sábado, 27 de agosto de 2011

TEM QUE OUVIR: Stevie Ray Vaughan and Double Trouble - Texas Flood (1983)

O blues pode ser considerado a gênese da música popular americana. Suas raízes está no canto dos escravos do final do século XIX, justamente nas plantações de algodão do Delta. Tendo isso em mente, apontar o Texas Flood (1983) do Stevie Ray Vaughan como um clássico do gênero pode parecer um absurdo, mas não é.


Acontece que o sucesso comercial do álbum de estreia do SRV foi tão grande que revigorou o estilo. Até mesmo o veterano B.B. King chegou a ressaltar que só foi realmente ganhar dinheiro após o surgimento do guitarrista texano. 

Por influência do irmão Jimmie Vaughan, Stevie despontou na cena local do Texas, mas logo estava se consagrando mundialmente ao lado do David Bowie no disco Let's Dance (1983). Misturando o blues de Albert King com o rock vigoroso de Jimi Hendrix, o guitarrista texano abriu as portas para surgimentos de novos guitarristas de blues, vide o Robert Cray, desencadeando até hoje em caras como John Mayer.

A primeira faixa do Texas Flood é "Love Struck Baby", um rockabilly esperto, vitaminado pela cozinha formada por Chris Layton (bateria) e Tommy Shannon (baixo), que juntos de SRV formaram um dos maiores power trios de todos os tempos.

O timbre quente da Fender Stratocaster fala alto no shuffle da clássica "Pride And Joy" e na rockeira "I'm Crying", músicas que deixam evidentes a influência do também texano Johnny Winter. Já em "Mary Had A Little Lamb", SRV usou o famoso conto infantil para prestar sua homenagem ao ídolo Buddy Guy.

A música "Texas Flood" é umas das mais famosas canções do artistas. Ela expõem o talento do guitarrista como improvisador e evidencia sua expressiva voz. A paulada continua na animada "Tell Me", na ritmicamente maluca "Testify" e na velocidade esquizofrênica de "Rude Mood", onde as qualidades técnicas e interpretativas de SRV chegam ao absurdo.

"Dirty Pool" é um canção triste dona de guitarra base impressionante. A intuição harmônica extrapola os limites do blues na bela "Lenny", música essa que Steve Vai certamente implementou ao seu vocabulário bluseiro. E assim acaba um dos mais brilhantes discos já feito por um guitarrista, onde a guitarra está a serviço exclusivamente da música.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Hélio Delmiro


Um dos maiores guitarristas de todos os tempos está precisando de ajuda. O carioca Hélio Delmiro está hospitalizado em Juiz de Fora e, como todos sabem, assim como não é fácil viver de música, as despesas com hospitais não são baratas.

Uma corrente foi criada para ajudar o músico, assim como uma conta bancária, visando arrecadar um fundo para que ele possa passar pelo procedimento cirúrgico.

Mais informações sobre a saúde do Hélio clicando aqui.

Se você não conhece esse mestre da guitarra brasileira, indico a você que assista os vídeos abaixo e se emocione com harmonias preciosas. Vale lembrar também que, em 1998, a revista Guitar Player fez uma votação entre os músicos para escolher o maior guitarrista do Brasil. Adivinhe quem ficou em primeiro lugar: Hélio Delmiro.

Sem mais conversa, vamos aos vídeos. E não se esqueça de contribuir (não importa a quantia) para a recuperação do guitarrista.

- Um dos maiores trabalhos de Hélio foi acompanhando a saudosa Elis Regina, com o qual gravou um dos melhores discos ao vivo da música brasileira, o Ao Vivo em Montreux (1979). Participa também deste disco o grande arranjador/pianista César Camargo Mariano, músico com o qual Hélio também fez outros trabalhos importantes, vide o cultuado Samambaia (1981).

- Hélio Delmiro se destacou também acompanhando Milton Nascimento, sendo que com ele gravou célebre solo de "Caçador de Mim". Outro grande momento está no solo inacreditável de "Para Lennon & McCartney" que contém frases complexas tocadas em alta velocidade e sem palheta. Isso sem falar de seus bends tão característicos.

- Ao trabalhar com artistas como Elis, Milton, Tom Jobim, Clara Nunes, dentre outros, Hélio logo chamou atenção de músicos internacionais, dentre eles o guitarrista Joe Pass. A cantora Sarah Vaughan foi outra que trabalhou com Hélio. Ouça essa linda gravação para "Dindi".

