terça-feira, 27 de setembro de 2011

Explorando ao máximo o canto

Dia 27 de setembro é comemorado o dia do cantor. Para não deixar a data passar em branco, postarei alguns cantores nada acomodados, que são bons não só tecnicamente, mas também grandes exploradores daquele que é o principal e mais antigo instrumento da humanidade: a voz!

Bobby McFerrin
Este cantor virtuose se destacou ao colocar no 1º lugar das paradas americanas uma música a capella. Sua percepção musical é inacreditável, assim como sua capacidade em simular outros instrumentos com a voz. Confira a grande tessitura vocal de Bobby McFerrin no hit "Don't Worry Be Happy", a tal música a capella que ficou em 1º lugar.

Mike Patton
Mike Patton é conhecido por ser o "homem das mil vozes". Consegue ir do mais brutal gutural para belas linhas melódicas em questão de segundos. Aplica também com muita competência diversos efeitos em sua voz, usando ela em projetos experimentais como se fosse um instrumento físico. Dentre os diversos projetos de Mike Patton (ainda faço um post só sobre os projetos dele) existe o Fantomas, supergrupo no qual Patton preenche as lacunas com berros e sussurros perturbadores.

Björk
A espetacular Björk lançou dentre seus vários bons discos um exclusivamente focado nas vozes. Estou falando do curioso Medúlla. O disco traz, dentre outras participações, a presença do Mike Patton, ou seja, é uma gama de timbres e experimentação para ninguém botar defeito. Se você se interessa por músicas bem arranjadas e cantos audaciosos, recomendo bravamente este álbum.

Maja Ratkje
Ligado a música experimental contemporânea, a Maja Ratkje tem na sua voz a matéria prima de criação. Seu trabalho é ousado e abstrato, muitas vezes mais parecendo instalações sonoras. O uso de manipulação eletrônica muito agrega a fonte humana. Vale a pesquisa.

sábado, 24 de setembro de 2011

TEM QUE OUVIR: Primal Scream - Screamadelica (1991)

No começo da década de 1990, um álbum em especial ajudou a derrubar de vez o muro que separava o rock dos ritmos eletrônicos, ainda que essa mistura não fosse exatamente uma novidade. Me refiro ao clássico Screamadelica dos escoceses do Primal Scream.


Antes de qualquer análise sonora, é importante se atentar a capa altamente lisérgica, que deixa explicita uma das principais influências do grupo: as drogas sintéticas.

Apesar do disco ser do Primal Scream, os produtores que colaboraram no álbum são tão responsáveis quanto a banda pelo resultado final, vide a participação excepcional do DJ Andrew Weatherall em "Loaded", com direito a utilização de um sample de Peter Fonda no filme The Wild Angels. Outro que assina o trabalho é o lendário Jimmy Miller.

O disco abre ensolarado com "Movin' On Up" e sua mistura acachapante de estilos - rock, blues, folk, gospel e até mesmo música caribenha -, capaz de levantar defunto. Herdeira legitima de "Sympathy For The Devil".

O encontro lisérgico da música house com o rock psicodélico chega ao ápice com a ajuda do grupo Hypnotone na versão perturbadora (e indiana) de "Slip Inside This House", originalmente do cultuado 13th Floor Elevators. Outro grupo que teve colaboração importante foi o The Orb em "Higher Than The Sun", faixa de groove cósmico.

O experimentalismo eletrônico da banda aparece em peso na agitada/dançante "Don't Fight It, Feel It", fato que poderia levar o grupo a se restringir a cena eletrônica. Todavia, a qualidade do Primal Scream ao compor belas baladas, vide a rockeira "Damaged", os levaram ao sucesso também dentro da cena de Madchester de grupos como Stone Roses e Happy Mondays.

