quinta-feira, 26 de maio de 2011

Músicas em nome de Deus

Vejo em grande partes das pessoas, principalmente aquelas ligadas ao rock, certo desdém com relação a música dita religiosa. Se o preconceito musical com relação a gênero, raça e nacionalidade diminuem aos poucos (ao menos no território musical), os muros divinos continuam sendo uma barreira entre o público secular e os artistas que usam a música como instrumento de adoração.

Fato é que o ouvinte não precisa ser religioso para gostar de canções de louvor, assim como ninguém precisa "ser de esquerda" para gostar de RATM ou fumar maconha para ouvir Planet Hemp. A música é uma linguagem universal e ferramenta poderosa para levar suas convicções adiante, sendo assim, cabe ao ouvinte captar as qualidades de uma música, seja ela uma canção de protesto, um hino de devoção ou uma simples obra profana cheia de sexo e violência.

Vou aqui citar exemplos de músicas religiosas que apresentam qualidades para todos os gostos. Ficarei neste momento restrito a música judaica cristã, não por considerar uma "crença maior" - de certa forma, muito pelo contrário -, apenas conheço mais artistas dentro deste segmento.

Mahalia Jackson

Johann Sebastian Bach
A música sacra é um dos pilares da música erudita. Desde o canto gregoriano, passando por compositores renascentistas (vide Palestrina), do período barroco (como Vivaldi e Händel) e do classicismo (como Haydn e Mozart), a música sempre teve uma função religiosa. Não é absurdo dizer que o compositor que melhor se destacou ao produzir para a igreja foi o gênio do período barroco, Johann Sebastian Bach. Exímio tocador de cravo e explorador das técnicas contrapontistas, Bach compôs diversas obras que até hoje servem de apreciação e estudo para músicos do mundo todo. Entre suas principais obras está o lindíssimo oratório Paixão segundo São Mateus. A divindade está aqui.

Sister Rosetta Tharpe
Muitos condenam a ligação do rock com a música gospel (que vem de God-speell), mas a verdade é que o rock é um filho da música negra americana de adoração. Quem nunca ouviu Elvis Presley, Johnny Cash ou Bob Dylan cantando alguma velha canção de louvor que atire a primeira pedra! Mas se tem uma artista que merece muito respeito dos "rockeiros" é a incrível Sister Rosetta Tharpe, que empunhava e estraçalhava uma Gibson SG muito antes de Tony Iommi e Angus Young "amaldiçoarem" o instrumento. Com o típico vozeirão de cantora da igreja protestante americana, a "irmã Rosetta" quebrava tudo com seu gospel envenenado pelo blues.

Mahalia Jackson
Falando em música gospel, não dá para ignorar aqueles incríveis corais de vozes das igrejas batistas americanas. E nesse território lembro sempre da Mahalia Jackson, uma das maiores vozes do século XX, de trajetória espetacular que a colocou em grandes eventos da história norte-americana. Vale muito pesquisar suas gravações. É emocionante.

The Staple Singers
Acredito que uma das maiores evoluções da canção popular se deu quanto a música "de culto" se fundiu a música "secular". Isso pode ser muito bem representado pelo Staple Singers, grupo vocal que trazia a Mavis Staples. Mas era o Pops Staples que pastorava o grupo. Por ter trabalhado na colheita de algodão, seu estilo não difere em nada de outros bluesman. É a herança da work song que fez dele um tremendo guitarrista. Já as três irmãs cantam demais, trazendo naturalmente muito do soul para sua interpretação. Ainda assim, seja pelo texto, pelo intuito, pela história... é música gospel.

Aretha Franklin
Transpondo essa linguagem das igrejas batistas para algo mais "secular", temos o espetacular disco Amazing Grace (1972) da Aretha Franklin, registrado ao vivo dentro de uma igreja. É uma maravilha!

Take 6
Para quem gosta de arranjo e interpretação vocal, independente do gênero, tem que ouvir o Take 6. Seus álbuns (com destaque para o So Much 2 Say, de 1990) são de riqueza vocal indiscutível. 

Commissioned
Gostou do Take 6? Vá agora de Commissioned, outro grupo vocal espetacular. Ed Motta deve adorar. Todos ali cantam muito bem. Fora que tem muito groove. State Of Mind (1990) é uma bela pedida.