- Hélio também desenvolveu um trabalho solo instrumental que tornou-se referência no Brasil, influenciando músicos como Toninho Horta, Lanny Gordin, Nelson Faria, dentre outros. Um dos mais famosos discos desta fase é o ótimo Emotiva (1980).

- Um dos trabalhos recentes de Hélio foi com o músico Roberto Sion, onde percebemos que o guitarrista não perdeu o talento de criar ótimas harmonias.

Agora que você conhece um pouco melhor o trabalho de Hélio Delmiro, se possível ajude ao músico em sua recuperação para que ele possa voltar a desenvolver seu excelente trabalho.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Americanizando o som

O rock americano mainstream tem uma sonoridade bastante particular. Dentre as características estão arranjos exagerados, produção polida e timbres que se modulam de acordo com cada época. Muitas bandas, em busca de fama e grana, mudaram drasticamente o conceito sonoro para adentrar este mercado. Vou citar neste post alguns grupos que fizeram isso, mas sem perder completamente a qualidade musical, ainda que todos eles tenham trabalhos melhores dentro de suas respectivas carreiras. Vamos a eles!

Deep Purple
A sonoridade pesada e crua dos primeiros discos do Deep Purple (In Rock, por exemplo) deu lugar a uma produção ultra polida na década de 1980. Músicas milimetricamente arranjadas roubaram a espontaneidade dos solos de guitarras e das viradas de bateria. Ainda assim, discos como Perfect Strangers são bem vistos pelos fãs (nem tanto por mim).

Yes
Em 1983 o rock progressivo já tinha sido jogado para escanteio. Foi aí que muitos grupos deram uma guinada mais comercial para suas carreiras, com o intuito de não cair no precipício. O Yes foi o grupo que melhor se saiu neste quesito (King Crimson não conta). Ao menos artisticamente, visto que o Genesis alcançou um público ainda maior. As guitarras do Trevor Rabin casaram perfeitamente com as produções sintetizadas do Trevor Horn no disco 90125.

Def Leppard
Se o disco On Through The Night apresentava uma sonoridade completamente calcada na NWOBHM, movimento no qual o Def Leppard foi um dos oriundos, Pyromania já apontava para o hard rock americano. Possivelmente o grupo que melhor se adaptou ao mercado dos EUA, lançando hits como "Rock Rock (Till You Drop)".

Saxon
O Saxon foi outra banda oriunda da NWOBHM que adentrou ao mercado americano no ótimo disco Crusader. Além do sucesso comercial, o valor artístico é gritante, contendo músicas bastantes encorpadas que se tornaram hinos da segunda geração do metal britânico.

Scorpions
Essa grande banda alemã lançou ótimos discos nos anos 70, movidos pela veia hendrixiana e clássica do excepcional guitarrista Uli Jon Roth. Com a saída de Uli e a entrada de Matthias Jabs, a banda se direcional completamente para a sonoridade americana, chegando ao auge com o bom disco Blackout.

Whitesnake
Nos primeiros discos, o Whitesnake ainda apresentavam ainda uma certa crueza hard rock que o Covardale trouxe dos tempos de Deep Purple. Chegava a lembrar o Bad Company. Com o passar dos anos a banda foi ficando cada vez mais "americanizada" e explodiu comercialmente no álbum Whitesnake (comumente chamado de "1987"), que intercala hard rock com baladas pavorosas. Vale lembrar que John Sykes fazia parte dessa formação. Além de ótimo guitarrista, ele foi também escolhido por ser um tremendo boa pinta. O mercado abraçou a ideia.

sábado, 20 de agosto de 2011

TEM QUE OUVIR: Titãs - Cabeça Dinossauro (1986)

Quando o assunto é a discografia dos Titãs, o celebrado/clássico Cabeça Dinossauro, terceiro álbum lançado pela banda, salta aos ouvidos. O disco é um marco no rock nacional por apresentar músicas igualmente "agressivas" e acessíveis ao grande público. Muito desse resultado se deve ao produtor Liminha, que conseguiu levar para o estúdio o peso sonoro dos Titãs que até então se restringia aos palcos. Todavia, a interação da banda com produtor não era das melhores, fato que explica a sonoridade sem floreios do disco.

