sexta-feira, 31 de maio de 2013

100 Anos da Sagração da Primavera

Como entreguei no título do post, mas pouco se falou na grande mídia, há 100 anos estreava em Paris o balé Sagração da Primavera (La Sacre Du Printemps ou Rite Of Spring - daí saiu o nome da banda de post-hardcore?), composto por Igor Stravinsky, coreografado originalmente por Vaslav Nijinski, com cenografia e figurinos de Nicholas Roerechi e produção de Sergei Diaghilev (obrigado, Wikipedia). A obra é uma das mais importantes do século XX e um dos poucos trabalhos de música erudita que realmente me chama atenção (aí talvez não necessariamente mérito da obra, mas falha minha).

Igor Stravinsky e Vaslav Nijinski

A rebeldia presente na obra de Stravinky é explicita. Não por acaso sua obra subverte a estética musical do seu tempo e da origem ao Modernismo. Sua estreia não foi aclamada, muito pelo contrário, foi brutalmente criticada, característica essa de diversos trabalhos de vanguarda.

A música que se ouvia era inovadora. Extremamente rítmica, com diversas variações na fórmula de compasso e fazendo uso de polirritmia. As harmonias e melodias eram pouco convencionais, abusando de dissonâncias e timbres pouco explorados até então, principalmente por instrumentos como o fagote. Para alguns, a coisa era tão subversiva e caótica que soava incomoda.

Manuscrito original do Stravinsky

Como se já não bastasse a sonoridade e temática profunda do balé, Vaslav Nijinski fez questão de deixar tudo ainda mais perturbador com sua coreografia primitiva.

Ainda hoje a obra pode ser considerada inovadora, mas não mais vista com excentricidade. Já é possível admirar a beleza da Sagração da Primavera.

quinta-feira, 30 de maio de 2013

TEM QUE OUVIR: Mike Oldfield - Tubular Bells (1973)

Em 1973, um músico pouco conhecido lançava seu primeiro disco solo. O álbum continha apenas duas músicas, cada uma com pouco mais de 20 minutos. O que se ouvia não era rock progressivo, música erudita, eletrônica, étnica ou new age, mas sim uma junção disso tudo. O trabalho tinha tudo para ser um fracasso comercial, mas inexplicavelmente vendeu mais de 18 milhões de cópias e ficou na primeira posição no Reino Unido, além de estabilizar/financiar a carreira artística do dono da obra. Estou falando de Mike Oldfield e seu surreal Tubular Bells (1973), o primeiro lançamento do selo Virgin.


Mas será que o sucesso de um disco tão peculiar - e caso você ainda não tenha escutado, acredite, é peculiar! - é realmente inexplicável? Vamos analisar os fatos.

1º Fato: Mike Oldfield tocava na banda do Kevin Ayers (Soft Machine), ou seja, não era um aventureiro. Tinha no mínimo qualidades técnicas para fazer um grande trabalho, sendo que seu ótimo senso melódico revela-se por todo o disco, ainda que muitas vezes passe batido diante do formato pouco convencional das faixas. 

2º Fato: Tubular Bells tem composições um tanto quanto densas e sombrias. E foi justamente essa percepção que levou a música de abertura a ser tema do filme O Exorcista (William Friedkin), também de 1973. Sem dúvida o sucesso do filme, que em partes se deve a trilha - o tal "efeito tostines" -, alavancou a vendagem do álbum. Vale lembrar que a banda de thrash/death metal Possessed também usou a música na introdução do clássico Seven Churches (1985).

3º Fato: Tudo é muito bem arranjado, executado e produzido - com exceção da datada capa -, ainda que Oldfield não ache o mesmo. Típica modéstia de perfeccionistas. Com tantas qualidades, foi fácil para os fãs de rock progressivo da época - que não eram poucos - embarcarem no conceito do disco.

4º Fato: Tem sinos.

O sucesso foi tanto que Tubular Bells virou uma sequência, sendo que a segunda, lançada em 1992, também fez bastante sucesso. Mas é mesmo o clássico disco de 1973 a obra definitiva do Mike Oldfield.

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Relembrando o US Festival 1983

Há exatos 30 anos atrás ocorria a noite do heavy metal no US Festival. O "US" não é das iniciais de United State, mas do pronome "Us", já que a ideia era de que a década de 1970 foi a do "eu", enquanto a de 1980 seria a do "nós". O cultuado festival criado por Steve Wozniak (um dos fundadores da Apple com Steve Jobs) serviu de modelo para muitos outros eventos, dentre tantos o primeiro Rock In Rio.

