quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Pesquisando sons - Na contramão do comodismo

Entre amigos e nas redes sociais, o que mais eu vejo por ai é gente interessada em música, mas que não pesquisa música. É aquele típico comportamento de amar rock n' roll, mas se restringir aos hits do Rolling Stones e Led Zeppelin. Nada contra, se você é um desses e se sente bem com isso, pode parar de ler este texto e voltar para Sgt. Peppers. Esse post vai para aqueles que estão na contramão do comodismo e que querem novas alternativas para pesquisar sons (novos e velhos). Fiquem ai com as minhas fontes sonoras.

Amigos e experiências
Apesar de toda a riqueza musical presente na internet, o que explica a mediocridade da música consumida atualmente é a própria mediocridade da vida contemporânea. Acredito plenamente que amizades são de extrema importância para troca de informações, principalmente quando você se relaciona com pessoas que não comungam da mesma opinião que você. Foi pessoalmente, tomando cerveja em padarias, ou tocando com amigos, que passei admirar bandas/artistas como Casa das Máquinas, Incubus, Candlemass, Lamb Of God, Blue Cheer, dentre outras. Escute essa música do Lostprophets, por exemplo. Ela pode ser horrenda pra você (com razão), mas se ela remeter a um período da sua vida em que você tomava cerveja e fazia barulhos com os amigos, sem dúvida ela vai ser mais legal. Portanto, viva!

Redes Sociais
Sou bombardeado diariamente com diversas músicas, antigas e lançamentos, postada por gente que trabalha com música (músicos, produtores e jornalistas). Por tanto, uma dica simples e eficaz: siga no twitter gente como o músico Ed Motta (@EdMotta), o blogueiro Ricardo Seelig (@ricardoseelig) e os jornalistas Sérgio Martins (@Serjones) e Régis Tadeu (@RegissTadeu). Participar de grupos no Facebook como o da Sinewave também é uma boa escolha. Você certamente não dará conta de absorver tanta informação musical postada nessas fontes. Alias, de tanto o Ed Motta falar do Steely Dan, afundei-me de cabeça na discografia da banda.

Blogs e rádios online
Tem alguns blogs que eu sempre uso como pesquisa. Um deles (Mundo Estrango de PBé de típicas esquisitices sonora. Outro interessante é o já clássico POPLOAD do Lúcio Ribeiro, sobre o que andando "bombando" pelo mundo, ou seja, aquele típico indie hypado que começa a ganhar destaque. O mítico programa Garagem também tem que ser conferido, assim como o blog de um de seus apresentadores, o grande Andre Barcinski. Em ultimo lugar (mas não menos interessante) recomendo o blog do já citado Régis Tadeu, jornalista que acompanho desde que ele escrevia para a finada revista Cover Guitarra. Seu blog é hospedado dentro do site do Yahoo. Vale a pena também ouvir o programa Rock Brazuca que ele tem na Rádio Usp. Foi lá que eu conheci uma das minhas bandas prediletas, a Patife Band.

Revistas
Revistas muitas vezes fogem do comodismo musical da televisão e rádios. E nem me refiro as gringas (NME, Uncut, Mojo). Mesmo em uma revista de tendências duvidosas (pra não dizer explicitamente aliada de uma classe dominante) que é a Veja, ela possui o já citado jornalista Sérgio Martins, que escreve bons textos. Eu que gosto de guitarra acompanho a revista Guitar Player, que apesar de as vezes insistir no "mais do mesmo", acaba hora ou outra apresentando novidades. Mas a revista (ou zine) mais interessante hoje em dia pra quem curte rock é a Poeira Zine, publicação do Bento Araújo que conta com a ajuda dos companheiros Sérgio Alpendre, Ricardo Alpendre e José Damiano no podcast semanal PoeiraCast. Por lá tive acesso a incontáveis bandas, mais recentemente ao Khan.