O primeiro destaque do álbum é sua impactante capa, retirada de um dos estudos do Leonardo da Vinci chamado A Expressão De Um Homem Urrando.


"Cabeça Dinossauro" abre o disco em tom épico. A canção, para os padrões comerciais, é bastante experimental, repleta de percussão tribal, sintetizadores, letra minimalista - uma das tantas características do Arnaldo Antunes - e guitarras pesadas.

Um dos grandes sucessos dos Titãs vem logo na sequência, me refiro a carismática "AA UU", que além de letra sucinta (quase infantil), contém o melhor solo já registrado pelo Tony Belloto. Entre outros grandes hits presentes no disco estão a singela "Família", a contagiante "Homem Primata" e a intensa "Bichos Escrotos", que além de conter um arranjo de guitarras primoroso, chegou a ser censurada devido um inocente "vão se foder!" presente na letra.

Alias, letras polêmicas não faltam no disco, vide as raivosas "Igreja" e "Policia", ambas fazendo criticas as duas instituições, sendo que a segunda tem um motivo direto, já que Tony Belloto e Arnaldo Antunes foram presos meses antes da gravação do disco acusados respectivamente por porte e tráfico de heroína. Esse fato rompeu com a imagem de "bom moços" que a banda carregava até então.

Apesar da forte influência do punk rock (inclusive vinda de grupos nacionais como Inocentes, Mercenárias e Patife Band), experimentações eletrônicas com traços de poesia concreta e hip hop ("O Quê"), flerte com a new wave ("Estado Violência") e reggae ("Dívidas") também fazem parte do álbum. Todavia, é mesmo a predominante violência do disco muito bem representada na curtíssima e quase hardcore "A Face do Destruídos" e na espetacular "Porrada" que definiram a essência da banda.

Cabeça Dinossauro abriu muitas portas para os Titãs, mas nenhuma delas foi maior que o próprio disco. Clássico absoluto do rock nacional oitentista.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Músicas fantasticamente horrendas

Sabe aquelas composições de mal gosto, de gravação apodrecida e lirismo repugnante? Pois então, é deste tipo de música que venho falar hoje. As letras destas músicas são absurdamente desprezíveis, mas assim como o que ocorre no cinema com Nascimento de Uma Nação, onde a glorificação do absurdo soa patético, tais composições não interferem negativamente na obra, muito pelo contrário, dão um significado ora tosco, ora cômico, ora angustiante.

Cannibal Corpse
O grau de sanguinolência e podridão na música do Cannibal Corpse é absurdo. As narrativas cercadas de estupros e mutilações não soam agradáveis, mas quando se conhece os personagens da banda, as músicas acabam mais engraçadas que aterrorizantes. É a destruição humana não levada a sério. Para completar a desgraça, o instrumental massacra o ouvinte com riffs nocauteantes. Destaque para as linhas de baixo do Alex Webster. Fora as capas dos discos são verdadeiras obras de arte contra a moral cristã. É ver/ouvir para crer.

Black Metal Norueguês 90's
Considero todas as bandas de black metal norueguês que surgiram no começo da década de 1990 de qualidade duvidosa. Todavia, quem disse que precisa ser "bom" para ser legal? As histórias que rodeiam os personagens Dead, Euronymous e Varg Vikernes são tão desprezíveis quanto encantadoras, sendo que a sonoridade das bandas Mayhem e Burzum refletem isso. Gravações horríveis, timbres pavorosos e composições questionáveis, um perfeito relato de uma época obscura na história da Noruega.

Rogério Skylab
Um dos mais celebres convidados do Programa do Jô tem um trabalho visto com ironia e nenhuma seriedade devido suas letras envolvendo humor negro e escatologia. Mas a verdade é que o instrumental de sua banda é bastante coeso e suas letras provocativas são capazes de manter o ouvinte atento, feito que merece destaque em tempos de "140 caracteres".

Titãs - Isso Para Mim é Perfume
Para fechar o post, uma das músicas mais escrotas que já ouvi. Neste raro exemplo, Nando Reis faz o oposto de tudo aquilo que marcou sua carreira, ou seja, músicas com influência brasileira e letras tão arrojadas quanto acessíveis. Aqui a escatologia é explicita. No mínimo curioso.

domingo, 14 de agosto de 2011

Filho de peixe...

