ache bem legal o que conheço.

M.I.A.
Não confundir com a rapper inglesa. Essa banda de rock progressivo argentina é sensacional. A sigla do nome significa Músicos Independientes Asociados. O disco Cornonstipicum (1978) é uma quebradeira espetacular. Tem passagens orquestradas bem bonitas também.

Arco Iris
Banda muito legal liderada pelo Gustavo Santaolalla. O disco Sudamérica o el Regresso a la Aurora (1972) é uma espetacular ópera rock que une rock progressivo e folk com a tradição da música argentina. Preciso conhecer outros trabalhos deles.

V8
Como em qualquer outro lugar do planeta, a Argentina também ofereceu heavy metal ao mundo. V8 é um dos melhores grupos argentinos neste segmento. Tem muito de Motörhead e Saxon no som da banda. Luchando por el Metal (1983) é um clássico do gênero na América Latina.

Sumo
Com influências de punk, new wave, reggae e rock alternativo, o Sumo se tornou uma das maiores bandas da Argentina. Os discos Divididos Por La Felicidad (1985), Llegando Los Monos (1986) e After Chablon (1987) são bem bons. Tremenda sequência. Infelizmente a banda teve um fim prematuro devido a morte do líder/vocalista Luca Prodan, ainda hoje cultuado no país.

Soda Stereo
Dentro duma linha pop rock, não há disco lançado na década de 1990 na América Latina melhor que o Canción Animal (1990) do Soda Stereo. Ainda assim, meu predileto é o Dynamo (1992), de peso atmosférico perfeitamente alinhado a cena shoegaze. Vale lembra que a banda foi das mais populares de rock neste continente. O Gustavo Cerati era um compositor/vocalista/guitarrista muito acima da média, dito isso, vale dar uma atenção também ao seu aclamado álbum solo Bocanada (1999).

Fito Paez
Dispensa grandes apresentações. Um dos poucos artistas da América Latina que consegue lotar casas de shows no Brasil. Grande compositor, tendo inclusive sido regravado pelo Caetano Veloso. El amor después del amor (1992) fez muito sucesso.

Patricio Rey y sus Redonditos de Ricota
Sabe aquela paixão tão admirável que os argentinos demonstram no futebol? Pois então, ela traduz a ligação do público com o Redonditos de Ricota, banda não menos que venerada na Argentina. Indio Solari é praticamente um Maradona do rock. Oktubre (1986) é um tremendo disco, com a estética do pós-punk e temas politizados.

Los Fabulosos Cadillacs
Com elementos de rock inglês, ska, tradição argentina e até mesmo ritmos brasileiros (ao menos no hit "Matador"), Los Fabulosos Cadillacs é um dos grupos de maior prestígio na Argentina. Vale dar uma atenção extra ao disco Fabulosos Calavera (1997). É muito astral, muito groove, muita criativadade.

El Mató A Un Policía Motorizado
Para não dizerem que eu fiquei restrito ao passado, eis uma banda atual de indie rock. Tem conquistado grande público, inclusive no Brasil. É bem bacana.

Astor Piazzolla
E já que o assunto é Argentina, convém ouvir um tango, ainda mais se executado pelas mãos do grande mestre do estilo. Sem dúvida um dos maiores instrumentistas da América Latina.

Mercedes Sosa
Vale ainda lembrar Mercedes Sosa, uma das vozes mais conhecidas da América Latina.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

ESPECIAL MTV BRASIL: Shows do VMB

Continuando esse especial sobre a MTV Brasil, não tem como esquecer dos grandes shows que ocorreram no VMB. Alias, os shows eram a única coisa que me atraia na premiação da emissora, já que as tentativas de humor eram fracassadas e os vencedores muitas vezes não correspondiam em qualidade. 

Obs: o "bota essa porra pra funcionar" do Caetano Veloso foi sensacional, mas a apresentação dele com o David Byrne (e ao fundo o grande Jaques Morelenbaum) foi uma merda babilônica.

Chico Science & Nação Zumbi e Gilberto Gil
A consagração do Nação Zumbi perante a música brasileira.

Sepultura
Sepultura na crista da onda tocando uma das melhores composições da história do metal, independente do subgênero. Consegue entender a gravidade disso? Com direito a participação da Nação Zumbi com Charles Gavin, João Barone e Carlinhos Brown. Sensacional!

