segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

A guerra, a música concreta e o alemão inquieto

Que a Alemanha é um país que passou por muitos períodos de terror em sua história muita gente já sabe. Todavia, o que poucos lembram é que a Segunda Guerra Mundial tem grande importância na história da música.

Com o país fazendo grande investimento no desenvolvimento tecnológico, abriu-se espaço para o nascimento de músicos de vanguarda, que viram em todos aqueles equipamentos de rádio uma ferramenta para suas criações musicais inusitadas e ambiciosas.

Se os franceses deram o ponta-pé inicial da música eletrônica com compositores do movimento de música concreta (Ex: Darius Milhaud, Pierre Schaeffer, Pierre Boulez, Pierre Henry, Edgar Varèse e Iánnis Xenáki) a Alemanha conseguir se destacar com apenas um compositor que encabeçou aquilo que era chamado de Elektronische Musik. Este compositor era Karlheinz Stockhausen.


Stockhausen foi um dos maiores gênios da música do século XX. Influenciou diversos músicos através de seu trabalho com diferentes timbres, estudos de relações harmônicas e pelas suas modulações do som. Dentre suas obras mais cultuadas estão Licht, Klang e outros diversos Estudos.

Sua obra é citada como influência para diversos artistas, dentre eles Ígor Stravinsky, Frank Zappa, Miles Davis, Richard Wright (tecladista do Pink Floyd), Björk, Radiohead e até mesmo o maestro do tropicalismo Rogério Duprat. Outro músico que se diz muito influenciado pela obra de Stockhausen é o Paul MacCartney, inclusive, o gênio alemão é uma das personalidades na famosa capa de Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band dos Beatles. Essa influência pode ser notada na música "Tomorrow Never Knows", onde microfonias e sons invertidos se unem a citara indiana e ao rock psicodélico do grupo.

É preciso que a obra de Stockhausen seja lembrada como uma das maiores conquistas da Alemanha, um país musical tão rico que ofereceu trabalhos geniais que vão de Beethoven e Wagner até Rammstein e Oomph!. Prova disso é um estilo pouco conhecido no Brasil e bastante influenciado pelas loucuras de Stockhausen: o Krautrock, uma espécie de "progressivo alemão eletrônico". Mas isso é assunto para um próximo post.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

TEM QUE OUVIR: UFO - Phenomenon (1974)

Hoje é um dia triste e feliz ao mesmo tempo. Feliz pois um dos mais talentosos guitarristas do rock - Michael Schenker (Scorpions, UFO e Michael Schenker Group) - toca em São Paulo. Isso após quase morrer de tanto álcool que ingeriu durante sua carreira. Todavia, é triste porque eu não vou no show.

Já conformado em perder este evento - que contará com a participação do lendário baterista Carmine Appice (Vanilla Fudge, Cactus, Beck Bogert & Appice) -, decidi tentar entender o porque do desbocado e cabeça quente Michael Schenker ser um ícone do instrumento no rock. Para isso, analisei um dos maiores discos da década de 1970, o espetacular Phenomenon (1974) do UFO.


O disco abre com a rockeira "Too Young To Know", que mostra Michael Schenker como um solista de mão cheia, apesar de ter apenas 19 anos quando o disco foi gravado. A faixa seguinte é a belíssima balada "Crystal Light", que assim como "Space Child", consegue ser bonita sem soar melosa.

Mas se tem uma música que define bem o estilo do cultuado guitarrista alemão é a ótima "Doctor Doctor", dona de uma das mais famosas melodias de guitarra de todos os tempos. Outra música que já está sacramentada como um clássico definitivo do rock é a acachapante "Rock Bottom". Ela tem tudo que uma boa canção de hard rock precisa ter: peso, riff marcante, groove envolvente, refrão cativante e um solo inspirado de guitarra.

As músicas citadas já seriam o suficiente para tornar o disco um clássico e fazer de Michael Schenker um músico de prestigio, mas o álbum ainda guarda nas mangas a energética "Oh My", a solar "Time On My Hands" (que comprova o lirismo do guitarrista na hora de solar), a sacana e cheia de groove "Built For Comfort", a belíssima balada instrumental "Lipstick Traces" e a épica "Queen Of The Deep". Todas revelam a excelência não só do guitarrista, mas também do grande vocalista Phil Mogg (de voz rasgada e aguda na medida) e da estupenda cozinha formada por Andy Parker (bateria) e Peter Way (baixo e ídolo máximo do Steve Harris).

Vale deixar registrado que o disco tem a produção do Leo Lyons, baixista do Ten Years After. É preciso destacar também a capa feita pela emblemática Hipgnosis.

Embora a passagem do Michael Schenker pelo UFO não tenha durado muito tempo, seus belíssimos solos, riffs inesquecíveis e timbres enormes extraídos de sua clássica Flying V estarão para sempre na história do hard rock.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Os gringos "pirando" na música brasileira

Por mais que muitos ignorem, não é só o futebol, as praias, a caipirinha e o calor humano que os turistas mais gostam no Brasil. A música brasileira também é muito respeitada e admirada. Pensando nisso, trago ao blog alguns momentos em que artistas internacionais manifestaram essa predileção.

1: Uma das musicistas mais prestigiadas atualmente é a Esperanza Spalding, que levou o prêmio de Artista Revelação do Grammy 2011, desbancando o "favoritismo" do Justin Bieber. Essa grande cantora e contrabaixista já gravou três discos e, em um deles, fez uma ótima versão para um clássico da música brasileira: "Ponta de Areia" do Milton Nascimento.

2: Recentemente tive a oportunidade de ver o show de uma das minhas bandas prediletas, o Yes. Mesmo desfalcado de alguns integrantes originais, foi um privilégio ver o brilho de músicos como o baixista Chris Squire e o estupendo guitarrista Steve Howe, sendo que esse último não deixou de prestar uma homenagem aos brasileiros, tocando um obra valiosa da cultura nacional (e não foi nada de "Brasileirinho", "Garota de Ipanema" e muito menos o "Hino Nacional", já manjados em shows internacionais no Brasil). Steve Howe mandou uma das "Bachianas" de Villa-Lobos. Muita gente na plateia sequer percebeu.

