sexta-feira, 28 de junho de 2013

TEM QUE OUVIR: Metallica - Kill 'Em All (1983)

O lançamento de Kill 'Em All (1983), álbum de estreia do Metallica, pode ser considerado um verdadeiro golpe do heavy metal contra tudo e todos. Ao fundir as melodias da NWOBHM (principalmente Diamond Head) com a atitude punk, o grupo inaugurou o thrash metal, chutando para escanteio a própria NWOBHM, além se opor ao também novato hard rock oitentista. Kill Em All inaugurou a podreira, representada na violência de riffs embriagados por cerveja quente. O álbum é a trilha sonora das ruas de São Francisco.


Mesmo antes do lançamento do disco, a banda já era conhecido no circuito thrash e começava a despontar para o público como grande nome da cena Bay Area. Assim como as apresentações ao vivo, sua participação na coletânea Metal Massacre causou grande burburinho. E é justamente a mesma faixa presente na compilação que abre o Kill 'Em All. Falo da excelente "Hit The Lights", de refrão poderoso e ritmo "motörheadiano".

Ainda que com limitações técnicas, a energia presente no álbum é gigantesca. A quantidade de riffs avassaladores é absurda, vide "Jump In The Fire", "Phantom Lord", "No Remorse" e, principalmente, a clássica "Seek And Destroy". Todas essas canções fazem de James Hetfield um dos guitarrista rítmicos mais influentes do rock. Suas palhetadas abrasivas ainda hoje soam impressionantes.

A voz rasgada de James também fez escola. Ainda que tosca, ela é perfeita para a letra de "The Four Horsemen", que pode até ser interpretada como uma metáfora para o que viria a ser no futuro o Big 4 do thrash metal. Já o solo veloz do recém chegado Kirk Hammett (ex-Exodus), supre com personalidade a ausência do recém demitido Dave Mustaine, futuro líder do Megadeth e, até pouco tempo atrás, rival direto do Metallica.

A velocidade de músicas como "Motorbreath", "Metal Militia" e "Whiplash" era um diferencial numa época em que o heavy metal era ritmicamente arrastado. A bateria de Lars Ulrich pode até ser tecnicamente limitada, mas é insana. 

Entretanto, o que mais impressiona é o timbre imundo (coberto por de wah-wah e distorções) se aliando a ótimas melodias proporcionadas pelo influente baixista Cliff Burton. Tais características ficam explicitas na cultuada "(Anasthesia) Pulling Teeth".

Mesmo lançando discos tecnicamente melhores nos anos seguintes, Kill 'Em All continuar sendo o predileto entre os fãs old school do Metallica, justamente por representar a estética/atitude headbanger oitentista. Independentemente das preferências, uma coisa é certa: a partir daqui o heavy metal nunca mais foi o mesmo.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

TEM QUE OUVIR: Scorpions - Tokyo Tapes (1978)

Há pouco mais de 2 anos, quando comecei aqui no blog a seção "Tem Que Ouvir", fiz meu primeiro post sobre o ótimo disco Phenomenon (1974) do UFO (veja o texto aqui). O motivo na época que me levou a dissecar o álbum foi que eu iria perder o show do lendário guitarrista Michael Schenker (UFO, Scorpions, MSG) no Brasil. Mas amanhã eu quito essa dívida. 

Amanhã assistirei não só o Michael Schenker, mas também o guitarrista Uli Jon Roth e a cozinha formada por Francis Buchholz (baixo) e Herman Rarebell (bateria), todos ex-Scorpions. Essa tour inclui no repertório músicas daquele que é um dos melhores discos ao vivo do rock. Falo do estupendo Tokyo Tapes (1978), o grande registro do Scorpions.


