sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

O rock nacional respira!

Paralelo a ascensão do rap, do tecnobrega e do Michel Teló, o rock nacional segue com diversas bandas lançando bons trabalhos. Deixarei aqui alguns exemplos de grupos que não estão presentes na grandes mídia, mas que já conquistaram respeito e admiração dos amantes do estilo.

Tomada
Banda paulistana que prima por bons arranjos em canções que remetem ao rock n' roll, blues-rock e, até mesmo, ao pop rock. Ricardo Alpendre (voz) e Pepe Bueno (baixo) formam uma poderosa linha de frente.

Baranga
O Baranga é uma típica banda de rock n' roll fuleira (no bom sentido) que manda muito bem em canções musculosas e cheias de energia. Um tanto quanto clichê? Sem dúvida, mas é bacana. Vale destacar a excelente cozinha do grupo, formada pelo Paulão Thomaz (bateria) e o Soneca (baixo).

Pedra
Infelizmente essa ótima banda encerrou as atividades recentemente, culpa de uma indústria cultural que não se sustenta. Ainda assim, seria um erro não cita-la. O Pedra tinha como principal característica a fusão de rock com a música brasileira, remetendo ao rock nacional setentista. Sua formação é uma escalação de ótimos músicos, vide o Luiz "Tigueis" Domingues (baixo), Rodrigo Hid (guitarra e voz) e o Xando Zupo (guitarra).

Carro Bomba
Desta "nova" safra de bandas, o Carro Bomba é a mais pesada. Beira o heavy metal e tende a agradar quem gosta do estilo. Adoro o disco Segundo Atentado (2006), embora os mais recentes também sejam legais (e esses sim são mais "metal"). O Rogério Fernandez é um tremendo vocalista. Destaque também para o Marcello Schevano (guitarra).

Pata de Elefante
Aclamada banda de rock instrumental de Porto Alegre. O grupo trabalha em belas composições que conseguiram espantosamente chamar a atenção da grande mídia. Vamos ver quanto tempo dura isso.

Macaco Bong
Outra banda instrumental, só que essa apresenta composições menos convencionais. Um dos grandes power trios da atualidade.

Motorocker
Banda curitibana que começou ganhar destaque fazendo (muito bem) cover de AC/DC, mas que aos poucos foi encontrando o caminho da música autoral. Também meio pastiche, mas bacana.

Cascadura
Ótima banda da Bahia que há tempos vem mostrando um trabalho consistente. Liderada pelo ótimo compositor Fábio Cascadura, o grupo apresenta grande influência do rock britânico, embora com sotaque brasileiro. Bogary (2006) é um dos meus discos prediletos do rock nacional.

Anjo Gabriel
Banda de Recife com forte influência do rock psicodélico e que lançou um ótimo disco no ano de 2011, intitulado O Culto Secreto do Anjo Gabriel.

Massahara
Power trio que parece ter desembarcado da década de 1970 direto para os palcos atuais. Nenhuma novidade sonora, mas grande competência no que se propõem a fazer.

Martin e Eduardo
Dupla formada respectivamente pelo guitarrista e baterista da Pitty. As composições são interessantes e a produção é consistente. Poderia estar no mainstream facilmente.

Rancore
Banda já conhecida do público da MTV. Lançaram ano passado o disco Seiva, de produção excelente, que só por esse motivo já vale ser conferido. É mais pop que as demais citadas, mas nem por isso deixa de ser relevante.

King Bird
Excelente banda que faz um típico southern rock. Para quem gosta do estilo é prato cheio.

Madame Saatan
Ótimo grupo paraense que faz um som bastante encorpado e que tem uma cantora com personalidade na linha de frente da banda. 

Espero mais pra frente fazer um post "O rock nacional respira - Parte II" citando nomes menos óbvios. Até lá se aprofundem nessas grandes bandas. Provavelmente alguma vai chamar a sua atenção.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

TEM QUE OUVIR: Elis Regina - Falso Brilhante (1976)

Não há quem discorde de que a Elis Regina foi uma intérprete espetacular, provavelmente a maior de todas do Brasil. Dona de técnica vocal, carisma, emoção, faro pra repertório e personalidade explosiva, seu brilhantismo foi evidenciado por toda sua carreira.


Já dona de uma discografia extensa, contendo 13 álbuns - dentre eles o histórico Elis & Tom (1974) -, a cantora se lançou em uma das mais bem sucedidas temporadas de shows da história, chegando a impressionantes 1.200 apresentações num período de três anos. Essa tour foi chamada de Falso Brilhante e desencadeou neste estupendo disco de estúdio.

