sábado, 30 de novembro de 2013

TEM QUE OUVIR: The Pretty Things - S.F. Sorrow (1968)

É comum bandas/artistas promoverem discos conceituais. A proposta ambiciosa desencadeou naquilo que comumente é chamado de ópera rock. The Who, The Kinks, Lou Reed, Pink Floyd, Rush, Queensrÿche, Dream Theater, Green Day, Odair José - sim, ele mesmo! - e outras dezenas de nomes já se aventuraram nesta viagem. Entretanto, o primeiro grupo a embarcar neste formato de composição foi o Pretty Things com o épico S.F. Sorrow (1968).



Antes deste disco, o Pretty Things caminhava sonoramente colado nos caminhos traçados pelos Rolling Stones - embora com muito menos prestigio -, fazendo versões saturadas para clássicos da música negra americana.

Atingidos pelo golpe lisérgico do rock psicodélico e pelo recém lançado Sgt. Peppers dos Beatles, o grupo começou a trabalhar no conceito do S.F. Sorrow. 

Brilhantemente amarrado em formato de ópera rock, a obra é citada por Pete Townshend como influência direta para o Tommy, indispensável disco do The Who lançado em 1969. A verdade é que Pete não precisava assumir isso, tendo em vista que a referência é óbvia, tanto que, por conta da popularidade do Tommy e atraso do lançamento do S.F. Sorrow em alguns países, o disco foi recebido pelo público como cópia do clássico do The Who. Típico azar de banda que nasceu pra dar "errado".

Gravado no lendário Abbey Road, o álbum narra a história de Sebastian F. Sorrow, transitando por diferentes fases de sua vida, presenciando seu nascimento, experiências amorosas, guerras, tragédias, loucura, desilusões e a velhice. Musicalmente o disco percorre pela psicodelia, o pop barroco, melodias brilhantes e tudo que há de melhor no rock inglês. Como exemplo de grandes faixas podemos citar "S.F. Sorrow Is Born", "She Says Good Morning", "Death", "The Journey", "Old Man Going" e "Mr. Evasion". Mas lembre-se, o grande mérito do álbum está no conjunto da obra, sendo o resultado extremamente ambicioso e variado.

Cultuado por inúmeras pessoas que diariamente cavoucam o passado em busca de bons sons, a ópera rock do Pretty Things não alcançou grande destaque na época. Mas o tempo é justo e uma hora outra você vai de encontro ao que realmente interessa. Eis você aqui, lendo sobre S.F. Sorrow.

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

TEM QUE OUVIR: Björk - Debut (1993)

Uma das principais qualidades de um artista é o de ser inabalável às tendências mercadológicas. Ao criar uma linguagem própria, fica difícil até mesmo criticar a obra. Goste ou não, é neste patamar que a Björk está. Ela é uma das artistas mais interessantes da música, sendo seu excepcional disco de estreia ainda hoje representativo.


É verdade que quando Björk era apenas uma fedelha finlandesa, no longínquo ano de 1977, ela lançou um álbum homônimo de folk pop. Já em 1990 ela trabalhou com um grupo de jazz islandês, onde em conjunto lançaram um único trabalho batizado de Glin-Gló. Além disso, em sua adolescência, fez parte do cultuado The Sugarcubes. Entretanto, é de consenso que Debut (1993) é mesmo seu disco de estreia, justamente por apresentar características sonoras enquanto compositora e intérprete que permanecem até hoje.

Apoiada por Graham Massey (808 State), um dos maiores nomes da dance music inglesa daquele período, Björk começou a rondar no circuito underground. Ela também contou com a produção do Nelle Hooper (Massive Attack) e a colaboração de nomes como Goldie (pioneiro do drum n' bass) e Talvin Singh (requisitado produtor/compositor/instrumentista) para chegar chutando a porta do cenário musical. 

Björk usa lindamente sua voz como instrumento, extraindo de si timbres e melodias improváveis para outras interpretes. Entre grunhidos exaustivos e sussurros apaixonantes destacam-se "Human Behaviour" (tremenda abertura de disco!), "Aeroplane" (de arranjo inusitado e riquíssimo) e "Like Someone In Love" (de leveza jazzista/oriental aconchegante).

A influência da dance music aparece em "Crying", "There's More To Life Than This" e "Big Time Sensuality". Todas apresentam produções um tanto quanto datadas, mas não ao ponto de ser um problema, tá mais para uma fotografia do período.

Por sua vez, "Venus As A Boy", "Come To Me" (ambas num flerte com a música indiana) e "One Day" estão muito mais ligadas ao embrião do trip hop. 

Ainda sobra espaço no disco para a sinfônica/cinematográfica "Play Dead" e para a melodicamente experimental/exuberante "The Anchor Song", sempre com a inquietação característica do seu trabalho, que não se rende aos caminhos conhecidos.

Com arranjos ousados, produção impecável, composições ímpares e canto singular, Debut escancara a relevância da Björk, ainda que seja apenas o primeiro passo de uma longa e desafiadora trajetória.

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Quando o ruído vira música

O titulo do post é autoexplicativo. Sendo assim, sem delongas, vamos ouvir alguns artistas que conseguiram transformar ruído em música.

Luigi Russolo
Esse inventivo compositor italiano foi quem deu o ponta-pé inicial nos trabalhos com ruído, chegando não só a criar instrumentos, mas também a escrever os manifestos A Arte do Ruído e Música Futurista. Influenciado pelo som das grandes cidades, sua obra pode até não ser sonoramente das mais agradáveis, todavia, sua estética inspirou nomes como Varèse, Pierre Schaeffer e inúmero produtores de música eletrônica e música de vanguarda.

John Coltrane
São muitos os músicos de prestigio da história do jazz que, em determinado momento de suas carreiras, mergulharam em experimentações ritmas e melódicas equivalentes a sons primitivos amontoados de forma caótica. Com isso, eles sofreram repúdio dos críticos da época, que consideravam tais experimentos sem propósito. Coloque neste pacote os geniais Miles Davis (em sua fase fusion), Sun Ra, Ornette Colleman (ícones do free jazz) e John Coltrane (nos seus últimos anos).

Glenn Branca
É verdade que o Jimi Hendrix já explorava a microfonia na guitarra, mas foi o influente Glenn Branca um dos primeiros a aplicar sem restrição o ruído no instrumento mais infernal por natureza. Sua nova abordagem musical fez escola e ganhou inúmeros admiradores (vide o Sonic Youth). Ícone da no wave.

Spooky Tooth & Pierre Henry
Em 1969, o Spooky Tooth, banda britânica de rock progressivo, gravou o disco Ceremony (1969) em "parceria" com o compositor de vanguarda Pierre Henry. Basicamente, Pierre pegou o som já gravado do grupo e fez a mixagem, colocando barulhos sobrepostos ao som da banda, transformando tudo num maravilhoso caos. A banda desaprovou, mas há quem goste (tipo eu). Curiosamente, tudo isso foi feito antes da criação do krautrock, vertente alemã do rock progressivo bastante influenciada pela música concreta e eletroacústica, sendo assim, naturalmente cheia de inserções ruidosas.