Por gravadora
Agora vou citar formas particulares de caçar músicas. Uma delas é por gravadora. É uma linha de raciocínio bastante simples. Gosta de som alternativo tipo Pixies, é só pesquisar que outras bandas a 4AD lançou. O mesmo vale pra quem gosta de soul, é só mergulhar de cabeça em artistas da Motown e Stax que não chegaram a fazer muito sucesso (ao menos no Brasil), vide Johnny Daye da Stax.

Por samples
O raciocínio é simples, pegue uma música de hip hop que tenha um groove legal (Exemplo: "I Wanna Get High" do Cypress Hill),  agora pesquise (as vezes no Wikipedia tem) músicas que eles sampleram pra criar a canção. Pronto! Escute a música original e se espante com algum groove insano, alguma maluquice desconhecida ou alguma clássico do rock desconstruído no sample. Seguindo o exemplo dado é possível chegar em obras como essa:

Ta aí algumas dicas pra pesquisar sons e de bônus músicas de diferentes linguagens e qualidades. Saíam do marasmo. Bom divertimento a todos.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

TEM QUE OUVIR: The Jimi Hendrix Experience - Are You Experienced (1967)

Nascido em Seattle (EUA) e com alguns trabalhos acompanhando artistas como Little Richard, Jimi Hendrix logo saltou aos ouvidos dos músicos ingleses, o que o levou para a Inglaterra por incentivo do Chas Chandler, baixista do Animals. Lá formou seu trio com dois branquelos: Noel Redding (baixo) e Mitch Mitchell (bateria). Eis a The Jimi Hendrix Experience. Are You Experienced, lançado no fervilhante ano de 1967, revelou ao mundo esse que foi não só o maior guitarrista do rock, mas um dos maiores criadores do século XX.


O disco de estreia do grupo não é necessariamente o melhor da curta carreira do Jimi Hendrix, mas é o mais emblemático, principalmente por ser o cartão de visita do guitarrista, justamente num momento tão turbulento quanto criativo, em plena Guerra do Vietnã, que desencadeou artisticamente na contracultura.

Verdadeiras pérolas psicodélicas fazem parte do álbum, vide a emblemática "Foxey Lady" com seu riff cheio de groove, solo intenso e interpretação vocal maravilhosa do Hendrix. Uma das bases do hard rock e até mesmo do heavy metal.

A valsa lisérgica em 3/4 de "Manic Depression" deixa explicita a criatividade e a pegada jazzística do lendário Mitch Mitchell, além da eficiência do Noel Redding. É interessante notar como o trio soa poderoso e espontâneo, tendo sido fundamental para a concretização do formato - guitarra, baixo e bateria - no rock.

A bluseira "Red House" é um dos ápices do Hendrix enquanto solista, fato que faz da música uma das mais regravadas entre os guitarristas.

Os pilares do rock psicodélico estão representados em faixas mágicas, vide a contagiante "Can You See Me", as experimentais "Love Or Confusion" (com uso de feedback, guitarras sobrepostas e outras ferramentas popularizadas pelo Hendrix, além de ótima linha de baixo) e "I Don't Live Today" (com guitarra carregada de fuzz, alavancadas radicais e bends tocados com maestria), além da quase jazzista "Third Stone From The Sun" e da balada ultra melódica "May This Be Love".

O riff dilacerante e o groove pesado fazem de "Fire" um dos grandes clássicos do rock. Já "Remember", embora bem menos popular, é um grande exemplo da fluência rítmica e harmônica do Hendrix, característica subestimada devido seu talento enquanto solista.

A faixa "Are You Experienced?" ainda hoje soa futurística devido a tamanha quantidade experimentações feitas em estúdio, principalmente com canais invertidos e uso de microfonias. Impossível não relacionar a música ao LSD.