Racionais MC's
Histórico. É o rap nacional tomando de assalto o mainstream (e a classe média/alta). A música é uma porrada e a apresentação assustadora de tão boa. A tentativa de repetir o sucesso/relevância desta apresentação com o show de 2012 foi um fracasso.

Barão Vermelho e Bezerra da Silva
O cruzamento perfeito do samba com o rock n' roll tipicamente brasileiro. Puramente espontâneo e sincero.

Charlie Brown Jr. e Raimundos
A apresentação em si nem é grande coisa, já que o Raimundos estava numa fase extremamente burocrática. Entretanto, no dia eu adorei. Eram as duas grandes bandas da geração. Reuni-las no palco foi muito legal.

Nando Reis, Rita Lee e Cássia Eller
Música espetacular, artistas relevantes e apresentação sincera.

Planet Hemp
O Planet Hemp tem duas apresentações memoráveis no VMB. A primeira aconteceu em 1995, no auge da polêmica do grupo, tocando a já clássica "Legalize Já". A segunda aconteceu em 2000 (já consagrados) com a pesada "Ex-Quadrilha da Fumaça".

Pitty e Cascadura
Um tributo ao rock baiano feito pela grande personagem rockeira de sua geração (Pitty) e uma das grandes bandas do rock brasileiro dos últimos 10 anos (Cascadura).

Emicida
Ótima apresentação do Emicida, com direito a camiseta do Cólera. Na banda de apoio estava Igor Cavalera (eterno Sepultura) e Lúcio Maia (Nação Zumbi). Nada mal.
NÃO ACHEI NO YOUTUBE

Cachorro Grande e Skank
Duas bandas competentes mandando ver num clássico dos Beatles. Não tem erro.

Juliette And The Licks
Entre vários shows internacionais que ocorreram no evento, esse é o único que lembro de ter gostado. Pode até ser uma música bobinha, mas a Juliette Lewis é demais.

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

TEM QUE OUVIR: The Mars Volta - De-Loused In The Comatorium (2003)

Um dos estilos mais interessantes da década de 1990 é o post-hardcore. Dentre diversas boas bandas desta vertente, o At The Drive-In foi a que teve maior repercussão. Mas foi justamente quando o grupo encerrou as atividades que dois de seus integrantes chegaram no apogeu da criatividade. The Mars Volta e seu disco de estreia, o acachapante De-Loused In The Comatorium, é mais alto degrau do post-hardcore do novo milênio.


Abusando do prestígio que conseguiram no underground, Omar Rodriguez-López (guitarra) e Cedric Bixler-Zavala (voz) não se restringem a nada para alcançar a maturidade dentro do estilo. Para isso, contaram com a ajuda do baixista Flea (Red Hot Chili Peppers) e do espetacular baterista Jon Theodore para a confecção do álbum.

Ao bater no liquidificador hardcore, psicodelia, rock progressivo, música latina, fusion e até mesmo dadaísmo, surrealismo e expressionismo abstrato, De-Loused In The Comatorium é inspirado, conseguindo soar moderno sem ignorar a música do passado, e intenso ao ecoar a vida conturbada/junkie dos integrantes e amigos que rodeavam a banda, como Jeremy Ward, letrista e engenheiro de som do grupo, que morreu de overdose logo após o lançamento do disco, interrompendo a tour de divulgação. Mas quem inspirou as letras foi Julio Venegas, um viciado que ficou em coma por anos e que ao acordar decidiu por se matar.

Entre berros e sussurros, melodias e microfonias, viagens e virtuosismo, destacam-se "Inertiatic Esp", "Roulette Dares (The Haunt Of)", "Cicatriz Esp" e "Drunkship Of Lanterns", um hino da guitarra do século XXI. As músicas são uma mistura frenética de MC5, Hawkwind e Fela Kuti.

Produzido pelo lendário Rick Rubin, De-Loused In The Comatorium é a prova concreta de que o rock não só não morre, mas como também se atualiza nas mãos de músicos inquietos e competentes.