Neste segundo domingo de agosto, comemoramos o Dia dos Pais. Com o intuito de trazer está data para o caminho da música, decidi fazer um post com artistas que receberam hereditariamente o talento musical. O dom deles não necessariamente se iguala ao dos pais, mas ainda sim apresenta relevância musical. Sem mais conversa fiada, vamos ao que interessa!

Na música erudita, são muitos os casos de compositores filhos de grandes professores de música, como Amadeus Mozart, que era filho de Leopold Mozart. Mas a ninhada da família Bach é a mais impressionante. A árvore genealógica com dotes musicais começa com o educador e violinista Ambrosius Bach. Seu filho foi o gênio da música barroca Johann Sebastian Bach, sendo que este teve várias crias, dentre eles Carl Philipp Emanuel Bach, que apesar de hoje não ser tão lembrado, na época foi tido como um dos mais brilhantes compositores do seu tempo, chegando a ter mais prestigio que seu pai.

Nancy Sinatra, como muito deixou explicita no nome, é filha do grande Frank Sinatra, um dos melhores e mais populares cantores de todos os tempos. Além de ser atriz, ela encantou o mundo com sua beleza e incrível voz. Uma de suas mais emblemáticas interpretações está na trilha do Kill Bill e se chama "Bang Bang". Ouça e relembre.

Pouca gente sabe, mas Norah Jones é filha do famoso músico indiano, Ravi Shankar. Como ela nasceu e cresceu com sua mãe nos EUA, a influência da música indiana não está diretamente presente no seu som, que é muito mais influenciado pelo jazz e pop.

Além da gigantesca herança musical deixada para a humanidade, Frank Zappa ajudou a lapidar em um de seus filhos o talento de guitarrista. Dweezil Zappa desde muito jovem teve a carreira elogiada, mas o seu trabalho que recebeu melhores criticas foi o tributo ao próprio pai nomeado Zappa Plays Zappa.

Jeff Buckley é um dos poucos casos em que o filho supera a popularidade do pai, que no caso é o talentoso Tim Buckley. Como coincidência, os dois foram ótimos no que se propuseram a fazer, além da triste morte prematura de ambos. 

Na música brasileira, temos diversos casos de filhos pouco (ou nada) talentosos de grande (e alguns pequenos) astros (vide Fiuk, Wanessa Camargo, Sandy & Junior, Max de Castro, Simoninha, Jairzinho, dentre outros). Mas é na MPB que também se encontra um dos mais talentosos guitarrista da Vanguarda Paulista, falo do ótimo Luiz Chagas, que pertenceu a Isca de Policia, banda notória por ter acompanhado Itamar Assumpção. Hoje, ele toca na banda de sua filha, Tulipa Ruiz, que é um dos grandes nomes da nova música brasileira.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

TEM QUE OUVIR: Rush - Moving Pictures (1981)

Em 1981 o Rush já era uma banda experiente. Com sete discos de estúdio e uma lista de shows ao lado de grandes nomes do rock (KISS, Uriah Heep, Ted Nugent, dentre outros), o grupo já havia conquistado seu público, embora a critica insistisse em detrata-los. Foi então que a banda lançou o clássico Moving Pictures, deixando as longas canções um pouco de lado, soando mais uniforme e transitando por outros estilos, sendo um dos poucos álbuns de rock progressivo que conseguiu flertar com a new wave sem soar pasteurizado e oportunista.


O disco começa com "Tom Sawyer", possivelmente a mais famosa música do grupo. Aqui fica evidente a importância dos teclados na sonoridade da banda neste período. Geddy Lee se desdobra ao tocar diversos sintetizadores, dentre eles Minimoog, Moog Taurus e Oberheim. O poderoso riff de Alex Lifeson e as inacreditáveis viradas de Neil Peart comprovam que virtuosismo pode ser radiofônico.

O timbre de guitarra carregado de chorus, os harmônicos bem aplicados na introdução e o peculiar solo do Alex Lifeson em "Red Barchetta", revelam um dos guitarristas mais subestimados do rock.

"YYZ" é a prova definitiva que música instrumental pode ser cativante quando se tem ótimo riff, boas melodias e solos intensos. A cozinha formada por Geddy e Neil massacra a audição do ouvinte com passagens inacreditáveis num groove potente. Um fato curioso é que o ritmo da introdução representa o nome da música em código morse.

