sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Bandas fictícias

Bandas fictícias é um fenômeno desde que a industrial musical começou a vislumbrar o dinheiro. Todavia, alguns se aproveitaram e botaram a criatividade a todo vapor, originando grupos influentes e de relevância artística. Veja os exemplos abaixo e entenda melhor essa mundo das bandas fictícias.

The Monkees
Não encarem esse meu comentário no sentido pejorativo, mas a verdade é que The Monkees foi a primeira boyband de todos os tempos. O grupo foi formado pela rede americana NBC, que colocou nos classificados de um jornal a procura por "quatro loucos entre 17 e 21 anos". Foi assim que a banda foi formada para rivalizar na América com os Beatles (!!!). Um mero produto. Sua série de televisão fez enorme sucesso (até mesmo no Brasil). No começo os jovens contratados não tocavam e nem compunham nada, era apenas business. Por outro lado, contavam com os melhores compositores e músicos de estúdio da época. Com o passar do tempo, os outrora apenas atores, alcançaram liberdade artística e tornaram-se músicos respeitados.

The Wonders
Grupo retratado no filme The Wonders - O Sonho Não Acabou (1996). Vale a menção por conta do super hit "That Thing You Do".

The Archies
Possivelmente o The Archies é o "grupo" precursor das bandas de desenhos animado, do tipo Banana Splits e Josie And The Pussycats, que "faziam" músicas pop, posteriormente batizado de bubblegum pop. Bela sacada do lendário Don Kirshner, o mesmo a compor para o já citado The Monkees. "Sugar, Sugar" foi sucesso na época.

Spinal Tap
Spinal Tap é a banda do filme homônimo. A obra tinha tudo pra ser apenas uma comédia pastelona, mas o enredo era tão próximo da realidade que causou fúrias em artistas consagrados (vide Aerosmith e Van Halen) e influenciou o comportamento de toda uma geração posterior (vide Guns N' Roses e Skid Row).
Obs: Vale aqui lembrar da nossa "versão nacional do Spinal Tap", desta vez escrachando o power metal. Obviamente me refiro ao Massacration.

Steel Dragon
Banda do filme Rock Star. Apesar da obra e do estilo musical ser completamente caricata, as composições, dentro da proposta hard rock 80's, funcionam muito bem. Dentre os músicos que gravaram as faixas estão Zakk Wylde, Jason Bonham e Jeff Scott Soto.

Gorillaz
Um projeto que já nem pode ser considerado fictício. Grupo virtual criado por Damon Albarn (Blur) e o quadrinista Jamie Hewlett. A banda é composta por integrantes/personagens animados. O som do grupo é uma mistura frenética de rock, rap, dub, trip hop, dance e o que mais vier na cabeça do Damon Albarn. O disco de estreia do grupo lançado em 2001 fez enorme sucesso entre critica e público. Hoje contam até mesmo com integrantes do Clash para suas apresentações ao vivo.

Dethklok
Encabeçado pelo guitarrista/vocalista/produtor/comediante Brendon Small, Dethklok atingiu vendagem impressionante para uma banda de death metal. O conceito consiste numa superbanda por trás do desenho Metalocalypse, exibido no Adult Swim. Entretanto, o sucesso da série e dos discos foi tanto que agora a banda se apresenta também ao vivo. Além de Brendon, a banda tem na formação humana o lendário baterista Gene Hoglan (Dark Angel, Death, Fear Factory, Testament), o tecladista/guitarrista Mike Keneally (Frank Zappa, Joe Satriani) e o baixista Bryan Beller (The Aristocrats, Joe Satriani). Ou seja, a qualidade dos músicos é inegável.

Tenacious D
Liderado pelo carismático ator Jack Black, esse duo une com personalidade e humor folk rock, heavy metal e divertidas narrativas. O filme The Pick of Destiny é imperdível para todos os amantes de rock. A força do grupo é tão grande que o Tenacious D já driblou a barreira do cinema e tornou-se um projeto ativo, tendo sido até mesmo indicado ao Grammy.

TEM QUE OUVIR: Roxy Music - Roxy Music (1972)

Não se deixe enganar pela cafoníssima capa, o disco de estreia do Roxy Music é uma amostra de rock enquanto atividade artística. Isso graças aos talentos individuais que fizeram de Roxy Music um dos grandes lançamentos da época e um marco nas inovações estéticas dentro da música pop.


"Re-make/Re-model" abre o álbum com o clima festivo típico do glam rock. Há guitarras ácidas, cozinha energética, sax de free jazz e a interpretação irônica de Bryan Ferry, principal compositor da banda. Seu estilo é tão glamoroso quanto surreal.

Entretanto, a peça fundamental para a peculiaridade do grupo encontra-se em Brian Eno, mestre dos sintetizadores, que tornou-se anos depois renomado produtor do David Bowie, Talking Heads e U2. Seus timbres frenéticos de moog e mellotrons surgem em canções como "Ladytron". É possível notar também vestígios de música ambiente - estilo adotado por Brian Eno posteriormente - na experimental "Sea Breezes". Eis algumas das primeiras inserções da música eletrônica no mundo pop.

A espetacular cozinha formada por Graham Simpson (baixo) e Paul Thompson (bateria) dá uma aula de groove na desconcertante "2HB". É interessante como eles flertam com naturalidade a complexidade do rock progressivo com o balanço do funk.

O guitarrista Phil Manzanera é de inventividade subestimada. Seus timbres peculiares aparecem por todos o disco, vide a deliciosamente maluca "Chance Meeting", em que ele faz sua guitarra esbravejar chorosamente num solo intenso. A voz melancólica do Bryan Ferry e o baixo angustiante do Graham Simpson também merecem destaque.

A peculiar "The Bob (Medley)" evidencia o compromisso artístico num arranjo nada convencional/comercial. Mas é importante lembrar que o disco foi muito bem recebido tanto pela imprensa quanto pelo público.

Um dos grandes diferenciais do Roxy Music está também na presença do saxofonista Andy Mackay, que debulha seu instrumento na ótima "Would You Believe?". Já em faixas como "If There Is Something" (de toque solar estranhamente californiano) é a qualidade da gravação que impressiona, sendo que a produção ficou a cargo do Peter Sinfield, aquele mesmo que já havia trabalhado com o King Crimson.

Roxy Music não é apenas o melhor disco da banda, mas também um dos mais importantes discos de estreia de todos os tempos, que mesmo na vanguarda foi capaz de influenciar do pop ao punk.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

TEM QUE OUVIR: Racionais MC's - Sobrevivendo No Inferno (1997)

O hip hop é hoje uma realidade na canção brasileira. É verdade que, por ser um movimento oriundo das classes mais desfavoráveis da sociedade, ele ainda enfrenta enormes dificuldades. Todavia, o rap já está inserido nas mais diferentes frentes sociais e culturais do país. Isso não seria possível sem um grupo e um disco em especial. Me refiro ao clássico Sobrevivendo No Inferno (1997) dos Racionais MC's.