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

ALGO ENTRE: Charlie Brown Jr. e Nico

CHARLIE BROWN JR.
Quando o Chorão morreu acabei nem reouvindo nada, mas com a morte do Champignon repassei a limpo os dois primeiros discos e encontrei boas faixas como essa:

NICO
É triste, experimental e bonito.

terça-feira, 10 de setembro de 2013

ESPECIAL MTV BRASIL: Os shows produzidos pela emissora (Acústico MTV e MTV Ao Vivo)

Os famosos Acústico MTV e MTV Ao Vivo foram responsáveis por bons momentos musicais (e vários engodos, normal). Alguns desses lançamentos ajudaram até mesmo a resgatar a carreira de determinados artistas. Citarei aqui não os mais emblemáticos ou comercialmente rentáveis, mas sim os meus prediletos.

MTV AO VIVO
Ira!
Um dos meus discos ao vivo preferidos do rock nacional (juro!). O Ira! sempre teve ótima postura em cima do palco. O show traz grandes clássicos da banda, uma plateia tipicamente paulista em sintonia com o grupo e um desempenho matador do Edgard Scandurra.

Planet Hemp
O disco foi a minha porta de entrada (sem trocadilhos) para o trabalho da banda. Antes só conhecia a má fama do grupo, mas ao ouvi-lo tive contato com excelentes letras, atitude na execução e grooves extremamente interessantes. Não envelheceu nada.

Barão Vermelho
Nada genial, mas é um autentico show de rock n' roll de uma das melhores bandas nacionais do estilo. O fato de ter sido gravado no Circo Voador traz uma aura especial. Simples e eficaz.
Obs: lembrei daquele antigo Balada MTV Barão Vermelho, que apesar de meio brega, é legal também.

Skank
Um caminhão de sucessos diante do pôr-do-sol de Ouro Preto. Um show que dificilmente vou colocar para assistir, mas que se eu entrar num lugar que tiver tocando vou gostar. A banda é competente.


ACÚSTICO MTV
Titãs
Os Titãs foi uma das minhas bandas prediletas na infância. Até hoje gosto de tudo que eles lançaram entre o Cabeça Dinossauro e o Titanomaquia. O Acústico MTV representa a morte do grupo. Foi o começo da fase decadente que dura até hoje. Mas reouvindo, os arranjos feitos pelo talentoso Jaques Morelenbaum soam até que aceitáveis. Se a banda tivesse parado aqui tava ótimo.

Cássia Eller
A explosão comercial e o último suspiro de uma artista talentosa e irreverente. Uma das melhores interpretes da música popular brasileira dos últimos 30 anos. Gosto do repertório e dos arranjos, embora menos explosivo se comparado ao que ela tinha feito até então. É acústico, normal.

Jorge Ben Jor
Foi meu primeiro contato com a obra desse compositor singular e instrumentista de mão cheia. Ótimo show e banda(s).

Charlie Brown Jr.
Eu tinha 13 anos e os Raimundos (minha banda predileta na época) estava no leito de morte. Sendo assim, o acústico do CBJR preencheu essa lacuna. As composições podem até não ser grande coisa (e realmente não são), mas a performance (dentre da proposta) é muito boa. Foi a trilha sonora da minha geração.

Paulinho da Viola
O mais alto escalão do samba. Composições maravilhosas, arranjos ultra sofisticados e interpretação belíssima. Não tem erro.

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

TEM QUE OUVIR: Hawkwind - Space Ritual (1973)

Clássico, influente e cultuado, isso tudo distante do mainstream e do hype jornalistico. Me refiro ao extraordinário Space Ritual (1973) do Hawkwind.


Gravado ao vivo em 1972, o disco reúne a formação clássica do grupo: o guitarrista/vocalista/fundador Dave Brock, o letrista/vocalista Robert Calvert, o saxofonista Nik Turner, o baterista Simon King, a dupla Dik Mik e Del Dettmar nos sintetizadores e Lemmy, ele mesmo, o futuro líder do Motörhead, já demonstrando sua tão conhecida e pesada abordagem sonora.

Assim como sua viajante e amaldiçoada capa, o álbum reúne verdadeiras pérolas do space rock, rótulo somente compreendido ao ouvir o disco. Space Ritual é um trabalho conceitual que narra a história de sete cosmonautas que viajam pelo espaço em estado de nirvana. 