"Limelight" é a faixa mais tranquila em termos de virtuosismo, mas nem por isso deixa de ser cativante. O excelente riff de introdução é o prefácio de uma canção pegajosa e de ótimo refrão, além de conter um dos melhores solos do Alex Lifeson. Sua letra retrata a distância do grupo com relação as superficialidades do mundo da fama. 

Como em todo bom disco de rock progressivo existe ao menos uma faixa longa, "The Camera Eye" vem para saciar essa sede por passagens épicas. Os timbres dos sintetizadores são maravilhosos, assim como as frases do baixo. Umas das melhores atuações de Geddy Lee.

A obscura "Witch Hunt" tem exuberante performance do Neil Peart, em alguns momentos mais tribais, em outros extremamente modernos. 

O disco termina com a influência nítida de Police na espetacular "Vital Signs", um "reggae" futurista e peculiar.

Tive o prazer de assistir esse disco sendo tocado na integra pelo Rush na última passagem da banda pelo Brasil, fato que só ajudou a acentuar em mim a excelência do trabalho. Uma obra-prima que resultou num disco de platina quadruplo. Nada mal para três geeks. 

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Os reis do blues

Lembro que logo que comecei a me interessar por guitarra (lá pelos meus 12 anos), sofri uma enorme confusão entre três artistas de blues, negros, veteranos e com "King" no nome. Era difícil para mim assimilar quem era quem. Passado algum tempo, fui pesquisar calmamente a carreira de cada um. Notei diferenças bruscas no estilo deles que vou destacar agora. Com vocês: B.B., Freddie e Albert, três reis do blues.


B.B. King
B.B. King é certamente o mais famoso dos três. Além de ser o único vivo, B.B. King chama atenção pela sua vitalidade, fazendo até hoje grandes apresentações pelo mundo todo. Sua voz, nunca executada simultaneamente com a guitarra, é uma verdadeira preciosidade divina, de interpretação forte e intensidade absoluta. Já o timbre gordo de sua Gibson Lucille é explorado com poucas notas e vibratos gigantescos, que definiram o seu estilo de tocar. Muitos dizem que a "há mais de 40 anos ele faz o mesmo disco", eu devolvo dizendo que "há mais de 40 anos ele faz o MELHOR disco de blues".

Freddie King
O gigante da guitarra Freddie King deve muito da sua fama ao "Deus" Eric Clapton. O guitarristas inglês inseriu no seu estilo (no começo da carreira) as qualidade de Freddie, que incluem solos viscerais, com pegada intensa e bends afiados. É bastante interessante notar a maneira em que ele empunhava a guitarra, não passando a correia por todo o corpo, deixando o instrumento "de lado". 

Albert King 
Albert King foi um dos mais influentes músicos de blues de todos os tempos. Dentre os guitarristas que ele influenciou está Hendrix e Stevie Ray Vaughan, ou seja, todas aquelas frases que mais parecem o falar de uma guitarra, ora triste, ora risonha, pertencem a este fantástico guitarrista. O canhoto músico usava uma Gibson Flying V, instrumento esse inusitado para o blues, mas que acabou conquistando também o Jimi Hendrix.

domingo, 7 de agosto de 2011

Hardão

Hoje, neste domingão ensolarado, acordei um tanto quanto agitado. Foi propício então sobrecarregar minha audição com o que representa para mim a sonoridade genuína do rock n' roll. Me refiro aquelas bandas setentistas influenciadas por blues, rock psicodélico e que, encantadas com o peso do Blue Cheer, criaram um gênero volumoso, incisivo, simples e poderoso, comumente chamado de "hardão".

Citarei algumas bandas que representam essa sonoridade com categoria, executando canções tão fuleiras (no melhor sentido da palavra) quanto sensacionais. É o tipo de som para ouvir em volume digno de multa.

Buffalo
Este quarteto australiano é considerado por muitos um dos precursores do heavy metal. O grupo contém uma energia atômica e apresenta até mesmo certo virtuosismo. Escute o álbum Volcanic Rock (1973) e entenda definitivamente o que é o hardão.