Em 1982 o evento havia ocorrido com as presenças de grupos como Gang Of Four, Ramones, Talking Heads, The Police, The Kinks, Santana, Grateful Dead e Fleetwood Mac. Ainda sim, foi o de 1983 que ficou pra história, principalmente a noite de 29 de maio, o segundo dia do festival destinado as bandas de heavy metal.


Postarei aqui alguns shows que marcaram esse dia. Não vou escrever muito, apenas assistam os vídeos. Relembrar é viver!

Quiet Riot
Sacramentando o sucesso de serem a primeira banda de heavy metal a entrar no primeiro lugar da Billboard, feito conquistado com o disco Metal Halth, lançados 2 meses antes.

Mötley Crüe
Sabe o hair metal/metal farofa/hard 80's que tanto fez sucesso no meio da década? Então, podemos dizer que o primeiro momento de popularidade do estilo foi aqui.

Triumph
Boa banda que lembrava (ou copiava?) o Rush, só que mais pasteurizado e hard. Na época eles estavam no auge.

Ozzy Osbourne
Já após a morte do Randy Rhoads, com o subestimado Jake E. Lee na guitarra.

Judas Priest
Possivelmente o auge da popularidade da banda. Primeiro escalão do heavy metal. Espetacular!

Scorpions
O auge de sua popularidade, mas ao contrário do Judas Priest, não o auge criativo. No entanto a banda empolgou o público.

Van Halen
Show histórico. O tal show de 1 milhão de dólares (o cache subiu após a banda saber que o David Bowie recebeu a mesma quantia para tocar na noite seguinte). Pelo que se vê no palco e na empolgação da platéia, o preço foi justificado.

Obs: outras bandas/artistas que passaram pelo US Festival em 1983: INXS, Stray Cats, U2, Missing Persons, The Pretenders, Stevie Nicks, Joe Walsh, David Bowie, Hank Williams Jr. e Willie Nelson.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

TEM QUE OUVIR: Small Faces - Ogdens' Nut Gone Flake (1968)

Embora tenha feito pouco sucesso fora da Inglaterra, o Small Faces pode ser considerado o grupo mais representativo do movimento mod (perdão, The Who). Eram garotos britânicos de classe média, que se vestiam impecavelmente, tomavam anfetamina e eram diretamente influenciados pela música negra americana, principalmente blues, r&b e a soul music da Motown. Mas foi justamente ao deixar essas influências um pouco de lado e agregar a típica sonoridade beat inglesa e psicodélica ao som, que eles fizeram o maior clássico da carreira: Ogdens' Nut Gone Flake (1968).


A arte gráfica do disco merece menção especial, afinal, não é qualquer álbum que vem simulando uma embalagem de tabaco. Feita de lata, quando aberta continha papel para fumo e imagens psicodélicas. Estava dado o inicio a viagem.

A sinfônica faixa que nomeio o disco prepara o terreno para os primorosos arranjos que vem a seguir, vide a ótima "Afterglow Of Your Love", uma balada turbina em que Steve Marriott demonstra todo o seu poder de fogo vocal. Mas ele não é o único a esbanjar competência ao cantar, vide a performance de Ronnie Lane na intensa "Song Of A Baker", com destaque também para a bateria esperta de Kenney Jones.

"Rene" é uma quase trilha de cabaré feita por um londrino, com direito ao piano sacana de Ian McLagan. Já a espetacular "Lazy Sunday" fecha o lado A do vinil levando o título de hit psicodélico do disco.

Comandada pelo comediante Stanley Unwin e seu típico sotaque britânico, o genial lado B é uma opereta divida em seis partes: "Happiness Stan" é assombrosa em sua riqueza; "Rollin' Over" soa bastante pesada; "The Hungry Intruder" é psicodelicamente lúdica; "The Journey" tem um groove encorpado e delirante; "Mad John" e "Happy Days Toys Town" embalam a obra de forma coesa.

O disco foi um sucesso, mas assim como Sgt. Peppers dos Beatles, era impossível sua execução ao vivo devido os inúmeros detalhes de arranjos e as experiências de estúdio inseridas nas composições. Frustrado com os caminhos do grupo, Marriott deixa a banda e forma o Humble Pie. Já os membros remanescentes abrem mão do Small e formam o The Faces, somando força aos ex-Jeff Beck Group, Rod Stewart e Ron Wood. Mas tudo isso é história para um próximo post.

domingo, 26 de maio de 2013

TEM QUE OUVIR: Johnny Cash - At Folsom Prison (1968)

Johnny Cash teve uma carreira irregular. Muito disso causado por bebedeiras, vício em anfetaminas, problemas com a lei, divórcio, shows tumultuados, tentativas de suicídio e vexames público. Tudo isso fazia parte do currículo marginal de Cash, contrabalançado por composições memoráveis, vozeirão grave e pé atolado na música country. 