Lou Reed
Lou Reed já havia feito o caos sonoro com o Velvet Underground, banda que levou outros milhares de grupos (Stooges, por exemplo) a chutar o balde no quesito porradaria sonora. Mas até ai tudo era inegavelmente majestoso, ao contrário do nada ortodoxo Metal Machine Music (1975), onde não é possível encontrar nenhuma melodia, mas apenas microfonias e barulheira. Conceitualmente merece respeito. Musicalmente deixo a critério de cada um.

Einsturzende Neubauten
Esse experimental (e fantástico) grupo alemão nunca fez questão de soar acessível. Dentre tantos elementos que agregam ao som e, ao mesmo tempo, dispersam o público, está o ruído. Isso é o que dá usar chapas de metal, britadeiras, serrotes e utensílios domésticos como instrumentos.
Gostou? Procure pelo Throbbing Gristle.

Grandmaster Flash
A grosso modo, o scratch, técnica dos DJs que consiste em extrair sons "arranhando" o vinil, é um ruído. Mas escute a faixa abaixo e me diga se não é possível extrair belos ruídos dos toca-discos.

Merzbow
Merzbow é na verdade o japonês Masami Akita, um respeitado produtor de: noise music. Simples assim. Não é o tipo de som pra ouvir sempre, mas vale como pesquisa, que é (penso eu) a real proposta do trabalho. Se você ouvir e gostar, vale procurar o subgênero harsh noise. Pulse Demon (1995) é um "clássico".

Sonic Youth
Do rock alternativo formado por Pixies, My Bloody Valentine, Nirvana, Jesus And Mary Chain e outras inúmeras bandas que continham guitarristas barulhentos em sua formação, o Sonic Youth foi a que fez o maior esporro sonoro (principalmente ao vivo).

Rage Against The Machine
Tom Morello, um dos mais talentosos guitarristas da década de 1990, também usava sua guitarra como instrumento ruidoso. Todavia, o som que ele extrai se aproxima mais do Grandmaster Flash do que da geração do Sonic Youth.


Björk
Vale lembrar as produções glitch, que fazem uso de defeitos digitais do áudio para criar ruídos em meio aos arranjos. Na música experimental e eletrônica esse recurso é bastante comum (vide os trabalhos dos grupos Autechre e Oval). Na música pop lembro de algumas produções da Björk.

Burzum
Eis um exemplo dentre tantas produções lo-fi, onde o ruído não necessariamente faz parte da composição, mas do tipo de gravação propositadamente precária, que ajuda a ditar o clima da música. Esse tipo de estética é usada no black metal (Burzum), rap (Death Grips), rock alternativo (Guided By Voices) e punk rock (Half Japanese).

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

TEM QUE OUVIR: Suicidal Tendencies - Suicidal Tendencies (1983)

O que pode soar mais energético e pesado que o hardcore ou thrash metal? O crossover. Suicidal Tendencies é a banda fundamental deste cruzamento de estilos, sendo seu disco de estreia um petardo acachapante mesmo décadas após seu lançamento.



O crossover nasceu enquanto os estilo fundidos ainda tomavam forma. Ainda que pareça segmentado e, até mesmo, irrelevante para quem não tem familiaridade com as vertentes, é preciso entender que esse cruzamento de sons pesados quebrou paradigmas. Lembre-se que, enquanto o Suicidal Tendencies propunha naturalmente essa miscigenação musical, aqui no Brasil, verdadeiras gangues de punks e "metaleiros" entravam em confronto físico.

O bombardeio cacofônico da dobradinha "Suicide's An Alternative/You'll Be Sorry" abre o disco nocauteando o ouvinte impiedosamente. "I Shot The Devil" traz toda a fúria e velocidade do Bad Brains para uma abordagem mais metal. É impossível ficar contido diante das matadoras "Won't Fall In Love Today", "Fascist Pig" e "Memories Of Today", essa última guiada por um baixo furioso.

O mais legal do Suicide Tendencies é que por trás de toda essa energia jovial, se escondem ótimos músicos. Preste atenção na veloz "Two Sided Politics" e na intensa "Subliminal" e você perceberá isso.

Esse disco embalou manobras de skatistas, influenciou o new metal - tanto na sonoridade, quanto na atitude e vestimenta (veja o visual do vocalista Mike Muir) -, além de ter popularizado o crossover de bandas como Anthrax, S.O.D., Discharge, G.B.H., Nuclear Assault e Ratos de Porão. Clássico do rock urbano e pesado.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

ALGO ENTRE: Oasis e Hélio Delmiro

OASIS
Não adianta resmungar contra, o Oasis é sim uma grande banda. Dentre tantos hits do rock noventistas, esse é um dos mais legais.

HÉLIO DELMIRO
O Brasil (na verdade, o mundo) precisa de mais guitarristas como o Hélio Delmiro.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

TEM QUE OUVIR: Ravi Shankar - The Sounds Of India (1968)

Na segunda metade da década de 1960, em meio a explosão psicodélica que levava a juventude a verdadeiras viagens lisérgicas, George Harrison e Brian Jones inseriam no som do seus respectivos grupos, - obviamente Beatles e Rolling Stones - elementos herdados da música indiana. Tendo em vista esse interesse crescente por essa "nova" abordagem musical, Ravi Shankar, o mais famoso músico indiano de todos os tempos (e pai da Norah Jones), lançou seu importante The Sounds Of India (1968)


Quando digo "nova abordagem", me refiro a sua inserção no ocidente, tendo em vista que os conhecimentos orientais, que transcendem a música, são milenares. 

Com formato de apostila musical, The Sounds Of India é uma cartilha educacional, lançada numa época em que o acesso a informação era precário. Sendo assim, é possível encontrar neste material uma rica obra erudita/clássica, no mais amplo sentido que essas palavras representam. Um exemplo é a introdução do álbum, onde os conceitos da música indiana (como formas e estruturas) são explicados e aplicados, tanto sonoramente quanto em partituras presentes no encarte.

Em meio ao material didático, Ravi Shankar (citar), Chatur Lal (tabla) e N. C. Mullick (tamboura) apresentam quatro ragas instigadores, virtuosos e sentimentais, preenchidos por escalas características da música indiana, microtons e divisões rítmicas complexas. Escute "Bhimpalási" e comprove.

Nunca foi e, talvez, jamais será fácil para o ocidente absorver a música oriental. De qualquer forma, o guia para adentrar este mundo já está feito.

domingo, 24 de novembro de 2013

Os maiores guitarristas do século XX (até então, claro)

Em meio a devaneios ébrios, eis surge o tópico/post de hoje, uma lista dos maiores guitarristas do século XX. Se fosse feita amanhã ou de forma mais racional, a lista seria completamente diferente, mas hoje os escolhidos são esses:

Obs 01: Maiores em que? Maiores por que? Galera, sem perguntas. É só um passa tempo e uma seleção de bons sons.

Obs 02: Não esqueci do Synyster Gates ou do Alexi Laiho. Eles não estão na lista por justa causa.

Obs 03: Essa é a pior e mais injusta lista que já fiz! Cadê o Tommy Emmanuel, Adam Jones, Stephen Carpenter, Bumblefoot, Buckethead, Daron Malakian, Brad Paisley, Brent Mason, John Mayer, Gary Clark Jr., Matt Bellamy, Kurt Rosenwinkel, John 5, Zakk Wylde, Jack White, Steven Wilson, Tosin Abasi, Jeff Loomis, Dan Auerbach, Marcos Ottaviano, Frank Solari, Kiko Loureiro, a dupla do Korn, do Lamb Of God, do Mastodon, do Strokes...?

