segunda-feira, 31 de outubro de 2011

TEM QUE OUVIR: Plebe Rude - O Concreto Já Rachou (1985)

Em meio a ascensão do rock nacional na década de 1980, era comum a distinção de grupos repartindo-os em cenas locais. Daí veio o tal "Rock de Brasília", liderado por Legião Urbana, Capital Inicial e Plebe Rude, sendo essa última, ao meu ver, disparado a banda mais interessante, embora menos lembrada. O álbum O Concreto Já Rachou (1985) comprova isso.


Logo de cara temos a emblemática "Até Quando Esperar", música de texto forte, arranjo de cordas imponente e guitarras marteladas. Uma das grandes características da Plebe Rude é que, apesar do espírito punk, as canções são tão melódicas que a agressividade do estilo vira fator exclusivo das letras.

O engajamento politico continua em "Proteção", uma típica canção de protesto que o Capital Inicial sempre sonhou fazer e nunca conseguiu. Na atemporal "Minha Renda", a Plebe ataca brilhantemente o mercado fonográfico. A participação pontual do Hebert Vianna é genial. Alias, foi ele quem produziu o disco.

"Johnny Vai A Guerra", no auge de sua simplicidade, tem um riff de guitarra consistente, além de ótima linha de baixo. A letra contestadora torna a canção um típico hino juvenil. Vale lembrar que o Brasil ainda vivia o final de sua truculenta ditadura militar.

As influência de punk rock e new wave ficam evidentes nas frenéticas "Sexo e Karatê" e "Meu Jogo". Já em em "Brasilia" são as vozes arranjadas numa métrica irregular - uma mais melódica, outra mais falada - que merecem atenção. Essa característica vocal tornou-se uma das marcas registradas da Plebe Rude.

O disco é curto - um mini-LP, o que hoje talvez seria um EP -, mas tem boa produção e composições melhores ainda. Fez bastante barulho quando lançado. Álbum obrigatório para entender o rock nacional, principalmente no que se refere a famigerada cena de Brasília.

domingo, 30 de outubro de 2011

A "nova" safra da música brasileira

Após o vexame que foi o VMB 2010, festa da MTV Brasil onde o grande premiado foi o Restart, a emissora decidiu focar sua programação em outro conceito e público. Desde o começo de 2011, entraram novos bons programas na grade da emissora e novos artistas começaram a despontar representando o atual cenário da música brasileira. O grande problema é que a maioria destes artistas, apesar de interessantes, não são o que há de mais legal na música atual do país. Algumas cantoras são pseudo-experimentais e baseiam seus arranjos numa mistura que mais parece uma "tropicalia contemporânea cibernética de quinta categoria" (sim, aqui tentei descrever o som da Karina Burh). Sendo assim, venho aqui deixar minha opinião sobre quais são os artistas/bandas mais interessantes na música popular brasileira atual.

Obviamente a música brasileira atual tem MUITOS outros grandes artistas, mas o espaço e o tempo não permite citar todos, portanto, faça sua pesquisa e vá de encontro a outros nomes talentosos.

Hurtmold
Hurtmold é um grupo instrumental que tem produzido ótimos discos, além de acompanhar o Marcelo Camelo em sua carreira solo. Mas o interessante mesmo é o trabalho do grupo longe do eterno Los Hermanos, onde a música é mais trabalhada e ganha movimento ao passar por diversos estilos, dentre eles jazz e post-rock.

Céu
A Céu já é uma cantora experiente quando se comparada as novas cantoras que desapontaram no país recentemente. Sua música tem forte influência do samba, reggae, dub e afrobeat. Ela conseguiu grande sucesso fora do país, principalmente na Europa, chegando até mesmo a gravar com o pianista Herbie Hancock. Seu disco Vagarosa de 2009 é de audição obrigatória para quem gosta de música brasileira.

