quarta-feira, 30 de maio de 2012

TEM QUE OUVIR: Novos Baianos - Acabou Chorare (1972)

Se há um disco nacional que possa ser considerado unanimidade é o excepcional Acabou Chorare dos Novos Baianos. O álbum foi escolhido pela revista Rolling Stone Brasil, através de uma votação feita por estudiosos, músicos, produtores e jornalistas, como o maior disco brasileiro de todos os tempos. O som faz jus a fama.


Diz a lenda que a fusão de música brasileira com o rock - já feito anteriormente pelo grupo -, só foi possível graças a visita do João Gilberto ao famoso sitio em que os integrantes compartilhavam no maior exemplo de hippismo tupiniquim. O resultado foi um álbum de riqueza exuberante no que diz respeito a composição, performance e produção. E ainda alcançando estrondoso sucesso comercial.

O hino "Brasil Pandeiro" (Assis Valente) já evidencia a sofisticação dos arranjos. As cordas de Moraes Moreira (violão), Pepeu Gomes (craviola) e Dadi Carvalho (baixo) são uma aula de bom gosto. Tudo isso somado a uma percussão de alegria/groove tipicamente brasileiro num refrão arrasa-quarteirão.

Canções como "Preta Pretinha" e "Besta É Tua" trazem essa mesma brasilidade, sendo ambas os grandes sucessos do grupo, já que foram amplamente executadas nas rádios.

A influência rockeira de Pepeu Gomes (principalmente de Jimi Hendrix) chama atenção na potente "Tinindo Trincando", música essa cantada com maestria pela Baby Consuelo (hoje Baby do Brasil). É interessante notar que, mesmo tendo o rock como alicerce, instrumentos brasileiros como o triângulo dão um toque regional bastante particular.

Além de Jimi Hendrix, outra influência dos Novos Baianos é a bossa nova de João Gilberto e o choro de Jacob do Bandolim, que ditam o ritmo na singela "Acabou Chorare" e na celebrativa "Swing de Campo Grande". As duas canções são composições de Moraes Moreira e Luiz Galvão, claramente os dois principais compositores do grupo.

A genial "Mistério do Planeta" tem letra psicodélica e groove desconcertante. A bateria do Jorginho Gomes acompanha as harmonias frenéticas de Moraes Moreira e desencadeia num solo fantástico do Pepeu Gomes. Espetacular!

A voz doce e potente de Baby Consuelo volta a aparecer na contagiante "A Menina Dança". Já o frevo/choro/baião entorpecido de "Um Bilhete Pra Didi" encerra o trabalho brilhantemente.

Acabou Chorare é um clássico da música brasileira, que merecia ter ganhado status mundial. O disco mostra a maturidade de jovens artistas que, mesmo com limitações técnicas - que o diga a televisão que Pepeu Gomes desmontou para construir suas primeiras distorções -, conseguiram registrar um álbum histórico.

sábado, 26 de maio de 2012

Agora é a vez de ouvir os sintetizadores

O Google comemorou na ultima quarta-feira (23/05) o aniversário do já falecido criador* do sintetizador, Robert Moog. Através de um doodle animado era possível tocar e gravar usando funções (obviamente limitadas, ainda que muito divertidas) de um Minimoog, que é a criação mais conhecida do Robert.

*Observação pertinente: Theremin é um sintetizador , foi criado por Léon Theremin e é anterior ao Moog, mas devido sua particularidade, deixemos ele fora disso (ao menos por hoje), ok?


Passada a "febre" que o Google promoveu, venho através deste post apresentar o som e a importância real dos instrumentos criados por Robert Moog. Já existe literatura suficiente (até mesmo na internet) sobre o criador e sua criação, sendo assim, não me atentarei a explicar o funcionamento de um sintetizador, mas sim postar algumas obras que guiaram a música para novos caminhos com ajuda da infinidade de timbres oferecidos pelo instrumento.

Antes de partir para os sons, colocarei uma explicação rápida e satisfatória sobre o que é um sintetizador. Segundo o Wikipédia: "Um sintetizador é um instrumento virtual eletrônico projetado para produzir sons artificialmente". Mas uma observação deve ser feita, muito dos instrumentos criados por Robert Moog são analógicos.

Brincadeira do Google terminada e introdução ao tema feito, chegou a hora de abrir as portas da audição e ouvir esse instrumento fantástico que é o sintetizador.

Walter Carlos
Nada mais justo que começar pelo começo. Walter Carlos (hoje Wendy Carlos) foi o/a responsável por popularizar o uso do instrumento. Suas versões para clássicos da musica erudita executados no sintetizador teve grande alcance, sendo o ápice a trilha sonora para o filme Laranja Mecânica.