Não está em ordem nenhuma, apenas enumerei.

Nels Cline e Derek Trucks

Fernando Catatau (Cidadão Instigado)
O líder do Cidadão Instigado é um dos guitarristas brasileiros de maior destaque no cenário nacional nas últimas décadas. Além da banda que encabeça, selou parcerias importantes com Edgard Scandurra, Céu, Otto e Los Hermanos. Seu estilo passa por guitarrada, música latina, brega e rock psicodélico. Seus timbres são espetaculares. Guitarrista de grande personalidade.

Derek Trucks (Allman Brothers Band, Derek Trucks Band e Tedeschi Trucks Band)
Desde que era apenas uma promessa em forma de criança, Derek Trucks já chamava atenção de nomes como B.B. King e Eric Clapton. Tímido ele cresceu, ganhando uma desenvoltura ainda maior no instrumento. Aprendeu no Allman Brothers a ser um dos melhores guitarristas com slide de todos os tempos. Blues, música indiana e soul transbordando no seu fraseado, sempre de bom gosto, executado com seu dedilhado característico e timbre gordo.

Fredrik Thordendal (Meshuggah)
Esqueça Korn e todo o new metal. Periphery e todo o djent. Esqueça qualquer um que tenha pegado uma guitarra com mais de 6 cordas cogitando fazer um som ultra pesada e complexo. Fredrik Thordendal do Meshuggah fez isso melhor que qualquer outro e com 20 anos de vantagem. Riffs absurdamente pesados e tortos, solos insanos herdados do Allan Holdsworth e influência direta para toda uma nova geração.

Guthrie Govan (The Aristocrats, Steven Wilson Band e artista solo)
Não tem algo que Guthrie Govan não consiga tocar. Pode executar algo tão técnico como um solo do Steve Vai ou tão melódico quanto um solo do David Gilmour. É preciso, inteligente, tem bom gosto, desenvoltura técnica e até mesmo senso de humor no seu fraseado. Um desbravador do instrumento. O virtuose que merece ser escutado.

Jimmy Herring
Pentatônicas recheadas de notas outsiders, fraseado estupendo, timbre brilhantemente eficaz, vocabulário sofisticado e momentos que fundem com naturalidade Jerry Garcia, Steve Morse e Jeff Beck. Jimmy Herring precisa ser mais reconhecido, principalmente entre os guitarristas masturbentos do YouTube.

Joe Bonamassa
Seu blues é muito rock e seu rock é muito blues. Quando alguém faz críticas, diz que é ele é "perfeito demais pra um bluesman". Nada mal! O cara tem pegada, bends e vibratos estupendos. Além disso tira alguns dos timbres de guitarra mais legais da atualidade.

Jonny Greenwood (Radiohead)
Seja com uma guitarra, com pedais de efeitos, controladores ou outra traquinaria tecnológica, Jonny Greenwood se expressa como poucos através da música. Na guitarra, tira timbres e riffs preciosos. Não por acaso é admirados por nomes como Alex Lifeson (Rush).

Josh Homme (Kyuss e Queens Of The Stone Age)
Ninguém dúvida que ele é um dos grandes nomes do rock dos últimos 20 anos, mas seu talento como guitarrista é subestimado. Com 18 anos já era um dos melhores guitarristas da sua geração. Arquitetou através do Kyuss o stoner rock e deixou o rock n' roll novamente em evidência com o Queens Of The Stone Age. Sabe compor, é criativo, tem estilo próprio e é influente. Precisa mais o que para ser considerado um grande guitarrista?

Nels Cline (Wilco)
De ruídos, passando pelo jazz e indo de encontro pra melhor banda (ou perto disso) do rock dos últimos 15 anos (pelo menos). Falo obviamente do Nels Cline e o Wilco. Basta ouvir o solo abaixo (o melhor dos últimos 25 anos) para perceber o senso melódico e o fraseado peculiar/encantador deste músico ultra talentoso.

Omar Rodriguez Lopez (At The Drive-In e The Mars Volta)
Bastaria apenas o At The Drive-In, influente grupo de post-hardcore, para o Omar Rodriguez Lopez ser considerado um dos melhores guitarristas da sua geração. Mas ele fez mais, montou o Mars Volta, grupo que une rock psicodélico, hardcore, jazz, música latina e tudo mais que vier na cabeça, tocando sempre com energia assustadora e extraindo sons cortantes da guitarra.

Richie Kotzen (The Winery Dogs e artista solo)
No Brasil, até que o Kotzen tem um número de admirados considerável. Todavia, é incrível como esse guitarrista americano, que tinha tudo pra ser idolatrado, é pouco conhecido. Praga que segundo ele mesmo é explicada por ter sido membro do horrendo Poison. Quem gosta de hard rock tem que ouvir. Ele sabe compor, tem uma ótima voz e, como guitarrista, não perdoa com seus fantásticos solos, riffs e timbre legal de telecaster.

Sonny Landreth
O que eu vou falar pode soar sacrilégio, mas Sonny Landreth é o guitarrista que toca slide mais assombroso que eu já ouvi. Lógico, temos o Duane Allman, George Harrison, Ry Cooder e até mesmo o já citado Derek Trucks, todos debulhando nas seis cordas, mas a técnica no Sonny Landreth transcende o óbvio. Não atoa presta serviços para nomes como Eric Clapton e Mark Knopfler.

Mattias IA Eklundh (Freak Kitchen)
O sueco Mathias é daqueles guitarristas que nunca vai alcançar grande público, mas vai ser sempre lembrado como um desbravador do instrumento. Em um mundo recheado de virtuoses datados, Mattias soa inventivo e bem humorado ao utilizar harmonias ousadas, solos bizarros, harmônicos inacreditáveis e técnicas absurdas, como por exemplo usar um vibrador perto dos captadores da guitarra para tirar ruídos inimagináveis em canções acessíveis.

Warren Haynes (Allman Brothers Band e Gov't Mule)
Além de empunhar as guitarras num patrimônio musical que é o Allman Brothers Band, Warren Haynes reinventou a maneira de tocar o instrumento num power trio com o Gov't Mule, banda que hoje se apresenta em forma de quarteto. Tradicional e inovador ao mesmo tempo.

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

TEM QUE OUVIR: Mercyful Fate - Melissa (1983)

Você é um daqueles que não suporta heavy metal? Pois então devo lhe dizer: NÃO escute esse disco! Melissa (1983) do Mercyful Fate é tipicamente "metal". Pesado (principalmente para a época) e amaldiçoado, o álbum é a base para subgêneros que surgiram posteriormente, como o thrash metal, power metal, black metal e metal progressivo, sem fazer a menor questão de soar agradável para quem não gosta do estilo.



Quer exemplos de como o disco é influente? Repare então no conteúdo mórbido/satânico de "Evil" e "Black Funeral". Atente-se também as guitarras perfeitas da dupla Michael Denner/Hank Shermann. Perceberam qualquer similaridade com o thrash metal proposto pelo Slayer? Pois é.

Ainda que infinitamente menos pesado, é possível notar na ótima "Curse Of The Pharaohs" vestígios do que o Death - banda extremamente influente de death metal - faria no futuro. Enquanto "Melissa" tem diversos elementos do power metal, a longa/épica "Satan's Fall" pode ser considerada precursora do metal progressivo.

