sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

TEM QUE OUVIR: Van Halen - Van Halen (1978)

Se o rock progressivo primava pelo virtuosismo de seus músicos, o punk rock pela atitude e a new wave pela alegria descompromissada, o Van Halen conseguiu unir todos atributos em seu espetacular disco de estreia, o homônimo Van Halen de 1978. O rock americano encontrara novamente suas raízes.


A pesada "Runnin' With The Devil" abre o trabalho inaugurando uma nova abordagem no heavy metal, que anos mais tarde diversos grupos californianos persistiriam em tentar copiar, vide o Mötley Crüe.

Se em "You Really Got Me" Eddie Van Halen homenageia os irmãos Davies (Kinks) com a releitura de um dos riffs mais emblemáticos da história do rock, em "Eruption" ele cria uma nova abordagem para guitarra, principalmente através do timbre cortante e de suas técnicas inovadoras (tapping, harmônicos, alavancadas, trêmolos, ligados...). Não por acaso Eddie tornou-se um dos grandes ícones do instrumento.

A energia da banda ao tocar músicas como "Ain't Talkin' 'Bout Love" fez grande parte do público virar as costas para bandas como o Led Zeppelin e o Aerosmith, buscando entretenimento na energia juvenil do David Lee Roth, que demonstra carisma de sobra em faixas como "Ice Cream Man".

Os irmãos Alex e Eddie Van Halen parecem incansáveis nas frenéticas "Atomic Punk" e "On Fire". Além das precisas linhas de baixo (vide "Little Dreamer"), Michael Anthony colabora também com seu backing vocal na ótima "Feel Your Love Tonight".

"I'm The One" merece uma atenção especial por conta de seu riff abrasivo, solo explosivo, interação instrumental impecável e até mesmo um momento de coro vocal carismático com referências de jazz e doo-wop.

Poucos discos de estreia foram tão significativos para música quanto o primeiro do Van Halen. Com ele o rock recuperou doses de diversão e sacanagem, além de definir a guitarra rock pós-Hendrix.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

TEM QUE OUVIR: Iggy Pop & The Stooges - Raw Power (1973)

Atitude, drogas, sexo e loucura. Talvez nenhuma outra banda retrate tão bem o espírito do rock n' roll quanto o Stooges, grupo encabeçado pelo problemático Iggy Pop. Ainda que a banda tenha lançado dois bons discos no começo da carreira, quando ainda eram oriundos da cena de Detroit, foi através da amizade com o David Bowie que os Stooges lançaram seu álbum melhor acabado (e ainda barulhento/caótico na essência). Falo do espetacular Raw Power (1973).


Logo na capa, numa foto tirada pelo Mick Rock, o olhar fixo e ameaçador de Iggy Pop - provavelmente com doses de heroína na veia -, embora fortemente influenciado pelo visual glam rock, não parece dos mais simpáticos. Mas é a guitarra absurdamente nervosa de "Search And Destroy" que traz a energia troglodita ao disco. Essa faixa/hino é o embrião do punk rock, o que levou a banda a ser posteriormente rotulada de proto-punk.

"Gimme Danger" é um dos momentos mais sofisticados do Stooges, ainda que a letra seja uma psicótica poesia junkie. O esporro volta a falar alto e se prolongar por todo o disco a partir da grosseiramente singela "Your Pretty Face In Going To Hell".

Além da presença de Bowie na produção, um fato que deixa Raw Power mais uniforme é a mudança na formação, que contava agora com James Williamson na guitarra e os lendários irmãos Ron e Scott Asheton na cozinha. Se essa formação não esbanjava virtuosismo com relação as bandas contemporâneas da época, em contrapartida tinha atitude de sobra, vide a voz intensa de Iggy em "Penetration" e a execução precisa do riff de "Raw Power".

A tentativa frustrada do David Bowie polir a sonoridade do disco na mixagem não ajudou em nada a opinião negativa da Columbia sobre o álbum, que achou tudo extremamente detestável e inacessível. Mas pode ter certeza, quando engravatados de uma gravadora acham isso de um trabalho de rock, é porque o resultado deu certo. O épico petardo "Death Trip" comprova isso, fechando maravilhosamente esse disco sinônimo de rock n' roll. Não por acaso influenciou e continua a influenciar gerações.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

A musicalidade extravagante da Yoko Ono

"Tudo o que falam sobre o Frank Zappa na verdade deveria ser referido a Yoko Ono". Não colocarei aqui quem soltou essa "polêmica" frase, até porque não sei se a fonte é confiável, mas ela é brilhante ao superestimar o magnitude musical da Yoko com o intuito de consertar a subestimada visão que a maioria das pessoas tem da eterna esposa do John Lennon.

Fato é que a duvidosa história de que a Yoko causou indiretamente o fim dos Beatles não ajudou em nada sua ousada carreira musical. Ainda assim, cabe hoje, dia em que japonesa maluca completa 80 anos, todos reverem sua estranha obra.