Embora o álbum tenha sido lançado primeiramente na Inglaterra, é na tiragem americana - dona da conhecida capa psicodélica amarela - que se encontra dois dos grandes clássicos do guitarrista: "Hey Joe" e "Purple Haze", essa última com um dos grandes riffs da história do rock, interpretação vocal visceral e letra delirante.

Independente da tiragem, Are You Experienced mudou a cultura popular, transformou gerações, apontou novos rumos para a guitarra, influenciou diversos artistas e até mesmo abriu espaço para os negros no rock (parece absurdo logo os criadores precisarem disso, mas aconteceu). Clássico!

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Guitarristas do Raul Seixas

Raul Seixas morreu há 23 anos atrás. Em tributo a esse grande ícone da música brasileira (não só do rock), falarei sobre alguns guitarristas que o acompanharam. O assunto pode parecer supérfluo, mas na verdade guarda algumas pérolas que poucas pessoas conhecem. É uma forma de fugir do óbvio ao falar sobre o artista baiano.

Confesso que cometo injustiça falando apenas dos guitarristas que tocaram com o Raulzito, quando na verdade ele estava cercado de grandes músicos, como o baixista Paulo Cesar Barros, o baterista Mamão, o arranjador/maestro/pianista Miguel Cidras e até mesmos bandas inteiras, como o caso da Banda Black Rio (do espetacular baixista Jamil Joanes) nas músicas "De Cabeça Para Baixo" e "Tapanacara". Mas por ser guitarrista e ter mais informação sobre isso, acho que essa minha injustiça de certa forma vale a pena.
Groove espetacular da Banda Black Rio na faixa "Tapanacara".

Obs: Por ter uma carreira extensa e por informações incompletas, não citarei todos os músicos que passaram pela banda de Raul. Falarei apenas sobre os mais notórios e algumas curiosidades. Mas deixo aqui uma menção honrosa aos nomes de Tony Osanah e Luiz Claudio.

Rick Ferreira
Rick era o guitarrista oficial do Raul. Embora não tenha feito apresentações ao vivo com o Raul Seixas (Tony Osanah talvez tenha sido o principal para essa tarefa), a figura do Rick Ferreira esteve presente em praticamente todos os discos da carreira do cantor. Seu estilo é facilmente reconhecido quando toca pedal steel. Alias, ele tornou-se um dos músicos mais requisitados no instrumento aqui no Brasil, sendo referência quando o assunto é guitarra country (vide "Cowboy Fora da Lei") e rock n' roll (vide "Quando Acabar o Maluco Sou Eu").

Jay Vaquer
Jay Vaquer (não confundir com seu próprio filho, o cantor Jay Vaquer) tocou com o Raul em diversos discos, principalmente nos primeiros da carreira solo do artista. Um dos grandes momentos do Jay Vaquer está na faixa "Al Capone", inclusive no solo ultra rasgado.

Celso Blues Boy
O recém falecido Celso Blues Boy passou pela carreira do Raul Seixas quando tinha apenas 17 anos anos. Ele divide as guitarra com Rick no disco "Abre-te Sésamo", que tem faixas como a clássica "Rock das Aranhas".

André Christovam
Um dos grandes nomes da guitarra blues brasileira executou um dos solos mais marcantes dentro da carreira do Raul Seixas. Estou falando da música "Rock N' Roll", presente no último disco do rockeiro baiano, feito em parceria como o Marcelo Nova, A Panela do Diabo de 1989.

Pepeu Gomes
Agora vem a primeira daquela que para muitos é uma surpresa. O genial Pepeu Gomes gravou uma única faixa (que eu saiba) com o mestre Raulzito. É interessante notar que o groove e o timbre da música gravada com o Raul ("Pagando Brabo") de certa forma lembra a excepcional "Malacaxeta", clássico instrumental da carreira solo do Pepeu.