Essa evolução do rap no Brasil já vinha acontecendo bem antes do lançamento deste álbum. Até mesmo o Racionais já havia conseguido destaque anteriormente com a faixa "Domingo No Parque". Ainda assim, é inegável a contribuição cultural e comportamental de Sobrevivendo No Inferno para a música brasileira.

O disco começa brilhantemente com "Jorge da Capadócia" (Jorge Ben) recitado em cima do sample de "Ike's Rap II" do Isaac Hayves (e não "Glory Box" do Portishead, como já ouvi dizerem por aí).

O álbum caminha para "Capítulo 4, Versículo 3", clássico do hip hop, principalmente após a emblemática apresentação do grupo no VMB de 1998. Com seu beat cru, linha de baixo pesada e piano dramático, a canção cria um clima de tensão que representa tão bem o conflito social brasileiro. Como retrato da periferia, fica também no ar uma dualidade entre as igrejas evangélicas e os bares das favelas paulistanas.

Entre as faixas mais conhecidas estão "Diário De Um Detento" (em que Mano Brown narra o Massacre do Carandiru) e "Mágico de Oz" (em que Edi Rock da voz às crianças abandonadas das ruas de São Paulo). Só essas duas canções já seriam o suficiente para coloca-los entre os grandes cronistas urbanos da música nacional. Atenção o beat consistente de ambas.

Mano Brown e Edi Rock continuam com seus discursos afiados, rimas inteligentes e interpretação contundente em "Tô Ouvindo Alguém Me Chamar" e "Rapaz Comum". Já o DJ Kl Jay dá uma aula de sample em "Qual Mentira Vou Acreditar?" - com direito a alfinetada ao Barão Vermelho e Guns N' Roses - e no groove esperto de "Fórmula Mágica da Paz".

Sem dúvida o melhor e mais importante disco do hip hop nacional. Clássico absoluto que guiou jovens - da periferia ou não - para o rap e para a vida.

TOP 5: Minhas vergonhas musicais

Neste meu humilde blog, venho postando bandas sensacionais, de som ultra sofisticado (vide Yes, Steely Dan, King Crimson) ou então verdadeiros intelectuais das artes (vide Leonard Cohen, Frank Zappa, Bob Dylan, Chico Buarque, Stockhausen), ainda que reconhecendo os valores de bandas menos sofisticadas tecnicamente (vide Ramones, Nirvana) e demonstrando ter cabeça aberta para todos estilos, do rap ao sertanejo tradicional.

Mas a verdade é que eu sou um verdadeiro picareta. E isso vai ficar explicito neste post onde revelarei minhas vergonhas musicais. Artistas que penso duas vezes antes de assumir que gosto. Vamos a eles:

Obs 1: Tá certo, assumo que gosto dessas bandas, mas dai a ficar ouvindo com frequência são outros quinhentos.

Obs 2: Eu gosto, isso não quer dizer que vocês gostem. Cada um com sua vergonha. Deixem as suas nos comentários.

01 - Paramore
É um pop inofensivo? Sim, mas é também bem legal. A produção é sensacional, todos músicos tocam bem e a cantora é um encanto.

02 - CPM 22
Sendo honesto, não gosto da banda não. Todavia, ela remete a minha adolescência, sendo que toda vez que eu ouço (e isso nunca parte de mim) acabo achando legal. Inclusive, me identifico mais com CPM do que com bandas que os influenciaram (NOFX e Pennywise, por exemplo). Fora que o Japinha é um bom baterista (não que isso importe muito). Sem mais justificativas.

03 - Dunga
Pense naquele cantor de música católica mais fuleiro de todos. Pois então, esse é o Dunga. E por que eu gosto de um troço desses? Em certo momento da minha vida, lá pelos 13 anos, eu tocava em missas (acredite, falo sério). Logo, conheci várias músicas desse tipo de repertório. Dentre tantas porcarias, um CD do Dunga em especial (10 Anos - Ao Vivo) me chamou atenção. Os arranjos são bem feitos e os músicos mandam bem (nada de virtuosismo, apenas tocam bem, principalmente o guitarrista Boyna). Agora, o Dunga além de letrista fraco é um vocalista horrendo. Ainda assim acho "interessante". Vai entender.

04 - Roupa Nova
As músicas são cafonas, mas é legal. Sem contar que os músicos são excelentes, a ponto de terem sido requisitados músicos de estúdio. Eles são praticamente o Toto brasileiro, ou seja, para o AOR, Roupa Nova é bem legal, o problema é que AOR é chato por natureza, então fica complicado na balança.

05 - George Michael
George Michael canta bem, sabe compor música pop, tem discos bem produzidos e bons músicos na banda. Não tem erro!

Isso foi o que veio de imediato na cabeça, mas provavelmente tem coisas piores escondidas por ai. Quem sabe faço um post "parte II". 

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

TEM QUE OUVIR: The Cure - Pornography (1982)

Quando pensamos na música gótica, o The Cure imediatamente surge em nossas mentes. Além de sua grande popularidade e visual característico - maquiagem escura, palidez mórbida e roupas pretas -, o que gera essa associação imediata são suas soberbas composições e a enorme contribuição para o desenvolvimento do estilo. O clássico álbum Pornography (1982) representa muito bem tais qualidades.


O timbre de bateria eletrônica característico do pós-punk surge logo na faixa de abertura, a espetacular "One Hundred Years", onde Robert Smith demonstra sua subestimada competência enquanto guitarrista. No que diz respeito ao lado melancólico de compositor, ele deixa aflorar toda sua dramaturgia tenebrosa nas letras de "Siamese Twins" e "The Figurehead".

O instrumental da desesperada "A Shot Term Effect" é completamente esquizofrênico. Sua simplicidade rítmica minimalista se contrapõe a uma produção experimental. Isso também ocorre na longa "Pornography", repleta de sons sobrepostos.

A mais acessível faixa do disco (e ainda assim bastante psicodélica) é a goticamente dançante "The Hanging Garden", dona de baixo poderoso do Simon Gallup. Em contrapartida, músicas como "A Strange Day" (belissimamente escrita) e "Cold" (que muito inspirou o black metal) soam extremamente depressivas, guiando milhares de jovens para festas obscuras nos menores porões ingleses.

Pornography é o maior clássico dentro da extensa discografia do The Cure, grande parte devido a honestidade de um criador talentoso chamado Robert Smith. Sua contribuição para o rock alternativo e cultura pop é imensurável.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

0014: Jimi Hendrix Experience - Voodoo Child (1968)

Se estivesse vivo, Jimi Hendrix completaria 70 anos hoje. Hendrix foi sem dúvida o maior guitarrista de todos os tempos. Não digo isso apenas por questões técnicas e exclusivamente musicais, que seriam suficientes para elege-lo da mesma forma, mas sim pelo alcance de sua música.

Compositor de mão cheia, soube dosar suas habilidades como guitarrista e experimentações de estúdio em músicas que tornaram-se emblemáticas, dentre elas "Voodoo Child" do disco "Electric Ladyland" (1968), faixa que contém um dos grandes riffs de todos os tempos, recheado wah-wah e bends precisos. O mesmo ocorre no intenso solo da canção.

