quarta-feira, 31 de outubro de 2012

TEM QUE OUVIR: Queens Of The Stone Age - Songs For The Deaf (2002)

No começo do novo milênio, o rock passava por mais uma de suas crises. Mesmo com bandas como The Strokes, White Stripes e Wilco mantendo um relativo sucesso em paralelo aos grupos de new metal - Limp Bizkit, SOAD, Linkin Park, Korn e tantas outras -, faltava doses de sujeira no rock. Foi então que o Queens Of The Stone Age, cria madura do Kyuss, lançou Songs For The Deaf, revigorando a música com composições e performances memoráveis.


Com produção bastante crua, a pancada "You Think I Ain't Worth A Dollar, But I Fell Like A Millionaire" abre o disco recheada de berros e timbres vintages que soam como o ronco de um motor.  Isso é proporcionado não somente pelo guitarrista/vocalista/compositor/líder Josh Homme, mas também pelo seu parceiro de Kyuss, Nick Oliveri (baixo/voz).

Com a porta já escancarada, o hit "No One Knows" adentra os ouvidos com levadas arrasadoras do Dave Grohl, que estraçalhou sua bateria por todo o disco. Essa música, assim como as ótimas "First It Giveth" (tremendo baixo, tremendo refrão) e "Go With The Flow" (um surf rock do deserto), foram cruciais para o álbum alcançar o grande público via MTV.

É interessante notar que as faixas aparecem intercaladas com locuções radiofônicas, feitas pelos próprios integrantes e amigos da banda, dando um clima descontraído para o disco.

O baixo mega pesado do frenético Nick Oliveri aparece com destaque na introdução de "Hanging Tree". Já seus vocais sarcasticamente pop estão na dark "Gonna Leave You" e na quase mexicana "Another Love Song". Já em "Songs For The Dead" quem ataca os vocais em cima de um instrumental arrasador é o brilhante Mark Lenegan (Screaming Trees).

O disco ainda reserva faixas como o petardo "The Sky Is Falling", a intensa "Do It Again", a progressiva "God Is In The Radio" e a bela balada "Mosquito Song". Um álbum sujo e moderno, com pitadas de hard rock, metal, stoner e pop. Definitivamente um clássico da geração 2000.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

0008: Chuck Berry - Johnny B. Goode (1958)

Nesta semana, o lendário Chuck Berry anunciou que está se aposentando. Nada mais justo para um sujeito de 86 anos que ajudou a moldar aquilo que hoje chamamos de rock.

O fato dele escrever suas próprias composições numa época em que artista trabalhavam com compositores contratados fez dele um caso raro. Outro ponto que chama atenção é o fato dele ter sobrevivido artisticamente a tantos empecilhos do racismo, que era ainda mais forte na indústria musical da década de 50.

Além de compositor genial, Chuck Berry é considerado um dos mais importantes guitarrista de todos os tempos, sendo copiado por John Lennon, Keith Richards, Angus Young e tantos outros. Isso pode ser conferido na emblemática "Johnny B. Goode".

Sua introdução recheada de bends precisos em um solo furioso, normalmente tocado em paralelo ao seu famoso duck walk, foram fundamentais para construção do alicerce do rock n' roll.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

TEM QUE OUVIR: U2 - The Joshua Tree (1987)

Se o U2 é uma das maiores bandas de todos os tempos, isso se deve em parte ao The Joshua Tree, quarto álbum do grupo. Antes da obra, a banda apresentava o pós punk contundente dos discos War (1980) e Boy (1981). Ao trabalhar com os produtores/compositores Brian Eno e Daniel Lanois em The Joshua Tree, o U2 ganhou uma magnitude sonora que refletiu em sua alta vendagem, o que financiou a liberdade artística do grupo para todo sempre.