Budgie
O Budgie é uma espetacular banda que surgiu com a missão de colocar o País de Gales no submundo do hard rock. O grupo apresenta um peso intenso, mas perfeitamente encaixado em arranjos bem estruturados. Discos como Budgie (1971) e Squawk (1972) são clássicos do segundo escalão do hard rock.

Grand Funk Railroad
Este fantástico power trio americano liderado pelo Mark Farner lançou aquele que, pra mim, é o melhor disco de hardão já produzido. Falo do fantástico Red Album (1970). A banda foi massacrada pela imprensa musical na época, mas hoje a sonoridade crua do baterista Don Brewer e o baixo gorduroso de Don Lester representam o sonho timbristico de qualquer banda de stoner rock.
 

Cactus
Contendo em sua formação o Tim Bogert (baixo) e Carmine Appice (bateria), que anos antes já haviam feito estrago no Vanilla Fudge, o Cactus é o perfeito representante do heavy-blues americano. Lembro de gostar muito do One Way... or Another (1971).

Mountain
Banda espetacular que trazia na formação o guitarrista Leslie West e o baixista/produtor Felix Pappalardi. Ambos intercalam as vozes, sendo o primeiro dono de um timbre rasgado e o segundo muito mais melódico. Tremenda e influente banda. Climbing! (1970) é discografia básica do rock.

West, Bruce & Laing
Falando no Mountain, vale ainda lembrar do West, Bruce & Laing, um daqueles supergrupos setentistas que durou pouco, mas o suficiente para fazer história. Leslie West e Corky Laing (ambos do Mountain) somam forças com o lendário Jack Bruce. A combinação é explosiva.

Dust
Essa banda americana chegou ao conhecimento de muitos por ter em sua formação o baterista Marc Bell, que anos depois entrou para os Ramones como Marky Ramone. O baixista Kenny Aaronson fez parte de outras diversas bandas, dentre elas Blue Oyster Cult, Foghat e acompanhando a Joan Jett. Mas a sonoridade avassaladora do Dust merece ser ouvida não somente pelos músicos que fizeram parte da banda, mas sim pelas composições e execução precisa do grupo.

Captain Beyond
Atenção para essa escalação: Rod Evans (es-Deep Purple), Bobby Caldwell (ex-Johnny Winter), Larry Reinhardt e Lee Dorman (ambos ex-Iron Butterfly). Resultado: um dos melhores discos de estreia do rock.

Sir Lord Baltimore
Kingdom Come (1970) é disparado um dos discos mais pesados da época em que foi lançado. Power trio americano de execução transpirante. Acho um espetáculo!

Lucifer's Friend
Banda alemã espetacular que tinha na liderança o John Lawton. A estreia deles é uma paulada contagiante de heavy-rock. Há alguns elementos de rock progressivo.

Aeroblus
Como prova de que os latinos também sabe fazer hardão, deixo aqui um dos melhores grupos argentinos, o Aeroblus. Formado pelo genial guitarrista Pappo e pelo grande baterista Rolando Castello Junior (sim, aquele mesmo do Made In Brazil e Patrulha do Espaço), o Aeroblus produzia um som acachapante, simples e direto. Escute o petardo "Vamos A Buscar La Luz" e comprove.

Bateristas pedreiros, guitarristas geniais na arte de compor riffs e baixos com timbres tão pesados quanto uma parede de concreto. É o rock n' roll no seu estado mais puro. Boa audição!

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

TEM QUE OUVIR: Metallica - Master Of Puppets (1986)

O Metallica é sem dúvida o mais famoso grupo do big four, ou seja, a maior dentre as quatro grandes bandas do thrash metal americano (Slayer, Megadeth e Anthrax completam a lista). Somando a urgência punk com as passagens melódicas tipicas da NWOBHM, o Metallica popularizou a sonoridade da Bay Area logo no seu primeiro disco, Kill 'Em All (1983). Mas foi somente no terceiro trabalho que o grupo encontrou a perfeição do estilo. Falo obviamente do clássico Master Of Puppets (1986).


O álbum começa com a espetacular "Battery", que após uma introdução recheada de violões e guitarras harmonizadas, é interrompida bruscamente por um riff tão agressivo quanto um chute na cara. James Hetfield fez escola com essa música, sendo as guitarras da composição o retrato do que hoje é conhecido como metal, independente de suas subvertentes.

