segunda-feira, 23 de abril de 2012

Dia do Choro

Hoje, 23 de abril, é celebrado um dos estilos mais genuinamente brasileiro, o choro, comumente chamado de chorinho. A data é uma homenagem ao nascimento de um dos maiores (se não o maior) artista do gênero, o Pixinguinha.

Dentre as características do choro estão composições virtuosas, melódicas, tocadas em rodas de choro muitas vezes improvisada e com composições em grande maioria instrumental (ainda assim, cantoras como Ademilde Fonseca ganharam notoriedade por interpretar músicas do estilo).

É interessante notar que o choro mesmo sendo extremamente popular, ele tem uma sofisticação que causou interesse de diversos compositores eruditos.

Colocarei abaixo algumas composições para comemorarmos juntos esse estilo tão rico e interessante.

Pixinguinha
Nada melhor que começar com a obra do mestre Pixinguinha. É interessante lembrar que Pixinguinha já integrou grandes grupos da música brasileira, como o Caxangá, ao lado de Donga (um dos criadores do samba) e do lendário violonista João Pernambuco. Ele fez parte também do mítico grupo Oito Batutas. Dentre suas composições mais famosas estão "Carinhoso" e "Lamento".

Waldir Azevedo
O Pixinguinha é o chorão mais lendário, mas a composição mais conhecida do choro pertence a Waldir Azevedo. É óbvio que estou falando da espetacular "Brasileirinho".

Jacob do Bandolim
Além de espetacular compositor, Jacob foi um dos melhores e mais influentes músicos do Brasil. Seu nome é citado não só por chorões, mas também por artistas como Pepeu Gomes e Armandinho Macedo.

Ernesto Nazareth
Não pode ficar de fora desta lista a celebre "Odeon" de Ernesto Nazareth.

Zequinha de Abreu
O mesmo vale para a virtuosa "Tico-Tico no Fubá" de Zequinha de Abreu.

Hamilton de Holanda
Deixo aqui um dos grandes instrumentistas da atualidade, o estupendo/virtuose/premiado bandolinista Hamilton de Holanda. Essa é aprova que o estilo continua vivo e muito bem representado, recebendo inclusive influência de outras vertentes musicais.

Chiquinha Gonzaga
Dentro desta lista duramente repleta de homens, finalizo com a chorona Chiquinha Gonzaga em uma gravação da época de ouro do choro. 

Vida longa ao choro! 

sexta-feira, 13 de abril de 2012

TEM QUE OUVIR: Milton Nascimento & Lô Borges - Clube da Esquina (1972)

Creditado apenas aos "cabeças" Milton Nascimento e Lô Borges, o Clube da Esquina não é propriamente um grupo e nem um movimento, mas sim um coletivo formado por jovens amigos compositores, que se juntavam para tocar violão nas ruas de Belo Horizonte. Clube da Esquina, o disco, registra um período riquíssimo da música brasileira, que começara a ter em Minas Gerais a sua vanguarda.


O trabalho contém letristas excepcionais, como Márcio Borges (ouça a tipicamente mineira "Os Povos"), Ronaldo Bastos (ouça a singela "Um Gosto de Sol") e Fernando Brant (ouça a experimental "Pelo Amor de Deus", com direito a arranjo sinfônico do Eumir Deodato).

O grande diferencial do grupo é a mistura de harmonias complexas do jazz/bossa nova e melodias quase barrocas com a influência rockeira/pop dos Beatles. Algo entre a tradição e a ruptura. Isso aparece claramente na genial "Tudo Que Você Podia Ser". Na linda "Cais", essa riqueza harmônica e melódica chega ao limite da perfeição.

Na memorável "O Trem Azul", o guitarrista Toninho Horta esbanja genialidade. A delicadeza de seu solo em uma levada pop típica do Lô Borges ainda hoje é uma aula de sofisticação e bom gosto. Já nas duas versões de "Saídas e Bandeiras", quem aparece sutilmente é Beto Guedes, com sua voz peculiar somada ao timbre característico do Milton Nascimento.

O arranjo soberbo de "Nuvem Cigana" tem as mãos de Wagner Tiso. Outras três pessoas de colaboração importante no disco são Tavinho Moura (responsável pela influência da música folclórica/barroca mineira), Flavio Venturini (que ajudou na veia rockeira do álbum) e o espetacular baterista Robertinho Silva.

Dentre canções clássicas está a bucólica/maravilhosa "Um Girassol da Cor de Seu Cabelo", a delicada/emocionante "San Vicente" (interpretação impressionante do Milton), a introspectiva "Clube da Esquina Nº 2" (com aquele arranjo exuberante do Maestro Lindolfo Gaya), o pop mineiro "Paisagem da Janela", a progressiva "Trem de Doido" e a rockeira "Nada Será Como Antes".