Emerson, Lake & Palmer
Acho impossível falar de sintetizadores e não mencionar o rock progressivo. Apesar de diversas bandas terem feito uso do instrumento (Yes, Genesis, Pink Floyd, Rush...) nenhuma outra explorou tanto os sintetizadores quanto o Emerson, Lake & Palmer. Keith Emerson foi tão importante para o instrumento que até a mesmo a criação "compacta" do sintetizador analógico (o minimoog) foi pensada com a intenção de possibilitar o uso do instrumento no palco, tendo em vista que isso era inviável antes, já que os primeiros modelos eram gigantescos (tão gigantes que chegaram a afundar o palco do Emerson, Lake & Palmer quando eles insistiam em fazer uso do "trambolho"). A dificuldade em programar um instrumento analógico nos palcos era enorme, ainda assim é possível ouvir o Keith Emerson fazendo miséria com o moog.

Mahavishnu Orchestra
No jazz, diversos instrumentista fizeram uso do sintetizador. Rapidamente é possível lembrar do Herbie Hancock (vide o clássico Head Hunters, de 1973) e Chick Corea (principalmente no Return To Forever). A Mahavishnu Orchestra, uma das minhas bandas prediletas, também pode ser incluída nesta lista. O uso constante do instrumento foi fundamental para a criação e desenvolvimento do fusion (jazz rock). O tecladista do grupo, o excepcional Jan Hammer, chegou a fazer uso do moog com outros artista (por exemplo Jeff Beck, no disco Wired), mas o trabalho com a Mahavishnu Orchestra continua sendo o mais impactante.

Tangerine Dream
Se no rock progressivo os sintetizadores foram usados com frequência, no krautrock (uma espécie de progressivo alemão eletrônico) a coisa desanda. Bandas como Kraftwerk abusaram do instrumento, o que desencadeou na procura constante de grupos/produtores/djs de música eletrônica pelos timbres dos sintetizadores analógicos (não é difícil encontrar o som característico do moog na música do Daft Punk, por exemplo). Mas a banda que "chutou o balde" com relação ao uso do instrumento foi o Tangerine Dream, grupo encabeçado pelo tecladista Edgar Froese. A mistura de música contemporânea, space rock, ambient, rock progressivo e música eletrônica proposta pela banda, é um deleite para os fãs de sintetizadores.

Parliament-Funkadelic
Os geniais grupos encabeçados pelo "maestro" George Clinton influenciaram grande parte da música popular que surgiu posteriormente. Todo o groove da disco music (não é mesmo, Giorgio Moroder?), hip hop (do Afrika Bambaataa ao Kanye West) e posteriormente da música pop (do Prince até os dias de hoje com a Lady Gaga, aquele timbre de sintetizador em "Yoü And I" que o diga) tem influência na produção, arranjo e escolha de timbres do p-funk. Escute a clássica "Flash Light" e comprove.

Stevie Wonder
Se foi possível o r&b desaguar nessa sonoridade sintética que hoje vemos nos grandes nomes da música pop, é preciso enxergar a raiz disso nas experimentações ultra bem sucedidas que o Stevie Wonder fez em alguns de seus álbuns mais aclamados, vide o Talking Book (1972) e o Innervisions (1973), ambos contando com o auxílio dos vanguardistas Robert Margouleff e Malcolm Cecil ajudando-o a programar os sintetizadores. Cartilha da música POP (com letras garrafais).

Brian Eno
Seja através do glam rock/art rock do Roxy Music, em produções ambient em carreira solo ou na fase berlinense do David Bowie, Brian Eno é um dos maiores nomes do sintetizadores, tanto em criação quanto em influência na música contemporânea.

Gary Numan / Tubeway Army
Sabe aquela característica igualmente amada e odiada da década de 1980? Pois então, ela é exatamente culpa dos sintetizadores. Em um certo momento esses timbres virtuais eram tão interessantes e inovadores que colocaram a guitarra de escanteio (o Rush que o diga). Muita dessa febre veio graças ao estranho Gary Numan e o grupo Tubeway Army. Aqui é o ponto de partida de uma geração synthpop (e pode incluir aqui New Order, Depeche Mode, Pet Shop Boys, Tears For Fears...), new wave (e aqui não se esqueçam do Devo), new romantic, rock industrial (atenção óbvia para o Nine Inch Nails) e pós-punk. Vale ainda dizer que ao lado do Gary Numan, nessa estética mais pop (ainda que comercialmente nichada) está os japoneses do Yellow Magic Orchestra.