Os sons de todos instrumentos se confundem e formam uma única peça psicodélica, como pode ser observado em "Orgone Accumulator" e "Space Is Deep". Essa sonoridade viajante era a trilha sonora perfeita para as intervenções visuais que aconteciam no shows da banda, o que tornou os espetáculos cultuados anos mais tarde. Sonoramente, a grande influência da banda pode ser sentida no stoner rock, que insiste em tentar recriar o clima da pesada "Master Of The Universe".

"Born To Go" é repetitivamente deliciosa e livre (remetendo ao krautrock), além de uniformemente pesada e consistente, com o baixo ultra encorpado do Lemmy transbordando frases lisérgicas. Alias, apesar da sonoridade entorpecida das músicas, é preciso lembrar que Lemmy foi expulso da banda após ser preso com anfetaminas.

LSD, OVNI's, ficção científica, Michael Moorcock, distorção, peso, ruídos, experimentações eletrônicas, projeções visuais, os seios da Stacia e o Lemmy. Não tem como não adorar o Space Ritual, basta conhecer.

domingo, 8 de setembro de 2013

0021: Afrika Bambaataa - Planet Rock (1982)

O mundo da música é muito injusto. Ao mesmo tempo em que o hip hop tornou-se o estilo mais popular deste século - veja as vendas e o burburinho que rodeia os artistas do gênero, principalmente nos EUA - e o funk carioca, filho bastardo do miami bass, parece ganhar cada vez mais espaço na televisão e na noite paulistana, um dos responsáveis - direta e indiretamente - por tudo isso continua a ser pouco conhecido. 

Falo do Afrika Bambaataa, talentoso DJ, criador e divulgador da cultura do hip hop, vide seu trabalho com a Zulu Nation.

Lançada em 1982, "Planet Rock" é um dos primeiros hinos do rap. Seu groove é ultra dançante, se assemelhando a muita coisa feita posteriormente no funk carioca, principalmente pelo DJ Malboro.

Os timbres típicos de electro foram extraídos dos clássicos Roland TR-808, além de samples retirados de faixas do Kraftwerk, vide "Numbers" e "Trans Europe Express".

Gostando ou não, "Planet Rock" é uma obra fundamental para entender como chegamos nas sonoridades atuais, ainda que a própria música do Afrika Bambaataa seja mais legal que muito do que foi recém criado.

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

TEM QUE OUVIR: U2 - War (1983)

Visualizar o U2 nos dias de hoje é reconhecer uma banda ultra bem sucedida formada por grandes astros. Mas obviamente nem sempre foi assim. O U2 do início da década de 1980 saiu da Irlanda para o mundo como um dos grandes representantes do pós-punk, sendo extremamente importante para a ascensão do rock alternativo. Seus três primeiros trabalhos - todos produzidos pelo Steve Lillywhite - são uma aula de rock básico e sonoridade crua, ainda que suas canções tenham ganhado status de clássicos ecoados em estádios grandiosos. É o War de 1983 o disco mais representativo desse período, já demonstrando uma evolução da banda nas composições e arranjos.


O U2 que até então usava a atitude pós-punk para produzir músicas carregadas de espiritualidade em suas letras, começou a dar sinais de engajamento político e social. A clássica "Sunday Bloody Sunday" deixa isso claro. Desde sua bateria militar até sua letra sobre o fatídico Domingo Sangrento, tudo ronda em torno de uma postura inquieta.

The Edge é um guitarrista criativo. Seus timbres, texturas e melodias trabalham exclusivamente a serviço da música, vide a clássica "New Year's Day", onde seu pequeno solo tem proporção épica. A letra, que exige uma atitude de mudança, é um dos pontos altos do Bono Vox como cantor e melodista.

Ainda que Bono e Edge sejam as figuras centrais da banda, a cozinha formada pelo baixista Adam Clayton e pelo baterista Larry Mullen Jr. é precisa em canções como "Seconds" e "Two Hearts Beat As One" (com traços de Gang Of Four). Impossível ouvir "Like A Song" e não visualizar milhares de bandas que beberam da fonte do U2, ainda que nenhuma delas tenham a consistência sonora desta canção. 

Dentre outras faixas que merecem destaque estão a ousada balada "Surrender" e a progressiva "Drowning Man".

War foi o primeiro álbum do U2 a chegar ao primeiro lugar, tirando o Thriller do Michael Jackson do topo das paradas. Nascia o mega grupo. Morria pela primeira vez o rock alternativo.