Embora muitas vezes cômico, o alcance vocal do cultuado King Diamond, que vai de quase guturais até agudos altíssimos, encaixa-se perfeitamente em músicas como "Into The Coven". Sua voz é tão particular que até mesmo "At The Sound Of The Demon Bell", que tinha tudo pra ser um típico heavy metal tradicional, soa peculiar.

Além disso, a imagem do vocalista, eternamente caracterizada por uma maquiagem mórbida e teatralidade "assustadora" - ele chegava a encher o estúdio de velas para encarnar o personagem -, influenciou diversos grupos, do Celtic Frost ao Ghost passando pelo Mayhem. 

Amado/prestigiado dentro do heavy metal e detestado por quem não curte o estilo, Mercyful Fate é autêntico dentro de um gênero cheio de cópias e restrições estéticas.

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

TOP 5: Baixistas que tocam com palheta

Tempos atrás fiz uma lista sobre guitarristas que tocam sem palheta (leia o texto clicando aqui). Prometi naquele longínquo post listar alguns baixistas que tocam com palheta. A hora chegou!

Estupidamente, muitos baixistas são subestimados por usarem palheta. Acontece que esse pequeno objeto traz possibilidades técnicas e timbristicas que os dedos não oferecem. Escutem os sons abaixo e comprovem.

01: Paul McCartney
E pensar que tem gente que fala que nenhum beatle era grande músico. Paul McCartney é o que então, um baixista medíocre? Além de genial compositor, suas linhas de baixo ultra melódicas são uma aula de bom gosto. Seu timbre opaco e gordo é marcante, assim como seus riffs e grooves discretos, porém sempre inteligentes. Macca é referência para músicos maduros.

02: Chris Squire
Quando alguém disser que baixistas que usam palheta não tocam bem ou não tem grande técnica, mostre a essa pessoa o Chris Squire. O eterno líder do Yes não só tem uma técnica impecável, como usa seu instrumento de forma sublime nos arranjos complexos da banda. Isso sem falar no seu timbre extremamente influente de Rickenbacker. Um ícone incontestável do baixo.

03: Lemmy Killmister
Peso, atitude, pegada, linhas furiosas... Lemmy não é só um dos maiores personagens do baixo, mas do rock n' roll. Seu talento como instrumentista é subestimado por muitos, mas lembrem-se, para ser um bom musico não é preciso grande técnica, mas sim saber se expressar fluentemente através do instrumento. Lemmy faz isso como poucos!

04: Phil Lynott
A liderança do Phil Lynott, a atitude empunhando o baixo e seus grooves de rock n' roll fizeram do Thin Lizzy uma das melhores bandas setentistas. Dá para imaginar tudo isso sem visualizar sua pegada avassaladora de mão direita colada na ponte do instrumento?

05: Dave Ellefson
Com sua pegada precisa e timbre furioso, Dave Ellefson construiu linhas de baixo indispensáveis para a sonoridade do Megadeth. O parceiro eterno do Dave Mustaine em riffs complexos. Um dos melhores baixista do thrash metal.

Citações honrosas: Bobby Vega, Carol Kaye, Peter Cetera, Phil Lesh, Roger Glover, Glenn Hughes, Mel Schacher, Gene Simmons, Roger Waters, Anthony Jackson, Dee Dee Ramone, Paul Simonon, Bruce Foxton, Peter Hook, Joey DeMaio, Jason Newsted, Justin Chancellor, Mike Dirnt, Matt Freeman, Rex Brown, Nate Mandel, Dick Lovgren, Cody Wright, John Paul Jones e John Entwistle (sendo que os dois últimos nem sempre usam palheta e por isso não os coloquei no TOP 5).

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

TER QUE OUVIR: Museo Rosenbach - Zarathustra (1973)

O grande motivo que me levou inicialmente a criar um blog foi de treinar minha escrita - ainda que eu fracasse constantemente - e até mesmo a me "obrigar" a ouvir determinados sons. 

Para não cair no óbvio oferecido por inúmeros blogs musicais, tento ao máximo reparar algumas injustiças. Quer um exemplo? Se tem um gênero que não desfruta do "hype" alternativo é o rock progressivo, que é visto erroneamente como a vertente mais careta do rock. 

Agora, se for uma banda de rock progressivo italiana, aí pode esquecer. Por mais brilhante que a banda possa ser, ela vai ser automaticamente marginalizada. Mas não aqui! Por isso trago ao "Tem Que Ouvir" deste humilde blog o belíssimo Zarathustra (1973) do Museo Rosenbach.



O Museo Rosenbach, por mais obscuro que possa ser - e realmente é! -, é o grupo “queridinho” dos fãs de rock progressivo italiano, sendo o Zarathustra considerado por muitos a obra-prima do estilo.

E não é para menos! A longa faixa titulo tem momentos ritmicamente quebrados influenciados por jazz, passagens ultra melódicas e narrativa consistente, fortemente calcada na obra do Nietzsche. Aqui o mellotron - instrumento característico do progressivo italiano - é o grande destaque, criando cama perfeita e melodias excepcionais. Mérito do talentoso Pit Corradi.

Embora menos evidente que em outras bandas do progressivo italiano, os vocais herdados das óperas italianas também marcam presença, vide a surreal "Della Natura".

Para quem tem certa birra com estilo, recomendo a audição da intensa e, até certo ponto pesada, "Degli Uomini". Depois disso ficará mais fácil digerir composições esquizofrênicas como "Dell'eterno Ritorno".

Mas nem tudo na obra é perfeito. A banda carrega em seus ideais uma velha praga italiana: o fascismo. Até mesmo a face do Mussolini surge na capa do disco. Zarathustra perde pontos por conta disso, mas assim como ocorre no cinema com o Nascimento De Uma Nação, onde a glorificação do absurdo é deplorável, a estupidez ideológica não diminui por completo o valor da obra, embora tenha contribuído para o fim prematuro do grupo.

terça-feira, 19 de novembro de 2013

ALGO ENTRE: Racionais MC's e Meshuggah

RACIONAIS MC'S
Neste último feriadão, reservei um dia pra jogar bola com amigos no parque. Adivinhem a música que ficou na cabeça?

MESHUGGAH
Outra coisa que fiz no fim de semana foi assistir o show espetacular do Meshuggah (falo mais sobre o show na retrospectiva do ano). Impossível passar indiferente após ouvir uma pedrada dessas ao vivo.

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

TEM QUE OUVIR: The Beatles - The Beatles (1968)

De todos os álbuns dos Beatles, The Beatles - popularmente conhecido como White Album/Álbum Branco -, lançado em 1968, foi o que melhor ressaltou as individualidades do quarteto, o que gerou um disco extremamente variado.

As canções deste disco duplo soam mais como quatro talentosos músicos/compositores reunidos num único trabalho do que como uma banda em si. Isso se deve a vários fatores que inevitavelmente levaram ao fim do grupo dois anos depois. Dentre os fatores estão as drogas, a religião, discordâncias estéticas, conflitos de personalidade, ego, saturação artística e (em menor grau) a famigerada Yoko Ono. Ainda assim, tem quem considere esse o grande trabalho do quarteto, sendo o primeiro lançado pela Apple, selo criado pelo próprio grupo.