O intuito deste post não é fazer ninguém se converter ao trabalho da Yoko Ono, mas sim mostrar que ela foi muito mais que a "esposa de John Lennon" ou "a responsável pelo fim dos Beatles". Em alguns momentos ela chegou até mesmo a ser mais ousada que o quarteto de Liverpool, o que não necessariamente resultou em música boa. 

Apenas escutem o trabalho dela. Vale pela curiosidade.

Carreira solo
Um dos discos mais bizarros que já ouvi é o maravilhosamente frenético Fly, da carreira solo da Yoko, lançado em 1971. O disco tem participação de Eric Clapton, Jim Gordon, Ringo Starr e, claro, John Lennon. O disco é indiscutivelmente pura vanguarda. Instrumental coeso e berros horrendos resumem superficialmente a obra. O lance é escutar. Vale a pena ouvir não só esse disco, mas todos dela lançados na década de 1970. Vai por mim, tem muita coisa legal.

A parceira do John Lennon.
Tudo bem, eles gravaram juntos o horrendo (capa, música e conceito) Two Virgins (1968), mas em compensação Some Time In New York City (1972) tá longe de ser uma trabalho ruim. Destaque para a faixa "Woman Is The Nigger Of The World", escrita e produzida por Yoko respectivamente com Lennon e Phil Spector.

Tudo que o Cansei de Ser Sexy queria ser
Escute a música abaixo - lançada no belo Double Fantasy (1980) -, e me diga se muitas bandas do indie rock atual não dariam tudo pra conseguiu compor uma canção como essa. Vigorosa e pop. Com direito a gemidos sexuais nunca dispensáveis.

Ainda hoje chutando o balde.
Hoje em dia, Yoko esbanja maluquice pra quem quiser ver. Berros frenéticos e nudez fazem parte do seu repertório. É sonoramente sofrível, mas comparado ao grande marasmo dos grandes nomes da música atual, até que pode ser visto com vigor e humor.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

TEM QUE OUVIR: Aretha Franklin - Aretha: Lady Soul (1968)

Vivemos num tempo em que Beyoncé e Lady Gaga são tidas como "divas" de uma juventude paspalha completamente carente de ídolos. Entretanto, ao contrário das fãs, as cantoras aqui citadas beberem de uma fonte preciosa. A maior delas foi Aretha Franklin, que lançou em 1968 o estupendo Aretha: Lady Soul.


Logo de cara temos Aretha interpretando maravilhosamente a sacolejante "Chain Of Fools". A rockeira "Money Won't Change You" (James Brown) é uma valiosa aula de canto e groove, assim como "Since You've Been Gone", em que o naipe de metais e o coro formado pelas The Sweet Inspirations dão ainda mais força para a canção.

Ainda novata na gravadora Atlantic - recém chegada da Columbia -, Aretha focou o disco na soul music e no r&b. Todavia, é possível encontra-la cantando o clássico do gospel "People Get Ready" (Curtis Mayfield) e a bluseira "Good To Me As I Am To You", com participação de ninguém menos que Eric Clapton na guitarra.

Sua banda cheia de groove brilha nas ótimas "Niki Hoeky" e "Come Back Baby" (Ray Charles), além da preciosa balada "(You Make Me Feel Like) A Natural Woman", dona de espetacular arranjo orquestrado.

Vindo de um já maravilho álbum, o clássico I Never Loved A Man The Way I Love You - forte candidato a um futuro "Tem Que Ouvir" -, Aretha: Lady Soul serviu para cravar definitivamente o nome de Aretha entre as grandes vozes de todos os tempos, tornando-a uma verdadeira diva da música mundial.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Músicas carnavalescas

Encararei este post como um desafio. Tentarei reunir aqui as melhores músicas carnavalescas possíveis.

Pode parecer fácil para quem é amante ou pesquisador do tema, mas para mim é difícil, principalmente devido a ruindade dos famosos hits do verão que se propagam nesta época do ano. Todavia, é sempre interessante fugir da zona de conforto. Ao menos uma vez por ano não custa abrir mão do Motörhead e socializar ao som de algo diferente.

Mente aberta, parcimônia e alegria!

Marchinhas de Carnaval
Independentemente de eu achar um porre coisas como "a pipa do vovô não sobe mais", existem marchinhas que são verdadeiras pérolas. Dentre as que destaco estão "Aurora" (Mario Lago), "O Abre Alas" (Chiquinha Gonzaga), "O Teu Cabelo Não Nega" (Lamartine Babo), "Me Dá Um Dinheiro Aí" (com direito a quase guturais do Moacyr Franco) e a histórica interpretação da Carmen Miranda para "Mamãe Eu Quero". Todavia, é tendência atual os sensíveis arautos da moralidade sentirem-se ofendidos com algumas das letras. Tempos estranhos.