Roby Duke
Falando em Ed Motta, foi através dele que conheci o Roby Duke, artista da chamada CCM (Contemporary Christian Music), que em muitos momentos parece um "AOR de cunho religioso". O álbum Not The Same (1980) é uma pérola "pop", impecavelmente arranjado, tocado e captado.

Phil Keaggy
Já no campo instrumental, vale lembrar o exímio violonista/guitarrista Phil Keaggy, que nunca deixou de manifestar sua fé através da música, ainda que sequer abrindo a boca para cantar.

Rev James Moore & The Missippi Mass Choir
Atentem-se também a esse vídeo do Rev James Moore & The Missippi Mass Choir (com direito ao baixo swingado do Andrew Gouche) e tente não ficar contagiado. O groove rola solto! Se tivesse uma missa/culto no meu bairro com esse nível sonoro eu iria todo domingo. 

Neal Morse
A louvação através do heavy metal existe há muito tempo. Provavelmente tenha começado através do grupo Stryper, que ajudou a estabelecer o rótulo white metal, que nada mais é que o heavy metal com cunho religioso. Na minha opinião, a maioria das bandas que trazem essa proposta de som pesado com letras de adoração pecam ao compor músicas fracas e presunçosas. Todavia, nem todos comungam deste erro. Neal Morse, por exemplo, é um multi-instrumentista com carreira bastante produtiva. Ele lançou em 2007 o ótimo Sola Scriptura (2007), disco pesado, melódico e progressivo ao mesmo tempo. Além de trazer ótimas composições, o álbum conta com a ajuda nas gravações do baterista Mike Portnoy (eterno Dream Theater) e do virtuoso guitarrista Paul Gilbert. Audição recomendada para quem gosta de metal progressivo.

Oficina G3
Não poderia deixar de citar uma banda brasileira. Com mais de 20 anos de carreira o Oficina G3 já passou pelo hard rock, heavy metal, pop rock, new metal, dentre outros gêneros, sempre levando suas convicções nas letras. Recentemente lançaram um DVD que concretiza o sucesso do ótimo CD Depois da Guerra, que teve a produção Pompeu e do Heroes do Korzus. O show evidencia músicos num alto nível técnico em canções de peso considerável. Peso esse que sepulta a ideia de que é impossível misturar rock com Deus.

Resgate
Lembro que quando ouvia Oficina G3, outra banda que era sempre posta no mesmo balaio era o Resgate. Confesso que na época não me fisgou tanto, já que era mais rock n' roll e menos virtuoso, mas o disco On The Rock (1995) é verdadeiramente bem bom. Vale lembrar que a produção é do Paulo Anhaia.

Petra
Gostaria de deixar claro que não tenho vinculo com religião alguma, muito pelo contrario, acho elas até certo ponto um atraso para humanidade. Mas justamente por não compartilhar deste atraso, consigo elevar a arte há um lugar muito maior que de ideais demagogos. Sendo assim, para terminar, deixo aqui um clássico do southern rock gospel (?) da banda Petra, que foi regravado pelo KISS (?), os tais satanistas esmagadores de pintinhos.

terça-feira, 24 de maio de 2011

TEM QUE OUVIR: Bob Dylan - The Freewheelin' Bob Dylan (1963)

É possível reconhecer o Bob Dylan como o maior compositor da música popular do século XX. Com sua voz de taquara rachada, um violão e uma gaita, foi capaz de criar narrativas inesquecíveis, muitas delas presentes no espetacular The Freewheelin' Bob Dylan (1963).


Sem dúvida, Dylan tem discos incríveis por toda sua extensa carreira, mas esse álbum se destaca inicialmente pelo simples fato de ter sido o primeiro só com composições de sua autoria. É a música folk em sua melhor forma, ainda longe das guitarras que os fãs conservadores de Newport tanto repudiariam.

O disco abre com a genial/emblemática "Blowin' In The Wind", canção que virou hino de uma geração que lutava pelos direitos civis. Sua voz anasalada, os suaves acordes do violão, a melodia da gaita e a poética da letra já seriam o suficiente para considerar esse disco um clássico, mas o que vemos a seguir é uma repetição de sua excelência artística.

A belíssima "Girl From The North Country" é de fazer qualquer um coçar a cabeça e se perguntar como é possível um jovem de 22 anos ter composto algo tão singelo e maravilhoso. Em compensação, "Masters Of War", com sua letra amarga e cheia de fúria, traz um peso inacreditável para uma canção que contém apenas violão e voz.