Embora com tantas músicas atraentes, "Come Together" é a mais contagiante, principalmente por transitandar pelo dub, soul, gospel, house e rock psicodélico. Clássico da época! Foi justamente este caldeirão sonoro que fez do álbum um dos marcos da década de 1990.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

O Rock In Rio como sempre foi

Hoje começa o Rock In Rio. O festival volta ao Brasil, seu país de origem, após 10 anos circulando pelo mundo.
Meu propósito com este post é lembrar o real motivo da existência não só desse, mas de qualquer outro festival corporativista: o lucro. Questão óbvia, mas que muitos se esquecem. O Rock In Rio não tem e nunca teve compromisso com arte. Rock In Rio é uma marca lucrativa como qualquer outra. Quão errado é isso? Seria inútil avaliar.

Tendo essa compreensão clara eu me pergunto: Por que raio as pessoas depositam tanta esperança no Rock In Rio? Diariamente há bons shows por todo o Brasil, seja de grandes ou pequenas bandas locais. O Brasil já virou rota de 97.46% das bandas internacionais (ao menos as mais desejadas pelo público brasileiro). Então porque esperar do Rock In Rio inovação na escalação de seu line-up (característica que nunca teve)?

Tá certo que o primeiro Rock In Rio de 1985 foi importante, afinal, o Brasil mal recebia shows internacionais e o evento abriu as portas para bandas como AC/DC, Queen, Iron Maiden, Whitesnake e Scorpions, além de ter elevado a outro patamar ao menos duas boas bandas brasileiras: Os Paralamas do Sucesso e o Barão Vermelho.

Com exceção desse primeiro evento, que ainda assim trazia um James Taylor desmoralizado, um Yes desfalcado, um Rod Stewart envelhecido, um Ozzy aniquilado e a típica música de churrascaria do Ivan Lins, os outros eventos também foram bem abaixo do esperado. Ou já se esqueceram do New Kids On The Block, A-Ha e Biquíni Cavadão na segunda edição do festival? E a Britney Spears e Sandy & Junior na terceira edição?

Ou seja, veja o Rock In Rio com o filtro de bons shows. Assim quem sabe será possível aproveitar a oportunidade e assistir shows do Metallica, Motörhead, Mike Patton, RHCP, Stevie Wonder e outros bons nomes da escalação. O resto é choro.

TOP 5: Guitarras com personalidade

Instrumentos musicais são sonho de consumo de qualquer um interessado em música, mesmo que este ser não saiba tocar instrumento algum. A possibilidade de ter uma guitarra ou baixo igual ao do ídolo, interferiu até mesmo na produção das grandes empresas de instrumentos musicais. Hoje em dia é possível com uma grande quantia de dinheiro, levar para casa uma Gibson idêntica a usada pelo Zakk Wylde em cima dos palcos.

Mas não vou falar aqui sobre as diversas guitarras signatures presentes no mercado. Falarei sobre guitarras lendárias que tomaram vida nos braços de seus donos. Veja os exemplos abaixo e entenda.

1 - Gibson Lucille
A Gibson ES-335 Semi-Acústica de B.B. King tem tanta personalidade que recebeu até mesmo nome próprio, Lucille. A guitarra de timbre gordo casa perfeitamente com a voz potente de B.B. King, que na companhia de sua amada, despeja notas carregadas de emoção.

2 - ES-335 de Alvin Lee
Certa vez Alvin Lee, lendário guitarrista do Ten Years After, comentou que estava na grande feira de música NAMM expondo sua guitarra para todos os presentes. Ele relatou que grande parte dos frequentadores do evento passavam indiferentes pela sua pessoa, mas quando viam sua guitarra diziam: "Olha, a guitarra usada em Woodstock!".

3 - Gibson de dois braços de Jimmy Page
Quando Jimmy Page levou para os palcos sua Gibson de dois braços para tocar "Stairway To Heaven", a maldição foi feita. A partir dali todo guitarrista quis ter uma guitarra de dois braços, desencadeando até mesmo em nomes como Alex Lifeson.

4 - Red Special de Brian May
Indo na contramão do luxo, Brian May com a ajuda de seu pai construiu sua própria guitarra, usando como matéria prima agulha de tricô, molas de um bicicleta, madeira de uma antiga lareira e outras ferramentas caseiras. O resultado foi a belíssima guitarra de timbre grave batizada de Red Special.