Vale ainda reforçar a beleza da simplicidade da foto da capa, de autoria do Cafi, trazendo duas crianças que, ao contrário do que alguns pensam, não são o Milton e o Lô. Outro destaque é a produção do álbum, tendo em vista que ele foi captado em apenas 2 canais (!!!). Impressionante. Méritos do engenheiro Nivaldo Duarte.

Este disco é ainda hoje referência de composição e interpretação. Todos os envolvidos partiram posteriormente para carreiras individuais de sucesso. Tudo que surgiu em Minas Gerais, seja o 14 Bis ou o Skank, sofreu/sofre influência destes jovens compositores que escreveram o nome na música popular brasileira.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Resumo do Lollapalooza Brasil 2012

Resumirei de forma rápida minha visão do festival Lollapalooza que, como todos sabem, teve esse ano sua primeira edição no Brasil. Fui apenas no primeiro dia do evento e aqui vai meu relato dos shows que vi.


TV On The Radio: A banda é interessante, tem composições legais, mas o show não me empolgou. Destaque pra uma participação rápida do Dave Navarro e um cover do Fugazi.

Começo do show do Pavilhão 9: Pesado! Fernando Schaefer não brinca na bateria e desceu a mão em grooves que se encaixam perfeitamente na mistura de rap com metal. Mas como queria ver o show da Joan Jett, só ouvi as 3 primeiras músicas.

Joan Jett: Honestamente, esperava bem mais do apresentação. Achei tudo bem morno. Lógico que ela é gigante e tem um repertório fantástico, mas o show simplesmente não vingou. Achei a execução da banda tímida.

Bassnectar: Descoberta da dia. Mistureba de drum and bass com dubstep. Pouca gente assistindo o show, mas todos num astral instigantemente temeroso. Sensacional! Com direito a sample de Metallica, Nirvana e outras bagaceiras. Um pouco adolescente demais? Sim, mas nada que seja um problema.

Foo Fighters: Um simples e impecável show de rock. Cheio de hits, presença de palco legal, composições que funcionam ao vivo, jams interessantes, todos tocando muito bem seus respectivos instrumentos, público empolgado, um líder cativante, mais de 2h30 de som... Belo show. O som tava ruim no começo, mas melhorou muito durante a apresentação.

E assim encerrou minha presença no festival, relativamente cedo (23hs) se comparado a outros shows que terminam quando o transporte público de São Paulo já esta fechado. Felizmente consegui voltar para casa com tranquilidade após o show.

Como ponto negativo do evento coloco a burocracia para comprar alimentos/bebidas, além dos abusivos/absurdos preços (o copo de cerveja saía por R$8).

Gostaria de ressaltar também que consegui acompanhar algumas apresentações do segundo dia do evento pela televisão, sendo que achei as apresentações do Jane's Addiction e do Skrillex (vi pela internet) muito boas. Arctic Monkeys achei "ok" e o resto pouco (ou nada) me agradou.

Espero que o festival role mais vezes por São Paulo, sempre melhorando na estrutura e na escolha das bandas escaladas.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Os melhores timbres de Marshall (tributo ao Jim Marshall)

Hoje, aos 88 anos, o criador dos amplificadores Marshall faleceu. Jim Marshall foi um dos responsáveis por definir a sonoridade da música popular, principalmente no rock. Sua empresa e seus produtos são parte importante na música de vários artistas. Postarei alguns timbres que o Marshall ajudou a moldar em tributo a esse grande empresário, criador e técnico de áudio.


Dick Dale
Diz a lenda que Dick Dale explodiu diversos amplificadores antes de chegar em seu timbre definitivo (um timbre por sinal bastante agressivo). A potência que saía dos falantes foi crucial no seu estilo e deu origem a uma nova forma de tocar surf rock.

Jimi Hendrix
Hendrix é sem dúvida a principal personalidade da Marshall. Ele definiu os conceitos da guitarra rock, sendo seu timbre um dos atributos para sua música extremamente influente. É interessante lembrar que o nome de batismo do Jimi é James Marshall Hendrix e que Mitch Mitchell (baterista do Jimi Hendrix Experience) teve aulas com Jim Marshall na sua juventude, sendo ele quem apresentou Hendrix para o criador dos amplificadores. Os feedbacks de Hendrix não seriam os mesmos sem o Marshall.

Eric Clapton
Ao lado de Hendrix, um dos grandes guitarristas da história, sendo seu gigante timbre na fase do Bluesbreakers e Cream o resultado da perfeita somatória de Marshall + Gibson. Vale lembrar que o baixo pesado de Jack Bruce também é "culpa" dos Marshalls.