Dr. Dre
Embora já tenha colocado o rap na linha evolutiva daquilo que começou com o Parliament-Funkadelic, acho que vale reforçar a nova vida que o estilo deu aos sintetizadores, o quê permitiu gerar novos frutos ainda hoje sem soar datado ou retrô. Um dos grandes responsáveis por isso é o Dr. Dre, que consegue fazer um instrumento sintetizado soar solar (afinal, west coast). Melodias como as de "Fuck Wit Dre Day", "Nuthin' But A "G" Thang", "Let Me Ride" e "The Next Episode", além de inúmeras linhas de baixo de moog cheias de groove, guiam muito do que é feito não só no rap, mas no pop contemporâneo.

Espero que com esse post seja possível perceber que o Moog não foi homenageado por acaso pelo Google. Sua criação está dentro do cinema, da música erudita, do rock, música eletrônica, funk, pop, disco, rap... sua criação ainda hoje é futurista e merece aplausos. Parabéns eternos ao Robert Moog e longa vida aos sintetizadores.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Virada Cultural 2012


Dentre tantos shows espetaculares (e outras palhaçadas) que vão rolar na Virada Cultural 2012, postarei alguns que merecem maior atenção.

Julio Prestes:
00h00 Tony Allen

República:
15h00 Charles Bradley
17h30 (do domingo) Larry Graham

São João:
23h30 Iron Butterfly
02h30 Os Mutantes
09h00 Suicidal Tendencies
17h00 (do domingo) Black Oak Arkansas

Barão Limeira:
20h00 A Bolha
01h00 Daevid Allen & Gong
16h00 Popa Chubby

Arouce:
17h00 (do domingo) Robertinho de Recife & Jesse Robinson

Teatro Municipal:
19h00 (ingressos esgotados) Arnaldo Baptista

Paissandú (Palco Baratos Afins):
18h00 Baranga
20h00 Cracker Blues
22h00 Carro Bomba
18h00 (do domingo) Patife Band


Obviamente o desgaste físico e o conflito de horários não permitem assistir todos os shows. Quem quiser me encontrar (ou apenas quer assistir shows legais) recomendo essa rota:

Sábado: Baranga, Cracker Blues, Carro Bomba, Iron Butterfly, Tony Allen, Daevid Allen & Gong e Os Mutantes.

Depois volto no domingo para assistir: Charles Bradley, Popa Chubby e (o grande conflito de horários e que ainda não decidi qual show assistir) ou Black Oak Arkansas, Larry Graham, Robertinho de Recife ou Patife Band.

Boa sorte e paciência para todos que vão enfrentar a Virada Cultural.

terça-feira, 1 de maio de 2012

TEM QUE OUVIR - Wishbone Ash - Argus (1972)

Qualidade e influência nem sempre estão ligados a popularidade. Exemplo disso é o maravilhoso Argus (1972) do Wishbone Ash. Sua mistura de hard rock, rock progressivo e folk influenciou diversas bandas, dentre elas o Thin Lizzy e o Iron Maiden. O disco foi considerado o "Álbum do Ano" pela Sounds Magazine na época do lançamento. Como engenheiro de som está o lendário Martin Birch, que trabalhou com o Deep Purple e posteriormente com o próprio Iron Maiden. Definitivamente uma pérola setentista que merece atenção.


A longa "Time Was" abre o disco. Seu começo folk e ultra melódico logo vira uma canção com todas as característica do rock inglês, dentre elas ótimas paisagens de guitarra via as mãos do Andy Powell. 

A progressiva "Sometimes World" tem um começo lindo, mas logo acelera e ganha uma linha de baixo esquizofrênica do excelente Martin Turner. Aqui aparece também as tão famosas e influentes "guitarras gêmeas" (twin guitars) do Wishbone Ash, que consiste nos dois guitarristas (Andy Powell e Ted Turner) dobrando uma mesma linha melódica em intervalos diferentes. Esse tipo de arranjo é ainda hoje muito usado no heavy metal, fato que faz do Wishbone Ash uma das bandas precursoras do estilo.

"Blowin' Free" é um power pop com vocais ultra melódicos, timbre pesado de baixo e frases de guitarra que remetem ao southern rock. O estranho começo de "The King Will Come" deixa o terreno preparado para um dos riffs mais simples e legais da época. Aqui aparece mais uma vez com destaque as guitarras dobradas de Turner/Powell.

O belo arranjo de "Leaf And Stream" evidencia o talento do grupo ao elaborar belas harmonias e melodias sofisticadas. Essa leveza se contrapõe ao peso progressivo de "Warrior", que deixa claro o porque da banda ser uma das grandes do hard rock setentista. 

"Throw Down the Sword" fecha o disco trazendo o órgão John Tout (Renaissance) em mais uma grande composição.

Apesar da indiscutível excelência do disco, Argus certamente continuará a passar despercebido. Convido o leitor do blog a ouvir esse ótimo álbum. Se você gosta da sonoridade setentista com certeza vai se maravilhar com a obra.