O álbum começa com uma sequência tão arrasadora de hits que mais parece que estamos ouvindo uma coletânea. "Where The Streets Have No Name" tem uma introdução épica, com guitarras minimalistas recheadas de delay, uma das tantas características do The Edge. Em seguida surge "I Still Haven't Found What I'm Looking For", uma das melhores e mais conhecidas baladas do grupo, com ótimo desempenho vocal do Bono e raiz fincada na música gospel. Na sequência, a bonita "With Or Without You", que mais uma vez chama atenção para o guitarrista The Edge e sua capacidade de preencher as músicas com belas harmonias, timbres preciosos e texturas complexas, tudo isso sem perder a sutileza/lirismo POP da composição.

A espetacular cozinha formada por Larry Mullen Jr. (bateria) e Adam Clayton (baixo) se destaca na ótima "In God's Country" e na tensa "Bullet The Blue Sky", essa última com uma das tantas letras engajadas - embora extremamente simplistas - do Bono. Já seu lado melódico como cantor é fácil de ser percebido na bela balada tribal "Running To Stand Still" e na surreal "Exit".

Entre outros destaques está a energia atmosférica de "Red Hill Mining Town" e o clima heartland rock de "Trip Throught Your Wires", onde a mão do produtor Daniel Lanois se faz mais presente.

A ótima produção somada a belas composições e uma popularidade estrondosa fazem de The Joshua Tree um dos mais ambiciosos e bem-sucedidos discos de todos os tempos.

domingo, 28 de outubro de 2012

0007: Hawkwind - Silver Machine (1972)

Imagine um som extremamente lisérgico que traga o Lemmy nos vocais e contrabaixo anos antes dele formar o Motörhead. Imaginou? Agora coloque nesse som doses consideráveis de psicodelia, acid rock, proto-punk, hard rock e rock progressivo, o que origina um monstro de sete cabeças que hoje chamamos de space rock (ou rock espacial). Agora considere que essa música é o único "hit" desta banda sensacional que fazia shows emblemáticos, com direito a projeções visuais e seios fartos. Acho que não precisa de mais motivos pra escutar esse som 40 anos depois do seu lançamento, né?

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

TEM QUE OUVIR: Cream - Disraeli Gears (1967)

Na segunda metade da década de 1960, poucos grupos foram tão importantes quanto o Cream. Formado pelo baixista/vocalista Jack Bruce, o baterista Ginger Baker (ambos ex-The Graham Bond Organisation) e o guitarrista/vocalista Eric Clapton (ex-Yardbirds e ex-John Mayall & The Bluesbreakers, um já "Deus da guitarra" na Inglaterra), a banda definiu a linguagem compacta e explosiva de um power trio. Disraeli Gears (1967), produzido pelo baixista Felix Pappalardi, é a amostra perfeita da amplitude sonora do grupo.


Logo na faixa de abertura do disco, a espetacular "Strange Brew", já fica explicita a cadência bluseira tocada com pegada rockeira e aura psicodélica que o trio propõem.

A clássica "Sunshine Of Your Love" vem na sequência, trazendo um poderoso riff pré-hard rock e heavy metal. O groove tribal do Ginger Baker é matador, tornando-se ainda mais hipnótico quando tocado ao vivo, momento em que o Cream mostrava toda sua ferocidade quase jazzistica em improvisações longas.

A psicodelia flui com naturalidade em músicas como "World Of Pains" - linda melodia, refrão acachapante! - e "Dance The Night Away", ambas com linhas de baixo soberbas. Já em "Tales Of Brave Ulysses" é Eric Clapton que brilha com seu fraseado bluseiro e timbre distorcido temperado com wah-wah. Tais características aparecem também em "Take It Back".

O peso acachapante do trio salto aos ouvidos nas faixas "SWLABR. (She Was Like A Bearded Rainbow)" e "Outisede Woman Blues", ambas donas de riffs poderosos e bateria estrondosa.

Com as músicas e capa do álbum condizentes com o clima flower power do movimento hippie, as qualidades do Cream logo foram percebidas pelo público. Todavia, a banda durou pouco, sendo Disraeli Gears o principal registro dessa época iluminada da música.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

0006: Lynyrd Skynyrd - Free Bird (1973)

Há 35 anos ocorreu um dos mais trágicos acidentes da história da música. O avião que levava a banda Lynyrd Skynyrd caiu matando o vocalista Ronnie Von Zant, o guitarrista Steve Gaines, a backing vocal Cassie Gaines (irmã de Steve), além dos pilotos e membros da produção técnica da banda.

