quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

FELIZ NATAL

Posto os meus discos prediletos de 2011 ano que vem! Agora deixo a todos um Feliz Natal. Até 2012!

RETROSPECTIVA 2011: Bandas que acabaram / Bandas que voltaram

Sem conversa fiada, ficou claro no titulo sobre o que este post trata: bandas que encerram as atividades e bandas e voltaram neste ano de 2011. Vamos a elas!

BANDAS QUE ACABARAM

White Stripes
Logo no começo do ano, o nada acomodado Jack White decidiu colocar um fim amigável em sua parceria com Meg White. Apesar do White Stripes ser uma das bandas mais interessantes que surgiu na ultima década, Jack tem tantos projetos (dentre eles o ótimo The Reconteurs) que é difícil sentir falta da dupla, que muito provavelmente daqui alguns anos voltará com disco novo e tour extremamente disputada.

R.E.M.
O R.E.M., que lançou este ano o ótimo Collapse Into Now, estava em um de seus melhores momentos, compondo músicas com sonoridade crua e bastante rockeiras, remetendo até mesmo ao excepcional começo da banda. Foi justamente neste ponto que a banda decidiu encerrar as atividades. Sem tour de despedida, sem grandes explicações. Um fim digno para uma banda digna!

Sonic Youth
A banda mais influente do rock alternativo encerrou as atividades após fazer seu último show no Brasil no festival SWU. O fim da banda veio com a separação do casal Kim Gordon e Thurston Moore.

LCD SoundsystemÓtima banda encabeçada pelo grande James Murphy que decidiu botar um fim em sua curta e intensa carreira, com direito a um espetáculo histórico no Madison Square Garden. Nada mal.

Silverchair
Esse bom trio decidiu por fim a suas atividades de maneira bastante pacifica entre os integrantes. A grande verdade é que a banda não da mais retorno, sendo assim, cada um foi buscar novas experiências. Daniel Johns, por exemplo, está trabalhando com trilha sonora. Não se espantem se a banda voltar daqui alguns anos.

Pedra
Grande banda do brasileira que fundia com propriedade a sonoridade rockeira de bandas dos anos 70 com uma brasilidade característica do rock nacional. Com falta de espaços para tocar, o fim foi praticamente inevitável. 


BANDAS QUE VOLTARAM

Obs: Apesar de bandas como o Black Sabbath, Beach Boys, Stone Roses e The Darkness terem anunciado a volta das formações originais, não citarei elas com maiores detalhes pois as voltas ocorrerão de fato apenas no ano que vem.

Blink 182
Mesmo não gostando da banda, fiquei na expectativa de ouvir os novos sons do grupo devido a competência do baterista Travis Barker. E não é que a longa pausa na carreira e alguns anos de maturidade ajudaram a banda. Tá certo, as músicas novas não são grande coisa (muito menos as velhas), mas até que tem algumas partes interessantes.

System Of A Down
Mesmo sem lançar disco novo, o SOAD voltou após anos de hiato, passando pela primeira vez pelo Brasil em shows em São Paulo e no Rock In Rio.

Limp Bizkit
A banda do chatíssimo Fred Durst e de músicos talentosos lançou um novo disco contendo letras pavorosas, vocais ridículos e instrumental preciso dos tais músicos talentosos. É mais do mesmo, só que desta vez, com menos holofotes da mídia.

Outras bandas voltaram, dentre elas o RPM, mas honestamente acho tão irrelevante que nem vou avaliar.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

RETROSPECTIVA 2011: Mortes

Chegou a hora de falar dos grandes músicos que nos deixaram neste ano de 2011. Mas antes gostaria de fazer um adendo, citarei apenas aqueles que eu conhecia o trabalho antes deles morrerem. Digo isso porque fui bombardeado diariamente com noticias de ótimos artistas que faleceram, mas que em grande maioria nunca tinha ouvido falar. Se eu citar aqui todos eles a lista daria fácil mais de 100 pessoas.

Sem choradeira vamos logo relembrar esses grandes nomes da música. Um pequena, mas sincera homenagem.

Mick Karn (24/07/1958 - 04/01/2011)
Lendário baixista do Japan.

Trish Keenan (28/091968 - 14/01/2011)
Jovem vocalista do Broadcast.

Gary Moore (04/04/1952 - 06/02/2011)
Guitarrista que uniu com qualidade o pop e blues em discos clássicos como Still Got The Blues de 1990. Fez parte do power trio irlandês Skid Row (não confundir com a banda do Sebastian Bach), da banda de jazz-rock Colosseum e do Thin Lizzy.