A capa impressionantemente minimalista - completamente oposta ao psicodelismo colorido de Sgt. Pepper's - rendeu o apelido do álbum e diversas paródias indiretas (não é mesmo, Metallica e Caetano Veloso?). Mas o que chama atenção mesmo é sua diversidade sonora.

Quando o assunto é rock n' roll básico e direito, poucas faixas conseguem bater de frente com "Back In The U.S.S.R.", "Glass Onion", "Birthday", "Yer Blues", "Everybody's Got Something To Hide" e a extremamente pesada - e pré-heavy Metal - "Helter Skelter".

Como passar indiferente diante de baladas primorosas recheadas de sofisticação melódica que só os Beatles são capazes oferecer, vide "Dear Prudence" (que linha de baixo!), "Happiness Is A Warm Gun" (com doses nada moderadas de surrealismo, além de ser um fruto de inspiração do Belchior) e a linda/acústica "Blackbird"?

O que dizer de "While My Guitar Gently Weeps", composição primorosa do George Harrison - sempre sendo a peça surpresa do grupo - que contém solo emblemático do Eric Clapton?

O que ainda não foi dito sobre a politicamente hippie "Revolution 1"? Será que ela fazia sentido durante a Guerra do Vietnã?

Vale dizer que enquanto Paul McCartney fez "Martha My Dear" para sua cadelinha (com direito a arranjo vocal/orquestral surrupiado dos Beach Boys), John Lennon escrevia "Julia" para sua mãe, que morreu quando ele ainda era uma criança. 

Ainda é possível destacar a delirante "I'm So Tired", a psicodelicamente barroca "Piggies", o arranjo complexo da acústica "Mother Nature's Son", a espetacular "Sexy Sadie", o soul ácido de "Savoy Truffle" e a exuberância cinematográfica de "Good Night".

Lá para o fim do disco, temos ainda a estranhíssima "Revolution 9" e seus mais de oito minutos de colagens sonoras e outras experimentações que só fazem sentido quando escutadas após tantas maravilhosas composições. Ou nem assim. É a vanguarda adentrando o rock.

Sendo o primeiro álbum a ser gravado em 8 canais - até então tudo era registrado em apenas 4 -, contendo alguns dos melhores compositores de todos os tempos, instrumentistas completos e um produtor lendário como o George Martin, fica difícil contrariar a premissa de que este é um dos melhores discos de todos os tempos. 

domingo, 17 de novembro de 2013

Momentos musicais no cinema com trilhas não originais

Sabe aquele momento de um filme em que toca uma música já existente (ou seja, uma música não feita exclusivamente para o filme)? Pois então, trago aqui meus momentos prediletos (sem pensar muito) dentro desta proposta. 

Aqui vale já lembrar que a poderosa "Fight The Power" (Public Enemy) foi feita para o filme Do The Right Thing (Spike Lee), ou seja, não obedece o critério estabelecido.

Não está em ordem de preferência, apenas enumerei.

As opções são muitas, sendo assim, mais pra frente faço uma "parte II".

"The Weight" da The Band no Easy Rider.
"Born To Be Wild" do Steppenwolf pode até ser a canção mais icônica do filme, mas é a sensacional "The Weight" da The Band que serve de trilha sonora para o momento mais tranquilamente aventureiro do filme.

"The End" dos Doors no Apocalipse Now.
Possivelmente um dos começos de filme mais sombrios da história do cinema. The Doors nunca soou tão bem quanto aqui. Obs: Wagner e sua ópera ficam para a próxima lista.


"Misirlou" do Dick Dale no Pulp Fiction.
Tarantino é um dos melhores diretores no oficio de escolher músicas para seus filmes. Adoraria ver sua coleção de discos. Dentre tantos momentos cinematográficos clássicos, escolho esse:

"Perfect Day" do Lou Reed no Trainspotting.
Uma das músicas mais bonitas de todos os tempos servindo de trilha para uma overdose de heroína. Brilhantemente antagônico.

"Tiny Dancer" do Elton John no Almost Famous.
De todos os momentos citados, este é o único em que a música é diegética (ou seja, ela "toca" dentro da cena). A melodia pop perfeita cantada a plenos pulmões num momento bonito deste divertido filme.

"Free Bird" do Lynyrd Skynyrd no The Devil's Rejects.
Uma família troglodita formada por assassinos cruéis vira símbolo de união e honra nesta cena final espetacular. Parcela disso é culpa deste hino do southern rock.


"Zarathustra" do Richard Strauss no 2001: Uma Odisseia no Espaço.
Para finalizar, um clássico em todos os sentidos. Um dos momentos mais emblemático, exuberantes e delirantes da história do cinema.

Coloque nos comentários os seus momentos prediletos.

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

TEM QUE OUVIR: R.E.M. - Murmur (1983)

Não existe unanimidade ao apontar o ponto zero do rock alternativo. Alguns diriam que é o Velvet Underground, outros o Television, mas ambos concordariam que o R.E.M. foi o primeiro grupo a usufruir do prestígio do estilo. E isso aconteceu logo no seu álbum de estreia, Murmur (1983), que transformou a banda na queridinha dos críticos. 


Gravado num estúdio especializado em música gospel na Carolina e produzido pelo Mitch Easter, Murmur rapidamente chamou atenção no circuito alternativo, levando a banda a ganhar destaque em eventos e rádios universitárias. Trabalhando duro no álbum, ele chegou aos 30 mais vendidos dos Estados Unidos, sendo aclamado pelo jornal New York Times e eleito pela revista Rolling Stone como o melhor disco do ano, superando War do U2 e o recordista Thriller do Michael Jackson.

Por trás de toda bajulação da mídia impressa, Murmur guarda preciosidades. A abordagem direta do punk rock - embora mais sofisticada, melódica e suave -, surge em composições como "Radio Free Europe", lançada primeiramente como single, arrancando de cara grandes elogios. 

Dono de timbre característico, melodias inspiradas e letras inteligentes, o vocalista/líder Michael Stipe abrilhanta canções como "Talk About The Passion" e "Perfect Circle". Já em "Laughing" é o baixo melódico de Mike Mills que rouba a cena.

Peter Buck, antigo vendedor de discos e guitarrista subestimado, seja com sua guitarra Rickenbacker ou com violões, transita entre a sonoridade do Roger Mcguinn (Byrds) e Alex Chilton (Big Star), presenteando os ouvintes nas ótimas "Moral Kiosk", "Catapult", "Sitting Still" e "9-9". Em alguns momentos seus arranjos são tão bem estruturados que chegam a remeter ao Alex Lifeson (Rush).

Atualmente, o rock alternativo mais parece o hype "jornalístico" em busca da nova estrela indie, apresentando grupos que explodem e sucumbem em sua própria irrelevância. Já o R.E.M. tem sua sobrevivência justificada na qualidade das composições que as novas bandas não parecem ter.

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

ALGO ENTRE: Tribal Tech e Be-Bop Deluxe

TRIBAL TECH
Scott Henderson nas guitarras e Gary Willis no baixo. Quer mais o quê? Fusion de primeira grandesa. Face First (1993) é uma valiosa aula.