3: Imagine que você é músico e filho de John Lennon. Com quem você gostaria de fazer um som? Paul? George? Ringo? Não foi nenhum desses que Sean Lennon escolheu. Ele preferiu fazer tocar com o Arnaldo Baptista no Free Jazz Festival de 2000. Mesmo com uma versão questionável do clássico dos Mutantes, é difícil não se emocionar com a apresentação.

4: Um outro grande admirador da música brasileira é o eterno guitarrista do Police, Andy Summers. O cara já tocou pelo mundo todo e teve projetos com gente do nível de Robert Fripp (King Crimson), ainda sim, parece que ele achou a sombra para sua inquietação na praia de Copacabana, fazendo trabalhos ao lado do Victor Biglione e, mais recentemente, do ícone da bossa nova, Roberto Menescal. Alias, esse projeto acabou de passar quase despercebido por São Paulo em 2 shows espetaculares (que obviamente não perdi).

5: E pra encerrar, enquanto muitos brasileiros resmungam a formação atual do Sepultura sem os irmãos Cavalera, no show do Metallica no Brasil, James Hetfield fez questão de não perder a abertura do Sepultura.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Meus discos prediletos da música brasileira

Sim, é isso mesmo que vocês leram no título.

Reforçando que é uma lista pessoal e sem nenhum compromisso com álbuns e artistas consagrados, embora seja difícil fugir deles.

Façam suas listas e deixem nos comentários. A minha está em ordem cronológica.


Aracy de Almeida - Noel Rosa (1950)
Noel Rosa, vulgo maior compositor brasileiro, cantado por Aracy de Almeida, a única interprete com autoridade para tanto (além do próprio Noel, claro). Com direito a arranjos de Radamés Gnatalli e capa de Di Cavalcanti. Que time!
Faixa Predileta: "Último Desejo".

Dorival Caymmi - Canções Praieiras (1954)
Me impressiona o fato de Dorival criar cenários majestosos fazendo uso "somente" de sua poética e do violão singular. Documento essencial para entender a canção popular.
Faixa Predileta: "A Lenda Do Abaeté".

João Gilberto - Chega de Saudade (1959)
Não somente devido a revolução que causou, mas principalmente pela delicadeza de João ao cantar lindas melodias e tocar seus ritmos sincopados. A bossa nova em seu momento inicial e definitivo.
Faixa Predileta: "Desafinado".

Moacir Santos - Coisas (1965)
O jazz com balanço brasileiro na visão de um dos maiores arranjadores deste país. Fino.
Faixa Predileta: "Coisas Nº 9".

Baden Powell - Tristeza On Guitar (1966)
Algo entre o samba, a bossa nova e o choro. O popular e o erudito se encontram no violão de Baden. Melhor que o cultuado Os Afro-Sambas, também de 1966.
Faixa Predileta: "Tristeza".

Tom Jobim - Wave (1967)
Minimalista, one finger piano, melodias inesquecíveis... uma maravilha do maestro da bossa nova.
Faixa Predileta: "The Red Blouse".

Quarteto Novo - Quarteto Novo (1967)
Quatro instrumentistas não menos que geniais rompem com o jazz e buscam uma linguagem instrumental brasileira nos ritmos regionais. O resultado é avassalador.
Faixa Predileta: "Vim de Santana".

Roberto Carlos - Em Ritmo de Aventura (1967)
Nos últimos suspiros da Jovem Guarda, com Roberto mais maduro, mas preservando a energia do rock.
Faixa Predileta: "Você Não Serve Pra Mim".

Caetano Veloso - Caetano Veloso (1967)
O disco psicodélico do Caetano. Aqui está os primeiros sinais do que viria ser a Tropicália. Ele fez trabalhos melhores no futuro, mas o frescor aqui apresentado continua intacto.
Faixa Predileta: "Tropicália".

Vários - Tropicália ou Panis Et Circencis (1968)
Disco manifesto. A inauguração de uma estética sonora que insere modernidade na tradição musical brasileira. Emblemático.
Faixa Predileta: "Parque Industrial".

Os Mutantes - Os Mutantes (1968)
Contemporâneo aos Beatles, extremamente inventivo, jovem, psicodélico e divertido. Um cult que merece o status que alcançou.
Faixa Predileta: "Panis Et Circenses".

Caetano Veloso - Caetano Veloso (o Álbum Branco - 1969)
O grande disco tropicalista de Caetano. Bem mais rebuscado e centrado quando se comparado ao anterior.
Faixa Predileta: "Não Identificado".

Gilberto Gil - Gilberto Gil (1969)
Altamente lisérgico. As guitarras falam alto, mas é o violão genial de Gil que dita o ritmo em composições fantásticas.
Faixa Predileta: "17 Léguas e Meia".

Gal Costa - Gal (1969)
O melhor momento da música psicodélica brasileira. Um berro dado por aquela que até então se acanhava via bossa nova. Para completar, a guitarra de Lanny Gordin está ultra ácida.
Faixa Predileta: "Cinema Olympia".

João Donato - Bad Donato (1970)
A bossa nova ainda mais jazzistica encontra o funk e a psicodelia. Impossível de ser descrito. Maravilhoso no resultado.
Faixa Predileta: "The Frog".

Tim Maia - Tim Maia (1970)
O primeiro e melhor disco do Tim Maia. Do soul melódico, passando pelo funk encorpado, tempero brasileiro e sensibilidade pop. Uma marco da black music brasileira.
Faixa Predileta: "Eu Amo Você".

Gal Costa - Legal (1970)
Ainda rockeiro, mas mais maduro que o anterior. Seu melhor momento, graças as performances inspiradas de todos envolvidos, além das ótimas composições.
Faixa Predileta: "Hotel das Estrelas".

Os Mutantes - A Divina Comédia ou Ando Meio Desligado (1970)
O grande disco dos Mutantes. Já nem tão engraçadinho, mas preservando a jovialidade inventiva. Ainda mais rockeiro.
Faixa Predileta: "Quem Tem Medo de Brincar de Amor".