Encaro o Tokyo Tapes como uma compilação daquilo de mais legal que foi feito pelo grupo alemão em sua melhor fase (década de 1970). Na época, a banda já não contava mais com o Michael Schenker, que foi substituído justamente pelo Uli Jon Roth, um dos primeiros guitarristas a fundir a música erudita com o rock. Guiando os riffs estava Rudolf Schenker, um guitarrista base altamente influente (não é mesmo, James Hetfield?). A fenomenal "All Night Long" abre o disco evidenciando a qualidade dos guitarristas. 

No repertório do show estão grandes pérolas do hard rock, vide as ótimas "Pictured Life", "Backstage Queen", "He's A Woman, She's a Man" e "Steamrock Fever". O timbre inconfundível do vocalista Klaus Meine salta aos ouvidos nas boas baladas "In Trance" e "We'll Burn The Sky". Uli Jon Roth também ataca de vocalista em "Polar Nights", "Dark Lady" e "Fly To The Rainbow", onde deixa explicita sua influência de Jimi Hendrix.

O Scorpions tem uma discografia bastante errônea, mas esse disco ao vivo apresenta todas as qualidades que fizeram do grupo um projeto tão influente e duradouro, tornando-os a grande banda de rock da Alemanha (ao menos comercialmente). Audição obrigatória principalmente para quem se interessa por hard rock setentista.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Porque ser ruím é melhor do que ser mediocre!

O mundo da música é definitivamente/maravilhosamente estranho. Tempos atrás fiz um post chamado "bizarrices tão ruins que são boas" (confira aqui), mal sabia eu que iria me deparar futuramente com coisas muito "melhores". Se liguem no nível de "genialidade":

Obs: um pouco de bom humor, por favor.

Obs 2: achei todas essas músicas realmente sensacionais. São ruins pra caralho? Claro! Mas é aquela coisa, "antes frio que morno". E neste caso a coisa congelou.

01: Marli
Com perdão da palavra, mas que caralho é isso? Psicodelia alcoólatra. Espetacular!

02: Tony da Gatorra
Nada mais contemporâneo que o Tony da Gatorra. Ele inventou um instrumento e prega o neo-hippismo xaropento. É o futuro do rap, rock e e-music. 

03: Jota C
Ícone dos BGs do Programa Garagem. É demais!

04: Ednaldo Pereira
Essa letra é tudo o que o Arnaldo Antunes queria ter feito. Percebam também a influência do Frank Zappa no instrumental. E lembre sempre: não me leve tão a sério!

05: Elias F. Pacheco
Tá em casa de bobeira? Faça um disco. Elias F. Pacheco é mais uma prova de que não é necessário conhecimento musical e nem técnicos para se gravar algo. Apenas faça. Seja um leigo funcional. No caso dele, o resultado é uma pérola nonsense estupidamente divertida.

06: Banda Ritual
O heavy metal, tonto por natureza, agora em formato ao menos divertido.

07: Yellow Man
Mais um gênio do Programa Garagem. Não confundam com o Yellowman jamaicano.
Não encontrei nenhuma de suas obras primas no youtube (dentre tantas a sensacional "Motoboy"). Procurem no google ou no próprio programa Garagem. É do nível do Jota C.

quarta-feira, 19 de junho de 2013

0020: Chico Buarque - Construção (1971)

Hoje é aniversário do Chico Buarque, um dos melhores e maiores compositores da música popular brasileira (para muitos, o maior vivo). Independentemente de qualquer predileção, Chico é realmente um ícone e sua música reverbera ainda hoje (para o bem e para o mal) em nossa cultura.

Em 1971, ele lançou o disco Construção, que contém a espetacular faixa homônima. A canção não por acaso foi escolhida pela revista Rolling Stone (numa votação feita por músicos e jornalistas) como a maior música brasileira de todos os tempos.

A obra foi produzida pelo ícone da bossa nova Roberto Menescal, arranjada impecavelmente pelo maestro tropicalista Rogerio Duprat e contém a participação do grupo MPB-4 no coro.

Sua letra é emblemática. Uma critica ferrenha a alienação do sistema capitalista e do regime militar. A estrutura é formada por 3 blocos de 17 versos que mantém uma alternância da paroxítona final.

