sexta-feira, 28 de setembro de 2012

0004: Tim Maia - Bom Senso (1975)

Se estivesse vivo, Tim Maia completaria hoje 70 anos. Em homenagem a este ícone da música brasileira e um dos mais interessantes personagens do show business, comento aqui uma de suas preciosas canções, a sensacional "Bom Senso", presente no cultuado disco Racional, Vol.1 (1975).

Em 1975, Tim Maia já era um renomado artista, que tinha revolucionado a música brasileira com o ritmo contagiante da música negra americana. Com os dois pés fincados no trabalho de gente como Marvin Gaye, Barry White, Curtis Mayfield e George Clinton, Tim passou por uma transformação comportamental e filosófica. Abandonou as drogas, noitadas e a carne vermelha, se afundando na Cultura Racional através do livro Universo em Desencanto (Manuel Jacinto Coelho).

Essa "fase Racional" da sua vida trouce uma pregação ideológica incomoda ao seu trabalho, coisa que até mesmo Tim Maia tratou de execrar posteriormente. Todavia, músicas como "Bom Senso" se tornaram clássico dessa época por conter arranjos primorosos, groove acachapante e o melhor timbre vocal de Tim.

A guitarra do grande Paulinho Guitarra é alucinantes. A voz do Tim Maia, longe da cocaína, torna-se ainda mais potente. O refrão é mágico em sua simplicidade. Ou seja, é uma daquelas obras que não podem passar despercebidas.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Ícones da MPB em faixas rockeiras

O título do post é auto explicativo, assim sendo, escutem essas ótimas faixas com apelo rockeiro gravadas por medalhões da música brasileira. Quem sabe essas músicas não servem de introdução para o trabalho desses ótimos compositores.

Tim Maia - Cristina Nº2
O ícone da soul music brasileira em seu genial disco de estreia, numa faixa rápida e com vestígios da Jovem Guarda. É importante lembrar que Tim Maia chegou a ter um grupo no final da década de 50 em parceria com Roberto e Erasmo Carlos chamado The Sputniks, ou seja, sua ligação com o rock não é tão surpreendente assim.

Milton Nascimento - Para Lennon e McCartney
Milton em seu disco de 1970 acompanhado pelo supergrupo Som Imaginário. O teclado total Mark Stein (Vanilla Fudge) do Zé Rodrix e a guitarra carregada de fuzz do grande Frederyko (Fredera) são imponentes.

Gilberto Gil - Cérebro Eletrônico
Ridiculamente ignorada pela nova geração, Gilberto Gil tem tantas faixas rockeiras (principalmente na fase tropicalista) que fica difícil escolher apenas uma. Deixo essa música que tem a presença do genial Lanny Gordin nas guitarras.

Gal Costa - Vapor Barato
Mais um petardo com a presença do guitarrista Lanny Gordin em um dos seu melhores solos. O peso dessa música é inovador para época (no Brasil). Sensacional.

Caetano Veloso - Odeio
Caetano Veloso é um autentico rockeiro em mutação. Isso de faz valer desde sua fase tropicalista. Na última década ele voltou a deixar aflorar o rock em seu trabalho, o que acabou resultando no ótimo disco (2006). Já vou avisando, o rock aqui não tem o peso setentista das músicas anteriores, na verdade está muito mais ligado a arranjos pós-punk de bandas como Talking Heads.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

TEM QUE OUVIR: Steely Dan - Aja (1977)

Ao propor a fusão de estilos, corre-se o risco de soar presunçoso. Não é o caso do Steely Dan e seu clássico Aja (1977). Esse brilhante disco funde naturalmente jazz com o rock, pop e soul em arranjos primorosos - no auge da simplicidade do punk rock -, feitos pelos brilhantes Walter Becker e Donald Fagen.


Além da genial dupla da linha de frente Steely Dan, o disco reúne um time de músicos de qualidade poucas vezes vista na história da música. Por exemplo, logo na faixa de abertura, a ótima "Black Cow", temos o baixo pulsante e swingado de Chuck Rainey, dando um balanço inteligente para a canção.

Já na música "Aja", a aula é de autoria do lendário baterista Steve Gadd, principalmente durante o solo do icônico saxofonista Wayne Shorter, onde ambos preenchem o espaço com frases de tirar o fôlego. Tudo isso em cima de uma harmonia bastante complexa, característica típica do Steely Dan. Sua filosófica/poética letra também merece atenção, assim como os timbres extraídos por Victor Feldman de seu Fender Rhodes, ainda hoje referência para diversos músicos, vide o brasileiro Ed Motta.