BE-BOP DELUXE
Bill Nelson, ta ai um guitarrista pouco lembrado, mas extremamente talentoso. Ultra recomendado pra quem gosta de art rock na linha dos primeiros discos do Roxy Music.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

TEM QUE OUVIR: The Kinks - The Kinks Are The Village Green Preservation Society (1968)

Daquela safra oriunda da Invasão Britânica - da qual vieram Bealtes, Stones e Who -, os Kinks foram os mais injustiçados. Não que não tenha outros grupos subvalorizados ou que sua obra seja completamente obscura. Muito pelo contrário, eles até são lembrados - principalmente por conta da clássica "You Really Got Me" -, ainda assim, menos do que deveriam. Todavia, ao escutar o emblemático The Kinks Are The Village Green Preservation Society (1968), que na época passou praticamente despercebido, é possível entender o porquê de muitos manifestarem predileção pela banda.


Tem quem se incomode com "inocência" das canções, já que o disco foi lançado em um momento político conturbado. Todavia, não se engane, quando o assunto é a banda dos irmãos Ray e Dave Davies, damos de cara constantemente com composições não menos que espetaculares, sendo o retrato perfeito dos jovens ingleses da classe média.

As letras tem como referência uma Inglaterra rural/cordial/pacata que está cada vez mais distante do presente, embora viva nas memórias de infância. Deste modo, chega a ser lúdico ouvir canções singelas como "Do You Remember Walter" e a irônica "People Take Pictures Of Each Other". 

É possível sentir elementos psicodélicos na letra de "The Village Green Preservation Society", que traz em seu instrumental muita da tradição folk.

O blues americano, sempre tão presente na sonoridade dos grupos ingleses, mostra sua cara em "Last Of The Steam-Power Trains". As guitarras dos irmãos Davies discretamente chamam atenção, seja pelo riff descontraído de "Picture Book" ou pelas bases caprichadas de "Johnny Thunder". 

O álbum ainda reserva a delirante/analítica "Big Sky", a barroca/pastoral "Village Green", a divertida/ensolarada "Starstruck" e o arranjo incomum de "Phenomenal Cat".

De imediato, o disco não rendeu bons frutos. Sem alcançar prestígio, o baixista Pete Quaife saiu da banda, ficando de fora de sucessos posteriores, como Lola (1970). Todavia, foi Village Green o disco mais inspirado, tendo sido extremamente influente para grupos como The Jam, Blur e Arctic Monkeys. Patrimônio do rock inglês.

domingo, 10 de novembro de 2013

Passando a Limpo o Shazam - Parte II

Hora de novamente limpar o Shazam e analisar o que "coletei" até o momento. Lembrando que esse é o segundo post com esse tipo de conteúdo. O primeiro pode ser visto clicando aqui.

Mais uma vez não postarei o link das músicas para não sobrecarregar o post.

A maioria das músicas certamente foram ouvidas no Programa Garagem ou em algum filme da Mostra de Cinema da Cultura. Conheço praticamente nada sobre cada artista, portanto falarei brevemente sobre a música em si. Escutem o que interessar.

01: Brenda Lee - Break It To Me Gently
Basta ter o mínimo de bom gosto pra se encantar com essa voz/composição espetacular. Belíssimo arranjo.

02: Skeeter Davis - The End Of The World
A música pop do começo da década de 1960. É inofensível, mas muito melódica.

03: Petula Clark - Downtown
Mais uma cantora pop da década de 1960, só que desta vez britânica e com arranjos de cordas mais ousados.

04: Shellac - Squirrel Sond
O grande produtor Steve Albini (Pixies, Nirvana, PJ Harvey, Fugazi, Mogway) no seu melhor momento enquanto instrumentista.

05: Sebadoh - Magnet's Coil
O melhor que o indie rock tem para oferecer. Banda do grande Lou Barlow.

06: Zero 7 - Ghost SYMbOL
Tipica boa composição de downtempo. Produção ousada.

07: The 39Steps - Ghost Writing
Ecos do passado numa produção moderna.

08: Flipper - Learn To Live
Punk rock da melhor qualidade. Uma das bandas prediletas do Kurt Cobain. Tudo isso se justifica nesta ótima faixa. E viva as guitarras barulhentas!

09: Rene Saucier - A Starry Night's Dream
Composição simples de pop country Instrumental "guitarrístico". Belos timbres, vibratos e bends. Lembrou o fraseado do saudoso Celso Blues Boy.

10: A Sunny Day In Glasgow - Failure
Vestígios de Radiohead e dream pop numa mesma canção.

11: Scratch Acid - Gretest Gift
Punk pock e rockabilly unidos por esse "Jesus Lizard em outro formato".

12: The Feelies - Fa Cé-La
É tudo tão tosco que é sensacional, principalmente as guitarras.

13: Monotonix - Body Language
Sujeira garageira do século XXI.

14: King Curtis - Whole Lotta Love
Versão genial do clássico do Led Zeppelin numa roupagem jazz-funk.

15: A Place To Bury Strangers - Dead Beat
Nu-gaze. Entende? Pois é.

16: Ignite - Place Called Home
Típico hardcore da Califórnia do começo da década de 1990. Dentro desse território é uma das melhores coisas.

17: Spoon - Anything You Want
Curte Wilco? Então de uma conferida.

18: Bombay Bicycle Club - Dust On The Ground
O estilo é o pior de todos: indie folk. Mas a música é bacana.

19: Showstar - Gold Mine
Indie rock simpático.

20: Alex Clare - Too Close
Ótima voz e composição, com leves toques de soul music e dubstep (!!!).

21: Alexandra Roos - Tout Est Fini
O francês cantado por mulher sempre soa sensacional. Canção nova, mas com timbres vintage e arranjo "retrô".

22: Lhasa De Sela - Pa' Llegara Tu Lado
Canção linda e triste, ultra melódica e de arranjo compacto (piano e voz).

23: House Of Pain - Jump Around
Aula de sample e produção no hip hop.

24: Dalida - Bang Bang
Clássica canção regravada por meio mundo, aqui em versão francesa. Foi popularizada através do Tarantino (sempre genial na escolha de suas trilhas).

25: The Jesus Lizard - Mouth Breather
O tão saudoso começo da década de 1990 em um de seus melhores momentos.

26: Driller Killer - Mad Bad N' Pissed
Crossover moderno, Metalcore que ta mais pra Motörhead do que pra Trivium.

27: Blossom Toes - Postcard
Os mods ingleses da segunda metade da década de 1960 sendo psicodélicos até nas canções pop. Sempre ultra melódicos e experimentais. Obrigado, Beatles.

28: Kylesa - Scapegoat
Sonzeira sludge/stoner.

29: Junior Wells - Why Are People Like That?
Um dos melhores e mais influentes bluseiros do seu tempo. Isso é que é voz (timbre, interpretação, letra... perfeito), fora a aula de gaita e slide guitar.

30: Sleigh Bells - A/B Machines
É noise, é eletrônico e é pop. Tem até guitarra de surf rock.

31: Bettie Serveert - Semaphore
Rock alternativo dos melhores. Ótimas guitarras.

32: Major Force - Return Of The Original Art Form
Uma seleção de samples embalados num groove espetacular.

33: Andreya Triana - A Town Called Obsolete
Ótima cantora da atualidade, belo groove e produção. Vai da soul music ao Trip Hop. Maravilha.

34: BJ Thomas - Rock And Roll Lullaby
Senti pitada de Todd Rundgren no refrão. O pop já foi mais melódico.