Cidadão Instigado
Apesar de ser comumente rotulado como uma banda de rock, a mistura de psicodelia com música brega é tão forte que o grupo pode ser também enquadrado dentro da MPB. O líder do grupo é o talentoso Fernando Catatau, um cantor de personalidade, letrista talentoso, guitarrista estupendo e produtor experiente. Seu trabalho não se resume ao Cidadão, tendo participado de discos da Karina Burh, Vanessa da Mata, Céu, Otto e fazendo show no Coletivo Instituto. Como produtor já trabalhou com Los Hermanos e Arnaldo Antunes, mas seu trabalho mais primoroso é mesmo o disco UHUUU! (2009) do Cidadão Instigado.

Marcelo Jeneci
O talentoso compositor e produtor Marcelo Jeneci é uma das principais novidades que despontou da MTV para o grande público. Compositor de sucessos como "Amado" da Vanessa da Mato, ele chega agora com trabalho completamente autoral, tanto na execução, composição e produção. A bela balada "Felicidade" e o respeito entre os artistas o levaram a grandes eventos, como o Rock In Rio.

Criolo
Criolo (ou Criolo Doido) é sem dúvida uma das grandes revelações do ano. Com a ajuda do Daniel Ganjaman e de excelentes músicos de apoio, o rapper despontou para o grande público com o lançamento do ótimo álbum Nó Na Orelha. Apesar de ter os alicerces fincados no rap, seu trabalho não se restringe ao gênero, sendo na minha visão um perfeito relato do que é a música brasileira urbana, com influências que vão do samba à Vanguarda Paulista. De sonoridades múltiplas, arranjos primorosos, letras bem amarradas e convicção emocionante na interpretação, Criolo tem tudo para continuar a oferecer grandes discos.


Romulo Fróes
Sabe aquele "samba perninha", pós-Los Hermanos, classe média, feito por gente que se diz influenciada pelo Nelson Cavaquinho, mas que o maior morro que conhece é alguma lombada da Vila Mariana? Pois então, detesto todos eles. Por sua vez, Romulo Fróes é um dos grandes nomes de uma nova cena paulistana. Seu trabalho é a prova que sempre existe a exceção. Um dos mais talentosos letristas desta geração. 

sábado, 29 de outubro de 2011

TEM QUE OUVIR: The Allman Brothers Band - At Fillmore East (1971)

Em qualquer lista dos "maiores álbuns ao vivo da história",  com toda certeza o clássico At Fillmore East (1971) estará lá. Gravado pela icônica The Allman Brothers Band com a produção do Tom Dowd, o álbum registra o fechar das portas do Fillmore East, lendária casa de shows do Bill Graham em New York. Todavia, é mesmo o desempenho musical que faz do disco uma obra histórica.


Logo na abertura temos a envenenada "Statesboro Blues", faixa curta - quando se comparada as outras -, mas suficiente para apresentar um dos melhores solos de slide já registrado. O mesmo acontece na ótima "Done Somebody Wrong" (Elmore James).

Os timbres e fraseados cortantes de Duane Allman e Dicky Betts percorrem pelo blues, rock e R&B, casando perfeitamente com o órgão de Gregg Allman, que por sua vez emociona com sua triste voz, provando que a música originalmente negra transcende a raça quando interpretada com verdade e emoção. Essa conjunção de fatores fala alto em “Stormy Monday”, canção de beleza impressionante. 

Mas é na longuíssima "You Don't Love Me" que a magia do disco alcança nível estratosférico, transbordando espontaneidade e competência em improvisos inspirados. Aqui a precisão da cozinha - formada por duas baterias e o baixo envolvente do Berry Oakley - serve de cama para os solistas viajarem por todo o instrumento. O momento solo de Duane Allman é impressionante. O guitarrista faz seu instrumento sorrir e chorar ao executar frases de sensibilidade única. 

A cozinha volta a transbordar competência na ótima "Hot 'Lanta", com direito a um incrível solo de bateria. Nesta música instrumental, o tema principal é dobrado pelas duas guitarras, isso anos antes de bandas como Iron Maiden adotarem tal característica.

"In Memory Of Elizabeth Reed" traz influências latinas para o ritmo da composição, mas é novamente a destreza nas improvisações que mais chama atenção. Os momentos de jam são ainda hoje referência para quem se interessa por música espontânea. As frequentes alterações de dinâmica e andamento no tema da música trazem uma fluidez exuberante. Ainda que a banda seja uma das principais do southern rock, não seria absurdo comparar as improvisações contidas na música com as feitas por mestres do jazz, devido a excelência da execução dos músicos.