Ronnie Von - A Máquina Voadora (1970)
Um cult que faz jus a lenda que virou. Dos arranjos as letras, tudo é muito psicodélico e bem executado.
Faixa Predileta: "A Máquina Voadora".

Milton Nascimento - Milton (1970)
Um Milton quase progressivo acompanhado pelos músicos do Som Imaginário. Bela porta de entrada ao trabalho deste genial artista.
Faixa Predileta: "Para Lennon e McCartney".

Roberto Carlos - Roberto Carlos (1971)
Roberto Carlos dá as costas pra Jovem Guarda e grava seu melhor trabalho. Com bastante influência da soul music, ele se entrega em composições emocionantes. Seu romantismo é honesto, as melodias são de chorar e os arranjos fazem do disco um dos melhores do pop nacional.
Faixa Predileta: "Todos Estão Surdos".

Erasmo Carlos - Carlos, Erasmo (1971)
Erasmo Carlos, um compositor acima de qualquer suspeita, agora mais adulto e versátil. O resultado é um repertório ultra inspirado.
Faixa Predileta: "De Noite Na Cama".

Gal Costa - Fa-Tal A Todo Vapor (ao vivo - 1971)
Gravação péssima, mas performance brilhante, não só de Gal, mas também do Lanny Gordin. Quando ouvi pela primeira, explodiu minha cabeça.
Faixa Predileta: "Dê Um Rolê".

Chico Buarque - Construção (1971)
Chico Buarque apresenta algumas de suas melhores composições - maduras e contestadoras -, arranjadas majestosamente. Talvez seu momento mais inventivo. A história passa por aqui.
Faixa Predileta: "Construção".

Gilberto Gil - Expresso 2222 (1972)
O melhor disco do Gil. Gravado pós exílio, com referências mais amplas e a genialidade de sempre. Letrista e violonista de mão cheia.
Faixa Predileta: "Back In Bahia".

Caetano Veloso - Transa (1972)
O disco londrino de Caetano. Sonoridade viajante em canções inesquecíveis.
Faixa Predileta: "You Don't Know Me".

Jards Macalé - Jards Macalé (1972)
Conhecidos das fichas técnicas dos medalhões, Jards Macalé, Lanny Gordin e Tutty Moreno gravam o melhor disco da MPB segundo eu mesmo. Simples assim.
Faixa Predileta: "Farinha do Desprezo".

Novos Baianos - Acabou Chorare (1972)
Novos Baianos escutam João Gilberto e abrasileiram seu som - sem esquecer o rock - num disco atemporal, de balanço e ousadia deliciosa.
Faixa Predileta: "Mistério do Planeta".

Milton Nascimento e Lô Borges - Clube da Esquina (1972)
Baluartes da música mineira fundem o pop rock com o jazz, resgatam elementos barrocos e criam uma obra de autenticidade maravilhosa. É tudo isso que dizem mesmo.
Faixa Predileta: "Tudo Que Você Podia Ser"

Paulinho da Viola - Dança da Solidão (1972)
O samba em seu melhor momento. Arranjos geniais e composições emblemáticas via o interprete mais emocionante do estilo.
Faixa Predileta: "Duas Horas da Manhã".

Marcos Valle - Previsão do Tempo (1973)
Brilhante desde os tempo da bossa nova, aqui o Marcos Valle eletrifica seu som e incorpora elementos de soul e psicodelia, resultando em faixas que só melhoram com o passar do tempo.
Faixa Predileta: "Nem Paletó, Nem Gravata"

Nelson Cavaquinho - Nelson Cavaquinho (1973)
Algumas das mais emocionantes composições da canção mundial via um artista que exala verdade, memória e a tradição do samba. Tem cada melodia! Soberbo.
Faixa Predileta: "Folhas Secas".

Novos Baianos - Novos Baianos F.C. (1973)
Novos Baianos dão uma pausa no futebol e gravam um trabalho tão bom quanto o anterior, embora menos cultuado.
Faixa Predileta: "Com Qualquer Dois Mil Reis".

Som Imaginário - A Matança do Porco (1973)
Um time de músicos inacreditável num disco tão jazzistico quanto progressivo. Sofisticação pura.
Faixa Predileta: "Armina".

Secos & Molhados - Secos & Molhados (1973)
Jovem, pop e ousado. Um revolução não só comercial, mas também comportamental. O mais próximo que chegamos do glam rock.
Faixa Predileta: "Amor".

Sérgio Sampaio - Eu Quero É Botar Meu Bloco Na Rua (1973)
Esquecido do grande público e da mídia, Sérgio Sampaio é lembrado por todos aqueles que o ouviram. O verdadeiro poeta das ruas. Doce e visceral. Marginal por ineficiente cultural do país.
Faixa Predileta: "Filme de Terror".

Tim Maia - Tim Maia (1973)
Tim Maia em mais uma obra-prima. Inferior ao primeiro, mas melhor que tudo que ele viria a fazer posteriormente (e não estou esquecendo da fase Racional).
Faixa Predileta: "Réu Confesso".

Tom Jobim - Matita Perê (1973)
Meio bossa nova, meio jazzistico, meio erudito. Tem cada arranjo soberbo (Claus Ogerman, né). Uma maravilha.
Faixa Predileta: "Águas de Março".

Luiz Melodia - Pérola Negra (1973)
Espetacular compositor e intérprete em canções belíssimas que não se prendem a nenhum estilo. Com perdão do trocadilho: uma verdadeira pérola no quesito melodias.
Faixa Predileta: "Magrelinha".

Raul Seixas - Krig-Ha, Bandolo! (1973)
Compositor inquieto, Raul Seixas grava seu primeiro disco solo. Emblemático e cheio de hits.
Faixa Predileta: "Al Capone".

Paulinho da Viola - Nervos de Aço (1973)
O samba em arranjos que transcendem o gênero. Algumas composições trazem uma tristeza emocionante. Fora o canto celestial do Paulinho. Genial.
Faixa Predileta: "Nervos de Aço".

Elis Regina - Elis (1973)
Com arranjos espetaculares do César Camargo Mariano e uma banda afiada, Elis incorpora algumas das melhores composições que gravou em toda sua carreira.
Faixa Predileta: "Meio de Campo".