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

TEM QUE OUVIR: Orbital - Orbital 2 (1993)

Até o final da década de 1980, era difícil enxergar apelo popular na música eletrônica. Ainda que já existisse um culto encoberto pelo trabalho do Kraftwerk e, tanto o synthpop quando a house music já tivessem mostrado suas garras, a típica e-music das raves só foi começar a despontar em paralelo ao crescimento das festas que ocorriam na Inglaterra no começo da década de 1990. Orbital 2 (1993) foi um dos grandes lançamentos desta época. Era (e ainda é) objeto imprescindível na prateleira de milhares de jovens sedentos por novos sons.


Aqui o que antes era apenas música eletrônica, vira subgêneros muitas vezes incompreendidos. Techno, acid house, ambient e trance, estilos tocados/produzidos não por uma banda, mas por dois DJs/produtores, que se escondem atrás de sintetizadores e outros aparatos eletrônicos para fabricarem a sua nova música.

Os irmãos Paul e Phil Hartnoll são os responsáveis pela obra. O duo usa loops e samples na construção de "Planet Of The Shapes", faixa que consegue soar dançante abordando motivos étnicos da música tribal e indiana em seus transcendentais 9 minutos. 

"Lush 3-1" e "Lush 3-2" viram juntas um épico que serve de preparação para a intensa "Impact", um clássico das primeiras raves. Sua batida intrincada representa um nítido desenvolvimento da música eletrônica. 

Assim como em "Lush 3-2", Kirsty Hawkshaw (Opus III, grupo techno contemporâneo do Orbital) empresta sua voz nos melismas microtonais de "Halcyon + On + On". O resultado é tão dançante quanto apaziguador. 

Ainda que trilhando um caminho segmentado, o Orbital ganhou respeito e relevância. Foi com eles que a música eletrônica começou a se popularizar, embora sem perder a inquietação típica da vanguarda musical.

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

TEM QUE OUVIR: Tropicália ou Panis Et Circencis (1968)

Dentre tantos movimentos da música brasileira, nenhum foi tão impactante quanto a Tropicália. Embora seja possível argumentar que essa hegemonia seja artificial - em detretimento da projeção do que seria uma genuína manifestação artística -, a realidade se impõe, revelano o tropicalismo como o momento mais inovador e ameaçador até aquele momento da canção popular. Sendo assim, Tropicália ou Panis et Circencis é um patrimônio histórico da música mundial.


Lançado em 1968, após o lendário festival da TV Record, no auge do flower power e da guerra do Vietnã, no ano da morte do Martin Luther King e da implantação do AI-5 pelo regime militar brasileiro, esse disco manifesto soa explosivo e, acima de tudo, necessário.

Arquitetado por Caetano Veloso e Gilberto Gil, o álbum traz a participação de diversos artistas que ajudaram a fortificar o movimento, vide Os Mutantes, Tom Zé, Gal Costa, Rogério Duprat, Nara Leão, Capinam e Torquato Neto. Todos estão representados de alguma forma na emblemática capa do disco, expondo o ambiente de coletividade.

O tropicalismo surgiu como uma forma de interligar a cultural regional com as manifestações de vanguarda e a arte pop internacional. As referências eram muitas, da Banda de Pífanos de Caruaru, passando pela psicodelia do Jimi Hendrix - mesmo após a passeata contra a "imperialista" guitarra elétrica -, os Beatles, o concretismo, o Movimento Antropofágico de Oswald de Andrade, a Pop Art do Andy Warhol, o visual de Carmen Miranda, as instalações de Hélio Oiticica, o samba-rock do Jorge Ben, o cinema novo de Glauber Rocha, a expressão popular de Chacrinha e o teatro anarquista de Zé Celso. Somando todas essas peças ao talento do maestro Julio Medaglia, do guitarrista Lanny Gordin, do poeta Wally Salomão, dos produtores Guilherme Araújo e Manoel Barenbein e dos compositores Jards Macalé e Jorge Mautner, esse disco foi a ponta do iceberg de uma transformação estética da canção brasileira. 

A composição calcada no violão psicodelicamente abrasileirado numa poesia de Capinam em "Misere Nobis" é quem abre estrondosamente o álbum. Essa fusão ocorre também em "Geleia Geral", desta vez com letra do Torquato Neto.

A releitura da triste "Coração Materno" (Vicente Celestino) feita por Caetano Veloso mostra que, apesar do movimento apontar para novos rumos, ele não virava as costas para o passado musical do país. Mais uma prova disso é "Lindoneia", uma especie de bolero mórbido interpretado pela Nara Leão, outrora musa da bossa nova. Já Gal Costa, musa tropicalista desde sempre, passeia maravilhosamente pela linda "Baby".

Se tem uma música acima de qualquer julgamento é "Panis Et Circensis", onde a dobradinha Caetano/Gil elabora a letra musicada pelo sempre criativo Os Mutantes. Um clássico!

"Parque Industrial" talvez seja a canção mais representativa do álbum, tendo em vista que todos os integrantes do movimento participam da faixa, celebrando a música "made in brazil".

O disco ainda reserva faixas como a latina "Três Caravelas", a minimalista "Enquanto Seu Lobo Não Vem", a melódica "Mamãe, Coragem", a vanguardista/lisérgica/afro-brasileira "Bat Macumba" e o "Hino ao Senhor do Bonfim", amarrando perfeitamente a obra.

Tropicalia ou Panis et Circencis não é necessariamente o melhor registro dos envolvidos no trabalho, mas certamente é o mais emblemático. Tem quem deteste e tente desesperadamente diminuir o valor da obra. Já outros exaltam os tropicalistas com fervor desnecessário. Mas por trás de tudo isso está uma obra complexa, que definiu a estética contracultural no país e abriu diversas portas musicais/comportamentais/politicas. Para o bem ou para o mal, a história do Brasil passa por aqui.

terça-feira, 5 de novembro de 2013

TOP 5: Maiores letristas do rock

No mundo do rock, onde a atitude vale mais que qualquer outro atributo, a letra é fundamental para agregar valor a obra. Carente que está o gênero de boas letras, nada melhor que relembrarmos os que fizeram isso com qualidade inacreditável.

Então vamos lá, 5 maiores letristas do rock. Não necessariamente os melhores, mas os meus prediletos. Não desprezem os da "menção honrosa" ali embaixo. Ali tem muita coisa importante.

Reforçando que essa lista se restringe ao rock. Mais pra frente posso bolar uma seleção pensando na música popular brasileira, no rap, no pop...

01 - Chuck Berry
O primeiro grande compositor do rock n' roll. Seu trabalho é ultra subestimado. Seu estilo é único, urbano e certeiro (ou era, agora já foi amplamente imitado, não é mesmo, Jagger/Lennon/Lemmy?). Como disse certa vez Alice Cooper, "ouço suas músicas e penso: ele me contou uma puta história em 3 minutos!".

02 - Bob Dylan
De todos os geniais compositores remanescentes da música folk (inclua nessa lista Leonard Cohen, Paul Simon, Van Morrison e Joni Mitchell), deixei apenas o Dylan no TOP 5. Por que ele? Oras, porque ele é o mais emblemático, influente, politico, lúdico, lúcido, produtivo e ainda hoje relevante. Uma lista sobre maiores letristas da música de todos os tempos sem o Dylan é piada.
*Dylan nunca mantém suas músicas no YouTube, logo, ficaremos vídeo exemplificando. Mas pegue qualquer disco dele em sua estante e encontrará excelentes momentos poéticos.