Além do lado guitarrista e compositor, é sempre importante lembrar das ótimas interpretações vocais de Hendrix, assim como na execução perfeita de sua banda.

Músicas como essa ajudam a entender porque Hendrix continua influenciando diversos músicos 42 anos depois de sua morte.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

TEM QUE OUVIR: Michael Jackson - Thriller (1982)

Uma das mais importantes obras da cultura pop, recheado de composições atemporais, tendo valor artístico e social inquestionável, atingindo sucesso comercial inalcançável em nenhum outro momentos da história. Todos esses méritos pertencem a Michael Jackson e seu clássico Thriller (1982).


Sendo a sequência do genial Off The Wall (1979), Thriller mantém um dos principais fatores do êxito do trabalho anterior: a produção irreparável do Quincy Jones.

A eletronicamente funkeada "Wanna Be Startin' Something" abre o disco. A música é estruturada por uma bateria programada, linha de baixo grudenta, guitarra cheia de groove, metais intensos e até mesmo uma cuíca do Paulinho da Costa. Michael Jackson brilha enquanto compositor e cantor, embora a mão do Greg Phillinganes no instrumental tenha feito toda a diferença. Um início estrondoso.

"Baby Be Mine" é o pop perfeito, com ótimas melodias, refrão marcante e muito groove. No impecável arranjo de "The Girl Is Mine", Michael divide a composição e a voz com ninguém menos que Paul McCartney, o que por si só já vale o disco.

Daqui pra frente a sequência de hits é inacreditável. Em "Thriller", Michael Jackson da uma aula de interpretação numa composição altamente memorável do Rod Temperton. Isso sem falar que a faixa remete diretamente ao seu genial/histórico clipe. Clássico.

"Beat It" é o momento mais rockeiro do álbum, muito por conta da participação do Eddie Van Halen (em seu auge) num dos grandes solos de guitarra de todos os tempos. Todavia, é importante salientar que quem tocou o emblemático riff da música foi o excelente Steve Lukather. Já a bateria ficou a cargo do seu parceiro de Toto, Jeff Porcaro.

Já quem esbanja groove na linha de baixo da espetacular "Billie Jean" é o gigante Louis Johnson. O resultado é extremamente pulsante e envolvente, com direito a interpretação vocal majestosa e arranjo luminoso.

No quesito hits ainda temos a melódica "Human Nature", que de tão boa foi regravada até mesmo pelo ícone do jazz Miles Davis, o que da uma noção do alcance da música do Michael Jackson.

A mão poderosa de Quincy Jones aparece mais claramente na composição, arranjo e nos sintetizadores de "P.Y.T. (Pretty Young Thing)". Já a balada "The Lady In My Life" é tão bem estruturada que remete as canções mais radiofônicas do Steely Dan.

Thriller é um marco definitivo da indústria musical e na cultura do século XX. E o mais legal é que Michael Jackson fez isso sem apelar para mediocridade.

domingo, 25 de novembro de 2012

As novas e confusas bandas do metal atual

Recentemente vem acontecendo dentro do segmentado circuito do heavy metal uma explosão de novas bandas que misturam o metal progressivo com metalcore. Essa mistura traz uma sonoridade nova para um estilo cheio de clichês. Confira alguns grupos que ganharam destaque nesta vertente.

Protest The Hero
Banda extremamente virtuosa que prima por arranjos complexos. Apesar de todos o virtuosismo e uso de fórmulas de compassos não convencionais, a banda ainda sim mantém um lado pop, principalmente nas melodias vocais, que ao meu ver lembram as do... Paramore (!!!).

Periphery
Periphery tem conseguido um relativo sucesso nos EUA. Sua composições são tão melódicas quanto extremamente pesadas. O líder da banda é o guitarrista Misha Mansoor, mas o grande destaque é o baterista Matt Halpern.

Animals as Leaders
Grupo instrumental liderando pelo guitarrista Tosin Abasi. As composições da banda são um flerte do peso do Meshuggah com a virtuosidade gratuita do Liquid Tension Experiment. Uma curiosidade sobre a banda está no fato deles usarem guitarras de 8 cordas e afinações extremamente grave, o que dispensa a presença de um baixista.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

TEM QUE OUVIR: Dr. Dre - The Chronic (1992)

Pela primeira vez trago ao "Tem Que Ouvir" um disco de hip hop (já era hora!). E não é qualquer um. The Chronic do Dr. Dre consagrou o gangsta rap e popularizou o g-funk, além de ter relevado um jovem/talentoso MC chamado Snoop Dogg.


É sempre pertinente lembrar dos conflitos que ocorreram no gangsta rap através da sua gananciosa e egocêntrica guerra envolvendo dois remanescente do emblemático grupo N.W.A.: Dr. Dre e Eazy E. The Chronic deu a vitória para Dr. Dre tanto em vendagens quanto em méritos artísticos.

O álbum foi o primeiro a ser lançado pela Death Row, gravadora fundada pelo próprio Dre. Todavia, o disco só saiu após uma parceria com uma então recente Interscope, do Jimmy Lovine. Anos depois, ambos fundariam a bilionária Beats Electronics, empresa especializada em headphones.

Ao ouvir o The Chronic é preciso entender e, ao mesmo tempo, se abster das letras. Afinal, o festival de mensagens de caráter duvidoso - envolvendo a violência entre gangues, a enaltação de si mesmo e ofensas machistas -, não deve ser levada tão a sério, ainda mais por quem não viveu o mesmo contexto. Melhor que se apegar ao moralismo textual, é se atentar ao flow sagaz dos MC's.

Musicalmente, o disco é uma aula de bom gosto na utilização de samples. Em "Fuck Wit Dre Day" (um diss endereçado ao Eazy-E) tem Funkadelic (moog característico); "Let Me Ride" tem James Brown (espetacular linha de baixo); "Stranded On Death Row" tem Isaac Hayves; e até mesmo o Led Zeppelin aparece em "Lyrical Dandband" (beat profundo), sendo que essa contém várias participações (The D.O.C., Kurupt e o próprio Snoop Dogg) o que dá uma vasta dinâmica interpretativa.

O álbum é também, quando se comparado a outros trabalhos contemporâneos, muito mais melódico, funky, ensolarado e com forte influência de r&b - ainda que não abra mão dos beats vigorosos -, o que definitivamente ajudou no sucesso comercial, além de melhor retratar o clima californiano presente na produção. É o mais puro west coast hip hop. Ganchos melódicos como o do sintetizador da sacana "Nuthin' But A "G" Thang" (com direito a ótimo flow do Snoop) ajudam a criar tal atmosfera.

Kl Jay (DJ/produtor dos Racionais MC's) disse que "Dr. Dre está para o rap assim como Quincy Jones está para o funk". Ao escutar The Chronic percebemos que a analogia é justíssima.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Dia do músico pra que?

Hoje, 22 novembro, é comemorado o Dia do Músico. Acho válido qualquer tipo de homenagem e comemoração, mas especificamente essa data me parece extremamente superficial.