Uma das grandes qualidades de Falso Brilhante (1976) é a sonoridade dos instrumentos, mérito do produtor Mazzola, que soube captar a energia da artista e de sua banda numa época de pouco recurso tecnológico.

O álbum começa com o hino "Como Nossos Pais". A interpretação de Elis Regina em cima de uma letra emblemática de autoria do Belchior é intensa e emotiva, assim como o arranjo regional/rockeiro do seu parceiro, Cesar Camargo Mariano. 

O lado visceral de Elis fica explícito na sensacional "Velha Roupa Colorida", também de Belchior. Ambas interpretações ajudaram na projeção nacional do artista cearense.

A canção argentina anti-ditadura "Los Hermanos" pede a unificação dos sul-americanos em prol da liberdade. Vale lembrar que o disco foi lançado durante o regime militar brasileiro.

A excelente "Quero" é um típico rock rural, com linha de baixo espetacular executada pelo ótimo Wilson Gomes. Já em "Gracias A La Vida", Elis Regina homenageia a lendária cantora e ativista chilena, Violeta Parra.

As letras do disco, sempre interpretadas magistralmente por Elis, merecem atenção especial. A qualidade dos compositores é impressionante, vide "Um Por Todos" - um típico progressivo brasileiro, tamanha a quantidade de informação musical -, "Jardins de Infância" e "O Cavaleiro E Os Moinhos", todas da genial parceria de João Bosco com Aldir Blanc.

Ainda hoje tida como uma das mais belas melodias já gravadas no Brasil, "Fascinação" eleva as alturas o talento da artista. O arranjo é outro show à parte.

O álbum se encerra com a sofisticada "Tatuagem", emblemática composição do Chico Buarque eternizada na voz da Elis.

40 anos depois do lançamento, Falso Brilhante se mantém como um dos grandes patrimônios da música popular brasileira e testemunho do brilho real de Elis Regina.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

TEM QUE OUVIR: Marvin Gaye - What's Going On (1971)

Tido por muitos como o melhor disco de todos os tempos, What's Going On (1971) é mais que uma seleção de canções de um grande artista, é na verdade a libertação de um compositor espetacular que passava momentos de dificuldades, tanto relacionado as drogas, quanto principalmente devido a morte inesperada de sua parceira musical, Tammi Tarrel. Eis a obra-prima de Marvin Gaye.


Mesmo com grande resistência da Motown, que não via no álbum apelo comercial, o disco foi lançado após o sucesso do single "What's Going On", faixa essa que abre o disco homônimo. A letra evidencia o lado politizado do artista, se opondo a Guerra do Vietnã em cima de um instrumental quase jazzistico. Lindíssimo.

Em "What's Happening Brother" esse engajamento político continua evidente na letra, mas é a genial linha de baixo do lendário James Jamerson o que salta aos ouvidos, assim como o arranjo cinematográfico das cordas e vozes.

Faixas como "Save The Children" - com mais uma letra espetacular e bateria jazzística -, "God In Love" e "Mercy Mercy Me (The Ecology)" - que mostra a preocupação do artista com assuntos ambientais -, são interligadas de maneira esplendida, dando um ar conceitual ao disco. É a trilha sonora de um periodo conturbado dos EUA. 

Os sessions players da Motown - um time de excelentes músicos batizado de Funk Brothers - se destacam na bela "Flyin' High (In The Friendly Sky)", vide principalmente o já citado baixista James Jamerson, mas também o percussionista Jack Ashford.

O arranjo exuberante da épica "Right On" une perfeitamente soul, jazz, música latina, blues e música erudita. Já a linda "Wholy Holy" é exemplo definitivo de que Marvin Gaye era não só um grande letrista, mas também um cantor espetacular, de interpretação profunda, convicta e singela.

"Inner City Blues (Make Me Wanna Holler)" encerra com chave de ouro um disco que, não só renovou a soul music, mas também fomentou novos valores de união ao povo americano, com um lirismo de engajamento político e apelo popular como poucas vezes visto. Audição indispensável.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Trip Hop

Não existe razão objetiva para falar de trip hop em pleno 2012. O único motivo obvio é que estou ouvindo o estilo e decidi compartilhar o som dessas bandas com os leitores deste humilde blog.

Trip hop é um estilo musical que surgiu na cidade de Bristol (Inglaterra) no final da década de 1980. Musicalmente se trata de um estilo desacelerado, com influência de ritmos eletrônicos e uso de instrumentos acústicos. A influência vai desde dub, soul, jazz e rock progressivo passando pelo ambient, dream pop, house, lounge, drum n' bass e hip hop.