"Down The Highway" é um espetacular blues dopado, enquanto "Bob Dylan's Blues" é um típico folk cheio de gaitas e narrativa bem humorada, característica fundamental no seu trabalho, embora muitas vezes ignorada pelo público.

A longa "Hard Rain's A-Gonna Fall" mostra um Dylan ainda jovem, mas com desenvoltura para escolher palavras. "Don't Think Twice, It's All Right" é a canção que contém o violão mais bem arranjado e executado, enquanto as bases minimalistas de "Bob Dylan's Dream", "Oxford Town" e "Talking World War III Blues" servem exclusivamente para musicar as suficientemente espetaculares letras, que por si só já valem as canções.

"Corrina, Corrina" é uma bela balada caipira e tranquila, para ouvir olhando o pôr do Sol e batendo o pé no ritmo da percussão e do baixo. A intensidade acelera com a frenética "Honey, Just Allow Me One More Chance" e termina com chave de ouro com a boa "I Shall Be Free".

Esse disco emblemático não exige empenho do ouvinte, apesar das letras espetaculares e bem estruturadas. Isso porque as músicas correm em um ritmo envolvente, que nos transporta a um lugar tranquilo, apesar da época conturbada em que o trabalho foi gravado. Um álbum esplêndido de um jovem compositor ainda no inicio da carreira.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

O multifacetado Raul Seixas

Para muitos, Raul Seixas não passava de um personagem caricato, com muito álcool no sangue, querendo ser o Elvis Presley brasileiro. Para outros mais atentos, Raul era dono um punhado de canções espetaculares, discos seminais e uma carreira bastante intensa, que nunca passou perto do comodismo artístico, mal esse que atacou inúmeras estrelas da música brasileira.

Algo que eu notei ao reouvir alguns discos do "Pai do Rock Brasileiro" - não foi o primeiro, mas o titulo é mais que merecido - é que sua carreira trilhou diversos caminhos e, ouso dizer, que andou por todas as vertentes da música popular. Duvida? Escute as faixas citadas e se espante com o lado multifacetado do rockeiro que não fazia só rock.

Obs: Tais músicas não são necessariamente as melhores do Raulzito, mas são a prova da pluralidade de um compositor ousado.

Diversas vertentes do rock.
O rock predomina na carreira do Raul, desde baladas emprestada dos Beatles ("Você Ainda Pode Sonhar"), passando por sons psicodélicos ("Dr. Paxeco"), sonoridades acústicas do folk ("Sunseed"), mudanças de andamentos, letras narrativas e arranjos bem elaborados típicos do rock progressivo ("Paranóia") chegando no bom e velho rock n' roll ("A Verdade Sobre A Nostalgia"). Agora, interessante é perceber o peso intenso na fantástica "O Segredo do Universo", que contém trechos cantados com a força um vocalista de heavy metal (ou quase isso) e guitarras encorpadas do Sérgio Dias (Os Mutantes). Sensacional!

Matriz do rock
Raul Seixas, sábio rockeiro, olhou para trás e deu de encontro aos estilos que deram a luz ao rock. O gospel foi muito bem introduzido ao seu estilo com a música que leva o mesmo título ("Gospel"). O country, que muitos dizem ser o estilo que ele realmente adorava, foi também explorado no sucesso "Cowboy Fora da Lei". Restou ao blues ficar com a sagaz "Canceriano Sem Lar (Clinica Tobias)".

Raízes brasileiras
Raul não deixou sua raiz brasileira de lado. Misturou rock com forró na clássica "Let Me Sing, Let Me Sing". Raul também tinha samba no pé e fez "Aos Trancos e Barrancos" e até mesmo a marcha carnavalesca "Eta Vida". Já o lado caipira de Raul Seixas está em "Capim Guiné" e "Minha Viola". Até a breguice de alguns cantores populares/românticos foi introduzida ao seu estilo de cantar na cômica/pastiche "Tu És o MDC da Minha Vida".

A prova da pluralidade 
"Vertentes do rock", "matriz do rock" e "raízes brasileiras", por enquanto nada de muito espantoso, mas agora é que começam as verdadeiras experimentações. Acredite, Raul Seixas tem um reggae (!) e se chama "Ide A Mim Dadá". Reggae um tanto quanto caribenho por sinal. Raul fez também um bolero, vide "Sessão das 10". Música "infantil" também foi sua jogada em "Carimbador Maluco", tudo pra passar uma mensagem anarquista em horário nobre da televisão brasileira. O funk também está presente em sua discografia com a ótima "Tapanacara", que tem o acompanhamento da espetacular Banda Black Rio.