Se a data não conscientiza a população, as organizações públicas, os donos de bares, o público e nem mesmo os músicos para os problemas vividos por essa classe, então por que existe?

É ai que entra a Santa Cecília, uma católica do século II, de história não muito conhecida, mas que converteu seu futuro marido, mais duas pessoas, doou dinheiro aos pobres e por isso teve sua pena de morte decretada. Ao que parece ela cantava música sacra, por isso ela tornou-se a padroeira dos músicos.

Mas aqui entre nós, honestamente, isso faz alguma diferença nos dias de hoje? Alias, proponho um reflexão de certa forma "polêmica" que é: O músico tem o direito de reivindicar alguma coisa?

É fato que a música é uma arte maravilhosa e que os músicos são capazes de tocar o coração, a mente e o quadril das pessoas, levando cultura e entretenimento. É verdade também que ninguém vive sem música, tendo em vista que essa arte acompanha a evolução do homem desde sempre. Sequer discuto o fato de que trabalhar com arte no Brasil é digno de louvor, tamanho o desrespeito que esses profissionais sofrem. Todavia, quero dar uma de advogado do diabo agora. Pense comigo, se o músico faz show apenas para amigos (a maioria), é um professor desqualificado (grande parte) e tudo que grava em estúdio tem que ser concertado digitalmente devido sua incompetência (a maioria), então ele é um profissional dispensável, certo? Então o que reivindicar/comemorar? O amadorismo?

E mesmo os bons músicos, existe uma demanda para seus trabalhos ou suas artes são apenas uma necessidade própria e sem função para a população? Não que um trabalho estético tenha que ter valor social, mas se assim for, também não da pra exigir contrapartida. O capitalismo venceu. A arte perdeu.

O fato é que são muitas perguntas, muitos problemas, várias contradições e nenhuma solução.

Sem festas. Sem comemorações. Um minuto de silêncio é mais apropriado. Não é, Miles?

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

TEM QUE OUVIR: Quarteto Novo - Quarteto Novo (1967)

O primeiro e único disco do Quarteto Novo é um marco na música instrumental brasileira. O grupo formado por lendários instrumentistas tem como fonte de inspiração não o jazz americano, mas a música regional nordestina, só que com uma sofisticação jamais vista antes.


Formado inicialmente para acompanhar o cantor Geraldo Vandré, o grupo reunia Theo de Barros, Airto Moreira, Heraldo do Monte e posteriormente Hermeto Pascoal. Com essa formação gravaram este disco e acompanharam outros artistas, como Edu Lobo. "Ponteio" representa essa fase como banda de apoio.

Mas é "O Ovo" que abre o disco. Na faixa Hermeto Pascoal da uma aula como flautista, tanto no tema quanto no improviso, sempre ressaltando a linguagem e o fraseado brasileiro. A composição tornou-se uma das mais emblemáticas de seu repertório.

O trabalho como arranjador do Theo de Barros é muito perceptível nas espetaculares "Fica Mal Com Deus" e "Vim de Santana", sendo que nesta ultima está um dos melhores solos do genial guitarrista Heraldo do Monte.

Em "Canto Geral", há doses de baião misturadas com uma sofisticação exuberante, soando até mesmo atmosférica. Já em "Algodão", o que embala mesmo é o som da viola de Heraldo do Monte, que deságua numa bela harmonia de piano com abordagem quase erudita.

Após a delicada "Canta Maria", Theo de Barros apresenta ótima linha de baixo em "Síntese". O lendário baterista/percussionista Airto Moreira, que mais tarde tocou Miles Davis, mostra-se ousado em todo o disco, com destaque para "Misturada".

Esse trabalho é um dos grandes documentos da genuína música instrumental brasileira. Ele tem vestígios de musica regional nordestina - forró, repente, banda de pífano -, samba, choro e doses do talento individual, proporcionado por músicos trilharam caminhos importantes posteriormente.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

TEM QUE OUVIR: Lou Reed - Transformer (1972)

Em 1972, Lou Reed já havia deixado o Velvet Underground, fracassado comercialmente com um trabalho solo e estava completamente viciado em heroína. Foi então que seu amigo/fã David Bowie decidiu ajuda-lo na produção de um novo disco, chegando até a ceder seu guitarrista, o subestimado Mick Ronson, para a gravação do álbum. O resultado foi Transformer, clássico do Lou Reed e tributo declarado ao lado mais sujo de Nova York.


A rockeira "Vicious" abre o disco com atuação memorável do Mick Ronson, que extraí timbres cortantes da guitarra. Na letra, Lou Reed aparece frágil e consciente com o fato de ser um viciado.

Falando em letras, vale lembrar que os textos são de extrema importância na obra de Lou Reed, vide as espetaculares "Andy's Chest", "New York Telephone Conversation" (com aquele clima circense/vaudeville) e "Goodnight Ladies" (onde Lou Reed encarna um crooner). Seu estilo de escrever é denso e minuciosamente descritivos, mas também fluido e espontâneo.

A clássica "Walk On The Wild Side" relembra os tempos em que Lou Reed era parceiro do multifacetado Andy Warhol e, consequentemente, de seus amigos travestis e drogados. A canção faz referência a sexo oral, algo transgressor pra época. Isso ocorre em cima de uma delirante linha de baixo fretless. Para surpresa de todos, a faixa foi um enorme sucesso.

A influência de glam rock, diretamente associada a presença do Bowie, aparece não somente em sua pose andrógina na capa do álbum (foto de autoria do Mick Rock), mas também nas ótimas "Hangin' Round", "Wagon Wheel" e "I'm So Free", essa última com mais um brilhante desempenho do Mick Ronson.

O instrumental arrojado de "Make Up" é tão intenso quanto as próprias letras de Lou, com direito a um ótimo trabalho de baixo e tuba feito pelo Herbie Flowers. Já "Satellite Of Love", se não tem a mesma ousadia, ao menos tem boa melodia e fez bastante sucesso, rendendo ótima vendagem ao disco.

Mas nada disso se equipara a genial "Perfect Day", uma das mais belas canções da história. Sua letra é completamente desiludida, enquanto o instrumental soa maravilhosamente equilibrado com seu exuberante arranjo de cordas e piano. Vale lembrar que a música foi brilhantemente usada no filme Trainspotting (1996). 

Eis um dos melhores e mais bonitos discos do rock, arquitetado por um ousado ser chamado Lou Reed.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

0013: Chic - Everybody Dance (1977)

Há 35 anos a disco music vivia seu auge, não só em popularidade, mas também em êxito artístico. A prova disso é o trabalho funkeado e primoroso da banda Chic, que lançava seu disco de estréia e consequentemente a clássica música "Everybody Dance".

O som do Chic vai muito mais além do pop superficial. Nile Rodgers é um guitarrista rítmico de mão cheia, além de produtor espetacular. A cantora Norma Jean soa doce e imponente. Já o baixista Bernard Edwards constrói grandes frases, sempre com muito groove.