Mas para entender bem o estilo nada melhor que ouvi-lo. Postarei aqui três grupos que tenho escutado bastante. Vamos a eles:

Massive Attack
Massive Attack é considerado por muitos como a banda precursora do estilo. Seu primeiro disco, o clássico Blue Lines de 1991, é reverenciado pelos fãs do estilo. A banda ainda hoje está na ativa lançando ótimos discos, sempre criativos nos arranjos e nas escolhas dos timbres.

Portishead
Grupo do talentoso Greoff Barrow e da melancólica Beth Gibbons. Ganharam fama logo no primeiro disco, Dummy de 1994, que contém a clássica "Glory Box". As canções do grupo são extremamente introspectivas e as produções dos álbuns são delicadas mesmo nos momentos intensos.

Air
Esse duo francês de música eletrônica é sempre vinculado ao trip hop, ainda que flertem com outros estilos. A banda já trabalhou em trilhas sonoras e discos experimentais. O minimalismo e a leveza dos arranjos são atemporais, assim como os timbres cristalinos dos instrumentos usados.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Reciclando a carreira em território desconhecido

Uma das coisas que eu mais admiro em um artista é o fato de não se acomodar/estagnar em um estilo. Tudo bem, o Angus Young começou tocando rock n' roll e vai morrer tocando rock n' roll, fato que não tira de modo algum os méritos dele enquanto instrumentista. Mas quando um cara estabelecido em um determinado gênero decide entrar de cabeça em outra vertente musical, certamente algo interessante acontece.

É disso que falarei neste post, músicos consagrados que em um determinado momento decidiram trabalhar em projetos musicais diferentes dos já consagrados.

1 - Steve Stevens
Conhecido por ser guitarrista da banda de Billy Idol, ele é peça fundamental na sonoridade punk rock/hard rock do vocalista. Mas em um certo momentos da década de 1990, Steve Stevens lançou álbuns de flamenco, estilo que foi incorporado posteriormente em seu trabalho com o Billy Idol.

2 - Alex Skolnick
Lendário guitarrista da banda Testament, Alex é sem duvida um dos grandes guitarristas do thrash metal. Todavia, encontrou no jazz um escape para improvisações livres e harmonias mais elaboradas. Seus arranjos jazzisticos para clássicos do rock são sensacionais.

3 - Dave Grohl
O que o Dave Grohl fez com o seu projeto Probot foi na verdade uma brincadeira de fã com ídolos. Ele reuniu diversos ícones do heavy metal (Cronos, Max Cavalera, Lemmy, Kind Diamond, dentre outros) e gravou musicas ao lado deles. O resultado foi um disco bastante pesado para os padrões do Dave Grohl.

4 - Andy Summers
O eterno guitarrista do Police encontrou no Brasil o lugar de descanso para sua musicalidade. Primeiro em parceria com Victor Biglione e mais recentemente com o ícone da bossa nova Roberto Menescal, com quem gravou um DVD executando primorosamente a famosa batida sincopada no violão.

5 - Iggor Cavalera
O desinteresse do Iggor Cavalera pela bateria foi surgindo da mesma forma que crescia o seu interesse pela música eletrônica. Esses dois acontecimentos desencadearam em sua saída do Sepultura e na criação do Mixhell.

6 - Mike Patton
Pra fechar este post deixo o "homem dos mil projetos". Conhecido por ser vocalista do Faith No More, Mike Patton tem dentre outros projetos um exclusivo para a música pop italiana. Acompanhado por uma bela orquestra, ele manda muito bem em interpretações melodramáticas. 

Coloquem nos comentários outros artistas que fizeram o mesmo. Abraços!

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

TEM QUE OUVIR: Mahavishnu Orchestra - The Inner Mounting Flame (1971)

A Mahavishnu Orchestra é um grupo instrumental de jazz fusion (jazz rock) formado por músicos que passaram pela banda de Miles Davis. Alguns deles chegaram a gravar o emblemático disco Bitches Brew (1969), álbum esse que deu a luz ao cruzamento de jazz com rock. Já o aperfeiçoamento do estilo pode ser atribuído ao The Inner Mounting Flame (1971).


Logo de cara temos a espetacular "Meeting Of The Spirits", música de beleza ímpar e introdução claustrofóbica. O solo ultra virtuoso de John McLaughlin ainda hoje é referência para muitos guitarristas, tendo influenciado nomes como Al Di Meola, Steve Morse, John Petrucci e Zakk Wylde.