Raul Seixas - Gita (1974)
O melhor disco do pop brasileiro. Passeia pelo rock, sertanejo, baião, tango... Tudo muito bem tocado e escrito. Subversivo e acessível.
Faixa Predileta: "S.O.S.".

Arnaldo Baptista - Lóki? (1974)
Um disco de carga emocional difícil de ser ignorada e com o Arnaldo quebrando tudo no piano.
Faixa Predileta: "Desculpe".

Joelho de Porco - São Paulo 1554/Hoje (1974)
Hard rock direto e bem humorado. Incrivelmente bem escrito, uma raridade na cena rockeira daquele período.
Faixa Predileta: "São Paulo By Day".

Jorge Ben - A Tábua de Esmeralda (1974)
Incomparável a qualquer outro álbum feito no mundo. É psicodélico, com grooves desconcertantes, letras transcendentais e a interpretação única de Jorge Ben ao cantar/tocar. Genial!
Faixa Predileta: "Errare Humanum Est".

Adoniran Barbosa - Adoniran Barbosa (1974)
Marco do samba paulista. A interpretação e o timbre de Adoniran é espetacular. Já as canções são clássicos inesquecíveis. Séculos da cultura imigrante proletária num único disco.
Faixa Predileta: "Prova de Carinho".

Quinteto Armorial - Do Romance ao Galope Nordestino (1974)
Uma proposta conceitual de sonoridade atraente. Talvez o grande momento da música regional brasileira, com forte influência ibérica e nordestina. Entre o erudito e o popular.
Faixa Predileta: "Revoada".

Som Nosso De Cada Dia - Snegs (1974)
Um dos grandes discos do rock progressivo mundial. Simples assim.
Faixa Predileta: "Sinal da Paranóia".

Elis Regina e Tom Jobm - Elis & Tom (1974)
A maior interprete brasileira em parceria com um compositor genial. Isso sem mencionar os arranjos sempre cuidadosos do César Camargo Mariano, a guitarra exuberante de Hélio Delmiro, o baixo pulsante de Luizão Maia, além da produção impecável. Tá bom pra você?
Faixa Predileta: "Pois É".

João Bosco - Caça à Raposa (1975)
Um time de gênios a serviço da canção brasileira. Cinematográfico, poético, urbano, elegante... perfeito.
Faixa predileta: "O Mestre Sala dos Mares".

Caetano Veloso - Qualquer Coisa (1975)
Caetano se reinventa em sua sonoridade, canto e poesia. Se sai bem como (quase) sempre.
Faixa Predileta: "Qualquer Coisa".

Tim Maia - Racional 1 (1975)
Tá certo que as letras empapuçam, mas o instrumental e a voz do Tim talvez estejam em seus melhores momentos.
Faixa Predileta: "Bom Senso".

Terreno Baldio - Terreno Baldio (1975)
Nada que o Gentle Giant já não tenha feito. Muito para o Brasil da época.
Faixa Predileta: "Despertar".

O Terço - Criaturas da Noite (1975)
O rock progressivo finalmente com cara brasileira. A influência de música mineira e Pink Floyd são gritantes.
Faixa Predileta: "1974".

Rita Lee & Tutti Frutti - Fruto Proibido (1975)
Cheio de hits, com o Carlini imitando o Keith Richards, Franklin debulhando na bateria e Rita preste a virar uma estrela. Vendeu feito água. Adoro também a produção.
Faixa Predileta: "Agora Só Falta Você"

Raul Seixas - Novo Aeon (1975)
Apesar da queda da popularidade, Raul continua em alta nas composições, fechando com esse disco sua trilogia perfeita.
Faixa Predileta: "Paranoia".

Walter Franco - Revolver (1975)
Ousado tanto na poética quanto nos arranjos. Um clássico anárquico de uma geração vanguardista em ebulição.
Faixa Predileta: "Eternamente".

Milton Nascimento - Minas (1975)
Milton em seu momento mais sublime. Alto grau de excelência das composições, do seu canto celestial e dos arranjos ultra sofisticados. Fino.
Faixa Predileta: "Gran Circo".

Raimundo Fagner - Fagner (1976)
Por vezes ignorado, Fagner esbanja o compositor brilhante que é. Dono de algumas das mais bonitas canções da música popular brasileira. Fundamental para a cena nordestina.
Faixa Predileta: "Asa Partida".

Cassiano - Cuban Soul (1976)
Compositor subestimadíssimo, Cassiano apresenta o que de melhor já foi feito no soul e pop brasileiro.
Faixa Predileta: "Coleção".

Jorge Ben - África Brasil (1976)
Muito groove e letras de autenticidade exclusiva de um artista genial. Fora a banda que o acompanha, que é um arregaço.
Faixa Predileta: "Ponta de Lança Africano (Umbabarauma)".

Cartola - Cartola II (1976)
Antes tarde do que nunca. O melhor registro de um compositor brilhante, de maturidade e talento assustador. Lindo de chorar.
Faixa Predileta: "O Mundo É Um Moinho".

Tom Zé - Estudando o Samba (1976)
Até aqui Tom Zé só fez grandes discos, sendo esse o meu predileto. Experimental na medida certa - se é que isso é possível -, o artista baiano desconstrói o gênero mais brasileiro de todos.
Faixa Predileta: "Mãe (Mãe Solteira)".

Belchior - Alucinação (1976)
A voz é de pato, mas o que o salta aos ouvidos são as letras. Nisso Belchior é um dos melhores no mundo. Confessional e oposto a qualquer otimismo hipponga.
Faixa Predileta: "A Palo Seco".

Elis Regina - Falso Brilhante (1976)
Letras de Belchior, uma banda sensacional, produção muito boa (adoro esses timbres envelhecidos), transita pelo rock, jazz e música latina. Ah, tem também a voz/interpretação da Elis Regina.
Faixa Predileta: "Um Por Todos".

João Bosco - Tiro de Misericórdia (1977)
Transcende gêneros. Tem aquelas crônicas espetaculares de Aldir Blanc e uma sofisticação rítmica que só o João Bosco parece dominar.
Faixa Predileta: "Tiro de Misericórdia".