Após anos de loucuras, em 1968 o Homem de Preto começou a reerguer sua carreira/vida. Casou com June Carter e se converteu ao cristianismo. Musicalmente, sacramentou sua volta ao sucesso comercial com um brilhante disco gravado ao vivo, justamente no lugar onde o público mais se identificava com suas canções: Folsom State Prison, cadeia de segurança máxima localizada na Califórnia, mesmo local em que esteve detido anos antes por porte de drogas. Resultado? O álbum vendeu mais de 1 milhão de cópias, superando na época as vendagens dos Beatles. A fórmula foi tão boa e natural que se repetiu anos depois em San Quentin.


O que encanta nesta apresentação é naturalidade com que Cash lida com a plateia. Ali ele não era o artista, mas sim o locutor, que entre risos, tosses, diálogos e provocações, cantava ótimas canções de profundidade e fácil assimilação. Os arranjos são simples, porém vorazes. É a velha música country americana com atitude rocker, feita por um fora-da-lei e executadas sob supervisão de policiais fortemente armados. 

Nada mais apropriado do que abrir o show com "Folsom Prison Blues" e logo de cara mandar um "atirei num homem em Reno só para vê-lo morrer". Outras letras se encaixam ainda mais no contexto carcerário, vide "The Wall", "Cocaine Blues", "25 Minutes To Go" e "Greystone Chapel", essa última de força espiritual. 

É emocionante ouvir sua bela interpretação para "Green, Green Grass Of Home". Há também momentos descontraídos, vide divertidíssima "Dirty Old Eggsuckin' Dog". Já a clássica "Jackson" salta aos ouvidos em seu sempre irresistível dueto com a June. Todas essas canções servem de amostra da pluralidade lírica do Johnny Cash.

Antes do rap ser o megafone musical dos encarcerados ou mesmo da Rita Cadillac tornar-se a Rainha dos Detentos, Johnny Cash estava lá, fazendo com atitude e talento o que ninguém jamais conseguiu superar: ser um marginal na indústria musical.

sábado, 25 de maio de 2013

Clássicos do início do heavy metal brasileiro

A revista brasileira Roadie Crew, especializada em heavy metal e classic rock, lançou neste mês uma edição comemorativa de 15 anos com os "60 Grandes Álbuns do Metal Brasileiro". A matéria é extremamente interessante e me apresentou bandas esforçadas, carregas de inocência e limitações técnicas, que hoje podem ser vistas com romantismo e admiração.


Farei um apanhado dos grupos do início do heavy metal no Brasil que mais chamaram minha atenção. Demarco como "início" tudo aquilo que foi feito antes do Beneth The Remains (1989) do Sepultura, claramente um divisor de águas do estilo no país. Mais futuramente escrevo sobre as grandes bandas e álbuns lançados posteriormente ao clássico disco do Sepultura.

Muitas das bandas citadas na lista da Roadie Crew não se enquadram no meu gosto, ainda que a matéria deixe clara a importância delas. Apesar de não gostar da sonoridade e, consequentemente, elas não entrarem no meu post, deixo aqui meu profundo respeito e admiração por esses grupos, dentre eles o Metalmorphose, Alta Tensão, Inox, Astaroth, Chakal, Anthares, Warfare Noise, Viper, Salário Mínimo, Panic, MX, Witchhammer, The Mist, dentre outros.

Vamos agora aos discos que mais gostei!

Stress - Stress (1982)
Um grupo que sai de Belém do Pará rumo ao Rio de Janeiro, com dinheiro contado e com o único intuito de tocar heavy metal, tem que ser respeitado, ainda mais num longínquo e nada saudoso ano de 1982. Vale lembrar que, até aquele momento, o mais próximo que o Brasil tinha chegado de produzir heavy metal era a Patrulha do Espaço, ou seja, estava mais para um hard/heavy rock. O resultado alcançado pelo Stress não é dos melhores, nem nas composições e muito menos na produção, mas vale ser escutado. Dá para sentir paixão na execução.

Harppia - A Ferro e Fogo (1985)
Aqui o heavy metal nacional deu um salto de qualidade. A evolução quando se comparada ao Stress é brutal. As composições e os arranjos são melhores, o Hélcio Aguirra (pré-Golpe de Estado) é um tremendo guitarrista, a produção é mais coesa... possivelmente o primeiro registro profissional do estilo no Brasil.