Extrapolando os limites do ecletismo.
Agora chegamos a um capitulo extremo, onde Raul Seixas fundiu sua música com gêneros inimagináveis para os próprios fãs do artista. 

- Se rap significa "ritmo e poesia" e entre as características do estilo estão o vocal falado e as letras de contestação, então "É Fim Do Mês" é um autentico rap.

- Se Conde Drácula tivesse uma ópera feita em sua homenagem, "Magia de Amor" poderia muito bem estar dentro da obra. Uma bela música com arranjo orquestrado muito bem elaborado.

- Vai dizer que o instrumental de "Moleque Maravilhoso" não remete as big bands de jazz? Pois é, além de tudo Raul também atacava de crooner. 

- E pra finalizar, Raul Seixas realmente não fez nada da típica música eletrônica de pista, até porque nem teve tempo de ver a popularização no gênero. Mas não da pra negar que o barulho da mosca em "Mosca na Sopa" tem lá sua influência da música eletrônica de vanguarda.

É isso! Ouça todas as canções com atenção e explore a obra riquíssima do grande Raulzito.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

TOP 5: Meus discos prediletos de reggae

Nesta semana fez 30 anos da morte do indiscutivelmente maior ícone do reggae, Bob Marley. Pensando nisso, elaborei um post não em homenagem a ele, mas ao reggae em geral.

O ritmo jamaicano nunca esteve entre meus gêneros prediletos, mas como em qualquer outra vertente musical, foi produzido alguns clássicos de audição obrigatória. Todavia, como não sou especialista no estilo, não tratarei necessariamente dos discos fundamentais, mas sim dos MEUS álbuns prediletos.


1: Bob Marley & The Wailers - Catch A Fire
Catch A Fire é o clássico definitivo do reggae. Além da capa emblemática contendo o Bob Marley mandando ver num "bauret", damos de cara com composições majestosas, instrumental enxuto e produção minimalista que nos transporta diretamente para Jamaica. Fora que a execução dos Wailers é impressionante, com destaque para a espetacular cozinha. Aqui fica evidente que o reggae é uma mistura de vários estilos, como o soul, blues e ska, todos somados a um sentimento de dor e perda, mas também de esperança e luta.
Ouviu e gostou? Escute o tão fantástico quanto Exodus (1977).

2: Peter Tosh - Live In Boston
Bob Marley é o maior ícone do reggae? Sem dúvida. Peter Tosh é um artista tão excelente quanto Bob Marley? Eu acho. E quando quero escutar reggae, esse disco ao vivo é um dos primeiros que vem a mente. Além das ótimas composições de Peter Tosh, o que se destaca é sua banda fenomenal de apoio, prova disso é a instrumental introdução do show. E o nível elevado se mantém por todo espetáculo. Escute "Igziabeher" e comprove.
Ouviu e gostou? Vá de Legalize It (1976).

3: Steel Pulse - Handsworth Revolution
Aqui fica comprovado que o reggae não só cruzou as barreiras da Jamaica, como também se aperfeiçoou fora de lá, principalmente por quem foi colonizado, a Inglaterra. Com letras politizadas, influência de música caribenha, fusão com o jazz e busca por caminhos harmônicos não tão comuns ao estilo, o Steel Pulse ganhou destaque, sendo um dos grupos prediletos dos fãs do gênero. O disco Handsworth Revolution tem uma produção bastante polida, o que deixa a clareza das composições ainda mais atraente. 

4: The Congos - Heart Of The Congos
O que temos aqui é um registro histórico do auge das performances do alucinado produtor, Lee "Scratch" Perry. Timbres estranhos, colagens curiosas, ótimas canções e harmonias vocais espetaculares. O domínio técnico de Lee Perry no Black Ark - seu laboratório musical - não tinha limites. Flerte definitivo do reggae com experimentações eletrônicas. Eis o auge do dub.

5: Toots & The Maytals - Funky Kingston
Pra finalizar a lista, mais um clássico do gênero. A representação máxima do estilo em um único álbum. Um manifesto contra o "reggae de cachoeira". É uma paulada. 

Sintam-se livres para recomendar nos comentários outros discos do estilo.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Música instrumental pode ser legal

É compreensível que grande parte da população considere música instrumental um "porre". Não é o meu caso.