Ouça a canção com atenção e sem preconceitos. É uma faixa irresistível.

domingo, 18 de novembro de 2012

TEM QUE OUVIR: Love - Forever Changes (1967)

1967 foi o definitivamente o ano do rock psicodélico. Para comprovar, basta ver os discos lançados pelos Beatles, Cream, Jimi Hendrix Experience, Pink Floyd, Jefferson Airplane e até mesmo pelo cantor folk Donovan. Dentre tantas pérolas, o cultuado Forever Changes do Love merece destaque especial.


Ao contrário de boa parte das bandas psicodélicas que propunham uma viagem sônica através da acidez timbristica, o Love optou por produzir transe na leveza dos arranjos, recheados de violões e orquestrações. Esse diferencial tornou a banda bastante conhecida dentro da cena de Los Angeles.

A exuberante "Alone Again Or" por si só já vale o disco. Sua melodia é uma mistura da música mariachi com Ennio Morricone e Prokofiev. É interessante notar que ela é de autoria do guitarrista Bryan MacLean e não do principal compositor da grupo, o genial cantor/guitarrista Arthur Lee. Outra faixa que pertence a MacLean é a maravilhosamente bucólica "Old Man".

"A House Is Not A Motel" evidencia o ótimo desempenho da cozinha formada por Ken Forssi (baixo) e Michael Stuart (bateria), além de conter um intenso solo de guitarra do Johnny Echols.

A sofisticação e delicadeza dos arranjos aparecem claramente em "Andmoreagain" (de melodia lindíssima), "The Red Telephone" (de melodia surreal) e "The Good Humor Man, He Sees Everything Like This" (de construção cinematográfica).

Já faixas como "The Daily Planet" e "Live And Let Live" têm os pés calcado no folk rock, mas com doses lisérgicas nada moderadas. Vale ainda se atentar para a curiosa "Bummer In The Summer", com direito a vocais que remetem ao que foi feito posteriormente no rap.

Forever Changes é um clássico de beleza radiante. Não por acaso foi extremamente influente para artistas/grupos como Jim Morrison, Robert Plant, Pink Floyd, Echo & The Bunnymen, Stone Roses, Primal Scream, Yo La Tengo, dentre outros.

sábado, 17 de novembro de 2012

TEM QUE OUVIR: Stone Temple Pilots - Core (1992)

É comum ótimos discos serem postos de lado em comparação a outros lançamentos do mesmo período. Mas isso não necessariamente é demérito da obra. É o que acontece com Core (1992), álbum de estreia do Stone Temple Pilots, que apesar da sua excelência, sempre ficou as margens da trinca grunge Nevermind (Nirvana), Ten (Pearl Jam) e Dirt (Alice In Chains).


As três faixas que abrem o disco, "Dead & Bloated", "Sex Type Thing" e "Wicked Garden", evidenciam o peso da banda e a produção primorosa. O talentoso guitarrista Dean DeLeo constrói riffs espetaculares e extrai timbres maravilhosos de seu instrumento. "Sin" e "Naked Sunday" continuam evidenciando as boas composições, todas puxadas para um hard rock moderno e com ótimo desempenho dos quatro integrantes.

Entre os maiores hits do disco - e da banda - está a balada "Creep", em que o afetado/junkie/problemático/talentoso vocalista Scott Weiland expõe seu timbre bastante particular. A ótima "Plush" também fez bastante sucesso, chegando a passar constantemente na programação da MTV. 

Assim como nas outras bandas do movimento grunge, a heroína aparece atormentar o vocalista na letra de "Crackerman". Mas é a excelente "Where The River Goes" que fecha o álbum, mais uma vez soando visceral, com destaque para a linha de baixo do subestimado Robert Deleo e a bateria quebrada de Eric Kretz.

Com composições cativantes, interpretação sincera e a produção robusta do Brendan O'Brien, Core foi fundamental para estabelecer a movimento grunge dentro da história do rock, embora muitos tenham acusado a banda de terem "embarcado" numa "onda que não era deles", visto que nem de Seattle eles eram. Fato é a qualidade e a influência da obra em bandas como Silverchair, Creed, Nickelback, dentre outros grupos daquilo que ficou conhecido como post-grunge, ainda que esse fator não seja exatamente algo positivo.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

0012: Venom - Black Metal (1982)

Há 30 anos atrás, uma das mais importantes bandas da NWOBHM, o Venom, lançou o disco, e consequentemente a música, que deu luz e nome a um novo estilo: o black metal.

Embora o nome da música fosse "Black Metal", o caldeirão sonoro da banda influenciou ainda mais outros estilos dentro do metal, principalmente o thrash e o death.

A faixa "Black Metal" é puro rock n' roll, com direito ao mesmo peso e fúria do Motörhead, só que com produção mais simplória. Mas o que realmente difere o Venom das outras bandas da época são suas letras de temática mais sombrias, ainda que muitas vezes inocentemente toscas. Eu não me importo.

"Black Metal" é sem dúvida um dos marcos da história do metal.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Reerguidos por David Bowie

David Bowie, além de artista genial, foi também parceiro de vários outros personagens importantes da música. Ao contrário de alguns, que se aproveitam dos companheiros quando estão em baixa, Bowie ajudou esses artistas a reerguerem suas carreiras. Veja os exemplos abaixo:

Mott The Hoople
Mott The Hoople foi durante muito tempo uma banda de segundo escalão. Todavia, sua composições eram suficiente boas para eles terem David Bowie como fã. Mas como o grupo não conseguia boas vendagens, a gravadora estava descartando a banda, a ponto deles mesmo desistirem enquanto grupo. Mas as coisas mudaram quando Bowie compôs "All The Young Dudes" e presenteou o Mott com a canção. A música fez sucesso e a banda atingiu o tão sonhado prestigio comercial.

Lou Reed
Em 1972, Lou Reed já havia deixado o Velvet Underground, lançado um fracassado disco solo e estava viciado em heroína. David Bowie então decidiu ajuda-lo na produção de seu novo disco, chegando até a ceder seu guitarrista, o talentoso Mick Ronson, para a gravação do álbum. Esse disco tornou-se o Transformer, maior clássico da carreira do Lou Reed.

Iggy Pop
A história de Bowie com Iggy Pop tem vários capítulos. O primeiro ainda na época dos Stooges, banda que até 1972 tinha lançado dois ótimos e influentes discos, mas de pouco retorno comercial. David Bowie então produziu o melhor disco do grupo, o bem resolvido (e ainda barulhento) Raw Power. Já em 1977, quando Iggy Pop estava ainda saindo da dependência da heroína, David Bowie ajudou na composição e produção do disco solo mais famoso de Iggy, o emblemático The Idiot.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

TEM QUE OUVIR: Neil Young - Harvest (1972)

Diversos singer-songwriters lançaram ótimos trabalhos em 1972, vide Stephen Stills, Tim Buckley, Nick Drake, Paul Simon e Randy Newman. Mas quem saltou aos ouvidos foi Neil Young, que lançou o genial Harvest, ainda hoje seu disco de maior sucesso comercial.