Melhor do que falar (e ler) sobre a obra é mesmo ouvi-la. Parabéns, Chico!

terça-feira, 18 de junho de 2013

TEM QUE OUVIR: Led Zeppelin - Houses Of The Holy (1973)

Em 1973 o Led Zeppelin era a maior banda do mundo. Seus shows eram enormes, os discos vendiam feito água e até a mídia musical, outrora agressiva nas criticas, começava a dar sinais de devoção. Após quatro anos de trabalhos intensos comprovando a competência do grupo, em seu quinto álbum eles tiraram o pé do acelerador e deixaram a música fluir de forma mais espontânea. Nascia mais um clássico, nascia o multifacetado Houses Of The Holy.



O disco soa muito mais descontraído que os anteriores, como pode ser conferido na cativante/explosiva "Over The Hills And Far Away". Além disso, a variedade de estilos é a característica mais forte do trabalho, vide que "The Crunge" é um funk inspirado em James Brown (ainda que com um synth à la Stevie Wonder), "D'yer Mak'er" um reggae, "Dancing Days" é puro rock n' roll envolvente com slides de blues e "No Quarter" um épico de arranjo progressivo, com direito a teclados magistrais do John Paul Jones.

O aprimoramento das típicas canções acústicas do Led acontece na lindíssima "The Rain Song", um dos grandes momentos do Jimmy Page como instrumentista e arranjador. Já o peso de sua guitarra inconfundível chama atenção no espetacular riff de "The Ocean", com direito ao groove troglodita do John Bonham.

Apesar de tantas grandes composições, nada é mais estraçalhante que a incrível "The Song Remains The Same", faixa que abre o disco. Sua introdução é impecável. O riff de Jimmy Page é violentamente rítmico e gigante em sua harmonia. O baixo de John Paul Jones é pesado e ultra melódico. Já o groove de John Bonham é insano, além de conter a profundidade sonora tão característica das produções do grupo (mais um mérito de Page). Mas isso tudo é apenas o primeiro minuto, que deságua na voz sensual de Robert Plant. Genial!

Esse brilhante álbum não é o maior clássico do Led Zeppelin e não necessariamente o melhor, mas é uma perfeita porta de entrada para quem ainda criminosamente não conhece a obra do grupo.

domingo, 16 de junho de 2013

TEM QUE OUVIR: Tom Waits - Swordfishtrombones (1983)

Existem dois Tom Waits. O primeiro é um cantor bêbado de soul/pop/blues/jazz, pianista e cria da poesia beatnik. O segundo é o mesmo cantor bêbado, só que agora de uma vertente musical difícil de classificar, mas explicitamente peculiar. Embora ambos sejam relevantes e cultuados, é justamente a segunda fase do Tom Waits que carimbou seu nome no cenário musical. Swordfishtrombones (1983) foi o álbum que deu a luz a esse que é um dos mais interessantes artistas da música popular.


Sua espantosa voz grave, rouca e ríspida surge logo na primeira faixa, a curta "Underground", um cruzamento perfeito entre música de saloon e Captain Beefheart.

Como se estivesse interpretando um conto de terror, Tom Waits narra a medonha letra de "Shore Leave", com direito a berros típicos de um felino embriagado, enquanto o instrumental ruidoso trata de criar o clima tenso. Essa riqueza de imagens proporcionada através dos arranjos e da interpretação, o levou a trabalhar em trilhas sonoras para filmes do diretor Francis Coppola. 

Assim como, em tese, o disco parece repetitivo em sua estranheza, na prática ele soa bastante cativante. Dentre as faixas que se destacam estão "16 Shells From A Thirty-Ought-Six"(um rock n' roll de arranjo pitoresco), "Town With No Cheer" (uma balada arrastada), "In The Neighborhood" (um hino religioso de alcoólatras bebedores de rum) e "Soldier's Things" (um dramático jazz ao piano).