Azul Limão - Vingança (1986)
Composições extremamente ingênuas, mas muito legais. Confesso que coloco respeitosamente o Azul Limão entre aquelas bandas que são tão ruins que são boas. Escute a pateticamente incrível "Satã Clama Metal" e entenda o que digo.

Centúrias - Última Noite EP (1986)
Banda lendária da primeira geração do heavy metal brasileiro. Um dos membros era o ótimo baterista Paulão Thomaz. O disco foi produzido pelo Luiz Calanca, o mesmo a produzir o irregular, mas importante, SP Metal, coletânea lançada em 1984, que apresentou dentre outras bandas o próprio Centúrias. Vale ainda conhecer o álbum Ninja (1988).

Dorsal Atlântica - Antes do Fim (1986)
Somente agora peguei pra escutar o Dorsal com a devida atenção. O resultado? Achei espetacular. O Carlos Lopes é um ótimo compositor. O disco Antes do Fim é contemporâneo aos grandes trabalhos de thrash metal gringos. Se você gosta de Slayer não pode deixar de escutar esse impactante álbum. Muito influente dentro do cenário nacional.

Taurus - Signo de Taurus (1986)
Diretamente do Rio de Janeiro, uma banda atenta ao thrash metal produzido nos EUA. E já nem é mais naquela forma tosca, visto que tem alguns momentos de violão e palhetadas que deixaria o James Hetfield surpreso. Ok, as composições são "bobinhas", mas a execução é afiada. 

Vulcano - Bloody Vengeance (1986)
Com o Brasil recém saído de uma ditadura militar, abriu-se espaço para o surgimento de bandas como o Vulcano, que não economizava o verbo ao blasfemar contra a igreja. O som é muito bagaceiro e, também por isso, cheio de personalidade. Curioso se pensarmos que o grupo é oriundo de Santos (SP). Desgraçado.

Sarcófago - INRI (1987)
É tosco, horrível, sofrível, barulhento... mas acho que era essa a ideia mesmo. Impossível não ouvir INRI e não associar a inúmeras bandas de black metal que copiaram não só o visual, mas também a sonoridade do grupo, principalmente no que diz respeito a bateria recheada de blast beats (metrancadas) do D.D. Crazy. Esse disco representa o quê de mais extremo a influente cena de Minas Gerais deu ao mundo.

Holocausto - Campo de Extermínio (1988)
Mais um fruto podre de BH, que tem como principal característica as letras em português, ainda hoje pouco usais no metal extremo. Essa abordagem explixitou a temática controversa das faixas. É uma cacetada.

Golpe de Estado - Forçando a Barra (1988)
Sempre adorei o disco Forçando a Barra do Golpe de Estado e fiquei surpreso com a inclusão dele na lista da Roadie Crew, muito por ele não ser exatamente um disco de metal, mas sim de hard rock, cantado em português e com a malandragem típica do país. O disco comprova também que Hélcio Aguirra (que já apareceu aqui com o Harppia) foi realmente um dos melhores guitarristas deste período. Nelson Brito (baixo), Paulo Zinner (bateria) e Catalau (voz) também merecem seus nomes citados.

Multilator - Into The Strange (1988)
Mais uma força de Belo Horizonte. Embora de produção ainda capenga, é impressionante como a banda demonstra boa capacidade técnica e composicional se comparado com que era feito até então no thrash metal mundial. Ótimo trabalho.

Robertinho de Recife - Metal Mania (1984)
Um disco não citado na lista da Roadie Crew - na minha humilde opinião foi falha grave - e que quero destacar é o Metal Mania, do grande guitarrista Robertinho de Recife. Escutem e comprovem a qualidade das composições (ainda que inocentes, tem boas melodias e riffs), produção e execução do lendário guitarrista, principalmente para um Brasil de 1984. Extremamente influente entre os guitarristas.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

TEM QUE OUVIR: Ira! - Psicoacústica (1988)

No efervescente cenário musical paulista da década de 1980, muitas bandas - vide As Mercenárias, Ratos de Porão, Patife Band, Akira S, dentre outras - surgiram e criaram um circuito alternativo formado pelas casas Madame Satã, Napalm, Carbono, Rose Bom Bom e o teatro Lira Paulistana. Dentre tantos grupos que faziam a trilha sonora da noite paulistana, um em especial se popularizou nacionalmente com uma fórmula imbatível. Semelhante ao que The Jam fez na Inglaterra, eles pegaram a cultura mod e inseriram doses de punk rock. Estava formado o Ira!.

Logo nos primeiros anos, a banda lançou dois ótimos discos, Mudança de Comportamento (1985) e Vivendo E Não Aprendendo (1986). Mas cheio de peculiaridades que é o rock nacional, um álbum de menor sucesso - mas não de menor qualidade - foi o que tornou-se símbolo dessa cena underground do rock paulista. Falo do cultuado Psicoacústica (1988).