Joe Morello (12/02/1928 - 12/03/2011)
Um dos maiores bateristas de jazz de todos os tempos. Lembrado por ter feito parte do The Dave Brubeck Quartet, onde gravou o clássico Time Out de 1959. Os compassos quebrados são características de seu estilo.

Lula Cortês (09/05/1949 - 26/03/2011)
Músico responsável por fundir a música regional nordestina com o rock psicodélico. Gravou ao lado do Zé Ramalho o cultuado disco Paêbirú de 1975.

Mike Starr (04/04/1966 - 08/04/2011)
Baixista da formação original do Alice In Chains.

Cornell Dupree (19/12/1942 - 08/05/2011)
Lendário guitarrista de R&B que fez história ao gravar nos grandes discos de Aretha Franklin. Acompanhou também Ringo Starr e Miles Davis.

Gil Scott-Heron (01/04/1949 - 27/05/2011)
Músico e poeta, criador do canto falado, base vocal para o estilo que predomina o rap.

Wild Man Fischer (06/11/1944 - 16/06/2011)
Compositor e interprete de música experimentais. Companheiro de Frank Zappa em muitas dessas experimentações.

Clarence Clemons (11/02/1942 - 18/06/2011)
Comumente chamado de The Big Man, Clarence Clemons permaneceu por quase 40 anos como saxofonista da E Street Band, banda que tornou-se lendária acompanhando Bruce Springsteen, dentre outros artistas como Bob Dylan, David Bowie, Peter Gabriel, Sting, Ringo Starr e Meat Loaf.

Amy Winehouse (14/09/1983 - 23/07/2011)
Dispensa apresentações. Uma das mais talentosas cantoras da última geração. Uniu com talento r&b, jazz e pop, conseguindo trazer os estilos novamente para o mainstream com o disco Back To Black.

Jani Lane (01/02/1964 - 11/08/2011)
Vocalista da banda de hard rock, Warrant.

Manito (03/04/1944 - 09/09/2011)
Multi-instrumentista brasileiro conhecido por ter feito parte d'Os Incríveis e do grupo progressivo Som Nosso De Cada Dia.

Dj Mehdi (20/02/1977 - 13/09/2011)
Dj e produtor francês de house

John Du Cann (05/06/1946 - 21/09/2011)
Guitarrista inglês que passou por diversas bandas, mas que deixou seu maior legado no Atomic Rooster.

Redson (1962 - 27/09/2011)
Pioneiro do punk rock no Brasil, guitarrista/vocalista/líder da banda Cólera. Uma das cabeças mais inteligentes desta cena.

Bert Jansch (03/11/1943 - 05/10/2011)
Violonista escocês, conhecido por ter feito parte da banda folk Pentangle. Influência declarada de músicos como Jimmy Page, Neil Young, dentre outros.

Hubert Sumlin (16/11/1931 - 05/12/2011)
Lendário guitarrista de blues que fez parte da banda do Howlin' Wolf. Influência declarada de músicos como Eric Clapton, Keith Richards e Jimi Hendrix.

Sam Rivers (25/09/1923 - 26/12/2011)
Saxofonista de vanguarda que se envolveu em trabalhos com Miles Davis e Billie Holiday. Um dos grandes nomes do free jazz.

Jim Sherwood (08/05/1942 - 25/12/2011)
Saxofonista da Mothers Of Invention, banda que acompanhou Frank Zappa em discos como Freak Out! de 1966.

Piska (1951 - 30/12/2011)
Guitarrista do Casa das Máquinas que passou também pelas bandas de Ney Matogrosso e Gal Costa. Como produtor foi um dos principais responsáveis pela explosão de duplas como Zezé Di Camargo & Luciano e Leandro & Leonardo, além do esquecido e nada saudoso KLB.

Steve Jobs (24/02/1955 - 05/10/2011)
Tá certo, ele era "apenas" um empresário, mas um empresário que mudou a maneira de produzir, comprar e ouvir música com suas criações e que por isso vale ser citado. Sem contar sua contribuição artística para o cinema ao comprar a Pixar.

Coloquem nos comentários quem faltou na lista. Recordar o nome das pessoas é uma forma de manter o trabalho delas sempre vivo. Um RIP para todos.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

TEM QUE OUVIR: Death - Symbolic (1995)

É difícil explicar a importância do Chuck Schuldiner e do Death para quem não está familiarizado com o metal extremo, mais precisamente o death metal. Sendo assim, recomendo apenas a audição daquele que é um dos melhores discos de metal de todos os tempos, independente dos subgêneros. Estou falando do Symbolic (1995) do Death.