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Um pouco do "verdadeiro" emo

Assisti recentemente o ótimo documentário Do Undergroud Ao EMO, produzido pelo Canal BIS. O filme explica a tão famigerada cena de hardcore melódico brasileira que começou em meados de 1995 (com bandas como Dead Fish, CPM 22, Hateen, Dance Of Days, Sugar Kane) e atingiu o mainstream sete anos depois (com Fresno, NX Zero, Strike e o próprio CPM 22) rotuladas pela mídia como emo.

Não vou ficar discorrendo sobre o documentário porque ele é autossuficiente. Esse post é sobre as boas bandas que faziam emocore antes do fenômeno "emo choroso" dominar o rock mainstream, representado por grupo terríveis como Simple Plan e Good Charlotte.

E já deixo aqui registrado: comparada a outras bandas do período, o My Chemical Romance se saía muito bem.

Mas vamos logo ao que interessa!

Rites Of Spring
O emotional hardcore é oriundo da cena hardcore de Washington DC, só que diferente de bandas como Bad Brains e Minor Threat, a sonoridade dos grupos era muito mais melódica e abordava temas mais "sentimentais" e pessoais nas letras. O estilo teve ascensão durante o Revolution Summer e foi chamado de post-hardcore, rótulo esse que tornou-se extremamente abrangente com o passar dos anos. Rites Of Spring é o grupo que encabeça essa geração/cena. Mesmo com carreira extremamente curta, seu único disco homônimo lançado em 1985 foi muito influente. Além isso, seus shows causavam grande comoção.

Embrace
O lado mais melódico do Ian MacKaye após o furioso Minot Threat. Anos depois viria o comboio ideológico que foi o Fugazi - que apesar de ter influenciado o emo, acho tão abrangente que não coloco no mesmo pacote - em parceria com Guy Picciotto do já citado Rites Of Spring. 

Jawbreaker
Já no começo da década de 1990, a sonoridade do Rites Of Spring começou a render bons frutos, um deles é o Jawbreaker. A banda faz algo como um pop punk "atmosférico" (tô criativo nos rótulos). Gosto bastante do terceiro álbum do grupo, o 24 Hour Revenge Therapy (1994), com direito a produção do Steve Albini.

Sunny Day Real Estate
Sunny Day Real Estate é um ótimo grupo que continha na formação o Nate Mendel, baixista do Foo Fighters. É incrível perceber como o Foo Fighters soa muito mais parecido com o Sunny Day Real Estate do que com o Nirvana. Quem gosta da banda lidera pelo Dave Grohl tem que ouvir o cultuado disco Diary, lançado em 1994 pela Sub Pop.

Cap 'N Jazz
Quem acha que o emo é calcado apenas em letras românticas e instrumental fácil vai se espantar com o som tão esquisitão quanto palatável do Cap 'N Jazz. O grupo era encabeçado pelo Mike Kinsella. Aquele disco deles de nome impronunciável é bem bom.

American Football
Um único e ótimo disco lançado em 1999 foi o suficiente para fazer do American Football um dos principais grupos midwest emo, uma subvertente do gênero com influência do math rock. Belas melodias entrelaçadas em arranjos complexos compõem a sonoridade da banda. O Mike Kinsella é definitivamente um cara talentoso.

Braid
Bom grupo que mostra a evolução musical do estilo no quesito arranjos. Traz trejeitos vocais que virariam febre no futuro. Todavia, devo confessar que não conheço a banda tão bem, embora lembro ter gostado do Frame & Canvas (1998) quando ouvi.

Mineral
O disco EndSerenading (1998) é um clássico do emo noventista. Eles investem muita naquela onda de guitarras limpas, ritmos mais lentos e melodias profundas. É bonito.

Jimmy Eat World
Muitas das bandas aqui citadas pertencem ao cenário alternativo, mas vale lembrar que o Jimmy Eat World fez bastante sucesso comercial, surfando no sucesso do pop punk, mas apresentando canções mais climáticas e pessoais. Não sou muito chegado no som do grupo, mas o Clarity (1999) marcou época.

Thursday
Sabe aquele lado emo do Deftones? Pois então, lembra muito essa banda. Só não sei quem influenciou quem. Vale dar uma checada no disco Full Collapse (2001).