Banda Black Rio - Maria Fumaça (1977)
Funk instrumental de primeiro nível. Clássico da cena black music carioca. Jamil Joanes come o baixo com farinha.
Faixa Predileta: "Maria Fumaça".

Arnaldo Baptista e Patrulha do Espaço - Elo Perdido (1977 - lançado em 1988)
Apesar do atraso do lançamento, o disco é um registro importante de um Arnaldo inspirado - e transtornado - ao lado de uma das grandes bandas do rock nacional.
Faixa Predileta: "Sunshine".

Chico Buarque - Chico Buarque (1978)
Melhor disco do Chico. As grandes parceiras abrilhantam uma obra recheada de lindas melodias e letras afiadas.
Faixa Predileta: "Cálice".

Zé Ramalho - Zé Ramalho (1978)
A voz única de Zé Ramalho a serviço de suas melhores composições. Um festival de canções icônicas.
Faixa Predileta: "Chão de Giz".

Pepeu Gomes - Geração do Som (1978)
Pepeu apresenta ao mundo sua mistura de Jeff Beck com Jacob do Bandolim. Impressionante.
Faixa Predileta: "Malacaxeta".

A Cor do Som - Ao Vivo no Montreux Jazz Festival (1978)
A música instrumental brasileira numa fusão inacreditável de estilos. Bate de frente com contemporâneos do fusion mundial. Virtuosidade absoluta.
Faixa Predileta: "Arpoador".

Beto Guedes - Amor de Índio (1978)
A voz frágil de Beto Guedes em composições bucólicas que transitam entre o pop melódico e a sofisticação jazzistica.
Faixa Predileta: "Novena".

Caetano Veloso - Cinema Transcendental (1979)
O início da fase "MPB pop solar" do Caetano, possivelmente a minha predileta. A leveza e o brilhantismo se encontram em canções inesquecíveis.
Faixa Predileta: "Oração Ao Tempo".

Hermeto Pascoal - Ao Vivo Montreux Jazz Festival (1979)
Inventivo como poucos, aqui está o registro definitivo do Hermeto em ação no palco de um dos mais lendários festivais do mundo. Para o albino, apenas mais um espaço para suas experimentações e viagens sonoras.
Faixa Predileta: "Quebrando Tudo".

Odair José - O Filho de José e Maria (1979)
O subestimado Odair José lança uma obra difícil de ser ignorada até por seus detratores. Um épico da música brasileira de narrativa surpreendente. Produção impecável.
Faixa Predileta: "Nunca Mais".

Egberto Gismonti - Circense (1980)
Harmonias complexas, melodias das mais ricas e arranjos ousados em um disco brilhantemente acessível do Egberto.
Faixa Predileta: "Palhaço".

Toninho Horta - Terra dos Pássaros (1980)
Ponto do alto da harmonia mundial. As melodias também não devem em nada. O jazz e a música mineira viram uma coisa só nas mãos do Toninho Horta.
Faixa Predileta: "Céu de Brasília".

Arrigo Barnabé - Clara Crocodilo (1980)
Quadrinhos, dodecafonia, virtuosidade, arranjos complexos, narrativas interessantes... Clássico da Vanguarda Paulista, lançado em formato independente.
Faixa Predileta: "Sabor de Veneno".

Itamar Assumpção (com a Isca de Policia) - Beleléu, Leléu, Eu (1980)
Dizem que o Itamar sempre foi melhor ao vivo do que em disco. Para mim, que não tive a oportunidade de comprovar os dizeres, tenho nesse seu excelente disco de estreia o caminho certeiro para recorrer ao seu enorme talento.
Faixa Predileta: "Nego Dito".

Grupo Rumo - Rumo (1981)
Mais uma obra-prima da Vanguarda Paulista. Disco arquitetado cuidadosamente, vide as letras surreais e os arranjos intrincados.
Faixa Predileta: "Minha Cabeça".

Caetano Veloso - Outras Palavras (1981)
Acho uma música melhor que a outra. Simples assim.
Faixa Predileta: "Outras Palavras".

Robson Jorge & Lincoln Olivetti - Robson Jorge & Lincoln Olivetti (1982)
Muito além da excelência técnica (arranjos, execução e captação) o que chama atenção é o astral elevado diante dos grooves. O AOR nunca soou tão solar.
Faixa Predileta: "Aleluia".

Bacamarte - Depois do Fim (1983)
Rock progressivo da melhor qualidade. Extremamente melódico e técnico. Pena que já era 1983 e ninguém mais ligava pra isso. Uma pérola perdida no tempo.
Faixa Predileta: "Miragem".

Camisa de Vênus - Camisa de Vênus (1983)
Disco chuta bunda! O rock nacional sem comprometimento com o mercado ou a brasilidade. Jovem, cru (de produção até mesmo tosca) e extremamente bem escrito.
Faixa Predileta: "Passamos Por Isso".

Os Paralamas do Sucesso - O Passo do Lui (1984)
Tudo bem, o Selvagem? pode até ser o grande clássico da banda, mas esse é bem mais divertido e cativante, com direito a instrumental exageradamente inspirado no Police (ao menos a referência é boa). Além disso, representa muito bem o tal BRock que explodiu pós primeiro Rock In Rio.
Faixa Predileta: "Mensagem de Amor".

Plebe Rude - O Concreto Já Rachou (1985)
Hoje até gosto dos dois primeiros discos da Legião Urbana, mas de toda a famigerada cena de Brasilia, a Plebe Rude sempre me soou melhor, sendo seu disco de estreia o meu predileto.
Faixa Predileta: "Minha Renda".

Ira! - Vivendo E Não Aprendendo (1986)
Uma espécie de The Jam brasileiro. Sem novidade, mas com referências muito boas. E o melhor, sem coreografia e uniforme.
Faixa Predileta: "Dias de Luta".

Titãs - Cabeça Dinossauro (1986)
Primeiro grande disco da banda. É visceral, sujo e berra contra as instituições, conseguindo ainda assim manter-se acessível. Ótima produção.
Faixa Predileta: "Bichos Escrotos".