Sérgio Dias
Uma informação que poucos sabem é que uma das faixas mais pesadas do Raul Seixas, a sensacional "Segredo do Universo", tem as guitarras do grande Sérgio Dias, eterno guitarrista dos Mutantes. Além de timbre encorpado e riff espetacular, a música tem também um solo intenso. Sem dúvida um dos grandes momentos guitarrísticos da carreira do Raul.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

TOP 5: Bizarrices tão ruins que são boas

Este post não é necessariamente sobre música, é sobre maluquices sonoras. Mas maluquices mesmo, ao ponto de fazerem as canções mais experimentais do Lou Reed soarem como lindas sinfonias. Falo isso devido o tamanho grau de "horror" presente nas faixas abaixo. Todavia, de tão bizarras (e de certa forma ruins), elas se tornaram relevantes e cultuadas.

Obs: Não vou falar de música experimental, nem música de vanguarda ou outras cabeçudices. Neste post só terá músicas estranhas por natureza. Deu pra entender? Não? Excelente! Daqui em diante nada mais faz sentido mesmo.

Obs 2: Não entrará na lista abaixo músicos que fizeram uma ou outra bizarrice. Abaixo só tem carreiras 100% extremas no nível de demência.

01 - Wild Man Fischer
Frank Zappa considerava Wild Man Fischer insano além dos limites possíveis. De fato, Wild Man Fischer tinha problemas mentais. Mas isso não impediu Zappa de produzir um disco deste maluco e lançá-lo pelo selo Bizarre Records (o mesmo do Captain Beefheart). O álbum An Evening with Wild Man Fischer (1968) está longe de ser bom, mas merece o titulo de "Primeiro Disco Nonsense De Todos Os Tempos".

02 - The Shaggs
Essa banda ganhou "fama" após o Frank Zappa dizer que elas eram melhores que os Beatles. Quem conhece a personalidade do Zappa sabe que é difícil saber se ele foi irônico ou não (por mais maluca que possa ser a comparação). Mas o que interessa é o trio é uma verdadeira porcaria, mas que de tão ruim torna-se divertida. A historia do grupo é encantadora por si só: três irmãs caipiras, sem o menor talento musical, gravam um disco apoiadas pelo próprio pai, um apaixonado por música que tinha o sonho de ver as filhas cantando (além de uma grana extra suficiente para bancar a gravação). O resultado foi o espetacularmente horrendo Philosophy Of The World" (1968). A abordagem melódica nada usual das Shaggs já foi comparada as linhas improvisadas do ícone do free jazz, Ornette Coleman (um absurdo!). Ao que parece, um musical na Broadway contando a historia do grupo entrou em cartaz este ano. Deve ser divertido.

03 - Damião Experiença
Não sei qual é a verdade sobre o Damião Experiença. Alguns dizem que ele é um esquizofrênico, outros falam que é um morador de rua no Rio de Janeiro e outros que ele é um ex-cafetão. Eu defendo a tese (sem embasamento algum) de que ele é tudo isso. Esse cara conseguiu gravar (e lançar) um disco nomeado Planeta Lamma no Brasil em 1974, o que já suficientemente enigmático. A música é algo como se o Bob Dylan comesse uma empada estragada e decidisse enveredar para o grindcore. Dê o play no vídeo abaixo e comprove! Obs: Não deixe de pesquisar também o groove inacreditavelmente da singela música "Eu Só Gosto de Mulher Lésbica". Tem no Youtube.

04 - Zumbi do Mato
Banda conhecida do underground carioca e que está na ativa há mais de duas décadas. O instrumental é bizarro, ora tosco, ora experimental. As letras vão na contra mão do óbvio. Quer um motivo para escutar a banda? Eles são uma das grandes referências do compositor Rogério Skylab. 

05 - Amauri Gewdner
Pra terminar eu deixo aqui um artista do nosso tempo. Amauri Gewdner participou do 12º Festival de Música Livre. Amauri é um artista sério. É só isso que gostaria de dizer sobre ele. 

Esse mundo é muito maluco, não? 
Deixem nos comentários mais artistas que seguem a mesma vertente. Abraços.