5 - Frankenstein EVH
A lendária guitarra de Eddie Van Halen ajudou na revolução do instrumento ao apresentar para o mundo um modelo de alavanca flutuante batizada de floyd rose. Sua pintura por si só já é uma obra de arte, mas seu timbre cortante proporcionado por um único captador foi que proporcionou a verdadeiro rico material artístico de um gênio do instrumento. Uma perfeita união do corpo de Strato com timbre de Les Paul. A guitarra original foi enterrada com o corpo de Dimebag Darrel, como forma de respeito a trágica morte do guitarrista do Pantera.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

TEM QUE OUVIR: Red Hot Chili Peppers - Blood Sugar Sex Magik (1991)

O Red Hot Chili Peppers é um fenômeno da música pop. Atravessou a década de 1980 fazendo barulho no rock alternativo e prospera comercialmente até hoje. Mas muito do respeito que a banda adquiriu se deve a um disco especifico: Blood Sugar Sex Magik (1991).


O álbum foi responsável por levar o RHCP para o mainstream, resultado alcançado através de músicas de sucesso como a bela "Under The Bridge", onde o guitarrista John Frusciante esbanja delicadeza ao criar uma introdução ultra melódica, que se encaixa perfeitamente a letra sobre os tempos em que o vocalista Anthony Kiedis era viciado em heroína e morava nas ruas. 

Outra música que teve grande repercussão - principalmente na MTV - foi "Give It Way". A faixa mistura rap e rock com a pegada funk frenética do ótimo baixista Flea. É interessante observar que para a captação das guitarras desta música, o grande produtor Rick Rubin optou por registar o instrumento também desligado, posicionado um microfone perto da mão direita de Frusciante. Essa experiência deu ainda mais força para o ritmo entorpecido da canção.

Além dos hits, o disco conta também com outras excelentes composições, algumas influenciadas pelo funk, vide as contagiantes "The Power Of Equality", "If You Have To Ask", "Apache Rose Peacock" e "Funky Monks", essa última dona de solo altamente lisérgico. Todas elas comprovam a qualidade indiscutível da cozinha do grupo formada por Flea e Chad Smith.

A acústica "Breaking The Girl" apresenta um belo arranjo que remete diretamente ao Led Zeppelin, enquanto "They're Red Hot" deixa nítida a influência de Robert Johnson no trabalho de Frusciante, ainda que a versão circense/bizarra esconda isso.

Embora flertando diversos estilos, o funk rock - funk metal para alguns - é que predomina o álbum, deixando clara a influência de George Clinton nas composições da banda, vide as excepcionais "Mellowship Slinky In B Major" e "Sir Psycho Sexy", essa última recheada por um timbre gorduroso de baixo. 

As pesadas "Naked In The Rain", "My Lovely Man" e, principalmente, a vibrante "Suck My Kiss", também se destacam. Todas evidenciando o som encorpado obtido numa gravação ao vivo, com todos tocando juntos no estúdio, reagindo a performance dos companheiros. Mais uma aula de produção do Rick Rubin.

Neste caldeirão de funk, rap e rock psicodélico, encontramos várias pérolas dentre as 17 canções, sendo que todas merecem atenção. Depois deste disco o RHCP não foi mais tão atraente, apesar de alguns bons momentos. Sendo assim, fica aqui o registro definitivo da banda em seu auge artístico e comercial.

domingo, 18 de setembro de 2011

TOP 5: A "nova" geração de guitarristas insanos

Um dos mais talentosos guitarristas da nova geração esta chegando ao Brasil para diversos eventos, incluindo participação na Expomusic, estou falando do virtuose Mattias IA Eklundh. O sueco de nome complicado é um dos novos representantes daquilo que eu chamo de "a "nova" geração de guitarristas insanos". O "nova" merece aspas individuais porque, apesar destes guitarristas terem aparecido recentemente, muitos deles estão na estrada há mais de duas décadas.