A melodia crescente de "Dawn" traz toda a influência de música erudita do violinista Jerry Goodman, interrompida somente quando McLaughlin começa a demonstrar sua técnica impressionante em frases complexas. Seu timbre de guitarra ainda hoje é tido como um cruzamento perfeito de Gibson com distorção dos amplificadores Marshall.

O esporro rockeiro da banda fica evidente na entorpecida e experimental "The Noonward Race", faixa essa em que o baterista Billy Cobham deixa claro o porque de ser um dos grandes nomes do instrumento. A fusão de rock com o jazz aparece com clareza na frenética "Vital Transformation", onde todos os músicos usam seus atributos técnicos em prol da composição.

Em "A Lotus on Irish Streams" o violino de Jerry Goodman praticamente chora numa harmonia delicadamente estruturada pelo genial tecladista Jan Hammer. Enquanto isso, McLaughlin intercala frases rapidíssimas num violão de aço.

A estranha e ritmicamente complexa introdução de "The Dance Of Maya" ainda entorta a cabeça de muitos músicos. O mesmo acontece na delicadamente neurótica "You Know You Know".

"Awakening" fecha o disco comprovando que todos os músicos da Mahavishnu Orchestra estavam ano-luz a frente do tempo, tornando-os referência na música instrumental.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

RETROSPECTIVA 2011: Melhores Lançamentos (Incluindo TOP 10)

Antes de postar as novidades, gostaria apenas de lembrar alguns relançamentos interessantes, mas que por conta do elevado custo, não foram adquiridos por mim. Dentre os relançamentos está a caixa com a discografia completa do Pink Floyd em CDs remasterizados. É um verdadeiro tesouro, que por assim ser, chega a custar mais de R$800. Discos aniversariantes do Rush, Nirvana e Primal Scream também foram relançados.


No que diz respeito aos DVDs, o único que assisti e fiz questão de comprar foi o AC/CD Live At River Plate, contendo o show da banda australiana durante sua passagem pela Argentina. Destaco também o documentário Lemmy - 49% Motherfucker, 51% Son Of A Bitch.

E agora vamos ao que realmente interessa: as novidades. Obviamente a lista trata de preferências. Qualidade musical não é uma regra. O que é sensacional pra mim, talvez seja um saco pra você. Ou seja, aqui não está a verdade absoluta, está apenas a minha verdade.

Tendo isso em mente, gostaria de citar três "hypes" que não me convenceram: o heavy metal de plástico do Ghost, o "poperô indie" do Foster The People e os sonolentos singles "Video Games"/"Blue Jeans" da Lana Del Rey. Achei todos bem fraquinhos.

Antes dos meu "TOP 10 álbuns de 2011" citarei alguns grandes álbuns que só não entraram na minha lista final por questão de espaço. Em ordem alfabética:

Adele - 21 
Mesmo em tempos de falência das mídias físicas, o disco vendeu aos baldes. Ela é uma excelente cantora e boa compositora. É um tanto quanto melodramático, mas ainda assim eu gosto. Sua interpretação é apaixonada. O pop as vezes é rasteiro, acostume-se e tire o melhor disso.

Andrew Jackson Jihad (AJJ) - Knife Man
Se for para incluir violão em canções punks, que seja assim, mantendo a tradição da música folk, cantando igual um bêbado, contando boas história, sendo socialmente engajado e transmitindo espontaneidade. É bem legal. 

Anjo Gabriel - O Culto Secreto do Anjo Gabriel
Banda de Recife que transcende os caminhos do rock psicodélico, colocando muito de hard rock, space rock e krautrock em seu som encorpado e delirante.

Anna Calvi - Anna Calvi
Aquele clima fúnebre-bluseiro dentro do rock alternativo que a gente tanto gosta. Se ouvir desatento é capaz de achar que é a PJ Harvey. Isso é um enorme elogio.

Arch Enemy - Khaos Legions 
Produção excelente e o Michael Amott criando riffs cada vez melhores. Mas o timbre da Angela Gossow ainda me incomoda.

A$AP Rocky - Live. Love. ASAP.
Embora eu não tenha me atentado as letras, achei divertido o clima ébrio/chapado construído tanto no flow do rapper quanto na produção grave e "espacial". Não é exatamente a minha onda, mas é bacana.

Battles - Gloss Drop
Tão divertido quanto torto. Arranjos e timbres bastante ousados. É o rock se desafiando em pleno século XXI.