Patife Band - Corredor Polonês (1987)
O pós-punk encontra o rock progressivo e o free jazz. Mérito de Paulo Barnabé, um criador ousado, muitas vezes ofuscado involuntariamente pelo seu irmão Arrigo.
Faixa Predileta: "Poesia Em Linha Reta".

Cazuza - O Tempo Não Para (1988)
É triste dizer isso, mas considero que foi na vulnerabilidade de sua doença que o artista se desprendeu das afetações juvenis e se encontrou em belas composições e interpretações. Ouvi muita na infância.
Faixa Predileta: "Vida Louca Vida".

Ira! - Psicoacústica (1988)
Os trabalhos anteriores já eram ótimos, só que aqui a banda surge ainda mais criativa. Um clássico obscuro - e até mesmo experimental -, do tal BRock 80.
Faixa Predileta: "Rubro Zorro".

Golpe de Estado - Forçando a Barra (1988)
Algo entre o hard rock e o heavy metal, só que com uma malandragem tipicamente brasileira. Marcou uma geração.
Faixa Predileta: "Terra de Ninguém".

Ratos de Porão - Brasil (1989)
O cruzamento do punk rock com o heavy metal formando o crossover perfeito. Pesado, político, sagaz, insano e visceral.
Faixa Predileta: "Aids, Pop, Repressão".

André Christovam - Mandiga (1989)
Finalmente um disco de blues cantado em português, feito por um guitarrista muito acima da média. Casamento perfeito retratado nas ótimas composições.
Faixa Predileta: "Confortável".

Caetano Veloso - Circuladô (1991)
O incansável Caetano Veloso se reinventa num disco experimental, ousado e de grande alcance comercial. Coisas que só Caetano consegue.
Faixa Predileta: "O Cu do Mundo".

Barão Vermelho - Supermercados da Vida (1992)
Cazuza era um bom letrista, mas gosto muito mais do peso instrumental presente na fase comandada pelo Frejat, sendo esse disco o meu predileto. Rock n' roll brasileiro em sua melhor forma.
Faixa Predileta: "Pedra, Flor e Espinho".

Guinga - Delírio Carioca (1993)
Compositor e violonista esplêndido no auge do seu arrojo. É a canção popular brasileira elevada a níveis estratosféricos. Quase sinfônico. Absurdo.
Faixa Predileta: "Par Ou Ímpar".

Sepultura - Chaos A.D. (1993)
O melhor disco do Sepultura, embora muitas vezes ignorado por ter sido lançado em meio a dois clássicos. O flerte com a música brasileira começa aqui.
Faixa Predileta: "Territory".

Marisa Monte - Verde, Anil, Amarelo, Cor-de-Rosa e Carvão (1994)
Se os frutos de sua ascensão não foram bons, ao menos os primeiros trabalhos da Marisa Monte não devem ser ignorados. É MPB muito bem arranjada e interpretada.
Faixa Predileta: "Pale Blue Eyes".

Raimundos - Raimundos (1994)
Disco de "moleque". Cheio de palavrões, gírias e guitarras pesadas. Contemporâneo ao grunge. Atende o punk, metal e o alternativo.
Faixa Predileta: "Nega Jurema".

Chico Science & Nação Zumbi - Da Lama Ao Caos (1994)
Maracatu, heavy metal, dub, reggae, samba... A apresentação do Manguebeat através de um disco manifesto excelente.
Faixa Predileta: "Rios, Pontes & Overdrives".

Dr. Sin - Brutal (1995)
Hard rock de padrão internacional, tanto na composição quanto execução e produção. É quase uma trapaça, já que nem parece um disco brasileiro.
Faixa Predileta: "Karma".

Sepultura - Roots (1996)
A explosão do metal em forma de vanguarda. O thrash metal brasileiro encontra os índios xavantes e dá luz ao new metal. Pesado, insano e conceitual. Clássico mundial.
Faixa Predileta: "Roots Bloody Roots".

Nuno Mindelis - Texas Bound (1996)
Um dos grandes discos de blues pós Stevie Ray Vaughan, justamente com a cozinha que acompanhava o guitarrista americano.
Faixa Predileta: "Back To Memphis".

Racionais MC's - Sobrevivendo No Inferno (1997)
A periferia fala e a classe média escuta. Textos e beats inesquecíveis. Influenciou jovens não só para a música, mas para a vida.
Faixa Predileta: "Capitulo 4, Versículo 3".

Planet Hemp - A Invasão do Sagaz Homem Fumaça (2000)
Rap imerso no rock em prol da liberdade de expressão. O primeiro grande grito de rebeldia pós ditadura em um cruzamento musical visceral. Melhor que o emblemático Usuário (1995).
Faixa Predileta: "Ex-Quadrilha da Fumaça".

Sabotage - Rap É Compromisso (2000)
Documento histórico que registra o melhor rapper brasileiro em ação. Simples assim.
Faixa Predileta: "No Brooklin".

Angra - Temple Of Shadows (2004)
Aqui a memória afetiva falou alto. Metal progressivo extremamente virtuoso e bem produzido, mas acima de tudo maduro, com influência de música brasileira e conceito interessante. Ouça sem preconceitos.
Faixa Predileta: "The Shadow Hunter".

Cascadura - Bogary (2006)
O indie rock nacional via um dos melhores compositores do estilo. Das baladas as faixas mais furiosas, é tudo muito inspirado.
Faixa Predileta: "Senhor das Moscas".

Céu - Vagarosa (2009)
Céu encanta com seu canto hipnotizante e levadas de afrobeat e dub. As novas cantoras brasileiras começam a sair da cola da Marisa Monte.
Faixa Predileta: "Grains de Beauté".

Cidadão Instigado - UHUUU! (2009)
Psicodelicamente pesado e com influências da música brega. Divertido em sua estranheza, experimental em sua amplitude.
Faixa Predileta: "Escolher Pra Quê".

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*Criolo - Nó Na Orelha (2011)
O rap vira MPB e traz ótimas crônicas de um compositor talentoso. Tudo musicado maravilhosamente sob supervisão do Ganjaman.
Faixa Predileta: "Mariô".