Samba-enredo das Escolas de Samba
Samba-enredo é comumente - ou ao menos ultimamente - um festival de mediocridade. Letras, melodias, harmonias, ritmos... é tudo uma repetição. Concordo que ver a bateria da Mangueira ao vivo é muito legal, mas assistir horas de desfiles não me anima. Entretanto, tem UM (anos de carnaval e eu só lembro de um) samba-enredo que me chamou atenção. É o samba-enredo vitorioso do carnaval de São Paulo de 2011, que não por acaso tem um nome bastante propício: "A Música Venceu". Samba e música erudita em homenagem ao maestro João Carlos Martins. Agora, caso você rebate dizendo que os sambas-enredo do passado eram geniais, ai vou ser obrigado a me recolher em minha ignorância e acreditar, restringindo meu conhecimento em "Heróis da Liberdade", feita por João Bosco em 1969 para Império Serrano.

Armandinho, Dodô e Osmar.
O carnaval da Bahia é um dos mais conhecidos no mundo. Mas é curioso observar como o nível caiu bruscamente. Comece com a musicalidade absurda do Dodô e Osmar e as qualidades técnicas de Armandinho. Depois vá para a criação do axé music com Luiz Caldas, o auge artístico do gênero com a Daniel Mercury e posteriormente o auge comercial do Chiclete com Banana e Ivete Sangalo. Tudo isso desencadeou em Claudia Leite e Preta Gil. Que tristeza, não! Bora ouvir o grande Armandinho, que felizmente ainda manda muito bem nos trios elétricos de Salvador.

Frevo
Vertente musical sensacional tipica do carnaval de Recife. Escute a espetacular Spok Frevo Orquestra e curta o melhor da música instrumental brasileira. Simples assim.

Compositores Nordestinos
É facilmente perceptível a influência que a música carnavalesca teve em artistas como Gilberto Gil ("O Canto da Ema"), Caetano Veloso ("Atrás do Trio Elétrico"), Elba Ramalho ("Frevo Meio Envergonhado"), Gal Costa ("Deixa Sangrar"), Alceu Valença ("Anunciação") e até mesmo Raul Seixas ("Aos Trancos e Barrancos"). Dá pra montar uma ótima playlist neste segmento.
Obs: Jorge Ben é carioca, mas não da pra esquecer também de "País Tropical".

É isso. Ninguém pode dizer que não dei uma chance aos sons carnavalescos. Mas se você não tem a mesma paciência, recomendo o post que fiz ano passado sobre "trios elétricos" (confira aqui).

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

TEM QUE OUVIR: Def Leppard - Pyromania (1983)

Se tem algo que estraga o rock é comercialismo. Não falo no sentido da banda tornar-se popular e vender milhões de discos, mas sim em empobrecer as composições para tornar o produto mais palatável/rentável. Exemplos não faltam, do Metallica aos Titãs. Mas se teve uma banda que soube dar essa "americanizada" no som e ainda assim elaborar grandes momentos de hard rock/heavy metal foi o Def Leppard, principalmente em seu clássico álbum Pyromania (1983)


O disco foi um sucesso comercial incrível tanto na Inglaterra quanto principalmente nos EUA. Há quem diga que o Def Leppard foi a banda inglesa de maior sucesso na América do Norte pós Beatles. Deixando de lado comparações absurdas, fato é que o disco de capa terrorista pré 11 de setembro vendeu o suficiente pra ficar atrás nas paradas da Billboard apenas do Michael Jackson e seu recordista Thriller.

A produção do Robert "Mutt" Lange é bastante polida e grandiloquente, principalmente no que se refere aos timbres de bateria carregados de reverb (esse som de caixa é "complicado"). Vale lembrar que esse álbum foi o último antes do baterista Rick Allen sofrer o terrível acidente que resultou na amputação do seu braço.

Faixas como "Rock Rock (Till You Drop)" e "Foolin'" misturam o rock básico do AC/DC com melodias marcantes de AOR típicas do Foreigner. Essa junção fez do Def Leppard não só uma banda bastante rentável, mas também influente, vide que grupos americanos de hard rock (do Whitesnake ao Bon Jovi) beberam nitidamente desta fonte. Até mesmo os conterrâneos do Saxon tentaram embarcar na onda, fracassando retumbantemente.

O super hit "Photograph" mostra o alcance vocal do Joe Elliott num refrão pegajoso. Curioso reparar também nos backing vocals afinados, com abertura melódica, se contrapondo a estética "coro ogro, de gangue", a qual as vozes eram aplicadas até então no heavy metal. O mesmo vale para o refrão de "Rock Of Ages".

Menos pomposas são as guitarras de "Die Hard The Hunter", "Comin' Under Fire" e "Action! Not Words", onde Phil Collen e Steve Clark distribuem ótimos riffs e solos.

Nitidamente saindo da sonoridade da NWOBHM e partindo para um produção mais AOR/hard rock, o Def Leppard mudou o cenário musical e fez fama e fortuna com um disco importante.