Swordfishtrombones direcionou a peculiar carreira do Tom Waits, carreira essa difícil de ser compreendida e rotulada, mas de grande valor artístico.

sábado, 15 de junho de 2013

Músicas de protesto

Em meio a diversas manifestações legitimas ocorrendo nos últimos dias (vide Turquia, Espanha, França e mais aproximadamente aqui em São Paulo, Brasília e Rio de Janeiro) decidi fazer uma pequena playlist de músicas de protesto (ou música de intervenção), algo alias aparentemente extinto.

A causa, época e local são diversos. O que as une é a inquietação e a atitude. Sem mais delongas, vamos a elas. 

Obs: não gosto das músicas do Geraldo Vandré e do Gonzaguinha.

Bob Dylan - Blowin' In The Wind
Clássico! A poesia de um ainda jovem Bob Dylan a serviço da luta dos direitos civis. Impressionante sua maturidade lirica.

Billie Holiday - Strange Fruit
A exuberante "Strange Fruit" (a mesma escrita pelo professor judeu Abel Meeropol e interpretada de forma igualmente majestosa pela Nina Simone), ganha ainda mais força com Lady Day. Em poderosa sua voz encontram-se todos os negros linchados e expostos nas árvores (daí as "estranhas frutas") do estado de Indiana.

Jimi Hendrix - The Star Spangled Banner
Nenhum outro solo de guitarra foi tão comunicativo quanto esse. Em pleno festival de Woodstock, no auge do movimento hippie, distorção, microfonias, wah-wah e alavancadas cacofônicas numa versão emblemática do hino norte-americano, executado entre intervenções ruidosas que simulam os mísseis da Guerra do Vietnã.

Creedence Clearwater Revival - Fortunate Son
Uma das minhas canções prediletas desse grupo sensacional encabeçado pelo John Fogerty. Ataque direto aos privilégios dos filhos da elite que não eram enviados para lutar na Guerra do Vietnã (mais uma vez ela).

Genesis - Dancing With The Moonlit Knight
Enquanto muitos associavam o rock progressivo a algo pomposo e inofensivo, o Genesis fazia criticas ferrenhas a monarquia britânica e seus aristocratas.

Frank Zappa - I'm The Slime
O maior critico da América. Atirou contra o movimento hippie, as instituições de educação, as religiões, o estado, a mídia, a indústria da música, a censura e também contra a própria população. Sarcástico, bem humorado e feroz.

Bob Marley - Get Up Stand Up
Uma simples palavra de ordem. Impossível ser mais explicito que isso.

The Clash - London Calling
The Clash chamando literalmente as pessoas para as ruas londrinas durante a crise de desemprego na época da Margaret Thatcher. A canção apresenta os primeiros sinais sonoros da evolução do punk rock. Esse amadurecimento musical se deu junto ao amadurecimento das letras, antes limitadas as criticas superficiais a rainha (vide Sex Pistols) ou cheirar cola (vide Ramones).

Dead Kennedys - California Über Alles
Um coice na cara do ex-governador da Califórnia, Jerry Brown. Daqui pra frente o punk rock evoluiu pro hardcore e desencadeou em diversas bandas contestadoras.

Bruce Springsteen - Born In The USA
Um operário. Um homem do povo. Bruce Springsteen mija na bandeira dos EUA (vide a capa original) e manda seu recado. Ao contrário do que muitos pensam, não é uma faixa nacionalista.

Grandmaster Flash - The Message
O começo do que diversos grupos viriam a fazer futuramente com primor (vide o excelente Public Enemy). Ou seja, eis o início do rap enquanto música de protesto. Finalmente os negros marginalizados do gueto nova-iorquino ganharam voz.

Rage Against The Machine - Testify
Dois dos estilos musicais mais contestadores (rock e rap) se fundem neste bombardeiro de ideais esquerdistas. Engajamento com conhecimento politico.

Manic Street Preaches - Motown Junk
Porque até mesmo o britpop teve seu representante revolucionário.