Gravado num rancho que acabara de comprar - com exceção das orquestrações - e com músicos de estúdio de Nashville - tendo em vista que sua banda de apoio, a excepcional Crazy Horse, na época estava trabalhando num disco próprio - Neil Young deixou a guitarra de lado e concentrou-se em canções intimistas ao violão.

"Out On The Weekend" abre o álbum com os pés fincados na música country. Os timbres de violão, pedal steel e gaita são tão maravilhosos que transportam o ouvinte para uma paisagem rural americana. O mesmo acontece na balada melancólica e campestre "Harvest".

O fabuloso arranjo de "A Man Needs A Maid" chega a ser cinematográfico, tamanha a delicadeza e ousadia na orquestração (feita pela Filarmônica de Londres). Isso vale também para a tensa "There's A World".

A clássica "Heart Of Gold" traz toda a desenvoltura do Neil Young enquanto violonista. A música atingiu o público em cheio, contribuindo diretamente para o sucesso do disco. É interessante notar os backing vocals feitos por James Taylor (que também tocou banjo) e Linda Ronstadt. Ambos participam também na emblemática "Old Man".

"The Needle And The Damage Done" é uma composição de beleza ímpar e expõe toda a intimidade de Neil Young com a perda do seu amigo Danny Whitten, guitarrista do Crazy Horse, que sofreu uma overdose de heroína.

Outra faixa emblemática é "Alabama", critica direta aos sulistas mais conservadores e, indiretamente, ao Lynyrd Skynyrd, criando uma lenda de intrigas e adoração por parte do Neil Young e da banda de southern rock.

"Words (Between The Lines Of Age)" encerra o disco brilhantemente com mais uma composição ousada e delicada, recheada de solos intensos de guitarra, uma entre tantas marcas registradas de Neil Young.

Obra-prima emocionante feita por um dos maiores compositores do século XX. Clássico absoluto!

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

0011: The Meters - Cissy Strut (1969)

Clássico do funk! Essa ótima composição é a porta de entrada para essa banda excepcional que definiu muita da sonoridade de New Orleans.

A linha de baixo do genial George Porter Jr. é uma das mais famosas de todos os tempos. O trabalho rítmico do guitarrista Leo Nocentelli é tão preciso que o transformou em mestre de gente como Jimmy Page e Keith Richards. O groove do baterista Ziggy Modeliste é acachapante. E tudo isso é embrulhado no órgão preciso e swingado do Art Neville.

Uma das mais legais composições instrumentais de todos os tempos, não por acaso regravada por muita gente. Aliás, recomendo a versão do guitarrista John Scofield. É coisa fina.

domingo, 11 de novembro de 2012

TEM QUE OUVIR: Slade - Slade Alive! (1972)

Trago pela primeira ao "Tem Que Ouvir" deste humilde blog um disco gravado ao vivo. E diferentes de outros registros "ao vivo", neste não existe overdubs. O disco é uma performance genuína e barulhenta de uma verdadeira banda de rock n' roll. Pesado, cru, sujo e potente, o clássico disco "vermelho do Slade", - como é conhecido aqui no Brasil -, é um petardo que ainda hoje impressiona.


O cover do Ten Years After, "Hear Me Calling", abre o álbum já mostrando toda a visceralidade da banda, ainda que sem perder o lado melódico. O timbre de baixo do subestimado Jim Lea é um dos alicerces do hard rock setentista.

O ótimo riff do Dave Hill na esporrenta "In Like Shot From My Gun" da sequência ao espetáculo. Entre outras músicas desordeiras estão "Know Who You Are" e a acachapante "Keep On Rocking".

"Darling Be Home Sun" é uma ótima balada de power pop, interpreta muito bem pelo subestimado vocalista Noddy Holder, com direito a um sonoro arroto. O disco ainda reserva a espetacular "Get Down And Get With It" e a clássica "Born To Be Wild", tocada de forma ainda mais truculenta do que na versão do Steppenwolf.

Slade Alive! é o registro de uma autentica banda de rock n' roll, que na sequência ainda lançou o ótimo Slayed?. Ainda que nem sempre lembrados, o grupo influenciou nomes como Ramones, Runaways, Cheap Trick, Kiss, Mötley Crüe, Quiet Riot, Def Leppard e Nirvana.

sábado, 10 de novembro de 2012

0010: Os Mutantes - Panis Et Circense (1968)

Um fato curioso me chamou atenção nesta semana. Caiu na prova do ENEM uma pergunta relacionada a contracultura brasileira e, consequentemente, a sonoridade dos Mutantes. Percebi no Twitter como grande parte dos que fizeram a prova não faziam ideia do que era o grupo.

Pensando nisso, venho aqui postar a música "Panis Et Circense", clássico absoluto da música brasileira. Nela fica explicita as "sonoridades experimentais e confluência de elementos populares e eruditos", a tal resposta correta da prova. Tais fatores são percebidos no som do aparelho de vinil desligando, no som da mesa de jantar no fim da canção, no arranjo elaborado dos metais (obra do maestro Rogério Duprat), na poesia tropicalista e nas guitarras distorcidas.

E deixo aqui mais uma vez a dica: Deem atenção especial para música brasileira. Valorizem o que somos.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

TEM QUE OUVIR: Rage Against The Machine - Rage Against The Machine (1992)

Uma explosão! O disco de estreia do Rage Against The Machine despertou a juventude para algumas injustiças do sistema. Musicalmente falando, é o flerte definitivo do rap com o rock, sendo considerado por muitos o embrião do new metal (nu metal).


Gravado ao vivo, o disco tem uma sonoridade crua e abrasiva. Sua produção é de eficácia extrema. Já sua capa, trazendo um monge vietnamita em chamas, traduz um pouco da fúria e contestação da banda.

"Bombtrack" é um hard rock moderno e poderoso. Sua letra cantada agressivamente pelo Zack de la Rocha surpreende até mesmo os mais avessos as políticas de esquerda. O grande clássico da banda vem na sequência. "Killing In The Name" - um single de sucesso com direito a 17 "fuck you!" - tem um dos riffs mais legais da década de 90, além de solo inventivo, com direito a notas gritantes extraídas do pedal de whammy, marca registrada do ótimo guitarrista Tom Morello.

A cozinha consistente e funkeada formada por Tim Commerford (baixo) e Brad Wilk (bateria) brilha nos convites para a revolução de "Take The Power Back" e "Wake Up".

"Settle For Nothing" é de intensidade absurda. Sua dinâmica que culmina num refrão nervoso é espetacular. O instrumental de "Bullet In The Head" tem ótimo groove, além de ruídos produzidos pela guitarra de Tom Morello, que remetem diretamente aos DJs de hip hop. O mesmo acontece em "Know Your Enemy", um esporro contra o status quo.

Enquanto "Fistful Of Steel" aponta para o hard rock, "Township Rebellion" tem doses de experimentalismo difícil de distinguir a origem. Possivelmente algo entre o miami bass do Afrika Bambaatta e o heavy metal do Black Sabbath.