A tendência após um começo tão matador seria a banda tirar o pé do acelerador, fato que não acontece. "Master Of Puppets" chega empunhando um dos mais famosos riffs de todos os tempos. Todavia, é o épico solo ultra melódico da canção que levou a brutalidade do thrash metal para um território pouco explorado pelo estilo. Peso e sensibilidade unidos num clássico.

"The Thing That Should Not Be" é mais lenta que as demais faixas, mas a quantidade de riffs pesados é tão absurda que a "lentidão" não interfere na brutalidade do arranjo. Destaque para o solo esquizofrênico de Kirk Hammett, carregado do seu famigerado wah-wah.

Se eu tivesse que apontar uma balada dentro deste oceano de porradaria, certamente seria "Welcome Home (Sanitarium)", uma bela composição preenchida com as típicas viradas sincopadas de Lars Ulrich.

"Disposable Heroes" leva o disco novamente para o território thrash, expondo riffs com palhetadas assustadoras, bateria arrasadora e um dos refrões mais pegajosos do estilo. Um adendo importante é que o peso do Metallica não é exclusivo do intenso instrumental. Letras como a de "Leper Messiah" ajudam a deixar a agressividade da banda ainda mais explicita.

O disco segue com "Orion", faixa instrumental que evidencia o talento do lendário baixista Cliff Burton. Além de seu apurado nível técnico e timbre peculiar, o que mais chama atenção é o seu ótimo senso melódico.

Pra fechar o trabalho temos a tenebrosamente brutal "Damage, Inc", faixa que além de ter como referência "Come, Sweet Death" do Bach, deixa explicita velocidade e o peso do Metallica, características que deram prestigio ao grupo na década de 1980, mas que se perdeu nos anos seguintes.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

TEM QUE OUVIR: Secos & Molhados - Secos & Molhados (1973)

Vou direito ao ponto: eis aqui um dos maiores patrimônios da cultura popular brasileira. O disco de estreia do Secos & Molhados, lançado em 1973.


Antes de tudo é preciso contextualizar o período em que a obra foi lançada. O Brasil vivia no auge da censura, arma essa de uma ditadura truculenta. Sendo assim, um álbum que trazia na capa homens fortemente maquiados já era subversivo o suficiente para chamar a atenção. Mas nada adiantaria a emblemática capa - e a forte divulgação da Rede Globo, que os colocou logo na primeira edição do Fantástico - se as músicas não tivessem qualidade e apelo popular. E tinham/tem.

O sucesso foi tão grande que surpreendeu até mesmo a gravadora Continental, que não estava preparada pra demanda de mais de 1 milhão de cópias, recorde no Brasil, até mesmo para os padrões do Roberto Carlos. Esse número é explicado também graças ao chamado Milagre Econômico, que permitiu que mais casas tivessem acesso a toca-discos e rejuvenesceu os ouvintes de música pop.

A primeira canção do álbum é "Sangue Latino", dona de uma simples e potente linha de baixo. A influência de música regional se revela no fraseado nordestino da viola caipira. Não podemos também ignorar a forte letra cantada com a voz soprana/convicta/sensual/"feminina" de Ney Matogrosso, servindo de combustível para uma geração contestadora.

O grande hit da banda aparece logo na sequência. A lúdica "O Vira" tem mais uma vez o baixo do argentino Willy Verdaguer em destaque, assim como a estridente guitarra do John Flavin. A influência da dança portuguesa que dá nome a música aparece na inclusão do acordeon no arranjo.

Em "O Patrão Nosso de Cada Dia" fica clara a genialidade do compositor João Ricardo ao elaborar estupenda letra, mais uma vez interpretada magistralmente por Ney Matogrosso. Destaque para a linda melodia de flauta.

Em "Amor", Willy Verdaguer demonstra inspiração ao elaborar umas das mais emblemáticas linhas de baixo da música brasileira. Já na épica "Primavera Nos Dentes" o destaque é mesmo o conjunto. Em sua longa introdução, as influências de Pink Floyd e do blues inglês ficam bastante evidentes. O grupo esbanja competência nos vocais harmonizados, que servem de meio para uma letra contra o regime militar. 