O excepcional guitarrista Lee Ritenour pode ser ouvido na bela "Deacon Blues". Já o mestre Larry Carlton, que criou uma escola de guitarra devido suas primorosas gravações com o Steely Dan, pode ser escutado na impecável "Home At Last", com direito a um groove inacreditável do genial baterista Bernard Purdie.

"I Got The News" e "Josie" mantém o disco em nível estratosférico, sendo que essa última é igualmente rockeira, funkeada e harmonicamente rica, ainda que perfeitamente acessível e radiofônica, sem soar maçante.

Entretanto, a música de maior sucesso do disco é a funkeada "Peg" - mais tarde sampleada pelo De La Soul (escute a faixa "Eye Know") - e rendeu ao álbum vendagem suficiente para entrar no top 5 dos EUA..

A qualidade das composições, dos músicos presentes no disco e a produção acertadamente perfeccionista, fez de Aja um clássico do bom gosto.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

TOP 5: Bateristas prediletos

Para minha surpresa, hoje é comemorado o dia do baterista. Sem a menor pretensão de fazer um Top 5 definitivo de bateristas, listo aqui não os melhores, técnicos, influentes ou importantes, mas sim os meus cinco bateristas prediletos.

Antes gostaria de dizer que quando eu era pivete, bateria era meu instrumento preferido. Cheguei até mesmo a amassar algumas panelas influenciado pelo Charles Gavin (Titãs) e Charlie Watts (Rolling Stones). Embora esses dois músicos não tenham entrado na minha lista, fica aqui a minha homenagem a eles e outros tantos bateras que deixei de fora, do Buddy Rich ao Chris Adler.
Vamos a lista!

01 - Ian Paice
O subestimado baterista da minha banda predileta: Ian Paice do Deep Purpe. Quem já ouviu (espero que todos) a versão ao vivo de "The Mule" presente no disco Made In Japan sabe que ele é o cara. E o que falar das viradas maravilhosas presentes no clássico álbum Machine Head? Pegada, criatividade, técnica, groove e desenvoltura jazzistica. Ian Paice é a cara do Deep Purple.

02 - Bill Bruford
O maior batera do rock progressivo. Gravou clássicos do Yes, King Crimson, UK e teve passagem rápida pelo Genesis. Nada acomodado, trabalhou sempre para aperfeiçoar sua performance. Fez experimentos com timbres eletrônicos, polirritmias e recentemente desenvolveu um projeto ligado ao jazz.

03 - Billy Cobham
Um dos caras responsáveis pelo desenvolvimento do jazz rock. Trabalhou com Miles Davis (vide o disco Bitches Brew), lançou excelentes discos solos (Spectrum é um clássico) e fez parte do emblemático grupo Mahavishnu Orchestra. Pegada furiosa em levadas jazzisticas, sempre com muito groove, técnica e criatividade.

04 - Mike Portnoy
Seria mentir para mim mesmo não colocar o Portnoy na lista. Além de ser tecnicamente impecável, horas até exagerado, Portnoy é acima de tudo criativo. Seu trabalho no Dream Theater usando infinitas fórmulas de compasso e tocando tudo com naturalidade assustadora, fez dele um dos meus bateristas prediletos e ídolo de boa parte da minha geração.

05 - Dave Grohl
Estava em dúvida entre o Dave Grohl e o Lars Ulrich (eu sei, ele é tosco e chatão, mas gosto do seu estilo), mas decidi colocar o Dave porque ele fez brotar em mim recentemente o interesse de tocar bateria. Nada muito sério, apenas fazer barulho em alguma banda de cover, tocando clássicos do rock. A energia que ele passa tocando é fora do comum. Sua pegada é forte e suas frases altamente criativas, além de ter uma técnica bastante particular. Escute os trabalhos do Dave Grohl com o Nirvana, Foo Fighters (os 2 primeiros álbuns), Queens Of The Stone Age, Them Crooked Vulture, Killing Joke (disco homônimo de 2003), Probot e Nine Inch Nails (ele toca no With Teeth de 2005) e perceberá um grande baterista.

Não gostou da minha lista? Crie a sua e coloque nos comentários. Abraços!

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

0003: T. Rex - Get It On (1971)

Há 35 anos atrás morria um dos maiores personagens da história do rock. Falo do compositor/vocalista/guitarrista/líder do grupo T. Rex, Marc Bolan.