Big K.R.I.T. - Return Of 4Eva
Com incursão pelo r&b e com o clima tipico do hip hop sulista, esse disco é de grande qualidade melódica. Bons beats e um flow espetacular que parece milimetricamente pensado. 

Bixiga 70 - Bixiga 70
Com uma formação enorme, esse grupo traz todo o calor, groove e a força do afrobeat somado a um DNA brasileiro. Muitissimo bem tocado e captado. Pra um disco instrumental, causou enorme burburinho. Radiante

Black Keys - El Camino
Músicas com energia pop em timbres vintage de blues/garage rock. Boas composições, execução e alcance surpreendente.

Bon Iver - Bon Iver
Em meio a uma caretice dentro do indie folk, as experimentações eletrônicas deste disco até que soam bastante interessantes. Grata surpresa.

Chico Buarque - Chico Buarque
Um disco bonito, muitíssimo bem tocado (claro!) e com composições que tratam de sua velhice, ainda mais tendo em vista seu relacionamento com uma garota muito mais jovem. Ele segue sem aparentar decadência.

Chickenfoot - III 
Se consagrando não como um mero supergrupo, mas como uma genuína banda de rock. É bem feito (também pudera, olha a escalação!) e sincero. Eles só querem se divertir.

Clams Casino - Instrumentals
O hip hop instrumental floresce em produções altamente climáticas. É um álbum versátil e cheio de agradáveis texturas.

Common - The Dreamer, The Believer
O lendário rapper de Chicago em mais uma amostra de como alinhas rimas bem desenvolvidas em beats acessíveis (assinados pelo No I.D.). Álbum redondinho.

Craft Spells - Idle Labor
Bastante calcado no New Order (até na capa), esse grupo tenta a atualizar a sonoridade oitentista através de boas canções. Não dá pra dizer que não conseguiram.

Crowbar - Sever The Wicked Hand
O primeiro disco que escutei no ano de 2011. Logo de cara uma cacetada sensacional dessa banda veterana de sludge. Escute sem domar o volume.

Danger Mouse / Daniele Luppi - Rome
Não bastassem os dois artistas que assinam o projeto, há ainda Jack White e Norah Jones dando substância pra proposta (meio pastiche) de explorar sonoridades do western spagheti. Como são talentosos, o resultado é bonito e, obviamente, cinematográfico 

Danny Brown - XXX
A liberdade ao rimar via uma das vozes mais distintas do hip hop. Adorei a sujeira das bases. Abstrato sem perder a mão. Pancada.

Destroyer - Kaputt
A referência oitentista é óbvia. Mas nem só de pós-punk/new wave viveu a década. Aqui há muito de smooth jazz (!!!). Se preparem para melodias de sax e até mesmo uma cafonice timbristica e interpretativa. Mas é tudo tão bem composto e tocado que não soa pastiche. São apenas ótimas canções de música pop.

Drake - Take Care
Falaram tanto que eu dei uma chance. Confesso que esperava algo pior. Longe de ter amado, mas tem boas melodias e produção consistente. Dá pra entender o porque dele ter se destacado dentro do pop-rap.

Dropkick Murphys - Going Out In Style 
Celtic punk descompromissado e divertido. Já vale.

Fresno - Cemitério das Boas Intenções 
Estaria mentindo se dissesse que esse EP não me surpreendeu. Já fora da crista da onda, o grupo aposta num rock bastante encorpado com influência de Muse e QOTSA. É bacana.

Fucked Up - David Comes To Life
Embora o som inevitavelmente tenha ficado mais polido diante de uma proposta conceitual, achei um trabalho ambicioso dentro do cenário punk rock. Eles tinham que arriscar. Valorizo isso. 

Gal Costa - Recanto
Gal Costa com sua voz preservada, direcionada por composições do Caetano Veloso e com o Kassin primando pela criatividade da produção. Resultado: o melhor disco da Gal em décadas, juntamente por abraçar a contemporaneidade.

Giles Corey - Giles Corey
O disco abusa de climas soturnos dentro de uma proposta folk para criar um ambiente de depressão. E consegue! Ouça com atenção e cuidado.

Girls - Father, Son, Holy Ghost
Um dos álbuns mais versáteis, bem tocado e viajante do indie rock contemporâneo. Tem ótimas guitarras e até um certo peso. Banda promissora.

Hella - Tripper
Caramba, como o Zach Hill toca, não? Uma paulada doida de math rock. Embaçado!

James Blake - James Blake
O estúdio enquanto instrumento. Sua voz melódica poderia dirigir as canções para o pop sorrateiro, todavia a produção não permitiu, preferindo oferecer beats elaborados, synth criativos e até mesmo um tratamento peculiar para sua voz. Esquisito e atraente.