A principal característica desses instrumentistas é a ousadia. Eles trabalham com frases dissonantes, solos outside, timbres peculiares, valorização do ruído, virtuosidade impressionante e composições bem humoradas. Ficou curioso? Portanto mostrarei aqui alguns desses músicos que vem ajudando a dar nova cara para a guitarra contemporânea.

1 - Buckethead
Este curioso guitarrista, integrante nos anos 90 da banda Praxis, vem quebrando as barreiras da guitarra há mais de 20 anos. Músico virtuoso, ganhou maior destaque após participar do Guns N' Roses, ao ponto de ser convidado a integrar a banda do Ozzy, com a condição de abandonar sua bizarra fantasia de "fantasma de capa de chuva amarela e balde de frango frito na cabeça". Pouco se sabe sobre o homem por trás do personagem Buckethead (vide que ele foi colunista da revista americana Guitar Player). Entre discos pavorosos e outros impressionantes, ele lançou o ótimo Island Of Lost Minds, uma aula de ousadia, com músicas que remetem ao cruzamento de Aphex Twin, Ministry, Joe Satriani, John Coltrane e música de videogame. Vale muito a pena conferir.

2 - Bumblefoot
O substituto de Buckethead no Guns N' Roses foi o peculiar Bumblefoot. Com técnica absurda, fraseado impressionante e musicalidade apurada, Bumblefoot transita por diversos estilos em sua música, indo do punk ao pop em segundos. Seu estilo de cantar também chama atenção, mas é quando começa a solar que a coisa fica assustadora. Confira o bom humor do guitarrista na ótima "T. Jonez".

3 - John 5
O respeitado guitarrista de estúdio John 5 já havia conquistado fama entre músicos após trabalhar com Marilyn Manson, Rob Halford, David Lee Roth e outros grandes nomes do rock. Mas foi quando lançou seu primeiro disco solo, Vertigo (2004), que a coisa desandou. Misturando heavy metal com country, o guitarrista uniu com qualidade estilos diferentes em músicas instrumentais impressionantes. O visual monstruoso do guitarrista e sua fantástica Fender Telecaster ajudam a dar ainda mais qualidades ao artista. Ultimamente, além da carreira solo, tem trabalhado com o ótimo Rob Zombie.

4 - Mattias IA Eklundh
O guitarrista da banda Freak Kitchen vem impressionado o mundo das seis cordas com sua inacreditável habilidade técnica, criatividade absurda, harmônicos brutais e, o mais importante, musicalidade pop, no melhor sentido que esta palavra pode representar. O bom humor das letras são cantadas também por ele, fato curioso se pensarmos na divisão rítmica intricada das músicas.

5 - Guthrie Govan
Guthrie Govan surgiu aos poucos, postando vídeos na internet, fazendo gigs com o Asia (substituindo o genial Steve Howe) e dando workshops em conceituadas escolas de música, até o ponto em que passou a ser considerado um dos guitarristas mais talentosos da nova geração. Seu fraseado e suas harmonias são mais sofisticadas que as dos demais guitarristas, mas seu bom humor e ousadia na escolha das notas faz dele um guitarrista de musicalidade absurda, que chamam atenção de qualquer músico, independente do estilo.

Para você que acha que os solos de guitarra estão com os dias contados ou que a nova geração de virtuoses só sabe subir e descer escalas, está aqui a prova de que a originalidade e a musicalidade nunca acaba.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

TEM QUE OUVIR: Nirvana - Nevermind (1991)

Alguns discos são considerados clássicos por influenciarem gerações. Outros simplesmente por conter canções emblemáticas e espetaculares. Há também aqueles que apresentam um novo caminho para a música, popularizando uma nova cena e aglutinando diversas tribos em torno dela. E outros são responsáveis por abalar a indústria fonográfica. Gostando ou não, Nevermind (1991) do Nirvana contém todas essas características.


Um dos grandes méritos do disco está no fato dele ser um trabalho provocativo, como revela sua emblemática capa. Vale sempre lembrar que sua fama hoje não representava em nada a real intenção do álbum na época.