A excepcional "Freedom" encerra o disco com status de hino. Os berros finais de Zack de la Rocha ecoam na cabeça de muitos jovens.

Disco espetacular, politicamente ousado e de qualidades musicais diversas. Enquanto o grunge olhava para o próprio umbigo, o RATM veio com uma proposta para o mundo.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Músicas aterrorizantes

Ainda no clima do Halloween (não da banda alemã de power metal/metal melódico, mas do Dia das Bruxas) e do Dia dos Finados, resolvi postar aqui algumas músicas aterrorizantes. Sem delongas, vamos a elas:

Bernard Herrmann - Psycho (Theme)
Remetendo diretamente a toda obra do genial diretor Alfred Hitchcock, as músicas do Bernard Herrmann são por si só uma aula de suspense. Mesmo longe dos filmes, suas trilhas provocam um terror encantador. Sem dúvida um dos maiores compositores do cinema.

Black Sabbath - Black Sabbath
A chuva, o timbre cru/agressivo dos instrumentos, o intervalo de trítono, a letra interpretada perfeitamente pelo Ozzy... tudo conspira a favor do terror. Eis o começo do heavy metal. Pesado, lento e amedrontador.

Black Sabbath - Supertzar
Apesar do clima aterrorizante da faixa "Black Sabbath", eu ouço e adoro a música. Entretanto, até hoje não consigo escutar "Supertzar". Não sei se são os teclados, o coro vocal ou o próprio riff, mas a música me provoca uma sensação péssima.

Atomic Rooster - Death Walks Behind You
O nome diz tudo. Dá para sentir a morte caminhando lentamente, pronta para nos levar ao inferno. E isso é apenas a introdução.

Type O Negative - Black No. 1
Misture tudo de mais mórbido que foi feito pelos góticos. Coloque doses caprichadas de doom metal. Embrulhe tudo isso num clipe sinistrão. Agora mande um brutamonte branquelo de voz extremamente grave (Peter Steele) entregar este embrulho. O conteúdo está no vídeo abaixo. Vi quando criança e nunca mais esqueci (não necessariamente no bom sentido).

Mayhem - Funeral Fog
Com vozes rasgadas resmungantes (que vão muito além do simples gutural) e instrumental ríspido, o Mayhem consegue provoca exatamente a sensação do que eram: o inferno na Terra.

Nick Cave - Song Of Joy
Brilhante contador de histórias que é, Nick Cave se sai bem também diante de enredos mórbidos. Fora que sua voz profunda e cavernosa colabora ao clima da composição. Para ser honesto, só não me assusta porque antes me encanta.

Titãs - Dissertação do Papa Sobre o Crime Seguido de Orgia
E para finalizar, uma música dos... Titãs (?). A letra baseada na obra de Marques de Sade é de violência poucas vezes vista na música brasileira mainstream. Já o riff repetitivo traz toda a herança do heavy metal. Sua introdução é praticamente um doom metal. Quando tinha 6 anos me causava enorme pavor.

*Lingua Ignota - Do You Doubt Me Traitor
Anos após ter feito essa seleção de músicas assustadoras, achei importante voltar aqui para expor essa pérola do inferno. Em tom dramático, com o clima construídos ao piano e uma certa aura sacra fundida ao metal extremo, Kristin Hayter me leva náusea com sua performance violenta, triste, sincera e amedrontadora.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

TEM QUE OUVIR: Neu! - Neu! (1972)

Eu admito: existem álbuns tão importantes que eu faço uma força extra para gostar. Não que sejam ruins, mas também não são fáceis de assimilar. É exatamente esse o caso da estreia do Neu!.


A verdade é que não da para desprezar um trabalho que influenciou Iggy Pop, David Bowie, Brian Eno, Thom Yorke e todo o pós-punk, ainda que esses tenham sido alguns dos poucos compradores do disco, um fracasso comercial retumbante.

Para quem não sabe, o Neu! foi das mais importantes bandas alemãs de krautrock, uma vertente mais experimental, hermética e eletrônica do rock progressivo, influenciada diretamente por artistas de vanguarda, como o compositor Stockhausen.

O grupo tem em sua formação dois dissidentes do Kraftwerk: Michael Rother e Klaus Dinger. Além disso, o álbum conta com o engenheiro de som Conny Plank, uma lenda obscura da cena krautrock.

A faixa de abertura, a longa "Hallogallo", dona de um hipnótico ritmo - o difundido motorik -, traz um minimalismo típico do que viria ser o pós-punk, remetendo diretamente ao Joy Division. Já a espacial "Sonderangebot" lembra em alguns momentos a trilha sonora do filme Laranja Mecânica, feita pela Wendy Carlos no mesmo ano.

"Weissenssee" é um rock progressivo-psicodélico na linha do Pink Floyd, capaz de promover intensas viagens astrais.

A perturbadora peça "Jahresübersicht" - dividida no disco em três partes -, causa as mais diversas percepções no ouvinte, ora de calmaria e reflexão (vide "Part I - Im Glück"), ora de espasmos sonoros mecânicos (vide "Part II - Negativland"). Independente de qual sensação provoque, o grupo sempre abre mão das convenções óbvias do rock, desafiando (e libertando) o ouvinte para novas linguagens.

A ousadia estética da banda fez de Neu! um dos grandes lançamentos da época. Eis uma obra que vale a insistência auditiva.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

0009: Booker T. And The M.G.s - Green Onions (1962)

Há 50 anos atrás era lançada "Green Onions", faixa que reinventou o órgão jazz de Jimmy Smith e que influenciou as mais variadas bandas de Soul e Rock.

A faixa é a música mais conhecida do Booker T. And The M.G.s, banda encabeça pelo espetacular organista Booker T. Jones, embora não tivesse coadjuvantes.

O guitarrista Steve Crooper é um gênio do ritmo, trabalha o silêncio como poucos e tem um dos timbres mais cortantes de todos os tempos. Lewie Steinberg, que depois foi substituído pelo lendário e saudoso Duck Dunn, destrói seu baixo com pegada nervosa e sem perder o groove da música. Já o baterista Al Jackson é uma escola rítmica, sendo um dos mais importantes bateristas da música negra americana.

O Booker T. And The M.G.s alcançou prestigio acompanhando artistas da gravadora Stax, incluindo os geniais Otis Redding, Wilson Pickett, Dam & Dave, Carla Thomas e Rufus Thomas. Mas a faixa definitiva do grupo é mesmo a instrumental "Green Onions".

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

TEM QUE OUVIR: Roberto Carlos - Roberto Carlos Em Ritmo De Aventura (1967)

Que o Roberto Carlos é um dos maiores personagens da música brasileira ninguém ousa questionar. Entretanto, suas composições, em grande parte datadas (no mal sentido), não atraem muito dos jovens da minha geração - nascidos pós 1990 -, que conhecem ele basicamente pelo seu terrível especial de fim de ano na TV Globo. Mas a prova de que ele é artisticamente relevante - além de extremamente bem sucedido - está em sua discografia entre os anos de 1963 e 1974, sendo a trilha sonora Em Ritmo De Aventura (1967) a ponte de ligação entre o rock da Jovem Guarda com seu som mais soul/romântico.