Funeral Diner
Quando o emo encontra o black metal. Seria isso o verdadeiro screamo? Seriam eles precursores do blackgaze? Não sei, mas que a banda tem uma sonoridade bacana, isso tem.

Brand New
No auge comercial daquele emo pasteurizado e sem graça, essa pérola foi lançada (The Devil And God Are Raging Inside Me - 2006). Hoje é cult.

This Town Needs Guns (TTNG)
Apesar do vocal chatinho, o grupo apresenta boas melodias, ricas texturas e delicadeza exuberante nos arranjos. Aqui talvez esteja o melhor exemplo do cruzamento do emo com o math rock, o que gerou uma nova forma de pensar a guitarra que viria a ser muito influente. Animals (2008) é uma pérola do estilo.

Their / They're / There
Para fechar, a banda emo mais legal da atualidade (acreditem, o estilo está novamente em alta!). Extremamente técnico e interessante.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

TEM QUE OUVIR: Raul Seixas - Krig-ha, Bandolo! (1973)

Em 1973, diante de uma truculenta ditadura militar, o rock se aquietava perante o grande público numa estagnação pós-Tropicália. Até então, a explosão vanguardista dos companheiros de Caetano Veloso e a inocência datada da Jovem Guarda, eram as únicas grandes manifestações rockeiras de grande alcance em terras tupiniquins. Foi então que o baiano Raul Seixas - até então produtor da CBS e cantor de pouco alcance comercial -, em um surto de criatividade, gravou essa pérola da discografia nacional batizada Krig-ha, Bandolo!


O que antes era apenas o grito do Tarzan, virou o grande berro da música popular brasileira. A inacreditável "Introdução: Good Rockin' Tonight", contendo uma gravação caseira de um ainda pirralho Raulzito cantando Elvis Presley, é um verdadeiro tesouro do rock nacional. Já crescido, Raul escreveu seus próprios petardos rockeiros, vide as espetaculares "Al Capone" e "Rockixe", essa última bastante grooveada, com direito a arranjo de metais.

Sua influência de Bob Dylan está nos seus folks "How Could I Know", "Cachorro Urubu" e "As Minas do Rei Salomão", faixa essa em que Raulzito deixa claro que não tinha limites narrativos, ainda mais estando na companhia de um ainda insano Paulo Coelho.

Dentre inúmeros clássicos de sua carreira, está a incomparável "Mosca Na Sopa", que revela muito da personalidade do Raul, tanto em sua letra inquieta, quanto no seu instrumental que funde o rock n' roll com uma brasilidade típica da Bahia, das rodas de capoeira e ponto de macumba. Vale se atentar ao sintetizador - instrumento até então pouco utilizado no Brasil -, simulando o som da mosca.

É inacreditável como a sonoramente preguiçosa "Metamorfose Ambulante" consegue ser tão popular quanto reflexiva. Essa facilidade com as palavras explica o alcance que sua música alcançou.

Mas nada se compara a "Ouro de Tolo", uma emblemática composição de letra achincalhadamente desiludida - e extensa, cantada quase como um rap, sendo uma resposta ao milagre econômico -, dona de lindo arranjo - um pastiche das canções bregas - e dramaticidade comovente/irônica. Qualquer semelhança com "Set You Free This Time" dos Byrds não é mera coincidência.

Embora com outros inúmeros exemplos de rock feitos anteriormente no Brasil, Krig-ha, Bandolo! abriu portas para tudo que possa ser considerado genuinamente rockeiro no país.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

ALGO ENTRE: DeFalla e David Gilmour

DEFALLA
O sempre visionário Edu K neste hino do funk carioca (embora ele seja portalegrense) com guitarras à la AC/DC.

DAVID GILMOUR
O eterno guitarrista do Pink Floyd em um belo momento auto-suficiente.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

TEM QUE OUVIR: Blondie - Parallel Lines (1978)

A cena musical de Nova York do final da década de 1970 se dividia entre a disco music do Chic e o punk rock dos Ramones. Diante deste emaranhado surgiu o Blondie, importante banda da chamada new wave, que podia tocar tanto no CBGB (lendário clube punk) quanto no Studio 54 (famosa boate americana). Parallel Lines (1978) é o clássico definitivo desta banda singular.