System Of A Down - BYOB
Uma porrada sonora (de alcance pop) feita durante a invasão americana ao Iraque.

Nara Leão (Zé Ketti) - Opinião
Após uma violenta de "limpeza social" que se deu nos morros, o sambista Zé Ketti compôs essa boa canção que, anos mais tarde, na voz da Nara, virou um hino de resistência a ditadura. Curiosamente, diz a lenda que, depois do lançamento da faixa, ele entrou em contradição ao fazer justamente o que negava na letra. Qualquer julgamento moral não cabe a mim.

Caetano Veloso - É Proibido Proibir
No auge da truculenta ditadura militar brasileira, Caetano Veloso fez a música que contribuiu diretamente para seu exílio. O mais interessante é que nem os estudantes de esquerda, nem a elite conservadora, apoiou o artista na época.

Chico Buarque - Cálice
Dentre tantas composições emblemáticas do Chico, essa parceria com o Milton Nascimento é a que mais emociona, não só pela sua letra, mas também pelo seu belo arranjo. Méritos do Magro do MPB-4.

Cólera - Caos Mental Geral
O punk rock brazuca também foi explosivo, principalmente por pegar o final do Regime Militar. Encabeçado pelo grande Redson, o Cólera foi o grupo que se saiu melhor nas letras.

Plebe Rude - Até Quando Esperar
Um hino politizado direito do rock de Brasilia, só que muito bem escrito e tocado, ao contrário das chatissimas canções do Capital Inicial (e até mesmo da Legião Urbana).

Titãs - Policia
O hino eterno contra a Policia Militar, o resquício obsoleto e violento da ditadura militar brasileira.

Planet Hemp - A Culpa é de Quem?
Lembrados apenas pela (também importante) luta a favor da legalização da maconha, o Planet Hemp tratou de diversos temas, vide a ótima "A Culpa é de Quem?".

Racionais MC's - Fim De Semana No Parque
A vida do gueto brasileiro representado nas letras deste seminal grupo. São tantas boas faixas para escolher...

Mundo Livre S/A - Muito Obrigado
Porque a censura musical, a OMB e o jabá das rádios também merecem protesto musical.
Obs: não encontrei no YouTube.

The Who - Won't Get Fooled Again
Para finalizar, um clássico do rock inglês, mas que serve muito para contextualizar os momentos atuais do Brasil. Mais uma grande letra do Pete Townshend. Clássico!

terça-feira, 11 de junho de 2013

TEM QUE OUVIR: Chic - C'est Chic (1978)

A disco music foi inegavelmente um grande sucesso no final da década de 1970. O estilo estava presente - ainda que de forma caricata -, nos filmes (vide Os Embalos de Sábado à Noite de 1977) e nas casas noturnas (inicialmente direcionadas ao público negro e gay, mas dali em diante frequentadas pela "alta sociedade"). Era definitivamente a trilha sonora de uma ainda jovem indústria da fama. Tais características tornaram o gênero mal falado com o passar do tempo, soando datado nos dias de hoje, algo como um "funk plastificado". Mas essa não é a realidade, vide o trabalho feito por grupos como o Chic, que entre tantas boas canções, lançou várias no ótimo disco C'est Chic (1978). 


Encabeçado pelo genial produtor/arranjador/guitarrista Nile Rodgers - que mais tarde viria a trabalhar com David Bowie, Madonna, Duran Duran e Daft Punk - o Chic conseguiu tornar-se referência em fazer disco music com qualidade e apelo comercial, vide a faixa "Le Freak" - inicialmente "Fuck Off", composta após Nile ser barrado no Studio 54 -, que fez bastante sucesso. Outro hit é arrojada "I Want Your Love", perfeita para o clima pansexual da época.

O groove arrebatador de "Chic Cheer" e "(Funny) Bone" se destacam não só pela guitarra ultra swingada do Nile Rodgers, mas também pelo baixo imponente do lendário Bernard Edwards e a bateria pesada do Tony Thompson.