James Ferraro - Far Side Virtual
Não sei se entendi muito bem o conceito, mas gostei de como o álbum soa como "uma trilha sonora de um videogame oitentista sobre realidade virtual". Não consigo definir melhor que isso. É curioso.

Jay-Z & Kanye West - Watch The Throne
União dos dois rappers mais prolíferos da última década num disco que reúne ótima produção, boas composições e escolha precisa de samples. Poderia ter rendido mais, mas aí é culpa da expectativa. É ótimo.

Joe Bonamassa - Dust Bowl 
Um dos melhores guitarristas da atualidade num bom lançamento de blues-rock. Meio pastiche, claro, mas certeiro dentro da proposta.

Kasabian - Velociraptor!
Pegando carona 20 anos depois no som criado pelo Stone Roses. Não vai mudar o mundo, mas nem precisa.

Krisiun - The Great Execution 
Produção mais orgânica e a brutalidade de sempre. Permanecem no alto escalão de metal extremo mundial. Simples assim.

Lil B - I'm Gay (I'm Happy)
Um rapper controverso em seu momento mais "tiro certo", onde ele reúne faixas inspiradas emocionalmente, liricamente, na escolha dos samples, nos beats e no flow. 

Liturgy - Aesthethica
O black metal chega aos EUA e ganha suas peculiaridades. Grunhidos, acordes abertos e palhetadas velozes dão a atmosfera nebulosa deste disco impactante. 

Lou Reed & Metallica - Lulu
Disco estranho, mas também visto com muita má vontade. Letras e arranjos pesados, ora introspectivos, ora explosivos. Indicado mais para fãs do Lou Reed do que do Metallica.

M83 - Hurry up, We're Dreaming
Há uns arranjos grandiosos tão incríveis - beirando o "shoegaze sinfônico -, que por vezes esqueço que estou diante de um disco de (art) pop. Bem bom.

Macintosh Plus - Floral Shoppe
Ouvi e fiquei sem entender se a tal vaporwave são os momentos monótonos ou as partes em que o disco parece estar riscado. Mas vou dar um desconto porque, diante da não compreensão, até que eu achei bacana.

Mastodon - The Hunter
Embora o Mastodon seja uma das minhas bandas prediletas da atualidade, a verdade é que The Hunter é um álbum genérico, onde a banda fez concessões, soando mais simples e direita, o que não é de todo mal, mas também não me empolga tanto.

Mauricio Ribeiro - Ventania no Cerrado
A genuina música brasileira (baião, xaxado, choro) em composições ora singelas, ora solares. Uma paisagem natural indamente construida. Não há do que reclamar.

Metá Metá - Metá Metá
A tradição da canção popular deslumbra o vanguardismo através de excelentes e inventivas composições. A interpretação singela e a instrumentação enxuta traz aconchego. Tremenda estréia. 

Metronomy - The English Riviera
Mesmo eu que tenho um pé atrás com esses indies modernosos eletrônicos, não posso negar que há boas canções e uma riqueza colorida nos timbres. É bacana.

Mogwai - Hardcore Will Never Die, But You Will
Embora não faça tanto a minha cabeça, admito que eles são o mais alto nível do post-rock. Introspectivo na dose certa.

Morbid Angel - Illud Divinum Insanus
Falaram muito mal, mas eu achei bacana. Eu não devo entender porra nenhuma de death metal mesmo. Ao menos eles tentaram algo diferente.

Motor City Drum Ensemble - DJ-Kicks
Dentro da já emblemática série DJ-Kicks, o Danilo Plessow (MCDE) cria uma festa intimista calcada no jazz e afrobeat. Tudo brilhantemente mixado. 

Nicolas Jaar - Space Is Only Noise
É sempre especial quando um disco de música eletrônica consegue soar bonito. Aqui, repleto de colagens e interseções da música ambient, o resultado é complexo, profundo e primoroso.

Nujabes - Spiritual State
Álbum póstumo deste hypado produtor/DJ japonês. Um pouco de sujeira lo-fi em samples jazzísticos dando um ar rebuscado e pleno ao hip hop. As faixas instrumentais são as mais legais.

Oneohtrix Point Never - Replica
Eu estaria mentindo se dissesse que captei a mensagem deste disco de imediato. Entretanto, com base na dúvida instigante, fui levado para um mundo de samples/colagens tão abstratas quanto descritivas. Trabalho bastante particular.