Mesmo com esse e outros fatos amaldiçoando a carreira da banda, nada foi o suficiente para impedir o Lynyrd Skynyrd de ser um dos maiores nomes do southern rock. Mérito conseguido por lançarem discos espetaculares, como por exemplo, o álbum de estréia (Pronunced "Leh-'nerd 'Skin-'nérd) de 1973.

Uma das faixas mais emblemáticas presente neste disco e obrigatória em todos os shows do grupo é a maravilhosa "Free Bird" (ou "Freebird").

A música pode ser divida em duas partes. A primeira, calma e melancólica, com bela introdução de piano, solo ultra melódico de slide do guitarrista Gary Rossington, arranjo de cordas brilhante e letra profunda interpretada lindamente por Ronnie Von Zant. A segunda, extremamente intensa, com um dos maiores solos de guitarra de todos os tempos, obra do talentoso Allen Collins, que faz a guitarra sorrir e chorar com grandes frases recheadas de bends e vibratos expressivos.

Assim como ocorre no Brasil com o "Toca Raul", é possível encontrar nos mais variados shows nos EUA alguém gritando "Freebiiiiiiiiiird!!!".

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

TEM QUE OUVIR: Sex Pistols - Never Mind The Bollocks, Here's The Sex Pistols (1977)

Demarcar o ponto inicial do punk rock é tarefa árdua e inútil. Alguns dizem que começou com os grupos MC5, New York Dolls e The Stooges, hoje chamados de proto-punk. Outros mais radicais atribuem aos peruanos do Los Saicos. Mas a verdade é que, mesmo que os Ramones e o The Damned tenham registrado discos em 1976, a popularização e grande revolução do estilo aconteceu com o primeiro e único álbum do Sex Pistols, o clássico Never Mind The Bollocks, Here's The Sex Pistols (1977).


O primeiro adendo que faço é que Sid Vicious - indiscutivelmente um dos maiores personagens da história do rock -, só tocou (e bem!) na faixa "Bodies". Glen Matlock divide os baixos com o guitarrista Steve Jones. Restou assim a Sid a imagem/atitude niilista autodestrutiva do estilo.

É importante lembrar também a masturbação egocêntrica, glamourosa e pretensiosa em que o rock se encontrava: era o Eagles gastando milhões com estúdio (e cocaína, claro), o Pink Floyd com suas longas canções que não mais se comunicavam com a juventude, o Yes distribuindo virtuosismo e o Led Zeppelin fazendo shows em grandes arenas, viajando em seu próprio avião. Resumindo, as bandas de rock estavam muito distantes do público.

Outro adendo é para os altos índices de desemprego na Inglaterra no final da década de 1970, que causava apatia e falta de perspectiva nos jovens britânicos. Sendo assim, ainda que traga toda a "picaretagem" e malícia mercadológica do empresário Malcolm McLaren, o Sex Pistols era uma genuína luz no fim do túnel em meio a caretice comportamental e musical.

Antes de gravar o álbum, o grupo fazia apresentações pouco frequentadas. Dentre elas está o lendário show em Manchester, que entre meia dúzia de gatos pingados continha na plateia jovens que viriam a integrar os Smiths, Buzzcocks e Joy Division.

Com o visual gritante moldado pela estilista Vivienne Westwood e o momento propicio para a ferocidade, as composições do disco catapultaram o punk rock, arremessando sua estética para os mais diversos cantos do mundo, enterrando estilos do passado. Eis a explosão punk de 1977.

Logo na faixa que abre o trabalho, a acachapante "Holidays In The Sun", é possível notar uma agressividade instrumental ousada, além da peculiar/debochada voz de Johnny Rotten, que mais parece um resmungo. Já em "Bodies" o peso é mais evidente em sua letra sombria sobre aborto.

"No Feelings" e "Liar" trazem a fórmula que diversas bandas adotaram posteriormente, do Dead Kennedys ao Green Day. "Pretty Vacant" tem Steve Jones moendo sua guitarra, sendo um grito de esperança para os músicos medíocres e marginais. Já não era mais necessária a destreza técnica de um Jimmy Page para fazer rock.