Todavia, o apogeu do disco acontece nos mais de 22 minutos da impecável "Whipping Post". Aqui os improvisos chegam a um patamar de tensão ainda hoje incomparável. Em alguns momentos é possível adentrar no território americano, mais precisamente do sul dos EUA, tamanho comprometimento dos músicos com a música que está sendo tocada. Mais que técnica - também impressionante! -, o que ouvimos são artistas entregues a arte de fazer música. Independentemente do quão anticomercial a composição possa ser, o que prevalece é o estado de espirito. Uma lição atemporal.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

TEM QUE OUVIR: Derek And The Dominos - Layla And Other Assorted Love Songs (1970)

Derek And The Dominos foi o projeto do Eric Clapton pós Yardbirds, John Mayall, Cream e Blind Faith. Ou seja, ele já era um músico experiente, que havia ajudado a moldar a guitarra britânica, além de ter renovado o blues e vitaminado o rock com seu fraseado e timbres extremamente influentes. Todavia, a intenção agora era expandir sua musicalidade fundindo o southern rock com a soul music, o blues e até mesmo o pop. Assim nasceu o espetacular Layla And Other Assorted Love Songs (1970), produzido pelo lendário Tom Dowd.


A faixa de abertura é "I Looked Away". Ela remete diretamente a The Band, uma das grandes referências de Clapton na época. 

A impecável "Bell Bottom Blues" tem atmosfera sessentista e linha de baixo ultra melódica do Carl Radle, que casa perfeitamente com a interpretação do Eric Clapton, primorosa tanto vocalmente quanto na guitarra. Linda melodia e profundo refrão. Das melhores baladas do rock.

"Keep On Growing" é um blues rock potente, com introdução que, ritmicamente, remete a música jamaicana, estilo esse que Clapton exploraria futuramente em sua carreira solo. 

O ápice das melodias sentimentais está em "Nobody Knows You When You're Down And Out", canção que emociona logo nos primeiros segundos. A bela letra, os bends bluseiros, o timbre impecável e os teclados e Bobby Whitlock vão direto ao coração. O solo de Clapton é um dos melhores momentos da sua carreira.

Mas não é somente o Deus da Guitarra que brilha quando o assunto é seis cordas. As guitarras de Duane Allman (Allman Brothers Band) saltam aos ouvidos na espetacular "Anyday" e na longa "Key To The Highway". Ambas esbanjam sua interpretação comovente em improvisações fantásticas. No entanto, é a clássica "Little Wing" (Hendrix) que merece mais atenção. Ela foi lançada poucos dias após a prematura morte do autor da faixa, sendo uma homenagem involuntária.

Eis que chegando ao final do disco surge "Layla", sucesso composto por um Clapton apaixonado pela até então esposa de seu amigo George Harrison, Pattie Boyd. Foi encantada pela canção que a musa inspiradora deixou o ex-beatle para ficar com Clapton. A música tem um memorávem riff, grandioso refrão e os melódicos slides do Duane. A parte final da canção, composta pelo lendário baterista Jim Gordon, é de beleza ímpar. É curioso/triste pensar que este grande baterista/compositor, se por uma lado escreveu os ótimos pianos da canção, por outro, em um surto esquizofrênico, assassinou a própria mãe a marteladas. Uma entre tantas maldições que assolaram posteriormente os integrantes do Derek And The Dominos, sendo esse o único registro do grupo. Para muitos, o melhor do Eric Clapton.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Música infantil

Uma opinião é consenso: a educação é fundamental. Ainda mais quando falamos em formação cultural.

Com "educação" me refiro a capacidade de observação, indagação, reflexão e de escolher caminhos para a vida. Essa educação está não somente na escola, mas principalmente no convívio familiar.

Nesta recém passagem do Justin Bieber pelo Brasil, percebi milhares de jovens (e alguns nem tão jovens assim) se descabelando por um ídolo insosso. Nada contra o pop banal ou mesmo quem gosta do astro teen, mas é preciso ter consciência do quão rasteiro ele é ou então você se torna apenas um ectoplasma de pernas.