Ortinho - Heroi Trancado
Esse compositor/cantor traz uma interessante mescla de Jovem Guarda com sons nordestino num disco nada presunçoso de pop rock. Colaboram com o trabalho Arnaldo Antunes, Scandurra, Spok, Jeneci, dentre outros. É bacana.

Paulo Schroeber - Freak Songs
Um dos guitarristas brasileiros mais bizarramente virtuosos desta geração num disco que é uma ode ao shred esquisito. Se for sua praia, vá fundo.

Pélico - Que isso fique entre nós
Embora não seja exatamente a minha praia, admiro a leveza composicional que o artista traz pra canção brasileira contemporânea. Tem sua graça.

PJ Harvey - Let England Shake
A sempre inventiva PJ Harvey em um disco sombrio, conceitual e até mesmo político. Sua música se mantém poderosa.

Ponto Nulo No Céu - Brilho Cego
Entre o metalcore quebradaço, screamo e o pop rock, o disco tende a soar besta. Mas eu gosto de besteiras.

Protest The Hero - Scurrilous
Representantes da tão crescente sonoridade djent. Ótimas melodias, peso e muito virtuosismo.

Real State - Days
O indie rock que abraça o ouvinte. Ótimas guitarrinhas jangle. Nada de espetacular (é até bobinho demais), mas aconchegante.

Rival Sons - Pressure & Time
Se você não se importar em ouvir uma boa banda tentando emular o Led Zeppelin, vai fundo. O resultado é bacana.

Rodrigo Ogi - Crônicas da Cidade Cinza
Com a escalada ao mainstream do rap nacional, abriu espaço para nomes como o Rodrigo Ogi, rapper de texto afiado. Álbum longo, mas repleto de bons momentos, sejam nos beats, mas principalmente no flow.

Russian Circles - Empros
Um dos melhores e, curiosamente, mais acessíveis discos de post-metal que já ouvi. Intenso, bem tocado, pesado e com as composições evoluindo muito em sua criação instrumental densa. Poderoso. 

Shabazz Palaces - Black Up
O hip hop em seu formato mais estranho e até mesmo psicodélico. Ótimas e criativas produções. É bom ver o gênero neste momento tão inquietante. Audição nem tão fácil.

Supercombo - Sal Grosso
O indie rock brasileiro outrora sisudo, aqui demonstrando carisma pop. Tem momentos bobinhos, mas a gente é meio besta também, então beleza. Bem tocado, produzido e arranjado.

Terakaft - Aratan n Azawad
Fruto da cena do Touareg, esse grupo entrelaça guitarras em canções que parecem blues hipnóticos. Areoso e alucinante. 

The Aristocrats - The Aristocrats
Disco de estreia de um grupo que une músicos virtuosos (Guthrie Govan, Bryan Beller e Marco Minnemann) em composições pesadas, progressivas e surpreendentemente divertidas.

The Beach Boys - Smile Sessions
Finalmente o lendário e ambicioso Smile é lançado em sua totalidade conforme imaginado pelo Brian Wilson. O resultado é em alguns momentos confuso como só uma mente brilhante poderia ser. Tem cada arranjo vocal! Acima de tudo histórico. 

The Drums - Portamento
O post-punk revival continua rendendo frutos, vide esse grupo, que chega a ultrapassar a barreira da crueza interpretativa/timbristica, mas que tem composições bacaninhas. É o indie em seu padrão.

Tim Hecker - Ravedeath, 1972
Esqueça o aspecto contemplativo da música ambient. Neste álbum o que vale são ecos frios, cinzas e densos. Tudo bastante orgânico e reverberoso. É o suficiente para não passar despercebido.

Title Fight - Shed
Com timbragens caprichadas, execução poderosa e buscando influências de post-hardcore e emo noventista, essa banda conseguiu produzir um dos melhores e mais intensos discos de rock do ano.

Tomada - O Inevitável
O melhor disco da banda e um dos bons trabalhos do pop rock nacional dos últimos anos. Bem interpretado, melódico e com perfume setentista.

Toro y Moi - Underneath The Pine
Melodias vocais singelas e produção que se espalha pelo ambiente em canções pop com forte elemento funky. Ótimos timbres dão groove e textura ao disco. Teve quem chamou de chillwave, seja lá o que for isso.

Tycho - Dive
Downtempo dos bons. Apenas.

Tyler, The Creator - Goblin
A nova safra do hip hop mostrando sua urgência em faixas pancadas da cabeça. É irregular, mas tudo bem, isso dá um sentido caótiro e urgente ao álbum.