Outras faixas que chamam atenção e mostram a riqueza do grupo são "Savor Faire" (uma balada instrumental de arranjo ultra sofisticado), "Happy Man" (um típico pop dançante que o David Bowie adoraria ter feito) e "At Last I Am Free" (com seu romantismo e vocal afiadíssimo).

David Bowie, Kiss, Rolling Stones, Queen, Gang Of Four, Bee Gees e diversas outras bandas beberam direta ou indiretamente da fonte do Chic, mas nenhuma delas superou o próprio grupo e seu C'est Chic. Um marco/clássico da disco music.

segunda-feira, 10 de junho de 2013

TOP 5: Músicas para se matar

Lá vai um TOP 5 músicas para se matar. Porque se for pra escolher a hora e local da morte, eu quero que seja numa segunda-feira de manhã ao som de:

Obs: Calma, não vou me matar e nem estou "glamourizando" o ato. É tudo simbólico.

Obs 2: Sou óbvio no quesito "músicas para suicídio".

Obs 3: Radiohead não é tão depressivo assim.

Obs 4: Dependendo de como você chegou neste post, recomendo você procurar ajuda.

01: Lou Reed - A Perfect Day
Sarcasticamente perfeita para um suicídio. É como dizer que "agora está tudo bem".

02: Joy Division - Twenty Four Hours
Dispensa comentários!

03: Alice In Chains - Down In A Hole
Porque suicidas estão no buraco e de lá não sairão. É triste, bonita e simbólica.

04: Nirvana - Scentless Apprentice
Adrenalina paranóica típica de quem entrou em parafuso.

05: Ministry - Just One Fix
Adrenalina paranóica típica de quem entrou em parafuso. [2]


Caramba, esqueci de "The End" dos Doors! Fica a dica.

quinta-feira, 6 de junho de 2013

TEM QUE OUVIR: PJ Harvey - Rid Of Me (1993)

Em 1993 o grunge estava no auge. A Inglaterra precisava de uma resposta equivalente e imediata. Eis que espontaneamente surge PJ Harvey. Seu segundo disco, Rid Of Me, é o tapa furioso feito pela última grande artista mulher do rock.


PJ Harvey seduz pela estranheza. Suas músicas são narrativas de uma mente conturbada diante de diversos conflitos. Entre os melhores exemplos dessa poesia problemática está "Missed". Tudo isso foi exposto radicalmente neste disco produzido em parceria com Steve Albini, produtor cultuado de discos como Surfer Rosa do Pixies e In Utero do Nirvana. 

A faixa "Rid Of Me" é sexualmente chocante. Ao intercalar suspiros e uivos roucos a frase "lick my legs, I'm on fire", PJ causou um desconforto adorável. Seu desejo por um amor perverso é aflorado em canções como "Legs", "Rub 'Til It Bleeds" e "Ecstasy".

A sonoridade da guitarra chama atenção pela sua crueza lo-fi, como pode ser percebido em "Hook". Musicalmente os arranjos são calcados no blues rock, ainda que tocado com atitude punk, vide "50ft Queenie". Mas não existe regra. Uma hora nos damos de cara com a experimental/maluca "Man-Size Sextet", para logo depois surgir a pesada versão para "Highway 61 Revisited" do Bob Dylan.

Discretamente e corajosamente, PJ Harvey construiu uma carreira sorrateira, tonando-se uma das grandes artistas do seu tempo. Rid Of Me é um dos primeiros capítulos dessa história e precisa ser apreciado com atenção.

quarta-feira, 5 de junho de 2013

TOP 5: Grandes guitarrista "brasileiros" que "não são" brasileiros

"Mas que raio de título é esse? Ou o cara é brasileiro ou não!", diz algum desavisado. Entretanto, um caso curioso sempre me chamou atenção. Existem quatro grandes nomes da guitarra brasileira, que construíram suas respectivas carreiras aqui no Brasil, mas que nasceram em outros países. Eles são frequentemente listados como grandes guitarristas brasileiros sem sequer serem daqui. Usarei então essa curiosidade como oportunidade para escutarmos esses grandes músicos. Sem mais delongas, vamos ao que interessa.