John McLaughlin
Quando um guitarrista tradicionalmente de jazz inventa de tocar com amplificadores Marshall no talo, o resultado é explosivo: jazz rock! John McLaughlin rescreveu a história da guitarra com Miles Davis e a Mahavishnu Orchestra. Suas palhetas precisas em escalas exóticas ainda hoje são referência para milhares de instrumentistas.

AC/DC (irmãos Young)
O AC/DC é a encarnação da "simplicidade" da guitarra rock. Angus e Malcom Young formam a dupla que melhor retrata a divisão entre guitarra solo e rítmica (base). Óbvio que o paredão de Marshall no palco ajuda neste desempenho fantástico. É a guitarra conectada direto no amp, o volume no talo e as válvulas fritando. Fórmula simples e eficaz.

Yngwie Malmsteen
Certa vez li na revista Guitar Player que "as frases do Malmsteen são tão rápidas que as pessoas se esquecem de reparar no seu enorme timbre". E é verdade. Peso e a clareza das notas tocadas por um dos grandes virtuoses da guitarra. Isso, claro, com um paredão de Marshall servindo inclusive de cenário para suas pirotecnias.

Slash
Em um período cheio de excessos que foi a década de 1980, Slash olhou para trás e encontrou a perfeição timbristica na junção de Gibson + Marshall. O rock agradece.

Zakk Wylde
O peso do trabalho do Zakk com o Ozzy e o BLS tem grande parcela de culpa na parede de amplificadores que ele usa no palco. Detalhe: só as caixas de baixo ficam ligadas, o resto é apenas "efeito visual".

J Mascis
Uma somatória de amps são responsáveis pelo som esmagador do Dinosaur Jr.. O ruído etéreo das válvulas está aqui.

Lemmy
E para terminar, o timbre mais brutal da história do contrabaixo tem nome e explicação: Lemmy + Rickenbacker + amps da Marshall no talo.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

TEM QUE OUVIR: Big Star - #1 Record (1972)

O disco #1 Record (ou No. 1 Record, Number 1 Record) é daqueles discos que dariam um filme. Lançado em 1972 pelo Big Star, não conquistou sucesso algum, apesar das boas criticas. Isso se deu em grande por problemas de distribuição do selo Ardent, naquela altura recém comprado pela Stax. Entretanto, tanto o álbum quanto o grupo ganharam status cult, tornando-se influência para diversas bandas do rock alternativo.


A rockeira "Feel" abre o disco com riff certeiro, energia glam rock e belo refrão. É a voz esganiçada do Chris Bell dita o rumo da canção. Outras faixas mantém o mesmo espírito, vide a espetacular "Don't Lie To Me". 

No entanto, o que predomina no trabalho são canções de power pop. Alias, o álbum contém muitas das melhores baladas já registradas no rock, como por exemplo a estupenda "The Ballad Of El Goodo". Que refrão, que melodia, que belo arranjo de vozes e guitarras/violões!

Embora pouco lembrado, o excelente compositor/guitarrista/vocalista Alex Chilton criou uma das maiores escolas de guitarra. Seu fraseado e a sonoridade do instrumento na empolgante "In The Street" remete a diversas bandas oitentistas, dentre elas o R.E.M. e o The Replacements. A canção foi regrava pelo Cheap Trick e popularizada décadas depois via That 70's Show. Mais um excelente refrão.

O talento para criar harmonias e melodias vocais lindas fica explicito na acústica "Thirteen". É de chorar. Já em "The India Song" é possível notar a forte influência dos Beatles, ainda que sendo uma das poucas canções não escrita pela dobradinha Chris Bell/Alex Chilton, uma dupla tão especial quanto Lennon/McCartney, embora inegavelmente muito menos influente e produtiva. Comparação polêmica? Que seja!

O lado B do vinil começa com a pérola rockeira "When My Baby's Beside Me", seguida do arranjo recheado de guitarras, violões e piano da excelente "My Life Is Right". As baladas "Give Me Another Chance", "Try Again" e "Watch The Sunrise" expõem em suas letras os sentimentos mais profundos de mágoa e depressão que atordoavam Chris Bell. Todas redundantemente de arranjos sublimes com toque de música folk.

Os violões e vocais espetaculares à la Beatles na curta "ST 100/6" fecham esse grande trabalho, influente como poucos, mas que ainda assim precisa ser descoberto pelo grande público. Por trás do fracasso comercial e de uma história melancólica - principalmente envolvendo a morte prematura de Chris Bell -, havia uma tremenda banda.