Van Der Graaf Generator - A Grounding In Numbers
40 anos depois, ainda soando interessante. Altamente recomendado para os fãs de rock progressivo.

Wanda Jackson - The Party Ain't Over
Jack White traz a rainha Wanda Jackson de volta para o rock num disco arrebatador. Muito bacana.

Yuck - Yuck
Parece um disco de 1991. Não consigo ser mais elogioso que isso.

Young Knives - Ornaments From The Silver Arcade
Embora irregular no repertório, essa banda ao menos tenta trazer dignidade e surpresas ao muitas vezes entediante indie rock.


E agora, finalmente, meu... 
TOP 10 ÁLBUNS DE 2011

Foo Fighters - Wasting Light
Um eficaz disco de rock. Encorpado e acessível. Adorei sua produção orgânica. Já as composições são cativantes, de astral ultraelevado. Isso quando não revela os momentos mais sinceros do Dave Ghrol. Além de tudo isso, tem o adendo de que ouvir uma banda popular com três guitarristas em 2011 me faz feliz.

Red Fang - Murder The Mountains
Rock fuleiro de sonoridade suja, mas com arranjos bem feitos. A produção é impecável em sua simplicidade. Discão para ouvir em volume alto.

Tedeschi Trucks Band - Revelator
R&B, blues e southern rock no mesmo pacote. Tudo executado primorosamente por uma banda grandiosa. E já me permito dizer que o Derek Trucks é um dos maiores nomes da história da guitarra.

Opeth - Heritage 
O verdadeiro metal progressivo representado em ótimas composições, desta vez com vocais mais limpos e melódicos, o que achei louvável. Meu disco predileto de uma banda que não costuma falhar.

Beastie Boys - Hot Sauce Committee Part Two
Muito se falou sobre o disco do Kanye West com o Jay-Z, mas para mim hip hop ainda é isso aqui. Som de caixa (clap uma pinóia) e atitude rockeira.

Björk - Biophilia
Este talvez não seja o melhor disco da Björk, mas foi o disco da Björk lançado na "fase Björk da minha vida". Referência de produções criativas, melodias intricadas e arranjos complexos. Fora sua voz sem qualquer comparativo.

Machine Head - Unto The Locust
O já veterano Machine Head, que no álbum anterior havia mostrado amadurecimento composicional, aqui chega em seu melhor resultado. Thrash metal moderno, pesado e melódico.

Wilco - The Whole Love
Espetacular banda que vem lançando discos cada vez melhores. Tinha tudo para explodir no Brasil, mas inexplicavelmente ainda não chegou ao grande público. Essa é a hora!

Anthrax - Worship Music
Aquela mistura perfeita de thrash metal moderno com pegada hardcore e vocais legais que só o Anthrax sabe fazer. Adorei a energia da produção.

Criolo - Nó Na Orelha
O rap vai de encontro a mpb e revela um compositor talentosíssimo, com uma banda afiada e a produção sempre consistente do Daniel Ganjaman. É muito legal um disco com tamanha qualidade conseguindo provocar tanto barulho.

ENTRANDO NA LISTA COM ATRASO 
Alguns discos lançados em 2011 foram escutados depois de muito tempo que minha lista foi feita, mas tiveram cinco em especial que me fizeram voltar neste post e inclui-lo na lista (sem tirar nenhum outro).

Fica aqui minha menção honrosa ao espetacular No Time For Dreaming do cantor Charles Bradley. É soul music da melhor qualidade. Leiam a história desse cara e escutem o disco. Não tem como não se emocionar.

Outro álbum fantástico é o chocantemente pesado Exmilitary do Death Grips. A vanguarda do hip hop se faz valer em um dos melhores projetos do estilo. Cruel e perigoso.

Já o Fleet Foxes me mostrou com seu magnifico Helplessness Blues que ainda há espaço para a música folk, basta ter belas composições e arranjos primorosos. Chega a ser emocionante. Discão! Saiu pela Sub Pop.

A St. Vincent é hoje uma das artistas mais aclamadas do pop/rock/alternativo, mas em 2011 eu não conhecia o seu trabalho. E olha que ela lançou aquele que talvez seja meu disco predileto dela, o excelente Strange Mercy, repleto de guitarra ruidosas e arranjos nada ortodoxos. 

S/T do Daughters, uma pauladas de noise rock que tem como maior mérito o vigor interpretativo. Não pra passar indiferente pelo som nocauteante do grupo. Tudo muito denso e fantástico. Isso em menos de 30 minutos.

Chega de retrospectiva. Que venha 2012 com força total!