Por eu ser guitarrista, sempre escutei músicas direcionadas ao instrumento em questão. Entretanto, confesso que grande parte desta audição está atrelada a uma pesquisa técnica.

Veja por exemplo o Frank Gambale, lendário guitarrista com uma técnica espetacular de sweep picking. Todavia, apesar dessa qualidade especifica, sua música claramente não se encaixa no perfil de um ouvinte comum. E honestamente nem acho que deveria. E longe de se tratar de "elitismo musical", é só um fato compreensível.

Observando esse fato, muitos tendem a achar que qualquer música instrumental se trata de "música pra músico", o que é um tremendo erro. Vou tentar através deste post mostrar algumas músicas que, mesmo não tendo vocal, conseguem despertar entusiasmo nos ouvintes.

Obs: Não vou tratar de música erudita, nem de jazz. Neste post falarei de segmentos mais populares.

Edgar Winter Group - Frankenstein
Este clássico do rock conseguiu ficar no primeiro lugar da Billboard Hot 100. A faixa foi também sucesso no Canadá e Reino Unido. Diante disso, algum apelo popular a música deve ter, certo? Quem precisa de voz quando os instrumentos falam por si só. A faixa mais parece o que aconteceria se o Stevie Wonder fizesse um hard rock. Excelente riff e groove. Dave Grohl já afirmou que foi a primeira música que ele quis tocar.

Joe Satriani - Satch Boogie
Imagine um guitarrista virtuoso, conhecido por ter dado aulas para nomes como Steve Vai, Kirk Hammett, Alex Skolnick, Larry Lalonde, dentre outros. Agora imagine ele, com seu segundo álbum por mais de cinco meses dentro dos 200 mais vendidos dos Estados Unidos (o maior mercado de fonográfico), recebendo disco de platina por um álbum instrumental. Como isso? É que Satriani apesar de enfocar sua música na guitarra, consegue compor melodias assobiáveis que alcançam o público de maneira imediata, seja esse ouvinte um professor de guitarra ou um tiozão telespectador de programa semanal esportivo. 
Obs: já fui num show do Satriani e, apesar de ser inteiramente instrumental, o público cantou todas as melodias. Impressionante.

The Shadows - Apache
Nas décadas de 1950 e 1960, o rock instrumental era muito mais popular. Duane Eddy (escute "Peter Gunn"), Link Wray ("Rumble"), The Surfaris ("Wipe Out"), Dick Dale ("Miserlou") e dezenas do The Ventures, dentre outros, alcançaram sucesso com este tipo de música, alguns tocando rock, outros surf music, mas todos instrumental. Todavia, um grupo em especifico foi responsável por despertar o interesse de jovens pela música. Me refiro ao The Shadows, grupo encabeçado pelo guitarrista Hank Marvin, influência declarada de músicos como Brian May, Ritchie Blackmore, Mark Knopfler, David Gilmour, dentre outros. O sucesso da banda foi tão grande que grupos similares começaram a surgir por todo mundo, até mesmo no Brasil, vide o The Jordans. Escute a clássica "Apache" e se encante com a simplicidade que tanto faz falta na música instrumental. 
Obs: Não deixe de escutar as outras músicas citadas.

Rush - YYZ
O Rush dispensa apresentações, mas a imagem deles tocando "YYZ" no Maracanã vale sempre lembrar. Onde já se viu um estádio inteiro pulando e vibrando com uma música instrumental? Se depois disso você continuar achando que música instrumental só pode ser ouvida por músico, vou passar a crer que o mundo está realmente superlotado de músicos.

Roni Size - Brown Paper Bag
É incrível pensar que um dos gêneros mais populares da música contemporânea é em grande parte composto por faixas instrumentais. Me refiro obviamente a música eletrônica. Isso forçou o estilo a explorar diferentes beats, texturas, timbres e melodias. Do krautrock ao dubstep, os exemplos são inúmeros.

King Tubby - Stop Them Jah
Assim como na música eletrônica, o dub explora a tecnologia como ferramente sonora. Filtros, reverbs, ecos e delays são processados em beats vagarosos criando uma música que parece se diluir no tempo-espaço. Altamente viajante e divertida. Como exemplo dessa sonoridade vale lembrar o brilhante King Tubby.

domingo, 8 de maio de 2011

Centenário do Robert Johnson

Sem delongas, hoje comemoramos o centenário de Robert Johnson, um dos maiores nomes do Blues.