Mas o grande clássico é "God Save The Queen", um hino sarcástico contra a rainha e o conformismo, com direito a berros de "no future for you". "Anarchy In The UK" tem a mesma violência sônica e poética, levando espantosamente a faixa ao topo das paradas, ainda que enormemente boicotada. Ambas foram lançadas previamente como singles.

Com esse álbum o Sex Pistols criou a fórmula do punk rock. Gostando ou não, poucos discos foram tão influentes e fiéis a uma época.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Prodígios da música

Neste 12 de outubro, Dia das Crianças, trago ao blog alguns talentosos artistas mirins. Não vou colocar aqui crianças japonesa de 9 anos tocando Chopin no piano (o que é sem dúvida impressionante, mas não é o perfil que decidi abordar). Postarei aqui prodígios que evoluíram e construíram carreiras artística sólidas.

Obs: Integrantes das Runaways, Def Leppard, Kyuss, Silverchair, Arctic Monkeys, dentre outros, não considero prodígios. Ainda que bastante jovens, todos já bebiam cerveja quando lançaram seus respectivos disco de estreia, então ficaram propositadamente de fora da lista.

Wolfgang Amadeus Mozart
Quem assistiu o filme Amadeus (1984) sabe do talento que o mais famoso compositor do classicismo demonstrava logo na infância, seja em composições próprias ou enquanto interprete, tendo como platéia a realeza europeia. Deixo aqui uma das primeiras composições de Mozart, feita quando ele tinha entre 8 e 10 anos, possivelmente com auxilio de seu pai, Leopold. Gênio.

Sidney Bechet
Ele é um dos maiores clarinetistas da história do jazz, tendo brilhado inclusive ao lado do Louis Armstrong. Mas o curioso é pensar que quando ele tinha apenas 10 anos, ele já trabalhava ao lado de grandes instrumentistas e orquestras da primeira década do século XX. Infelizmente, sem registros.

Frankie Lymon
Esse jovem cantor foi fundamental para o desenvolvimento do doo-wop e do rock n' roll quando era apenas uma criança, tendo alcançado popularidade e influenciando outros cantores da época. Infelizmente sua carreira entrou em decadência, originando depressão e vícios. 

Stevie Wonder
Fico sempre intrigado quando analiso a discografia do Stevie Wonder. É impressionante ver que seus melhores trabalhos, produzidos na primeira metade da década de 1970, foram feitos depois de mais de uma dúzia de discos lançados. Seu primeiro álbum foi lançado em 1962, quando o pequeno Stevie tinha apenas 12 anos. E aqui entre nós, o som já era de alto nível. Gênio.

Michael Jackson
Todos já conhecem a história: entre algumas porradas de seu pai e ensaios intermináveis com o Jackson 5, Michael Jackson tornou-se um dos grandes artistas da música pop de todos os tempos. A voz, a presença de palco, o senso melódico e as composições fizeram de Michael Jackson um dos maiores nomes da música negra ainda quando criança, tornando-o um dos artistas mais lucrativos da Motown. Um legitimo discípulo de Stevie Wonder.

Harley Flanagan
Ter passado a infância em meio aos punks do CBGB fez com que o Harley Flanagan quisesse ser um deles. E era. Logo ele formou ao lado da sua tia o grupo Stimulators, que ok, não era das melhores bandas do período, mas impressionava pelo vigor do jovem baterista, na época com 13 anos. Alguns anos depois ele montou o Cro-Mags, importante banda do hardcore novaiorquino. 

Björk
Quando a Björk era apenas uma fedelha islandesa de 12 anos, ela lançou um curioso disco homônimo. Longe da sofisticação que ela viria a explorar tempos depois, aqui ela aparece cantando faixas dos Beatles, Edgar Winter e, curiosamente, do já citado Stevie Wonder. Vale a pesquisa.