O disco é movido pelas ótimas composições do Edgard Scandurra, ícone da guitarra rock brasileira, que havia passado anos antes por Ultraje a Rigor, Smack e Mercenárias. Um de seus grandes momentos como compositor está em "Rubro Zorro", música sobre o mitológico Bandido da Luz Vermelha. Já suas ótima bases e inventivas linhas melódicas podem ser conferidas nas canções "Manhãs de Domingo", "Poder, Sorriso, Fama" (perfeita para um glamourizado BRock oitentista) e na psicodélica "Mesmo Distante".

É interessante lembrar que nessa época o vocalista Nasi e o baterista Andre Jung começavam a se interessar pela cultura hip hop - vide "Advogado do Diabo" -, enquanto Scandurra iniciava suas experimentações com a música eletrônica, que alinhado aos primeiros sinais da decadência mercadológica do rock nacional, levou a banda a fazer a simbólica "Farto do Rock N' Roll".

Essa explosão de criatividade e influências acabou originando a estranha, paranoica e detetivesca "Pegue Essa Arma", que contém sample retirado do filme O Bandido da Luz Vermelha (Rogério Sganzerla, 1968).

Psicoacústica é considerado hoje um disco cult. Ainda que tenha guiado o grupo para o ostracismo dos anos seguintes, sua audição ajuda a contextualizar esse período interessante do rock brasileiro.

terça-feira, 21 de maio de 2013

0018: The Doors - Light My Fire (1967)

Morreu hoje o eterno tecladista e fundador dos The Doors, Ray Manzarek. Como forma de tributo, nada melhor que escutar (após anos) "Light My Fire", clássica canção presente no estupendo e auto-intitulado disco de estreia da banda, lançado em 1967.

O teclado da introdução é icônico, seja pelo timbre, pela melodia ou simplesmente por ser o cartão de visita do grupo. Méritos do Manzarek.

Já a letra da música tornou-se emblemática após Jim Morrison cantar a plenos pulmões a controversa frase "girl, we couldn't get much higher" no Ed Sullivan Show, mesmo após o verso ser proibido pelos diretores do programa.

A bateria da canção tem muito do groove da bossa nova, ritmo que John Densmore é fã confesso.

Por sua vez, o longo solo de guitarra do Robbie Krieger é carregado de várias referências, como o jazz, blues, violão flamenco e o rock psicodélico.

Tudo isso é a constatação de que os Doors era muito mais que a figura do Jim Morrison.

Clássico do rock e da contracultura.

sábado, 18 de maio de 2013

Virada Cultural 2013

Vou direto ao ponto, ao invés de recomendar uma infinidade de shows para a Virada Cultural, vou concentrar minha energia naquele que considero o mais interessante. Até porque não to muito animado com o caos típico do evento.

Esse ano teremos o Som Imaginário no belo Teatro Municipal tocando na integra o clássico álbum A Matança do Porco, que comemorou recentemente 40 anos do lançamento. Saiba mais sobre o disco neste meu outro post (clique aqui para conferir). A formação atual conta com o Wagner Tiso, Tavito, Robertinho Silva e Victor Biglione. O show começa 18h, mas tem que chegar antes para retirar o provavelmente concorrido ingresso. Imperdível!

Algumas outras grandes apresentações que ocorrem na Virada Cultural que, caso você seja paciente, vale a pena dar uma checada:

Billy Cox (com participação do Scandurra), The Central Scrutinizer (com Bobby Martin), Mondo Generator, James Chance, Nektar, David Jackson (Van Der Graaf Generator), George Clinton, Racionais MCs, Criolo, Gal Costa, Eumir Deodato e Walter Franco.

Bons shows a todos!

Observações pós Virada Cultural: 
Justiça seja feita, encontrei a cidade "limpa" (comparada as outras Viradas) e com pouca gente bêbada. Acho que melhoram a organização e as pessoas estão mais civilizadas. Ou então dei sorte.

Sobre os shows, consegui ver o Nektar (foi ótimo, muito melhor do que eu esperava) e o Som Imaginário, que tocou não só músicas do "Matança do Porco", mas também canções do Milton Nascimento e outros sucessos da música brasileira que tenham ligação com o grupo, vide "Casa no Campo". Sensacional!

quinta-feira, 16 de maio de 2013

TEM QUE OUVIR: Dio - Holy Diver (1983)

O heavy metal é um estilo de inúmeras subdivisões. Todavia, seja a mais experimental ou mais agressiva, todas agregam doses do heavy metal tradicional feito por grupos do começo da década de 1980. Um desses grupos é o Dio - banda, não carreira solo - encabeçada por um já experiente - ex-Elf, ex-Rainbow, ex-Black Sabbath - Ronnie James Dio.