01 - Lanny Gordin
O comumente chamado de "Hendrix brasileiro", sequer é brasileiro. Filho de pai russo e mãe polonesa, Lanny Gordin nasceu na China e viveu parte da sua infância em Israel. Mas foi no Brasil que tornou-se um requisitado músico, gravando discos históricos com os principais nomes da Tropicália (Gal Costa, Caetano Veloso e Gilberto Gil). Sua participação no debut do Jards Macalé é genial. Sem dúvida um dos maiores ícones da guitarra do nosso país. Pessoalmente, o meu predileto.

02 - Nuno Mindelis
Um dos principais nomes do blues nacional. Nuno Mindelis foi eleito pela revista americana Guitar Player como o melhor guitarrista de blues no ano de 1998. Mas ele nasceu na Angola, morou no Canadá até quase os 20 anos e só depois veio pro Brasil. De qualquer forma, quando forem listar os principais discos brasileiros, não se esqueçam do Texas Bound (1996).

03 - Victor Biglione
Victor Biglione tocou com Luiz Melodia, A Cor do Som, Moraes Moreira, Wagner Tiso, Cássia Eller... mas apesar desse sotaque tão versátil e brasileiro, ele é argentino. Sua guitarra é referência de bom gosto para músico como Andy Summers (The Police).


04 - Torcuato Mariano
Torcuato Mariano é outro que nasceu na Argentina, mas que adotou o Brasil como lar sonoro. Com seu fraseado fortemente influenciado pelo jazz e r&b, Torcuato acompanhou diversos nomes da música brasileira, como Lobão, Cazuza, Gal Costa, Ivan Lins e Djavan. Sua carreira solo e seu trabalho como produtor e arranjador também merece atenção.

05 - Leonardo Amuedo
É verdade que todos sabem que o Amuedo é uruguaio, mas já que ele acompanhou nomes como Caetano Veloso, Dori Caymmi, João Bosco e principalmente Ivan Lins, achei importante ele estar aqui na lista marcando presença. Excelente instrumentista!

Uma curiosidade: Sabe o Aquiles Priester, ex-baterista do Angra? Pois então, ele nasceu na Africa do Sul.

terça-feira, 4 de junho de 2013

TEM QUE OUVIR: Os Mutantes - Os Mutantes (1968)

Três jovens debochados, talentosos e criativos músicos do bairro da Pompéia (SP) são acolhidos pelo tropicalismo e gravam um dos melhores discos de estreia de todos os tempos.


Poucos trabalhos são tão inventivos quanto Os Mutantes. Não por acaso ele foi eleito pela revista inglesa MOJO como um dos 50 discos mais experimentais da história, na frente de nomes como Beatles, Frank Zappa e Pink Floyd. O álbum tem uma energia/humor juvenil incrível, enriquecida pela maturidade dos arranjos do lendário maestro/produtor Rogério Duprat e pela produção do Manoel Barenbein.

Composta por Caetano Veloso e Gilberto Gil, "Panis Et Circense" abre o disco. A faixa é altamente sofisticada, tanto em sua letra critica, quanto no seu instrumental sinfônico. O efeito final, que simula a diminuição da rotação do vinil, revela tanto o humor quanto o experimentalismo do grupo.

Outras canções de autoria do Caetano Veloso são as clássicas "Baby" e "Bat Macumba", sendo que essa última contém efeitos peculiares de guitarra, construídos artesanalmente pelo irmão de Sérgio Dias e Arnaldo Baptista, o Cláudio Cesar Dias Baptista, um gênio da eletrônica.

Em "A Minha Menina" (Jorge Ben), a acidez do rock psicodélico e o balanço da música brasileira se fundem. É a canção dos Mutantes que os gringos adoram. O timbre estridente do fuzz na guitarr é acachapante. "Adeus Maria Fulô" tem também essa brasilidade, só que aqui coberta por um arranjo inusitado de autoria do Duprat.