Esse post pode até ser ingênuo, mas vejo como um serviço de utilidade pública em pequena escala. Postarei alguns projetos musicais destinados ao público infantil. Acredito que se todo pai oferecer músicas interessante aos seus filhos, quando eles crescerem não aceitarão qualquer produto de entretenimento rasteiro, politico demagogo ou mensageiro espiritual salafrário. Tais crianças serão pessoas seletivas. Portanto, eduque seus filhos para que eles não virem marionetes do capitalismo.

Alguns desses projetos fazem apresentações nos SESC's, ou seja, a preço popular. Já alguns discos são facilmente encontrados em sebos, o que pode atrair seus filhos para os formatos físicos, agregando valor à experiência auditiva.

Pequeno Cidadão
O competente letrista Arnaldo Antunes e o excepcional guitarrista Edgard Scandurra encabeçam esse bom projeto que contém a participação de seus filhos. As músicas são verdadeiras viagens lúdicas, explorando a imaginação infantil.

Adriana Partimpim
Adriana Partimpim é nada mais nada menos que a Adriana Calcanhoto em seu projeto de músicas infantis. As músicas em geral são bem tranquilas. Escute a bela e já popular versão que ela fez para "Fico Assim Sem Você" dos subestimados Claudinho & Buchecha.

Patu Fu
O sempre interessante Patu Fu do nada acomodado guitarrista John Ulhoa, lançou ano passado um disco inteiramente gravado com instrumentos de brinquedo. O repertório consiste em clássicos do rock e do pop, interpretados de maneira impar, levando para o palco o experimentalismo do disco. Assista a inacreditável versão para "Live And Let Die" do Paul McCartney.

Os Saltimbancos
Clássico adaptado pelo Chico Buarque com participação de nomes como Nara Leão e os cantores do MPB-4. A história é ótima e gerou canções memoráveis. É fino.

Vinicius Para Crianças - A Arca de Noé
Vinícius de Moraes sendo apresentado via a nata da MPB. Chico Buarque, Milton Nascimento, MPB4, Elis Regina, Alceu Valença, Moraes Moreira, Boca Livre, Ney Matogrosso, Walter Franco... um absurdo!

Grupo Rumo
O álbum Quero Passear (1988) é daquelas maravilhas que só a vanguarda paulista foi capaz de produzir. Letras lúdicas, interpretação vocal singela e divertida, além de arranjo instrumental bem amarrado (e complexo). É demais!

Serge Prokofiev / Roberto Carlos
Pedro e o Lobo (1936) é uma das grandes narrativas infantis da história da música. É uma obra pedagógica que serve como primeira exposição de instrumentos de uma orquestra para uma criança. É uma alegoria musical inteligente e lúdica. E não precisa se intimidar pela aura erudita do compositor russo, visto que a versão narrada pelo Roberto Carlos em 1970 é ultra carismática.

Louis Armstrong
No álbum Disney Songs The Satchmo Way (1969), o espetacular cantor e trompetista Louis Armstrong se joga no repertório dos filmes da Disney. O resultado é tão peculiar quanto sublime. 

The Beatles
Yellow Submarine, o filme, é um dos presentes obrigatórios de todos pai para filho. Psicodelia vem de berço.

Roger Glover
Imagine agora que seu filho já é uma criança crescida e que está começando a se interessar por rock. Apresenta para ele então o fantástico The Butterfly Ball And The Grasshoppers's Feast (ou algo como "O Baile da Borboleta e o Banquete do Gafanhoto"), o disco de estreia do Roger Glover (na época recém saído do Deep Purple) lançado em 1973 com canções teatrais. Participações vocais do disco? Glenn Hughes, Dio e Coverdale. Precisa falar mais?

Uakti
Embora não esteja associado a música infantil, acho que o trabalho do Uakti tem muitos elementos para explorar a imaginação e a percepção de uma criança, principalmente devido o uso de instrumentos não convencionais. É uma forma de introduzir uma forma mais complexa e até mesmo abstrata de composição. Neste caso, ir aos shows e assistir vídeos é melhor do que ouvir os discos. Veja por exemplo essa ótima versão para "O Trenzinho do Caipira" (Villa-Lobos).