Robert Johnson foi sem dúvida um dos mais influentes guitarristas de todos os tempos. Sua influência é perceptível em músicos do calibre de Eric Clapton, Keith Richards, Duane Allman, Johnny Winter, John Frusciante, dentre outros. Seu estilo de conduzir os baixos de um acorde enquanto toca nas cordas mais agudas a melodia vocal, tornou-se característica de seu som.

Apesar de não ser o inventor da sonoridade urbana do Delta Blues, ele foi um dos maiores responsáveis pela sua popularização.

Seu legado, apesar de muito valioso, é pequeno. Robert Johnson gravou apenas 29 músicas em cinco sessões, realizadas entre 1936 e 1937. Dentre essas canções está o registro da clássica "Crossroads".

A extraordinária "Crossroads", que anos depois seria regrava pelo "Cream", ajudou a manter fama de seu pacto com o Diabo. Diz a lenda que Robert Johnson, no início de sua carreira, não se mostrava um músico muito competente. Son House, um dos maiores nomes do Blues de todos os tempo, desistiu de ensinar o garoto a tocar seu instrumento, alegando que ele era fraco demais. Robert Johnson, aventureiro que era, desistiu do trabalho no campo e foi viajar pelas estradas americanas, retornando após dois anos, mas agora com uma técnica maravilhosa e musicalidade invejável. Daí surgiu o papo que durante essa viagem ele fez o pacto com o Diabo, fato que o guitarrista nunca negou.

Robert Johnson foi também a primeira lenda a morrer com 27 anos, idade que depois ficaria amaldiçoada ao levar também ícones como Jimi Hendrix, Janis Joplin, Jim Morrison, Brian Jones, Kurt Cobain, dentre outros "Rock Stars". Alias, a morte do músico ainda hoje é um grande mistério. Alguns dizem que foi assassinado, outros que ele foi envenenado, mas fato é que apesar de todas essas lendas ajudarem a manter seu nome vivo, seu verdadeiro legado ainda está nas 29 canções gravadas e nas únicas três fotos que sobreviveram ao tempo.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Os novos supergrupos

O conceito de supergrupo não é novo. Já na década de 1960 músicos renomados se juntavam para formar uma banda, vide o Cream, que continha três músicos experientes. No final da década veio o também o lendário Crosby, Stills, Nash and Young.

Na década de 70, outro trio que fez estardalhaço foi o Beck, Bogert & Appice. Já o Bad Company e o Journey traziam na formação músicos que já tinham passado por outras bandas de sucesso (Free e Santana, respectivamente). 

Nos anos 80, o Asia era a meninas dos olhos dos fãs de rock progressivo, isso por conter músicos do Yes, ELP e King Crimson. Mas essa ilusão durou até o lançamento do aguado disco de estreia da banda. O mesmo vale para o GTR.

Já na década de 90, tínhamos o Temple Of The Dog, um supergrupo do grunge, mesmo antes dos integrantes se tornarem "supermúsicos". O oposto ocorreu com o Mad Season, que continha ícones do movimento de Seattle no auge da carreira. 

Em 2000, apesar da breve carreira, o Audioslave - formado por integrantes do RATM e Soundgarden - e o Velvet Revolver - formado por integrantes do Guns N' Roses e Stones Temple Pilots -, deixaram bons registros de estúdio.

De todas essas megabandas, aquela que chegou no ápice do conceito de "super" foi o Traveling Wilburys, que continha 5 músicos que dispensam apresentação: Roy Orbison, Bob Dylan, George Harrison, Jeff Lynne e Tom Petty.

Apesar do grande interesse da mídia e do público por essas bandas, todas elas já se dissolveram. Na verdade, o Bad Company e o Journey até estão na ativa, mas apresentando um trabalho muito longe da capacidade real de seus integrantes. O fato de muitas das bandas terem acabado ocorre porque, para muitos músicos, esses grupos não são exatamente uma "banda", mas sim projetos paralelos.

Mas chega de olhar para o passado, eis aqui alguns grupos que estão em pleno exercício.