Holy Diver (1983) é o primeiro trabalho do grupo. O disco leva ao mais alto patamar o que o vocalista já havia construído no passado, principalmente com o Rainbow. Ou seja, a banda mergulhou no conceito medieval, inserindo nas letras temas como batalhas, bruxaria, magia, heróis e dragões. Além disso, é possível sentir essa abordagem épica até mesmo no instrumental, exemplificado em diversos riffs cadenciados, vide a clássica "Holy Diver". 

É importante dar atenção também para a ótima ilustração da capa, onde um demônio golpeia com correntes um padre. Ela é a tradução das polêmicas que atingiam o heavy metal na época.

Ainda que o grupo seja indiscutivelmente de heavy metal e tenha músicas bastante pesadas para a época, escutado hoje a sonoridade não parece tão radical. Muito pelo contrário, canções como "Rainbow in The Dark" tornaram-se hinos até mesmo dentro da programação conservadora das rádios de rock. Isso acontece graças a ênfase melódica se sobressaindo a qualquer estereótipo de agressividade. Dá até pra conjecturar a opção por um riff de teclado como um resultado do synthpop da época.

Outro fator que torna o álbum ainda hoje interessante é a qualidade técnica da banda, que continha em sua formação o já lendário baterista Vinny Appice (ex-Black Sabbath, irmão do Carmine Appice), o baixista Jimmy Bain (ex-Rainbow), o virtuoso guitarrista Vivian Campbell, além é claro da voz imponente de Ronnie James Dio, extremamente técnica, de timbre peculiar, dobras perfeitas e interpretações primorosas. A empolgante abertura de "Stand Up And Shout" evidencia tais qualidades.

Entre as faixas que ainda merecem menção estão as espetaculares "Gypsy", "Straight Throught The Heart" e "Invisible".

Esse grande disco é referência ainda hoje para qualquer banda que venha a pensar em fazer música pesada, seja pelas composições, execução, produção - o álbum foi gravado no lendário Sound City -, ou simplesmente por carregar a magia mística do heavy metal.

terça-feira, 14 de maio de 2013

TEM QUE OUVIR: Kraftwerk - The Man-Machine (1978)

O radicalismo é uma das tantas características da música alemã. O krautrock comprova isso. O Kraftwerk começou nesta que é a vertente mais experimental do rock progressivo. Todavia, foi cada vez mais abandonando o rock e se fincando na música eletrônica, influenciados principalmente por compositores de vanguarda como o Stockhausen. Após anos de desenvolvimento, foi possível a "fabricação" do emblemático The Man-Machine (1978).


Uso a palavra "fabricação" de propósito, tendo em vista que aqui ficou escancarada a robotização dos integrantes do grupo, sendo esse disco o produto final desta era cibernética.

Essa personificação robótica influenciou diretamente no som do quarteto, que tornou-se repetitivo, mecânico, percussivo, minimalista e de timbres sintéticos, gerados por vocoders e sintetizadores, como comprovam as faixas "The Robots", "Neon Lights" e "The Man-Machine". Todavia, a sensibilidade melódica das canções é gigantesca, vide "Metropolis" - clara referência ao filme do Fritz Lang - e "Spacelab", levando o grupo a ser uma forte influência para o pós-punk e a música pop oitentista, principalmente de bandas como Human League, New Order, Depeche Mode e Tubeway Army

A alienação urbana que move o conceito do disco está presente também nas letras, como pode ser conferido em "The Model", a única que justamente ao humanizar o personagem, torna-o descartável. A música não fez sucesso no seu lançamento, mas com o passar dos anos tornou-se o principal hit do grupo.

The Man-Machine pode não ser a criação da música eletrônica, mas é peça fundamental da música do século XX, popularizando um estilo que domina rádios e baladas ao redor do mundo. Olhando para trás, poucos imaginariam que esses androides alemães conseguiriam tanto.

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Conhecendo Jamelão

Já que estamos no mês do centenário do lendário sambista Jamelão, nada mais justo que humildemente homenageá-lo aqui no blog. Todavia, como fazer isso se sequer conheço sua obra? Vi então nesta falha a oportunidade de fazer uma breve pesquisa sobre sua vida e (o melhor) escutar sua música. 

Nascido no Rio de Janeiro em 12 de maio de 1913, Jamelão foi um dos mais tradicionais interpretes de samba. Sua ligação com estilo se deu na escola da Mangueira, onde ainda garoto participava tocando tamborim e posteriormente cavaquinho. Entre 1949 e 2006 foi a voz dos sambas-enredo da emblemática escola.