Ao lado do David Bowie, Marc Bolan é um dos pilares do glam rock e influência declarada de bandas que vão do Bauhaus ao Guns N' Roses.

Lançada no espetacular álbum Electric Warrior de 1971, "Get It On" não é só uma das mais conhecidas canções do T. Rex, mas também uma das melhores. Sua letra simples e sacana cantada canalhamente (no bom sentido) por Marc Bolan cai muito bem em cima do maravilho riff de guitarra, que tem um balanço que faria até mesmo o Keith Richards ficar com inveja.

É interessante notar que o tecladista Rick Wakeman (Yes) e o multi-instrumentista Ian McDonald (King Crimson e Foreigner) fizeram parte da seção de gravação desta música.

Clássico absoluto do rock que ajudou a santificar Marc Bolan na história da música.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

0002: Epitáfio de Seikilos (entre 200 a.C até 100 d.C)

Já tive a oportunidade de falar sobre essa composição em outro post (veja aqui), ainda sim, acho importante sua inclusão na minha lista de "1001 Músicas Para Ouvir Antes De Morrer".

Além da relevância histórica por ser a primeira composição completa do ocidente, sua melodia simples num 6/8 é muito bonita. Sua curta letra cravada numa lápide é extremamente poética.

No meu outros post é possível ter um pouco mais informação sobre a canção.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

0001: Little Richard - Tutti Frutti (1955)

Há exatos 57 anos atrás, Little Richard gravava uma das pedras fundamentais do rock, estou falando da emblemática "Tutti Frutti".

Em uma votação feita pela revista inglesa MOJO, "Tutti Frutti" liderou a lista de "100 canções que mudaram o mundo". Hoje isso pode parecer exagero, mas não é se pensarmos em jovens brancas dançando ao som encorpado de um artista negro e assumidamente bissexual, em plena década de 1950, antes mesmo do Elvis Presley lançar seu explosivo disco de estréia, que continha a regravação da música.

É preciso lembrar também que a canção foi lançada num compacto em novembro de 1955 e posteriormente incluída no álbum que ainda hoje é o mais vendido da carreira do Little Richard, o clássico Here's Little Richard de 1957.

Mas a verdade é que esses números históricos são dispensáveis quando Little Richard ataca seu piano e berra "A-wop-bop-a-loo-bop-bam-boom". Clássico!

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Apresentando "1001 Música Para Ouvir Antes de Morrer"

Apresento a vocês minha nova peripécia neste blog. Partindo do raciocínio bíblico difundido pelo grande Raul Seixas de que "debaixo do Sol não há nada novo", apropriei-me de mais uma famigerada lista de "1001 qualquer coisa".

Com o intuito de fazer postagens com maior frequência, menos texto, mas ainda sim legais/úteis, decidi elaborar a minha lista de "1001 Música Para Ouvir Antes de Morrer".

Não tenho o livro "1001 Música Para Ouvir Antes de Morrer" (só tenho o de discos e o de filmes), portanto a lista não tem compromisso nenhum com material presente no livro.

A lista não foi previamente elaborada, vai ser postada de acordo com que vier na cabeça (ou seja, obviamente não vai obedecer uma ordem cronológica). Comprometo-me a escolher canções relevantes de diferentes períodos, regiões, estilos e nível técnico, traçando um humilde panorama da história da música.

Algumas das obras postadas certamente vocês já ouviram milhares de vezes, já outras é possível que não conheçam (ainda). Mas uma coisa é certa, todas foram importantes de alguma forma.

Se preparem para uma lista gigante, que vai ser elaborada em paralelo aos outros textos/colunas deste modesto blog. Quem quiser música aqui terá, com a ressalva de que meus textos continuarão esforçados, mais ainda sim carregados de equívocos.

Bora ouvir música porque o tempo é curto e a lista é longa.
Abraços!

terça-feira, 11 de setembro de 2012

TEM QUE OUVIR: Yes - Close To The Edge (1972)

O rock progressivo é um gênero maldito. Não é cool gostar de bons músicos transgredindo os limites da música pop. Todavia, em meio a tantas bandas presunçosas, talvez seja a hora de reavaliar o estilo. A começar por Close To The Edge (1972), o grande clássico do Yes.


O álbum tem apenas três faixa, todas de tamanho sinfônico, sendo que a música de abertura, "Close To The Edge" - que preenche um lado inteiro do vinil - foi estruturada em quatro movimentos.