Them Crooked Vultures
Junte dois dos maiores nomes do rock nos últimos 20 anos com um lendário baixista de uma das maiores bandas de todos os tempos. Isso é o Them Crooked Vultures. Formado por Dave Grohl (ex-Nirvana, atual Foo Fighters), Josh Homme (ex-Kyuss, atual Queens Of The Stone Age) e John Paul Jones (eterno baixista do Led Zeppelin), a banda é um típico power trio, com som pesado e moderno. No seu primeiro e único disco, apresentam canções bem trabalhadas, executadas primorosamente e com produção bastante interessante. Audição extremamente recomendável.

Chickenfoot
Pense em 4 músicos experientes querendo brincar de ter o seu próprio Led Zeppelin. É isso que parece o Chickenfoot. A banda é formada Sammy Hagar e Michael Antony (os dois ex-Van Halen), Chad Smith (Red Hot Chili Peppers) e o talentosíssimo "guitar hero" Joe Satriani. O som é do grupo é o mais puro rock n' roll, gravado ao vivo por quatro músicos experientes, mas com energia de adolescentes. É divertido.

Black Country Communion
Banda formada por músicos de diferentes gerações e estilos. A banda contém o lendário Glenn Hughes (ex-Trapeze, ex-Deep Purple, ex-Black Sabbath), Jason Bonham (filho do John Bonham e substituto do pai na reunião do Led Zeppelin), Derek Sherinian (ex-Dream Theater, ex-Malmsteen, ex-Alice Cooper e eterno Planet X) e Joe Bonamassa (um dos mais competentes guitarristas da nova geração, aclamado pelo seu ótimo trabalho solo de blues-rock). O grupo faz hard rock setentista que, em determinados momentos, presenta certo apelo pop. Honestamente acho "meia bomba".

É isso, deixem nos comentários os supergrupos prediletos de vocês.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

A boa fase que pouca gente lembra

Grandes artistas possuem discos de sucesso, turnês grandiosas e público fiel, mas isso nem sempre dura a carreira inteira de um grupo. Muitas vezes, o melhor trabalho de uma banda, não é o que rendeu melhores frutos comercialmente.

Fases artisticamente fantásticas passaram ignoradas pela mídia e pelo grande público. É sobre isso que vou falar neste post, momentos bons de algumas bandas, mas que pouca gente conhece/lembra.

Journey pré-Steve Perry (de 1975 à 1977)
No ano de 1981, o Journey era uma das bandas mais conhecidas do mundo. Steve Perry trouxe vocais melódicos para a banda e fez deles um dos maiores nomes do chamado AOR. O disco Escape vendeu milhões de cópias e, ainda hoje, o hit "Don't Stop Believin'" continua rendendo shows e dinheiro ao grupo. Mas em 1981, a banda já era uma veterana dos palcos, com músicos experientes. O guitarrista Neal Schon, por exemplo, já havia passado até mesmo pela banda do Santana. Os dois primeiros trabalhos do Journey passam longe do AOR do Steve Perry, sendo mais calcado no rock progressivo. Escute a ótima "I'm Gonna Leave You" de 1976 e comprove isso.

O Mk IV do Deep Purple (1975-1976)
Que o Deep Purple é um dos maiores nomes do rock mundial todo mundo sabe. Que a banda mudou varias vezes de formação também não é segredo. O problema é que pelo grupo passaram tantos músicos talentosos que, inevitavelmente, algum ficaria marcado negativamente na história do grupo. De todas as formações, a MK IV - cada formação corresponde a um diferente "MK" - é a mais subestimada. Com Gillan, Glover e Blackmore fora da banda, a mídia - e o público - não deram tanta bola para a nova formação. Para piorar, Hughes estava afundado no álcool e na heroína. A banda abandonava cada vez mais o hard rock e mergulhava de vez em um som com mais groove, com influência de funk e soul. Alias, essa mudança foi fator determinante para Blackmore abandonar o Deep Purple. Para o lugar dele, a banda recrutou o ex-James Gang e ex-Billy Cobham, o "porralouca" Tommy Bolin, músico extremamente respeitado, inclusive por nomes como Jeff Beck. Com a formação Coverdale, Hughes, Lord, Paice e Bolin, a banda gravou o disco Come Taste The Band. De nome bastante sugestivo, o Deep Purple chegou no ápice da mistura "hard rock + funk" proposta por bandas como Grand Funk Railroad. Infelizmente, o disco não foi muito bem aceito e os shows da banda eram lamentáveis, tendo em vista que os problemas com drogas do Hughes e Bolin, o que acabou rendendo o fim do grupo e a morte prematura do guitarrista. A única coisa que sobrou desta época foi o registro da banda em estúdio, que por sinal, é de audição obrigatória para todos que gostam de rock n' roll setentista.