Até o final da década de 1980, poucas bandas underground tinham alcançado o mainstream. Entre os raros exemplos estão o Metallica e o R.E.M., que provavelmente por impulsão do Nirvana, também viveram em 1991 grandes momentos comerciais. Isso porquê ocorreu uma inversão de valores com o lançamento de Nevermind . Grupos que até então tocavam em pequenos clubes de Seattle, se transformaram na "salvação do rock". Estilo que por sinal, mostrava-se extremamente desgastado através de bandas como Bon Jovi e Poison. O Nirvana abriu portas do mainstream para diversos bons grupos do rock alternativo, dentre eles os posteriormente grandes Alice In Chains, Pearl Jam e Soundgarden, além dos menos expressivos comercialmente Mudhoney, Melvins e TAD. Ser sujo, feio e estranho era agora legal e vendia mais que o Michael Jackson.

A sonoridade do álbum é uma mistura da imperfeição melancólica e marginal do punk rock, com produção mais "acessível" e lapidada, méritos do produtor Butch Vig e do próprio Kurt Cobain, um artista com faro melódico.

A primeira faixa do disco é o mega hit MTVesco "Smells Like Teen Spirit", um hino grunge, de acordes básicos, dinâmica copiada do Pixies e levadas de bateria sensacionais promovidas pelo Dave Grohl, músico recém chegado ao grupo e que, por conta de sua pegada avassaladora - e até mesmo de suas dobras vocais -, ajudou a dar mais peso e acabamento para o álbum.

Outra música que alcançou grande repercussão foi "Come As You Are", canção que no auge de sua simplicidade, levou milhares de garotos a quererem tocar guitarra. Sua introdução, ainda que "roubada" do Killing Joke, é um dos grandes feitos do Kurt enquanto guitarrista. Já o "I don't have a gun" do refrão não poderia ser mais dramático.

A introdução ultra rockeira de "In Bloom" resgata a porralouquice do rock. Há inclusive um peculiar/criativo solo de guitarra, ainda que tecnicamente limitado. Mas quem precisa de grande técnica quando se tem uma boa canção? Toma essa, hair metal!

A fúria do disco continua através das contagiantes "Breed" e "Lithium", sendo essa última dona de um baixo delirante - mérito do subestimado Krist Novoselic -, além de refrão melodioso berrado até sangrar a garganta. O mesmo acontece em termos de simplicidade na intensa "Territorial Pissings" - que era ainda mais brutal quando tocada ao vivo - e na acústica/lo-fi "Polly", tirada das gravações demo de pré produção do disco, narrando violência sexual do ponto de vista de um estuprador.

As letras de Kurt são criativas, dramáticas e perturbadoras, principalmente na sexualmente experimental "Drain You" - com doses de Sonic Youth e Pixies -, na antecipação do pop punk de "Lounge Act" - à la Hüsker Dü - e na dadaísta "Stay Away". 

"On A Plain" surge no momento em que o ouvinte já está deslumbrado com o disco, mas "Something In The Way" se opõe ao restante do álbum ao apresentar uma balada de arranjo contido, com direito a um violoncelo melancólico e letra problemática.

Sem dúvida uma das grandes obras da década de 1990. Mudou toda a cena musical e ditou tendências comportais, inclusive no mundo da moda - como esquecer as famigeradas camisas de flanela -, sendo ainda hoje referência de atitude e sonoridade. A antítese do mercado nunca foi tão rentável.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

TOP 5: Krautrock

Empolgado com a passagem do Faust pelo Brasil que ocorrerá essa semana (dias 16 e 17) no CCSP, mergulhei naquela que é a vertente mais experimental do rock. Estou falando do krautrock.

Resumindo de maneira simplória, o krautrock nada mais é que o rock progressivo alemão com influência da elektronische musik de artistas como Stockhausen. Mas se ampliarmos o conceito antropológico, veremos que o krautrock foi uma manifestação artística de jovens músicos que queriam se desvincular da imagem nazista da Alemanha, buscando uma sonoridade ousada, peculiar e futurista, que anos depois influenciaria nomes como David Bowie e Radiohead.