Palhaço Carequinha
Pra terminar deixo aqui uma curiosidade: o Palhaço Carequinha tem um disco psicodélico! Tudo bem, não é bem psicodélico, mas tem umas guitarras cheias de fuzz ultra malucas e influência nítida do Ventures. O nome do disco é O Baile do Carequinha (1968). Como não tem nenhuma música do álbum no YouTube, fiquem com a capa do disco. Não é difícil de achar para download.

Uma última sugestão: não apresentem Xuxa ou Peppa Pig para seus filhos. O mundo já é perverso demais e ficará encarregado disso.


*Inclusão pós paternidade:

Mundo Bita
Fiz esse post quando nem sonhava em ser pai. Eis que veio minha filha e descobri o Mundo Bita, projeto brasileiro de música infantil que trouxe para a produção audiovisual infantil canções divertidas, didáticas, lúdicas e que não subestimam a inteligência das crianças. Não há afetação interpretativa, mas sim enredos que abordam o cotidiano dos nossos filhos. Fora que, musicalmente, há uma preocupação em abordar diversos gêneros. Vale ainda dizer que Milton Nascimento, Caetano Veloso e Emicida já contribuíram com o projeto. Eu recomendo.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

TOP 5: Punk Rock Brasileiro

O Brasil perdeu um dos grandes ícones do punk rock. Estou falando do ativista e nada acomodado Redson do Cólera.

Redson era dono de uma atitude musical incrível, mas ao contrário de muitos artistas do estilo, aliava essa energia a belas letras de engajamento social e político.

Para homenagear o músico decidi abordar o punk rock brasileiro de maneira ampla, citando as grandes bandas do estilo e elegendo um TOP 5 do punk rock nacional.

O punk rock brasileiro tem como berço a cidade de São Paulo, ainda que músicos de Brasília reivindiquem o título de precursores do estilo no Brasil. Isto acontece porque alguns jovens músicos que posteriormente vieram a fazer parte do Aborto Elétrico, Detrito Federal, Legião Urbana, Capital Inicial e Plebe Rude (a melhor dentre essas), eram filhos de diplomatas, fato que privilegiou o contato deles com a música de outros países, como a Inglaterra (Sex Pistols) e os EUA (Ramones). Mas o importante é ter em mente que, independentemente do estado de origem, o punk se espalhou por todos o Brasil, indo do nordeste (Camisa de Vênus e Devotos) ao sul (Os Replicantes) do país.

Todavia, foi mesmo São Paulo que teve a maior safra de bandas, dentre elas Olho Seco, 365, AI-5, Restos de Nada e Condutores de Cadáver. Isso tudo em meio a repressão do final de uma ditadura, brigas entre gangues e dificuldades comerciais.

Outra sujeito que merece citação é o Kid Vinil, que no começo da década 1980 teve papel fundamental na divulgação do punk rock e da new wave. Seu programa de rádio era uma das poucas fontes de pesquisa para quem se interessava pelo assunto. Algumas revistas independentes e lojas de discos das galerias também fizeram essa ponte cultural.

Sem mais delongas, vamos para aquelas que na minha opinião são as bandas mais legais do estilo!

1 - Ratos de Porão
Deixando de lado essa baboseira de "traidor do movimento", o Ratos de Porão pode ser facilmente intitulado como a maior banda punk do Brasil. O bom humor, a fúria e sagacidade do João Gordo e as guitarras ultra encorpadas do Jão servem até hoje de inspiração para diversas bandas do estilo, inclusive internacionalmente. Algo interessante no Ratos de Porão é que ainda na década de 1980 eles já flertavam com estilos mais pesados, como o hardcore e o thrash metal, o que faz da banda uma das precursoras do crossover. Brasil (1989) e Ao Vivo (1992) estão entre meus álbuns prediletos da vida.