Andreas Varady
Recentemente surgiu nos EUA esse ótimo guitarrista que vem construindo boa reputação no mundo do jazz. Além de executar primorosamente standards famosos e improvisar com fluência, Andreas Varady também tem ótimas composições próprias. Essas qualidades levaram a ele a ser o mais jovem artista a estampar a capa da conceituada revista americana Guitar Player. Uma promessa que já virou realidade.

Eloy Casagrande
No Brasil tivemos dezenas de crianças talentosas, da Sandy ao excelente baixista Pipoquinha. Mas o caso que mais chama atenção é o do Eloy Casagrande. De participante de um quadro do Domingão do Faustão (onde ele tocava uma bateria de miniatura), ele se tornou um premiado instrumentista internacional, com passagens pela banda do André Mattos, Glória e atualmente Sepultura. Um currículo invejável pra quem tem apenas 24 anos. Sem dúvida um dos grandes bateristas de metal da atualidade.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

0005: Janis Joplin - Cry Baby (1971)

É incrível como Janis Joplin continua a soar impactante. Foi essa a sensação que tive hoje ao reouvir a brilhante "Cry Baby", 42 anos depois de sua prematura morte.

Lançada em seu melhor disco, o póstumo Pearl (1971) e acompanhada pela boa banda Ful Tilt Boogie Band, encabeçada pelo guitarrista John Till, "Cry Baby" expõem os dois lados da cantora Janis Joplin, o explosivo e o ultra melódico.

A gravação é poderosa e mostra a banda em desempenho esplendido (com destaque para o pianista Richard Bell). A introdução é pesada e logo emenda no potente refrão, evoluindo para estrofes melodiosas, de sensibilidade interpretativa única de Janis Joplin, somada ao seu timbre rouco característico, atributos que ajudam a explicar o porque dela ser idolatrada ainda hoje.

É importante lembrar que a música é de autoria do cantor americano de Soul Music, Garnet Mimms, fato que justifica qualquer similaridade com o r&b da Aretha Franklin na versão da Janis Joplin.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

TEM QUE OUVIR: Alice In Chains - Dirt (1992)

Em 1992, o peso instrumental e lírico da cena grunge já tinha dado as caras. O Alice In Chains, que já havia lançado um bem sucedido trabalho de estreia, se aperfeiçoou ainda mais nas composições do álbum Dirt, aquele que para muitos é o melhor disco do movimento de Seattle.


Aqui as composições são ainda mais intensas e tragicamente encantadoras. "Them Bones" abre o disco com o Jerry Cantrell provando o porquê de ser considerado um dos principais guitarristas da sua geração. Seu vocal harmonizado com o de Layne Staley também é especial, sendo uma das grandes qualidades do grupo.

"Dam That River" repete o feito, desta vez o com Layne abusando da sua potente voz num refrão pesadíssimo. É preciso destacar também o subestimado baterista Sean Kinney, sempre incisivo em suas levadas.

As letras de "Rain When I Die", "Sickman", "Junkhead" e "Dirt", todas empacotadas num instrumental denso, tratam explicitamente do tormento mental do vocalista, na época afundado no vicio em heroína, o que acabou tirando sua vida 10 anos depois. Esse tom confessional e depressivo foi descrito pela Spin Magazine como "uma forma de cortar o próprio corpo e deixar que os ouvintes olhem dentro". A estranha, pesada e, até mesmo, funkeada "God Smack" é tão doentia que vende a "diversão" da heroína em seu refrão paranoico.

Mas o álbum não rodeia apenas o vício de Layne. A belíssima "Rooster", por exemplo, foi escrita para o pai do Jerry Cantrell e trata da Guerra do Vietnã. Já "Iron Gland" é uma piada que surge no meio do disco - sem ser creditada - em homenagem ao Black Sabbath e com participação do Tom Araya (Slayer).

"Hate To Feel" e "Angry Chair" repetem o peso avassalador e mórbido das músicas anteriores, sempre se mantendo criativo nos riffs e na estrutura das composições.

A depressiva "Down In A Hole", seguida do hit "Would?", com ótima linha de baixo do Mike Starr - curiosamente/tristemente também morto por overdose de heroína - completam esse excelente álbum, intenso e sincero como poucos.