O termo krautrock foi visto por muitos músicos do estilo como sendo pejorativo, já que kraut (algo como "repolho azedo") era o nome dado aos capacetes usados pelos nazistas na guerra. Ainda assim, após o estilo se consagrar na história da música contemporânea, o sentido ofensivo do termo perdeu força e só sobrou prestigio para as bandas da época.

Postarei aqui cinco dos grupos mais legais e influentes do krautrock. Deixo também uma citação honrosa ao ótimo supergrupo Harmonia e ao influente Tangerine Dream, bandas importantes do estilo, mas que não entraram no meu inexpressivo Top 5 pessoal. Também não posso deixar de citar o produtor Conny Plank, grande responsável pela sonoridade da maioria das bandas da época.

Sem mais delongas, vamos ao que interessa!

1 - Kraftwerk
O Kraftwerk é um dos grupos mais importantes da Alemanha, responsável por popularizar a música eletrônica, sendo influência direta para inúmeros artistas. Mas antes do grupo mergulhar na sonoridade (e na personalidade) robótica, a banda tinha um som mais calcado no rock experimental. Se você está acostumado com os clássicos discos eletrônicos do grupo (vide Autobahn, Trans-Europe Express e The Man-Machine), se surpreendera com o vídeo abaixo, gravado na fase inicial e de sonoridade muito mais orgânica.

2 - Neu!
Com o passar dos anos, o Kraftwerk foi tornando-se cada vez mais eletrônico e menos "rockeiro", sendo assim, o guitarrista Michael Rother e o baterista Klaus Dinger abandonaram o barco e montaram o Neu!. A banda lançou ótimos discos, dentre eles o influente Neu! '75, álbum com repertório dividido entre música ambient e pós-punk, mesmo que produzido antes da popularização do punk. Duvida? Então escute o som abaixo.

3 - Faust
O Faust além de produzir sonoridade peculiar, apresenta um trabalho visual interessante, seja em suas apresentações ou mesmo na capa de seus discos. A música deles é bastante experimental, contendo um trabalho primoroso de sobreposição de sons e manipulação de áudio. A banda é uma das pioneiras na utilização de samples. Escute a clássica "Krautrock", um dos hinos do estilo.

4 - Can
O Can é uma das mais importantes bandas do gênero e também uma das prediletas dos ouvintes, principalmente por conter uma sonoridade mais rockeira, bastante influenciada pelo rock psicodélico, mas ainda assim mantendo sua dosagem de experimentalismo, emprestado de grupos como Velvet Underground. A banda é encabeçada pelo curiosamente japonês, Damo Suzuki. Um dos discos clássicos do gênero pertencem a eles. Falo do complexo Tago Mago (1971).

5 - Guru Guru
Para encerrar o Top 5 trago o Guru Guru, grupo nem tão lembrado, mas ainda assim muito bom. A banda contém uma sonoridade bastante psicodélica e experimental, chegando até mesmo a se enquadrar no free jazz e jazz rock. Uma das prediletas dos fãs de rock setentista.

Recomendo uma audição aprofundada e paciente de todas as bandas, tendo em vista que elas apresentam um som bastante conceitual e de difícil assimilação quando escutadas isoladamente. Recomendo também o show do Faust que sem dúvida será um evento memorável e de excentricidade garantida.

sábado, 10 de setembro de 2011

TEM QUE OUVIR: Som Nosso de Cada Dia - Snegs (1974)

Que o Brasil é um país que não valoriza sua história é de comum acordo. No rock, estilo que sofreu com a repressão da ditadura militar, não tendo seus artistas valorizados sequer no presente, a coisa só piora. Todavia, alguns discos gravados na época sobrevivem em pequenos nichos, é o caso de Snegs (1974), obra-prima do Som Nosso de Cada Dia, produzido pelo Pena Schmidt.


Formado por Manito (um multi-instrumentista brilhante, que fez sucesso na Jovem Guarda com Os Incríveis), Pedrão Baldanza (baixo e voz) e Pedrinho (bateria e voz), o grupo chegou ao ápice do rock progressivo em terras tupiniquins. O prestigio foi o suficiente para levá-los à banda de abertura no lendário show do Alice Cooper no Brasil em 1974.