2 - Inocentes
Ao contrário do Ratos de Porão que prima pelo peso e velocidade, o Inocentes é uma banda "menos" furiosa e mais rockeira - ao menos instrumentalmente -, sendo sua sonoridade a definição clássica do punk rock. O vocalista e guitarrista Clemente é um dos maiores personagens do estilo. Vale lembrar que hoje ele toca também na Plebe Rude. Banda fundamental para começar entender o estilo. Pânico em São Paulo (1986) e Adeus Carne (1987) são clássicos. Até hoje estão na ativa e mandando bem, principalmente em cima do palco.

3 - Cólera
Além de ser um grupo visionário - chegando a lançar discos quando nenhuma outra banda punk brasileira fazia isso e excursionando fora do país ainda na década de 1980 -. o Cólera tem como forte característica as ótimas letra do Redson, que no auge de sua simplicidade retratam o que há de mais honesto e inteligente no punk rock brasileiro. Pela Paz Em Todo Mundo (1986) é a obra-prima da banda, embora eles tenham outros ótimos discos no catálogo quase nunca lembrados, vide o Tente Mudar O Amanhã (1985).

4 - Garotos Podres
Banda oriunda da região do ABC, que por ter surgido no auge das greves e reivindicações operárias, foi diretamente associado ao sindicalismo. Embora politizada e contendo um professor de história a frente do grupo - o icônico Mao -, as letras da banda são bastante humoradas e despertou muitos jovens para o estilo.

5 - Mukeka di Rato
Diferente das outras bandas aqui citadas, o Mukeka não pertence nem ao estado São Paulo nem a década de 1980. Oriundos de Vila Velha (Espirito Santo), eles fazem parte de uma segunda geração, com referências do hardcore e enfrentando um cenário um pouco mais favorável, o que de modo algum torna-os menos legítimos e interessantes. Muito pelo contrário, discos como Pasqualim Na Terra Do Xupa-Cabra (1997) está entre meus discos prediletos do período. Fábio Mozine é o rei da podreira.

Para quem quiser saber mais sobre o punk brasileiro, recomendo o ótimo documentário Botinada: A Origem do Punk no Brasil (Gastão Moreira). Alias, já deixo aqui uma bela frase do Chico Buarque presente no filme: "Se o punk é o lixo, a miséria e a violência, então não precisamos importá-lo da Europa, pois já somos a vanguarda do punk em todo o mundo."

sábado, 1 de outubro de 2011

TEM QUE OUVIR: R.E.M. - Green (1988)

Escolher o melhor dentre tantos grandes álbuns do R.E.M. não é tarefa fácil. Mérito de uma banda de trajetória digna. Todavia, Green (1988) talvez seja o que melhor representa a consistente discografia do grupo, partindo de quando ainda eram ativos no underground, mas já escancarando as portas do mainstream - foi o primeiro a sair por um grande gravadora, a Warner -, equilibrando a atitude rockeira com melodias pop certeiras.


O disco começa com um dos hits da banda, a precisa "Pop Song 89", que teve bastante rotatividade nas rádios americanas. Outra música bastante conhecida é "Stand", faixa em que o guitarrista Peter Buck demonstra todo seu talento melódico e harmônico, fruto da sua influência dos Byrds. Seu ótimo solo recheado de wah-wah é de extremo bom gosto. 

Na bela balada acústica "You Are The Everything", Peter Buck deixa a guitarra de lado e dá o primeiro sinal do seu interesse pelo bandolim, que ele viria a explorar ainda mais posteriormente. Destaque também para o baixo inquieto do Mike Mills.

No entanto, uma das melhores canções do disco é mesmo "World Leader Pretend", onde Michael Stipe coloca para fora o tema central do álbum, a ecologia, assunto que também aparece na ótima "I Remember California", com direito ao tão característico backing vocal do Mike Mills (pra não falar do seu baixo).

Dentre outras canções que chamam atenção está a emblemática "Orange Crush", que passou inúmeras vezes na programação da MTV americana, ajudando a concretizar a fama da banda. Fama essa repudiada na letra de "Turn You Inside Out".

Green representam o auge de um grupo importante e competente, que entrelaça arranjos sofisticados com atitude punk e sonoridade pop. Não por acaso o disco era um dos prediletos do Kurt Cobain.