Cantou ao lado do veterano Francisco Alves, mas logo depois conseguiu lançar seu próprio trabalho. Durante sua carreira, fez dezenas de disco por grandes gravadoras, como Odeon e Continental.

Assim como Luiz Gonzaga e Heitor Villa-Lobos, Jamelão é um dos músicos que ganhou homenagem da Ordem do Mérito Cultural.

Morreu em 2008, aos 95 anos, por falência múltipla dos órgãos.

Arranjo sofisticado, canto imponente e letra amargurada. Mais alguém lembrou do Louis Armstrong?

sexta-feira, 10 de maio de 2013

TEM QUE OUVIR: Living Colour - Vivid (1988)

Muito se fala sobre a explosão do rock alternativo no começo da década de 1990, mas poucos se lembram que, antes mesmo do Jane's Addiction e do Nirvana ganharem prestigio, quatro negros de Nova York chamaram atenção por misturar metal, hard rock, funk (antes do sucesso do RHCP e Faith No More), reggae, rap e até mesmo jazz. Falo do Living Colour e seu espetacular disco de estreia, Vivid (1988).


Entre os que ficaram encantados com a sonoridade do Living Colour estava o Mick Jagger, que gostou tanto do grupo que os levou para a Epic Records, produzindo duas faixas do álbum: a caribenha "Glamour Boys" e o funk rock "Which Way To America?". 

Mas foi "Cult Of Personality" o grande sucesso do disco, revelando uma grande banda encabeçada por Vernon Reid, ótimo guitarrista rítmico, criador deste riff emblemático e solo nitidamente influenciado pela sonoridade outside do free fazz. Tais qualidades não estão presentes numa faixa isolada, vide que "Middle Man" mantém as mesmas características do guitarrista.

Músicas calcadas no hard rock preenchem boa parte do disco, vide a pop "I Want To Know" e a pesada "Desperate People". Ainda assim, a vigorosa cozinha formada por Muzz Skillings (baixo) e William Calhoun (bateria) deixava tudo mais funkeado. A prova disso são os grooves de "Funny Vibe", "Memories Can't Wait" e "What Your Favorite Color? (Theme Song)".

A voz potente e melódica de Corey Glover não se perde em excessos, sendo a audição de "Open Letter (To a Landlord)" e "Broken Hearts" a constatação do bom gosto do cantor. Suas letras com discursos políticos e raciais também foram muito bem-vindas, ainda mais numa época em que a alegria de plástico dos grupos de hard rock representavam a essência deturpada do gênero.

Ainda que repleto de ótimas composições e desempenho matador dos músicos, Vivid é muitas vezes subestimado. Todavia, sua audição ajuda a explicar muito do cenário cultural da época.

quinta-feira, 9 de maio de 2013

TOP 5: Discos para dormir ouvindo

Minutos antes de deitar, sempre me surge a dúvida: "vou dormir escutando o que?". Parece doentio (e talvez seja), mas após tornar-se rotineiro comer, tomar banho e fazer qualquer outra tarefa diária ouvindo música, me acostumei também a dormir da mesma forma.

Para quem quer lapidar este costume, recomendarei alguns discos - tem que ser disco, música avulsa é para amadores - de fácil agrado na hora do sono.

Caso você nunca tenho escutado os álbuns aqui citados, provavelmente não conseguirá dormir de imediato, tamanha a capacidade das músicas prenderem a atenção do ouvinte. Todavia, para quem já os conhece, funciona maravilhosamente no momento do repouso.

Obs: não recomendarei nada muito barulhento, embora as vezes durma ao som de Deftones e Meshuggah. Também deixarei de lado trabalhos eruditos, porque se não a lista ficaria imensa.

Obs 2 e óbvia: escutem os discos também acordados, foi para isso que eles foram feitos e os exemplos citados merecem atenção.

01: Leonard Cohen - Songs Of Love And Hate (1971)
Belas passagens de violão, arranjos lindos e letras encantadoras interpretadas pontualmente pelo Cohen. Coisa fina.

02: Neil Young - Harvest (1972)
Clássico! É dos disco do Neil Young de abordagem mais acústica, direcionado ao folk. Há ainda um teor um tanto quando depressivo. Um dos meus álbuns prediletos do artista.

03: Pink Floyd - Atom Heart Mother (1970)
Alguns tolos dizem que rock progressivo é tão chato que cura insônia. O mesmo é dito (pelos mesmos tolos) sobre música orquestrada. Imagine agora um disco que começa com uma faixa de mais de 20 minutos que mistura ambos atributos. É uma maravilha.