Arnaldo Baptista, ainda que muito jovem, já era um compositor extremamente talentoso, vide as faixas "Senhor F" - num jazzistico 7/4, lembrando o dixieland style -, a maluca "Trem Fantasma", o lirismo dream pop/ambient de "O Relógio", a divertida (e muito bem escrita) "Tempo No Tempo" e a vanguardista "Ave Gengis Khan". Já a ainda lolita Rita Lee encanta com sua doce voz em "Le Premier Bonheur Du Jour".

Lançado após o grupo acompanhar Gilberto Gil no Festival Record de 1967 executando "Domingo No Parque" e participarem do álbum manifesto Tropicalia ou Panis Et Circences (também de 1968), Os Mutantes, que outrora ficou empoeirado no ostracismo, tornou-se um clássico cult, muito graças aos elogios de fãs famosos como David Byrne, Kurt Cobain e Sean Lennon. O reconhecimento tardou, mas chegou.

segunda-feira, 3 de junho de 2013

0019: Steppenwolf - Born To Be Wild (1968)

Uma música capaz de fazer um disco e uma banda tornar-se clássica. "Born To Be Wild", faixa presente no disco de estreia homônimo da banda Steppenwolf, lançado em 1968. O álbum não é necessariamente o melhor do grupo, mas devido a sucesso da canção, caiu no gosto dos rockeiros mais tradicionais.

A música é o hino dos motociclistas , principalmente devido a clássica aparição da faixa no filme Easy Rider (port. Sem Destino) de 1969.

O riff é espetacular, assim como sua levada básica de bateria, groove pesado de baixo, refrão empolgante e letra emblemática que cita pela primeira vez o heavy metal ("Heavy metal thunder").

A canção foi regravada por inúmeros artistas, como Rolling Stones, Slade, Slayer, Ozzy, The Cult, dentre outros. Mas é mesmo a versão original do Steppenwolf a verdadeiramente relevante.

sábado, 1 de junho de 2013

TEM QUE OUVIR: Echo & The Bunnymen - Porcupine (1983)

Porcupine (1983) do Echo & The Bunnymen é um disco seminal. O álbum tem aquela típica sonoridade oitentista - produção polida, timbres cristalinos e zero solos de guitarra -, tão execrada pelos rockeiros mais tradicionais (falo por experiência própria). Todavia, as composições são tão cheias de boas referências - principalmente Velvet Underground, David Bowie, Big Star e The Doors - que é difícil não se render a obra.


Foi aqui que o pós-punk amadureceu e chegou ao seu auge criativo, sendo possivelmente um dos primeiros sinais sonoros daquilo que ficou conhecido como rock alternativo. Toda a apropriação feita do punk, krautrock, new wave, power pop, dub e funk é exclusiva e rica. Os arranjos chegam a ser épicos, tamanha a quantidade de informação, vide a espetacular "Porcupine". Isso em partes dificulta a audição dos ouvintes mais acomodados.

Logo na faixa que abre o disco, o single "The Cutter", temos elementos de música indiana proporcionado pelo L. Shankar, trompetes gritantes, baixo cheio de groove, guitarra cacofônica e bateria carregada de reverb. 

"The Back Of Love" mantém a fórmula do inusitado, tanto no arranjo quanto na instrumentação - que outra banda nos anos 80, década dos sintetizadores, usava violoncelos e violinos em suas gravações? -, que embala a composição em seu ritmo desesperado.

Ian McCulloch encarna Jim Morrison - timbre, letra e interpretação - em "My White Devil". Já o guitarrista Will Sergeant cria enormes texturas em "Clay".

O disco tem momentos instrumentais frenéticos, soturnos e exóticos. Com relação as letras, é poeticamente angustiante e existencialista. Porcupine é a trilha perfeita dos dilemas presentes na tão conturbada e musicalmente estranha década de 1980.