03 - Lou Reed
Representante do estilo marginal de escrita temos o Lou Reed. Ninguém retratou Nova York melhor que ele. Alias, ninguém retratou melhor o perigo, as drogas, o sexo, a fúria e tudo que é genuinamente rocker do que Lou Reed. Um ícone da escuridão.

04 - Neil Young
Neil Young herdou o dom de letristas dos compositores de música folk. Suas letras não são de fácil assimilação, todavia, quando compreendidas, capturam a atenção do ouvinte. Ele sabe ser triste, confessional, político, brutal e épico.

05 - Pete Townshend
De espetaculares canções rebeldes, passando por hinos da música inglesa e grandiosas composições de ópera-rock, toda a criação do The Who está calcada no lirismo do Pete Townshend. Não só pelas letras, mas também pelos arranjos, melodias e harmonias, ele poder ser considerado o compositor mais completo da história do rock.

BÔNUS MADE IN BRAZIL: Raul Seixas
Roger Moreira? Lobão? Cazuza? Renato Russo? Não me façam rir! Raul Seixas é o autentico representante da contracultura. De crises existenciais, passando pelo domínio da história, conceitos políticos, ocultismo, agregando humor e tendo alcance popular. Raul fez de tudo e melhor que todos.
Obs: Todos os citados são bons sim, mas vale a provocação.

MENÇÂO HONROSA: Carl Perkins, Buddy Holly, John Lennon, Paul McCartney, Mick Jagger, Marianne Faithfull, Ray Davies, Jim Morrison, Frank Zappa, Leonard Cohen, Paul Simon, Van Morrison, Joni Mitchell, David Bowie, Iggy Pop, Bernie Taupin, Robert Plant, Geezer Butler, John Fogerty, Alberto Spinetta, Alice Cooper, Freedie Mercury, Roger Waters, Syd Barrett, Jon Anderson, Peter Sinfield, Neil Peart, Donald Fagen, Ronnie James Dio, Bruce Springsteen, Patti Smith, Jonathan Richman, Dee Dee Ramone, Joe Strummer, Poly Styrene, Paul Weller, Jello Biafra, Lemmy, Steve Harris, Jeff Hanneman, Ian Curtis, Mark E. Smith, Robert Smith, Morrissey, Daniel Johnston, Tom Waits, Nick Cave, Black Francis, Ian Mackaye, Kurt Cobain, Layne Staley, Wayne Coyne, Trent Reznor, PJ Harvey, Zack de la Rocha, Jeff Tweedy, Elliott Smith, Phil Elverum, Erasmo Carlos, Caetano Veloso, Sérgio Sampaio, Arnaldo Baptista, João Ricardo, Lô Borges, Zé Rodrix, Guilherme Arantes, Arrigo Barnabé, Itamar Assumpção, Arnaldo Antunes, Marcelo Nova, João Gordo, Redson, Rodolfo, Fred Zero Quatro e Marcelo D2 (somente no Planet Hemp).

domingo, 3 de novembro de 2013

TEM QUE OUVIR: Devo - Q: Are We Not Men? A: We Are Devo! (1978)

O Devo é uma aberração musical (no bom sentido, claro). Quando muitos começavam a assimilar o punk rock, a banda já apontava a direção para o pós-punk, ajudando a criar aquilo que ficou conhecido como new wave. O disco de estreia da banda transcende gêneros, sendo uma corajosa explosão dançante e bem humorada de art rock.


Guiados pela produção do Brian Eno - no auge de sua famigerada música ambiente - e por criativos timbres de sintetizadores - influenciados por Kraftwerk -, a banda liderada pelo figuraça Mark Mothersbaugh passeia pelo surrealismo instrumental, que serve de trilha para a ideia de "de-evolução", formando um complexo conceito e moderna sonoridade. Entre os exemplos estão a futurista "Praying Hands", a esquisita "Jocko Home", a punk vanguardista "Too Much Paranoias" e o pré-synthpop "Mongoloid".

Tem quem ache datado, mas é impossível não querer balançar o esqueleto diante de "Uncontrollable Urge" (com pitada de Public Image Ltd.), "Space Junk" (com vestígios de Television) e "Gut Feeling" (prevendo o Joy Division).

A inacreditável versão para "Satisfaction (I Can't Get No)" dos Rolling Stones está entre os mais bizarros momentos da música pop. A clássica canção é desconstruída ritmicamente e transformada num esquizofrênico amontoado sonoro. 

Os pitorescos capacetes, os clipes nonsense, a postura no palco frenética, as letras bem sagazes (com traços de ficção cientifica) e a sonoridade esquisita não foram suficientes para atrair o grande público de imediato para o conceito ambicioso do Devo. Todavia, a influência do grupo pode ser sentida do Talking Heads e David Bowie ao Man Or Astro-Man?.

sábado, 2 de novembro de 2013

ALGO ENTRE: Santana e King's X

SANTANA
Incrível como o Santana - quando ainda era uma banda e não somente a carreira do guitarrista - tem músicas que transcendem o som. É algo realmente espiritual. Vale sempre reouvir, principalmente quem gosta da inserção do rock pela música latina. 

KING'S X
Tava pesquisando um pouco mais sobre esse trio. Conheço pouco, mas pelo pouco que ouvi já deu para perceber que eles são ultra subestimados.

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

TEM QUE OUVIR: Van Morrison - Astral Weeks (1968)

Enquanto alguns artistas se estabelecem por décadas produzindo o esperado, outros parecem gostar de desafios. Van Morrison é um deles. Desde os tempos do grupo de blue-eyed soul, Them, ele vem arriscando, sendo impedido de falhar devido seu enorme talento. 

Em Astra Weeks (1968), seu disco mais prestigiado, Morrison convocou um time de jazzistas - vide o baterista Connie Vay e o contrabaixista Richard Davis - para acompanha-lo em canções folks, com forte influência de música celta irlandesa, blues e rock. Assim nasceu sua obra-prima.



A liberdade dos músicos foi garantida a partir do momento em que Van Morrison não os orientava. Exigia "apenas" perfeccionismo na execução. Gravado exclusivamente com instrumentos acústicos, o disco é uma referência de música folk, soando intenso, melódico, dramático e rico, tanto poeticamente quanto musicalmente.

A beleza das composições se revela logo em "Astral Weeks", faixa construída num delirante compasso de 6/8. Difícil não se sensibilizar com a delicadeza instrumental e a intensidade vocal de canções como "Beside You" e "Cyprus Avenue".

"Sweet Thing" é de imediato o pop perfeito, surpreendendo a cada nova audição devido sua estupenda orquestração e groove precioso. Já "The Way Young Lovers Do" soa como se uma big band de jazz tomasse ácido e fizesse uma jam em cima da linha vocal do artista principal.

A longa "Madame George" é um épico folk tipicamente irlandês que deixa transparecer o talento do Van Morrison enquanto letrista. Seu crescente arranjo culmina num final apoteótico. Como se não bastasse, o disco ainda guarda nas mangas a preciosa "Ballerina" e a vagarosa balada "Slim Slow Slider".

Frequentemente citado por críticos como um dos melhores discos de todos os tempos, para Van Morrison ele serviu de combustível para os ótimos trabalhos posteriores, vide Moondance (1970). A ousadia e o talento se renovam a cada lançamento, mas é Astra Weeks que serve como porta de entrada para um artista genial.