O primeiro, "The Solid Time Of Change", é inicialmente cacofônico, mas logo é tomado por um desempenho ultra melódico do guitarrista Steve Howe e levadas complexas do genial baterista Bill Bruford em seu último trabalho com a banda (após o lançamento do disco ele foi tocar no King Crimson). Em toda a canção é possível notar Chris Squire disparando frases criativas em seu baixo Rickenbacker de timbre gorduroso.

No movimento "I Get Up, I Get Down" quem brilha é o mago dos teclados Rick Wakeman, com timbres grandiosos de sintetizadores e influência nítida da música barroca do Bach. Os arranjos vocais, a letra viajante inspirada no romance Siddharta (Hermann Hesse) e a voz doce do Jon Anderson deixa tudo ainda mais profundo. "Seasons Of Man" fecha a canção elevando o grau de virtuosismo, mas sem apelar para a chatice técnica sem propósito musical. A melodia ainda é o elemento central.

"And You And I" é a segunda faixa do disco. O violão do Steve Howe na introdução é de beleza ímpar. A música evolui em cima de uma letra poética extremamente lúdica, chegando ao ápice num belo arranjo de cordas.

A terceira e última canção do disco é a virtuosa "Siberian Khatru", mais uma vez repleta de ótimas melodias e passagens desafiadoras de cada instrumentista, principalmente do baixista Chris Squire.

Esse trabalho magnifico do Yes é um dos poucos de rock progressivo que pode ser adorado até por quem não gosta do gênero. Isso acontece devido a qualidade das composições e a performance dos músicos. Eis um capítulo importante na história do rock, que inspirou bandas como Rush, Mutantes, Dream Theater e Mastodon.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Centenário do John Cage

Há exatos 100 anos nascia John Cage, um dos mais importantes compositores do século XX. Conhecido muito mais teoricamente do que propriamente pela sua música, Cage foi um dos músicos de vanguarda que ajudaram a quebrar formulas pré estabelecidas dentro da música.


Dentre os assuntos explorados por John Cage está o silencio, ou melhor, a ausência dele. A primeira experiência de negação do silencio ocorreu quando Cage visitou em Harvard uma câmara anecoica, que consiste em uma sala isolada de ruídos externos e projetada para conter reflexões de ondas sonoras e eletromagnéticas (basicamente uma sala com ausência absoluta de som). Ele descreveu que na sala ouviu dois sons, um alto e um baixo. Segundo ele "o som alto era do meu sistema nervoso e o baixo meu sangue em circulação". Começava ai a ideia para sua famosa composição "4'33" (1952), peça de três movimentos em que na partitura não contém uma nota sequer, mas que ao contrario do que muitos pensam, não consiste em 4 minutos e 33 segundo de silencio absoluto, mas sim de sons ambientes produzidos (uma tosse, um carro que passa na rua, a respiração... tanto faz) e percebidos pelo ouvinte.

Outro método de composição explorado por John Cage é o de música aleatória, que consiste em deixar ao acaso elementos da composição. Dentre os trabalhos mais estranhos explorando essa técnica está a "Imaginary Landscape No. 4" (1951), escrita não para piano, violino ou violoncelo, mas sim para 12 rádios, com instruções precisas de como os músicos deveriam controlar os aparelhos pelo volume e frequência, mas obviamente sem poder interferir na programação das rádios no exato momento da execução da obra.

Uma das técnicas mais legais difundidas pelo John Cage é a do piano preparado, que consiste em um simples piano modificado em sua sonoridade original por objetos milimetricamente colocados em sua caixa de ressonância, interferindo na vibração das cordas. Artistas conhecidos como Hermeto Pascoal, Chick Corea, Sonic Youth (neste caso, nas guitarras) e até mesmo a Pitty já utilizaram a técnica.

John Cage é também considerado um dos pilares da música eletroacústica. Ao explorar o ruído, John Cage consolidou a escola francesa da música concreta e a escola alemã da música eletrônica. Assista Cage transformando o ruído em música em uma apresentação emblemática e ainda hoje bizarra.

A maior herança deixada por John Cage foi a da ousadia. Seu trabalho ainda continuará por muitos anos embasbacando as pessoas. Dito isso, vou deixar aqui a recomendação de um ótimo disco para quem quer adentrar o seu trabalho: In A Landscape: Piano Music of John Cage (1994) do Stephen Drury. É uma maravilha!