Titãs no Titanomaquia (1993)
Os Titãs é sem duvida uma das maiores bandas do rock brasileiro que surgiu daquela safra oitentista. Entretanto, assim como outras bandas da época - Ira! e Barão Vermelho, por exemplo -, eles deram uma sumida da mídia no começo dos anos 90, apesar de manterem os shows extremamente lotados. Se o disco Tudo Ao Mesmo Tempo Agora foi alvo de severas criticas da imprensa musical, o álbum Titanomaquia passou praticamente despercebido. Um erro enorme! O disco apresenta um peso excepcional, riffs brilhantes e produção impecável, serviço alias oferecido pelo Jack Endino, produtor do Bleach do Nirvana. Tem quem ache caricato. Eu acho foda!

Escutem a fase dessas bandas com atenção e coloquem nos comentários bons momentos de alguns grupos que nunca são lembrados!

domingo, 1 de maio de 2011

Top 5: Guitarristas base do rock

Sejamos francos, quando pensamos em guitarristas, nossa imaginação nos leva direto a um sujeito tocando solos frenéticos, no maior estilo Angus Young. Mas existe um outro tipo de guitarrista, normalmente ofuscado, que fica no fundo do palco, conduzindo harmonicamente e ritmicamente uma canção. Esse músico é o que chamamos de guitarrista base.

Existem inúmeros guitarristas de rock que fazem essa função com maestria, vide Paul Stanley (Kiss), Rudolf Schenker (Scorpions) e Brad Whitford (Aerosmith). Tem também aqueles que executam grooves tão intensos quanto solos, sendo o Jimi Hendrix o maior exemplo disso. E a coisa fica mais complicada quando partimos para outros estilos, como o funk, que contém guitarristas especialistas em tocar ritmos frenéticos, vide o excepcional Nile Rodgers (Chic).

Vou coloca aqui 5 exemplos de músicos que estão acima de qualquer suspeita quando o assunto é guitarra base NO ROCK. Vamos a eles!

1 - Malcolm Young (AC/DC)
Da mesma forma que o Angus Young é um símbolo de guitarrista solo, Malcolm é o exemplo de guitarrista base. O irmão Young mais velho tem como característica seu ritmo constante e tão potente quando a postura de Angus no palco. Seu talento para compor beira o absurdo e o respeito que ele tem dentro da banda é tão grande que, quando perguntaram para Angus o que ele achava de ser considerado um dos melhores guitarristas do rock, ele foi certeiro na resposta: "Mas eu não sou nem o melhor guitarrista do AC/DC!".

2 - Johnny Ramone (Ramones)
Inúmeras bandas já regravam Ramones e infinitos "projetos de banda" já tocaram uma vez nada vida uma música do quarteto nova-iorquino em alguma garagem. Mas ninguém soou tão bem quanto o Johnny Ramone. Pode colocar 3 guitarristas no palco, a somatória do som não chegara perto do petardo de mão direita do ícone da guitarra punk. Três acordes, palhetadas para baixo, guitarra Mosrites e amplificadores no talo. Ingredientes simples, mas que funcionam muito bem nas mãos de Johnny.

3 - James Heltfield (Metallica)
Quando o assunto é guitarra base no metal não tem conversa, James esmaga todos. A força dos riffs, a precisão na execução e timbres destruidores, uma junção de fatores que impressionaram o mundo da música logo nos primeiros anos de Metallica. Os violões iniciais de "Battery" servem de aperitivo para o estrondoso riff que vem logo em seguida. O heavy metal nunca mais foi o mesmo desde então!

4 - Pete Towshend (The Who)
Peso na mão direita é fundamental para ser um bom guitarrista base, mas algo especial pode acontecer se aliarmos isso a inteligentes abordagens harmônica. Pete fez isso! Não deixando de explorar sua pegada sônica, aliou essa força bruta com a sofisticação de acordes, que preenchiam as canções de maneira impactante, ainda mais para uma banda que só tinha um guitarrista. Grande compositor e excelente instrumentista.

5 - Keith Richards (Rolling Stones)
Muito provavelmente o grande responsável pelo surgimento do termo "guitarrista base". Isso porque Keith sabe como poucos fazer um simples groove virar um riff poderoso. Quer um exemplo?