Ofuscados pela linda Debbie Harry, havia o talentoso guitarrista/líder Chris Stein, o empresário Peter Leeds e o produtor Mike Chapman, todos dispostos a arquitetar um clássico, ainda que inevitavelmente alguma decisão desagradasse a maior parte da banda.

Embora a new wave genuinamente dê espaço para a fusão de estilos, é muito fácil observar para qual direção cada canção caminha. Se "Hanging On The Telephone" e "Will Anything Happen?" tem a energia punk, a clássica "Heart Of Glass" tem o balanço herdado da disco music. Em comum, todas com grandes refrães. 

Pitadas moderadas de glam rock são sentidas nas melódicas "One Way Or Another" e "Picture This". Já as ótimas "11:19" e "Sunday Girl" tem traços da música pop das girl groups.

Se Debbie Harry é deliciosamente dramática em "Fade Away (And Radiate)" - com direito a guitarra espetacular do Robert Fripp -, em "Pretty Baby" ela conserva sua doce rouquidão. O instrumental da pesada - para o estilo/época - "I Know But I Don't Know" demonstra que banda era azeitada, não se escondendo atrás da cantora, como aparentemente deixa entender a capa.

O disco foi um enorme sucesso tanto na Inglaterra quanto nos EUA, ajudando a popularizar a new wave. Seja pela música, atitude ou pela beleza da Debbie Harry, Parallel Lines continua irretocável dentro de sua ampla proposta. 

domingo, 1 de setembro de 2013

ESPECIAL MTV BRASIL: Os videoclipes

Prestar homenagem para MTV e não falar dos videoclipes seria um equivoco. A emissora mudou a forma com que ouvimos música, dando a imagem uma importância que até então ela não tinha. Essa nova ferramenta apresentou uma diferente perspectiva para os artistas, sendo um braço importante para suas obras principais.

Sem mais delongas, irei comentar não os melhores ou mais emblemáticos videoclipes da história (não vai ter Michael Jackson), mas sim aqueles que mais me marcaram. Já citei alguns clipes num antigo post (veja aqui), mas outros ficaram faltando. Chegou a vez deles:

Green Day - Basket Case
O clipe era divertido e a música energética. Isso foi mais que o suficiente para me deixar - no auge dos meus 6 anos - alucinado.

Smashing Pumpkins - Tonight, Tonight
Em contrapartida ao clima descompromissado do Green Day, essa linda balada e espetacular videoclipe (baseado no filme Viagem A Lua) era o meu predileto nos momentos "introspectivos" da infância.

Faith No More - Epic
Porralouquice total. Na época só conhecia essa música e já adorava. Hoje o Faith No More é uma das minhas bandas prediletas.

The Prodigy - Breathe
Quando comecei a entender um pouco melhor o que rolava no mundo da música, o Prodigy era o grande grupo do momento. Lembro desse vídeo passando incansavelmente na programação da emissora.

Nirvana - Smells Like Teen Spirit
Evitarei chover no molhado não dando maiores explicações.

U2 - Stay
Uma das baladas mais subestimadas do U2. Alias, uma das primeiras memórias da minha vida é o meu pai comprando o Zooropa em vinil (que tenho até hoje).

Ramones - Pet Semetary
Os Ramones não foram importantes só em 1977. Em 1997 eles ainda despertavam o mesmo impacto em jovens - e crianças, vide eu - através de clipes como esse:

Beastie Boys - Sabotage
Clássico! Por mais que eu adore diversos artistas de rap, muito por conta dos clipes o Beastie Boys tornou-se meu grupo predileto do gênero.

Chico Science e Nação Zumbi - Maracatu Atômico
Sabe quando você não entende exatamente o que está acontecendo, mas aquilo bate de tal forma em você que é desnecessária qualquer análise? Pois então, eu posso dizer: eu vivi o auge da Nação Zumbi e do movimento Manguebeat.

Racionais MC's - Diário de um Detento
Ainda hoje um clipe/música/disco/grupo importantíssimo. Histórico.

Sepultura - Roots Bloody Roots
Só sei de uma coisa: eu adorava esse som. Por muito tempo - lembrando novamente, eu era apenas um pirralho - sequer tinha noção que o Sepultura era uma banda brasileira. Isso diz muito sobre a força/alcance da banda.


Skank - Garota Nacional
Para finalizar, aqueles que são provavelmente os primeiros seios que vi na vida. Vai dizer que isso não é importante.