"Assim Assado" traz uma mistura inacreditável de influências e instrumentação, mas é a guitarra carregada de fuzz que fala mais alto. Já "Mulher Barriguda" é um rock maravilhosamente simples, mas com uma letra que retrata o temor da população no ambiente de ditadura. Sei que vou cair na mesmice, mas mais uma vez Willy Verdaguer é o grande destaque, colocando seu baixo para solar sem atropelar os outros instrumentos, dentre eles um insano piano e uma gaita ultra melódica.

O disco também apresenta duas canções curtinhas. Uma delas é a poética "El Rey", musicada pelo talentoso (e subestimado) Gerson Conrad. A outra é a melódica e tensa "As Andorinhas".

"Rosa de Hiroshima" (Vinícius de Moraes) é sem dúvida umas das mais belas incursões da poesia na música. O violão de João Ricardo é uma aula de delicadeza, assim como a interpretação emocionante de Ney Matogrosso. Na sequência temos "Prece Cósmica", um rock de leveza incrível, coberto por uma guitarra falante. 

A obra termina com "Fala", mais uma das peças brilhantes de João Ricardo, carregada por uma linda orquestração. A bateria de Marcelo Frias cheia de viradas inteligentes também merece destaque, assim como o frenético sintetizador - raro na época - tocado pelo genial Zé Rodrix.

Esta surpreendente obra ainda hoje soa espetacular. O melhor disco do pop brasileiro.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

TOP 5: Os grandes feitos da MTV americana

A MTV americana é um dos maiores veículos jovem da televisão mundial. É também a matriz de outras emissoras que se espalharam pelo mundo. Ela é diretamente responsável pela popularidade de diversos estilos musicais. Para o bem ou para o mal, a emissora ditou os caminhos da música nas últimas três décadas. Postarei aqui algumas contribuições positivais que a emissora proporcionou para a música pop.


1 - Videoclipe
É verdade que, mesmo antes da MTV, alguns artistas já faziam filmes musicais, dentre eles Elvis Presley com "Jailhouse Rock". Mas fato é que a MTV popularizou os vídeos e isso moldou o conceito artístico de muitos músicos. Pra exemplificar isso, deixo esse ótimo clipe do Daft Punk, duo eletrônico impossível de ser desassociado de sua imagem.

2 - Michael Jackson
O "Rei do Pop" é o artista que teve a maior êxito comercial de todos os tempos, sendo a MTV uma das grandes responsáveis por isso. O disco Thriller traz a música homônima, que ganhou ainda mais força com a rotação diária de seu videoclipe, que por si só já é uma obra de arte excepcional. O sucesso de Michael Jackson jamais seria possível sem a forcinha da emissora.

4 - A popularização do rap
O que antes era uma música exclusiva dos guetos, tornou-se um dos maiores fenômenos de vendas da industria americana. Se a popularização do rap, conquistada com a ajuda da MTV, produziu grupos/artistas horríveis que sequer merecem citação, outros excelentes também ganharam espaço, vide Run-D.M.C., Public Enemy, N.W.A., Beastie Boys, Eminem, Jay Z, Kanye West, dentre outros.

3 - Ditando a moda
É inacreditável pensar que ainda tem quem se espante com o sucesso do Justin Bieber e Taylor Swift, sucesso esse que a MTV vem criando com diversos artistas/estilos primorosamente há mais de três décadas. Do glam metal (Skid Row e Guns N' Roses), passando pelo grunge (Nirvana e Pearl Jam), depois o britpop (Oasis e Blur), new metal (Korn e Limp Bizkit) e mais recentemente o indie rock 00's (The Strokes e Arctic Monkeys), isso tudo paralelamente ao pop descartável de boybands e cópias ilegítimas da Madonna. A MTV definitivamente ainda possui o controle da música mainstream.

5 - Unplugged
A série de gravações Unplugged foi um sucesso de vendas nos EUA, dando a oportunidade do publico ver artistas em versões "desplugadas". Entre os shows mais famosos neste formato estão o do The Cure, R.E.M., Eric Clapton, Pearl Jam, Nirvana, Bob Dylan, Kiss, Alice In Chains e Korn.

Além da sua importância musical, a MTV contribui também para a moda, cinema e cultura pop geral. A emissora do Beavis and Butt-Head será sempre lembrada com carinho, ainda que cometa também atrocidades gigantescas em todas as áreas artísticas. Parabéns, MTV!

E para seus legítimos detratores, deixo esse pertinente hino do hardcore.