*Juçara Marçal - Encarnado (2014)
O post-rock, oras bastante ruidoso e cheio de guitarras, encontra o samba e outras vertentes da música brasileira. Tudo muito bem escrito e interpretado. Arranjos ultra ousados.
Faixa Predileta: "Queimando a Língua".

*Lupe de Lupe - Quarup (2014)
O rock brasileiro fora dos padrões da indústria, com sua fúria, emoção, espontaneidade, ansiedade e urgência jovem. Muito bem escrito.
Faixa Predileta: "Fogo-Fátuo".

*Elza Soares - A Mulher do Fim do Mundo (2015)
Acompanhada dos mais talentosos músicos daquela geração, Elza ressurge das cinzas com seu timbre único, letras ácidas e arranjos esplendidos que remetem a Vanguarda Paulista.
Faixa Predileta: "Maria da Vila Matilde".

*atualizações feitas após a postagem original

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Os 80 anos do "rockeiro" Cauby Peixoto

Hoje o mitológico Cauyby Peixoto comemora 80 anos. Essa lenda de figurinos e penteados excêntricos e uma voz facilmente reconhecível, ao contrário do que muitos pensam, não é apenas um "Frank Sinatra tupiniquim", mas sim um grande visionário.

Na década de 1950, o rock começava dar seus primeiros passos, não só no Brasil, mas no mundo. Sua chegada ao maior país da América Latina se deu pela voz da cantora de samba-canção Nora Ney, que regravou o grande clássico "Rock Around The Clock" de Bill Haley & His Comets no ano de 1955.

Apesar da importância desta gravação, além dela não ter a malandragem e a atitude do rock brasileiro, ela também não era cantada em português. Todas essas características foram "injetadas" na composição "Rock And Roll Em Copacabana", escrita por Miguel Gustavo e gravada por um ainda jovem Cauby Peixoto no ano de 1957.

O ponta-pé inicial estava dado, dai pra frente é aquela história que todos já conhecem, história essa estrelada por Celly Campelo, Roberto Carlos, Os Mutantes, Secos & Molhados, Raul Seixas, Som Nosso de Cada Dia, Rita Lee, Titãs, Barão Vermelho, Sepultura, Raimundos, Nação Zumbi...

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Gary Moore (1952-2011)

Um dos mais talentosos guitarristas da história do rock nos deixou ontem. Gary Moore morreu aos 58 anos de idade. Ele aparentemente não estava doente e continuava em pleno exercício de sua arte. Uma pena.

Usarei esse espaço para prestar homenagem a esse ótimo músico. Postarei vídeos de diferentes fases da sua carreira. Uma pequena amostra da sua excelência musical. Vamos nessa:

Gary Moore, um ainda jovem guitarrista irlandês influenciado por power trios (vide The Jimi Hendrix Experience e Cream), em sua fase inicial. Veja abaixo ele debulhando numa banda chamada Skid Row (não confundir com a banda do figuraça Sebastian Bach).

Recentemente, através de um amigo, descobri uma banda de fusion que o Gary Moore teve no final da década de 1970 ao lado do tecladista Don Airey (ex-Ozzy, atual Deep Purple). O grupo se chamava Colosseum II e era bastante influenciado por grupos como Return To Forever. Essa influência fica clara no estilo de Gary tocar, algo bastante calcado no estilo do Al Di Meola. 

Gary também fez parte de uma das melhores formações do Thin Lizzy, numa época em que o grupo continha em sua formação o líder/compositor/baixista/vocalista Phill Lynott e o lendário baterista Cozy Powell. Gary faz a dupla de guitarras com o também ótimo Scott Gorham. The Black Rose (1979) é um clássico deste período.

Em sua carreira solo, Gary Moore transitou pelo blues rock, hard rock e pop rock. É sem dúvida sua fase mais conhecida. Um das músicas definiram sua carreira é a ótima "Still Got The Blues", que embora a primeira vista seja uma balada melosa, contém a interpretação espetacular do guitarrista. O timbre grandioso, os bends precisos, vibratos magníficos e a pegada exemplar, concretizou a carreira do Gary Moore para todo o sempre.

No começo da década de 1990, o guitarrista fez parte de um projeto que continha os geniais Jack Bruce (baixo e voz) e Ginger Baker (bateria), ambos ex-Cream. Apesar da formação sensacional, o projeto não foi lá tão produtivo, muito disso influenciado pelo clima problemático dentro do grupo (quando é que Bruce e Baker vão se acertar, hein?).

Dai adiante ele embarcou de vez na sua carreira solo, lançando ótimos discos e fazendo grandes shows. Isso fica evidente nesta apresentação de 2004, mandando um clássico do Jimi Hendrix.

Que a música do Gary Moore sobreviva por muito tempo!

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Os videoclipes que marcaram minha infância

Após listar os seis shows (em vídeo) que marcaram minha vida, surgiu a vontade de listar alguns videoclipes que ficaram registrados em minha afetada memória. Não necessariamente os melhores/prediletos/importantes, mas os que mais remetem a minha infância. Vamos a eles:

Guns N' Roses - November Rain
Antes de ver esse clipe, eu já era um pirralho interessado em música. Já queria inclusive ser músico. Todavia, o instrumento que eu mais gostava era a bateria (culpa do Charles Gavin e Charlie Watts). Tudo mudou ao me deparar com a figura endiabrada do Angus Young e, principalmente, após assistir esse clipe do Guns N' Roses. A imagem do Slash saindo da igreja, fumando, com sua Les Paul na altura do joelho, envolto a poeira, executando com desenvoltura esse grande solo, foi tão marcante que apontou minha vida para outro rumo.

Crash Test Dummies - Mmm Mmm Mmm Mmm
Em algum momento da minha infância assisti esse clipe na MTV. A voz grave amedrontadora do vocalista, somada a uma melodia "simpática" e a um refrão que permitia até uma criança cantarolar, logo me chamou a atenção. Tudo isso ainda vinha empacotado por um vídeo que representava a narrativa da letra. Sensacional!