A faixa que abre o Snegs é a brilhante "Sinal da Paranoia", dona de maravilhosa introdução com viradas poderosas de bateria, letra surreal, ótima linha de baixo, além dos teclados pesados do Manito, que dispensam a presença de guitarra. O esquisito solo de violino também chama atenção.

"Bicho do Mato" é dos melhores rocks já gravados no Brasil. A acachapante introdução guia o ouvinte para um refrão pegajoso. Alias, introduções frenéticas é uma das qualidades do grupo, fato que fica evidente na espetacular "Som Nosso de Cada Dia", um hino do rock progressivo brasileiro, cantado com paixão poucas vezes vista no rock nacional.

A viagem do disco é garantida na bela e incompreensível (ao menos para mim) "Snegs de Biufrais", uma das mais bonitas canções do estilo.

"Massavilha" é considerada por muitos a melhor música do rock progressivo brasileiro. Não é para menos, já que seu groove é excepcional, os teclados são alucinantes e a profundidade poética faz qualquer fã do gênero entrar em êxtase.

A audácia das composições e o cuidado nos arranjos chegam a perfeição na climática "Direccion de Aquarius" e na virtuosa "A Outra Face", onde Manito comprova suas qualidades tocando magistralmente diversos teclados. Isso sem falar na performance swingada e tipicamente brasileira da cozinha do grupo.

Encerrando o álbum temos a emblemática "O Guarani", composição do Carlos Gomes executada primorosamente pela banda.

Eis um dos grandes momentos rock progressivo mundial. Um prato cheio para quem gosta de canções bem executas e melodias de beleza instigante.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Thomas Edison e o primeiro registro de áudio

Uma das maiores revoluções da música foi a invenção da gravação. Antes da criação desta tecnologia, muitas músicas foram perdidas, já que nem todos tinham a erudição para transpor em escrita suas canções.

O primeiro registro de áudio da história da humanidade que obteve sucesso em sua reprodução foi concebido por Thomas Edison, um inventor importantíssimo, que com seu fonógrafo conseguiu captar e reproduzir o primeiro estrofe do poema/canção infantil "Mary Had A Little Lamb" em 1877.

Thomas Edison e seu fonógrafo

O fonógrafo consiste em um cilindro com sulcos de folha de estanho. Um diafragma capta as vibrações de um som e converte em impulsos mecânicos que por sua vez são registrados no cilindro através de uma ponta aguda. A máquina era tão precária que, tanto para gravação quanto para reprodução, o cilindro era girado manualmente.

Escute a ruidosa, curta e histórica gravação de "Mary Had A Little Lamb" feita por Thomas Edison.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

As drogas na música

Nesta semana o festival Rock In Rio divulgou um vídeo (veja aqui) com participação de grandes artistas - e outros nem tão grandes assim -, da música e telenovela. A pavorosa música do vídeo tem como intuito "conscientizar" o público a ir ao evento "sem droga nenhuma", como diz o próprio refrão desta papagaiada.

Diante desse mar de hipocrisia e corporativismo do Rock In Rio, resolvi ir contra esse moralismo e fazer um post sobre a interferência das drogas na música.

Não estou fazendo apologia a "droga nenhuma" e muito menos ocultarei a história de grandes personagens que tiveram fim trágico em decorrência do abuso de drogas. Ainda assim, acredito que só a informação é capaz de guiar as pessoas para as boas escolhas. Portanto, sem mais delongas, vamos ao que interessa.

Álcool e tabaco
Será que o Rock In Rio vai proibir o uso de álcool e tabaco no evento? Afinal, a campanha é a anti-drogas, não anti uso de substâncias ilegais. Mas sendo o evento que é, aposto que na verdade tem alguma marca de cerveja patrocinando o evento. Deixando o Rock In Rio de lado, várias bandas tem o álcool e o tabaco como fonte de inspiração, vide o Tankard. Até mesmo o timbre das vozes maravilhosamente pavorosas de Lemmy (Motörhead), Brian Johnson (AC/DC) e Dan McCaafferty (Nazareth) devem muito ao uso destas drogas.