04: Radiohead - Kid A (2000)
Esse vai para quem curte algo mais "experimental" (na falta de uma palavra melhor) na hora de dormir. Com belas produções em linguagem eletrônica, é reconfortante se entregar as camadas sonoras aqui presentes. É uma bela viagem sônica.

05: Wilco - Sky Blue Sky (2007)
Disco lindo! Já falei dele inúmeras vezes neste blog, mas é sempre bom reafirmar a beleza das composições aqui presentes.

Desire do Bob Dylan, Exodus do Bob Marley, Phaedra do Tangerine Dream, Dummy do Portishead, Moon Safari do Air, Post da Björk, Grace do Jeff Buckley e Ágaetis Byrjun do Sigur Rós também são boa pedida.

Sem mais. Bons sonhos.

sexta-feira, 3 de maio de 2013

TEM QUE OUVIR: James Brown - Live At The Apollo (1963)

James Brown era um homem dos palcos. Ali ele encarna não só o excelente compositor e cantor, mas também o brilhante dançarino e entertainer. Óbvio que ele gravou excelentes discos de estúdio - como Sex Machine (1970) e The Payback (1974) - além de incontáveis singles, mas ele não ganhou o titulo de "homem que mais deu duro no show business" à toa. O ao vivo Live At The Apollo (1963) é o seu registro definitivo em seu habitat natural.


O show começa ainda antes do James Brown subir ao palco. Sua tradicional apresentação - feita pelo mestre de cerimonia Fats Gonder - é um grande aperitivo para a platéia enlouquecer. Mas nada se iguala a sequência avassaladora de músicas que vem a seguir. A cheia de groove "I'll Go Crazy", a bela "Try Me" e a energética "Think" servem como anfetamina e fazem os ouvintes chacoalharem os esqueletos.

The Famous Flame, grupo que acompanhava James Brown, dá uma aula de harmonia vocal em "I Don't Mind". Alias, a banda do Padrinho do Soul merece destaque. O entrosamento do grupo com o cantor é espantoso, vide a espetacular "Lost Someone", canção sublime de pura interação com a plateia. Isso para não mencionar toda a energia singular do James Brown ao cantar. Uivos, berros e gemidos fazem parte de seu leque interpretativo.

No "Medley", temos duas de suas melhores e mais famosas composições do artista, a dramática "Please, Please, Please" e da poderosa "You've Got The Power". Encerrando o disco/show, a maravilhosa "Night Train", um frenético funk dançante.

Bancado e produzido pelo próprio James Brown com resistência da gravadora, Live At The Apollo foi um grande sucesso comercial e representa a excelência de um dos grandes ícones da música de todos os tempos.

0017: Slayer - Angel Of Death (1986)

Ontem morreu o fundador/guitarrista/compositor do Slayer, Jeff Hanneman. Confesso que como guitarrista sempre preferi o Kerry King e até mesmo o Gary Holt (Exodus), que vinha fazendo shows em seu lugar desde um infeliz e estranho acidente relacionado a uma picada de aranha. Todavia, a postura de Jeff no palco e principalmente suas excelentes composições (músicas e letras) certamente farão falta. Uma música que comprova sua excelência é "Angel Of Death", hino no thrash metal e uma das canções mais brutais de todos os tempos.

Apesar de já ter escutado a faixa milhares de vezes, ainda sinto euforia quando ouço o primeiro acorde. Fico imaginando a sensações de um adolescente em 1986 colocando o disco pela primeira vez na vitrola e pirando no peso acachapante desta música. Digo isso porque, além dela ter uma violência musical incomum para época, a produção é nítida. Os instrumentos soam perfeitamente sem embolar. Mérito do grande produtor Rick Rubin.

A letra da música trata de assuntos relacionados aos campos de concentração nazistas, mais precisamente o de Auschwitz. Por conta disso, a banda foi diversas vezes acusada de nazista, mesmo que os integrantes já tenham afirmado inúmeras vezes que apenas se interessam pelo assunto. O texto é tão insano que o baixo eficaz do Tom Araya fica em segundo plano quando ele começa a berrar alucinadamente a letra.

Musicalmente o que temos é a dupla Kerry King e Jeff Hanneman disparando um riff mais desgraçado que o outro em uma sequência atormentadora. O baterista Dave Lombardo acompanha tudo isso com viradas alucinantes e bumbos numa velocidade inovadora. Com isso, Lombardo fez história e tornou-se um dos bateristas mais influentes e respeitados do mundo.

R.I.P. Jeff Hanneman e obrigado por ter escrito verdadeiras pérolas como essa.