Type O Negative - Black Nº1
Se por um lado a voz grave simpática do Brad Roberts (Crash Test Dummies) despertou minha atenção para a banda, a voz grave endiabrada do Peter Steele me aterrorizou. Óbvio que sua aparência contribuía para isso (um brutamonte de 2 metros, em um local escuro, com um olhar de quem está pronto para sair da tela da TV e te matar), mas o som da banda era aterrorizantes por si só, ainda mais quando se é uma criança de uns 6 anos. Apesar disso tudo, é um dos meus clipes prediletos!

Blind Melon - No Rain
A MTV definitivamente fez parte da minha infância. Se por um lado hoje eu não entendo nada de Jaspion, Cavaleiros do Zodíaco e outros programas cultuados da Rede Manchete, minha formação musical deve em grande parte a MTV. O "clipe da abelhinha" do Blind Melon ("No Rain") era um dos que eu mais gostava quando pequeno. Não só eu, mas também minha irmã, que era a personificação da afetada menininha do clipe.

4 Non Blondes - What's Up
O sentimento nostálgico com relação a esse clipe é o mesmo compartilhado no do Blind Melon, a única diferença é que a imagem que me vem a cabeça não é a de uma criança vestida de abelha, mas sim da vocalista Linda Perry cantando o refrão em alto e bom som.

Raimundos - Eu Quero Ver O Oco
É óbvio que não podia faltar um artista brasileiro. Além de Raul Seixas e Titãs, a banda que eu mais gostava quando criança era o Raimundos, diferente dos outros citados, esses no auge da carreira. Nem imagino quantas vezes assisti esse vídeo.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

6 shows (em vídeo) que marcaram minha vida

Desde que me entendo por gente sou aficionado por registros ao vivo de bandas, seja em formato de CD, LP, MP3, VHS, DVD ou o raio que o parta. Entretanto, foi com o YouTube que eu acabei recordando alguns shows que melhor ficaram registrados na minha memória afetiva.

Embora não tenha visto a tour da maioria desses shows ao vivo (com exceção dos Titãs), eu ouvi tanto as gravações deste período de cada banda que sinto como se tivesse vivenciado os shows.

Sem mais delongas, vamos a lista:

Rolling Stones - Live At The Max
Desde muito pivete eu assisto a esse show. Digo com toda certeza que foi uma das razões que me fez gostar tanto de música. Os fogos de artificio no inicio do show, os intermináveis modelos de guitarra, a gigantesca (e ótima) banda de apoio, a pequena bateria de Charlie Watts falando alto diante do um público alucinado, a figura introspectiva de Bill Wyman e, principalmente, o repertório excepcional, fez com que esse show ficasse registrado em minha memória com muito carinho.

Dr. Sin - 10 Anos Ao Vivo
Lembro quando ganhei esse DVD e assisti pela primeira vez. Foi um susto. Ele tinha acabado de ser lançado e eu não conhecia nada da banda. Bastou escutar os solos do Edu Ardanuy e tive a confirmação imediata de que era possível ser virtuoso e melódico ao mesmo tempo. Durante meses esse DVD não saiu do meu aparelho. Nem os overdubs em estúdio me incomodavam (hoje sim).

Dream Theater - Live In Tokyo
Peguei esse VHS (pra vocês verem como faz tempo!) emprestado numa época em que só conhecia o Joe Satriani no que diz respeito a virtuosidade guitarristica. Quando comecei a assistir o show cheguei até a me assustar com a técnica da banda. Pensei até que tinha algo "fake" por trás. O Dream Theater tocava com espontaneidade incrível, ao contrário dos shows atuais, onde parecem seguir um roteiro. O repertório é basicamente o ótimo disco Images And Words. Esse shows fez eu querer estudar guitarra com mais seriedade. Não deu grande resultado, mas foi divertido.

Pink Floyd - Pulse
Eu sei, a banda já estava desfigurada sem a presença do Roger Waters. Todavia, essa tour é possivelmente a melhor do grupo. A banda está "leve", executando as músicas com uma capacidade extraordinária e com uma produção de palco excepcional. A escolha de tocar o clássico álbum Dark Side Of The Moon na integra foi apelação. Me emociono até hoje.

Deep Purple - Come Hell or High Water
Blackmore no auge da sua chatice, com cara de bunda o show inteiro. A banda não tolerava mais a sua presença dele. Todos tocam com nítida raiva e desconfiança. O Gillan está com a voz de Pato Donald, o Blackmore não executou nenhum solo original (o que mostra sua competência como improvisador) e pra completar, logo no inicio do show, depois de entrar no palco no meio da primeira música, ele se vira para a plateia e joga um copo de água que acerta o cinegrafista. Tudo isso fez desse o último show do Deep Purple com a formação clássica. Ainda assim, toda essa raiva e vontade de mostrar serviço de todos os envolvidos fez desse show uma obra-prima.

Titãs - Ao Vivo no Bem Brasil (1996)
Essa lista era pra ter apenas cinco shows, mas quando fui revirar meus empoeirados VHS's, achei a gravação caseira do saudoso programa Bem Brasil (quando ainda era transmitido ao vivo aos domingos de manhã pela TV Cultura). Me lembro perfeitamente deste dia. Meu pai tomando cerveja/caipirinha/domecq e fritando calabresas com o vizinho Odair. Minha mãe e minha irmã tinham ido para o centro de Santo André e a televisão ficou livre para eu assistir em alto e bom som o show dos Titãs (claro que não sem antes apertar o REC do videocassete). O dia estava ensolarado e perfeito para a banda mostrar as canções do irregular disco Domingo. Nesta época, no auge dos meus 7 anos, só existiam dois artista que faziam minha cabeça: Raul Seixas e Titãs. Lembro de assistir esse show durante meses. Alias, vale registrar que o primeiro show que fui na vida foi dos Titãs. Foi num lugar bem parecido com esse, num parque aberto, em dia ensolarado, com o Branco Mello vestido todo de vermelho e o Marcelo Fromer simpaticamente distribuindo autógrafos após o evento. Quando ouço os trabalhos atuais dos Titãs fico envergonhado, mas quando revejo a surrada VHSs deste show eu me lembro que a banda já teve muito valor.