O disco começa com a dobradinha Roberto/Erasmo na composição da emblemática "Eu Sou Terrível", uma das canções do álbum que melhor traduz a energia da Jovem Guarda. Já seu romantismo cafona em "Como É Grande O Meu Amor Por Você" traz consigo um sucesso tão longínquo que a torna de simplicidade/genialidade invejável.

O pop perfeito aparece em "Por Isso Corro Demais", com destaque para ótima linha de baixo do PCB (Paulo César Barros). Outro músico importante que toca no disco é o tecladista Lafayette, que através do seu órgão Hammond criou timbres característicos da época, influenciando posteriormente bandas como Garotas Suecas e Autoramas. As músicas "Você Deixou Alguém Esperar" e "De Que Vale Tudo Isso" estão entre seus grandes momentos.

A voz delicada de Roberto Carlos em "Folhas de Outono" é exatamente oposta a interpretação energética da ótima "Quando", mais uma vez com irretocável linha de baixo do PCB, além de metais influenciados pela soul music. Um espetáculo!

Quando o assunto é rock brasileiro, poucas músicas desta época superam a espetacular "Você Não Serve Pra Mim", com direito a um riff emblemático carregado de fuzz tocado pelo guitarrista Renato Barros, irmão do PCB e líder do Renato e Seus Blue Caps.

O disco ainda revela o arranjo espetacular - e um tanto quanto psicodélico -, de "E Por Isso Estou Aqui"; a ingenuidade divertida de "O Sósia" e a simpática "Só Vou Gostar de Quem Gosta de Mim", mais uma vez com ótima performance do Lafayette.

Acho plausível esse pé atrás que as gerações mais novas tem com Roberto Carlos. Todavia, o preconceito torna-se bobagem a partir do momento que existe fácil acesso aos antigos trabalhos do cantor. Roberto Carlos Em Ritmo De Aventura é não só um ótimos disco, mas também um clássico da música pop brasileira.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

TOP 5: Guitarra Fusion

Não sou jornalista e muito menos teórico. Sou apenas um amante da musica que tem a guitarra como grande paixão. Qualquer um que ame este instrumento, ora ou outra, acaba mergulhando neste oceano profundo que é a guitarra fusion.

Para quem não sabe, o fusion é, como o próprio nome sugere, uma fusão de estilos. Ficou bastante caracterizado ao estilo a fusão de jazz com o rock, mas ele carrega em si outras vertentes, como a música erudita, blues, country e até mesmo o heavy metal, como vocês poderão conferir ao escutar os guitarristas que selecionei neste post.

As composições aqui expostas não são das mais fáceis de se assimilar, mas o lance é escutar no seu tempo, deixando a música se comunicar no inconsciente. Um novo leque guitarristico certamente abrirá em sua paleta sonora.

Obs: mesmo que esses guitarrista sejam adorados por músicos, nada impede de um ouvinte comum gostar do som deles. Não caia nessa de "música pra músico". Sendo assim, boa audição à todos.

01 - Frank Zappa
Na minha modesta opinião, Frank Zappa é o pai da guitarra fusion. Antes mesmo do ícone do jazz Miles Davis lançar o clássico disco Bitches Brew (1970), Zappa apareceu com Hot Rats (1969), álbum quase todo instrumental, que funde naturalmente composições complexas com bagagem erudita, atitude rockeira e improvisações/fraseado jazzistico.

02 - John McLaughlin
John McLaughlin é o guitarrista por trás do já citado disco Bitches Brew do Miles Davis, que é tido por muitos como a fusão definitiva do jazz com o rock. É importante lembrar que Miles Davis flertou com outros estilos diretamente influenciado por Jimi Hendrix e grupos como Sly & The Family Stone e Funkadelic. Mas neste disco quem brilha na guitarra é John McLaughlin. Sua somatória de Gibson + Marshall foi extremamente influente, assim como suas palhetadas esmagadoras. Não deixe de escutar também seu trabalho com a Mahavishnu Orchestra.

03 - Jeff Beck
Eric Clapton era o mais bluseiro, Jimmy Page o mais rockeiro e o Jeff Beck o mais jazzistico. A abordagem jazzistica com pegada rockeira está presente principalmente nos geniais discos Blow By Blow (1974) e Wired (1976). Sua sofisticação melódica e técnica particular fizeram dele um dos principais guitarristas de todos os tempos.

04 - Allan Holdsworth
Allan Holdsworth é o mestre dos mestres. Apesar de não ser tão popular, influenciou nomes como Eddie Van Halen, Alex Lifeson, Joe Satriani, Steve Vai, John Petrucci, Mike Stern, Fredrik Thordendal, dentre outros. Seus timbres fora do comum extraídos dos SynthAxe, suas aberturas de acordes inimagináveis, as escalas exóticas tocadas com ligados alienígenas, fraseado típico de saxofonista e vibrato de violinista, formaram um monstro de sete cabeças impossível de ser imitado.

05 - Al Di Meola
Talvez o mais rockeiro deles. Sua palhetada ainda hoje assusta nomes como Zakk Wylde, John Petrucci e diversos outros guitarristas de heavy metal. Seu timbre é ultra pesado. Sua atitude é rockeira. O lado fusion do guitarrista fica evidente em suas frases, com forte influencias jazzistica, da música latina e do violão flamenco. Vou postar a minha música favorita da carreira solo do Al Di Meola, mas não deixe de conferir seu trabalho ao lado do Chick Corea, Stanley Clarke e Lenny White no grupo Return To Forever, uma das bandas seminais de fusion/jazz rock.


BONUS "MADE IN BRAZIL" - Faiska
Se o fusion é a fusão de estilos, poucos guitarristas se enquadram tão bem neste quesito quanto o Faiska, veterano sideman que já tocou com inúmeros artistas, de Chitãozinho & Chororó (inclusive gravando o clássico solo de "Evidências") passando pela banda Fábio Jr.. Seu trabalho solo é recomendado pra quem curte Jeff Beck e guitarra country.

Jimi Hendrix, Carlos Santana, Steve Howe, Robert Fripp, Larry Coryell, Ted Greene, Larry Carton, John Abercrombie, Harvey Mandel, Pat Metheny, Mike Stern, John Scofield, Bill Frisell, Steve Morse, Frank Gambale, Eric Johnson, Robben Ford, Scott Henderson, Steve Vai, Shawn Lane, Brett Garsed, T.J. Helmerich, Michael Lee Firkins, Greg Howe, Richie Kotzen, Jimmy Herring, Guthrie Govan, Wayne Krantz, Kurt Rosenwinkel e os brasileiros Toninho Horta, Lanny Gordin, Mozart Mello, Victor Biglione e Frank Solari, são alguns outros nomes que merecem citação por terem sido determinantes para o desenvolvimento da guitarra fusion, sejam por suas composições, improvisações, técnicas, timbres ou fraseado.