Maconha
O uso da maconha é de imediato associado ao reggae. Todavia, ainda antes da popularização do ritmo jamaicano, bandas dos anos 60 fizeram experiência com a erva e adentraram em um mundo de sons tranquilos, longas improvisações e vagarosas viagens. Confira tais características na bela música "Crazy Fingers" do Grateful Dead, escolhida também por conter influência do reggae. Vale ainda dizer que é impossível pensar no hip hop sem o uso da maconha. Snoop Dogg que o diga. 

Cocaína
Muitas artistas tiveram suas carreiras (sem trocadilho) arruinadas pelo abuso de cocaína. Da Elis Regina ao Ol' Dirty Bastard. Sendo que no caso deste último, do flow intenso as letras paranóicas, há muito de cocaína em sua arte (triste ou não, um fato). Todavia, sempre associo a droga ao Black Sabbath. Anos antes do Ozzy pirar e ser expulso da banda inglesa, eles gravaram músicas que deixam a intensidade da droga evidente, dentre elas a ótima "Snowblind".

LSD
O LSD foi moda no final da década de 60. A droga influenciou muitas bandas e, até mesmo, moldou um estilo, o rock psicodélico. Dentre os grupos que se destacaram no gênero está o pioneiro 13th Floor Elevators, que continha passagens instrumentais alucinantes e letras surreais. É importante lembrar também que a droga está diretamente ligada aos sons dos grupos ingleses do final da década de 1980, como Happy Mondays e Primal Scream.

Ecstasy
Todos sabem da relação das anfetaminas com a música eletrônica, principalmente o ecstasy nas raves. O produtor Rusko já chegou a afirmar que costuma fazer uso da substância para produzir suas músicas e que gosta de ver o público tomado pelas drogas em suas apresentações. Declaração polêmica ou franca?

Heroína
Essa droga é tida como uma das grandes vilãs da música, sendo responsável por tirar a vida de artistas como Charlie Parker, Billie Holiday, Chet Baker, Janis Joplin e Jim Morrison. A droga voltou a fazer sucesso nos anos 90 e mais uma vez contribuiu para a morte de dois grande ícones do grunge, Kurt Cobain (Nirvana) e do Layne Staley (Alice In Chains), sendo que esse último teve sua dependência química e depressão narrada no espetacular disco Dirt (1992). Escute "Sickman" e perceba sua terrível agonia.

Crack
Resumir o crack é simples, é um substrato de droga que leva o usuário para autodestruição. Agora, pense em um substrato de artista que leva o público para a destruição. Chegamos ao usuário de crack GG Allin.

Para finalizar gostaria de dizer para você, jovem músico: não vá achando que basta você tomar qualquer uma destas drogas e você terá as qualidades do seu ídolo. Talento e dedicação são melhores apostas.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Fotos que traduzem o rock

Não estou com muito animo para escrever, mas hoje estava pesquisando um pouco do trabalho do grande fotografo Jim Marshall e cheguei a imagens que traduzem o que é o rock. Postarei algumas destas fotos de Jim e outras que também considero clássicas. Aqui está um rico documento que ajuda a narrar a história da música no século XX. Sem mais delongas, curtam as fotos abaixo.

Obs: Essas fotos ajudam a comprovar que o rock sempre esteve ligado a imagem, o que não deixa de ser um fato curioso para uma época sem MTV e internet.

Jimi Hendrix incendiando a guitarra em Monterey

Johnny Cash capturado em sua explicita fúria (foto de Jim Marshall) 

Keith Richards não dando sossego nem para a guitarra, nem para o pulmão (foto de Jim Marshall)

Paul Simonon destruindo seu baixo predileto. Essa é a mesma foto que está na clássica capa do London Calling

O resultado do fanatismo que Eric Clapton provocava em Londres

O Rei do Rock e sua descabível (para os conservadores) presença de palco

Hawkwind, sem mais

A camiseta que representa a atitude sonora do punk rock

Jim Morrison, ponto (.)