O Death tem grandes álbuns, dentre eles o impecável Individual Thought Petterns (1993). Mas tenho uma ligação afetiva com o Symbolic. Lembro de ver a capa deste CD na coleção de dois dos meus antigos professores de guitarra, curiosamente um ligado a música country e outro ao jazz. Sendo assim, ficava intrigado com o quê aquela capa medonha fazia ali no meio. Logo que tive acesso a download de músicas, esse foi um dos primeiros discos que fui buscar. Daí pra frente é a mesma história com todos que já ouviram o álbum, um misto de surpresa e empolgação ao escutar faixas extremamente pesadas, mas com uma fluência natural, sem apelar para conceitos musicais caricatos, praga que parece infestar o metal extremo.

Logo na abertura do álbum temos a inacreditável faixa titulo "Symbolic". O riff inicial de Chuck é agressivamente cadenciado. A bateria do Gene Hoglan ainda hoje é referência de como soar criativo. Em tempos onde a bateria do death metal se resume a blast beats descontrolados numa velocidade intragável e milimetricamente editado, Gene Hoglan surge com levadas com referência de jazz, embora sempre com uma pegada fortíssima, característica presente ainda com mais nitidez na impressionante "Zero Tolerance".

Em "Empty Words" o vocal gutural de Chuck, estilo de cantar que caracterizou o death metal, é feito com maestria. Mesmo sua voz soando extremamente rasgada, é possível entender perfeitamente o que ele fala, o que nem sempre acontece no estilo. As letras de Chuck fogem das criticas óbvias ao mundo. Ainda quando trata da alienação da humanidade perante religiões, faz isso com uma sensibilidade poética espantosa. 

"Sacred Serenity" é tecnicamente impecável, chegando a flertar em alguns momentos com o metal progressivo. Passagens melódicas com guitarras limpas transcendem o gênero. Já em "1,000 Eyes" é possível enxergar a base para várias bandas posteriores, dentre elas o Children Of Bodom.

O talento como compositor de Chuck é perceptível também em seus solos, vide "Without Judgment", onde a influência de música barroca é nítida. Já no que se refere aos riffs, poucas músicas superam a clássica "Crystal Mountain" e seus timbres limpos de guitarra em acordes dissonantes, mais uma vez guiados pelas viradas entorpecidas do Gene Hoglan. 

Um fator que também chama atenção no disco é a qualidade da produção. O timbre do baixo e do bumbo formam uma massa sonora bastante encorpada em faixas como "Misanthrope". Mas quem fecha o álbum é a progressiva e extremamente complexa "Perennial Quest", inclusive de final bastante climático e viajante.

Concordo que a audição do disco não é das mais fáceis, afinal, além do death metal ser um estilo de características incisivas, os arranjos do Death exigem atenção. Todavia, quebrada assa primeira barreira, fica fácil adorar o Symbolic.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

RETROSPECTIVA 2011: Shows do ano

É difícil fazer uma lista de melhores shows do ano quando o intenso número de atrações no país e o custo exacerbado dos ingressos nos impedem de presenciar muitos espetáculos. Exemplos de shows que não vi: Michael Schenker, Alice Cooper, Paul McCartney, Slash, Wayne Shorter, Marcus Miller, Sharon Jones, Joss Stone, Stevie Wonder, Public Enemy, Morbid Angel, Motorhead, Testament, Chic, SOAD, Immortal, Kyuss, Slipknot, Pearl Jam, X, Lynyrd Skynyrd, Peter Gabriel, Tedeschi Trucks Band, Duran Duran, RHCP, Faust, Philip Glass, Children Of Bodom... só para citar os primeiros que vieram em mente. Todavia, ainda sim posso garantir que tive a oportunidade de assistir excelentes espetáculos, sendo assim citarei aqueles que dentro da minha visão se destacaram.

Obs: Os shows estão numerados cronologicamente. Todos foram espetacularmente maravilhosos dentro da proposta, sendo inviável ordena-los de forma qualitativa.

Obs 2: Honestamente, nenhum dos shows nacionais foram tão excelentes para entrar nos destaques (ainda que o da Céu e do Fernando Catatau tenham sido bem legais).

Gang Of Four - Parque da Independência
Primeiro adendo sobre este show: Foi gratuito! Uma tarde inacreditavelmente fria, sem ninguém conhecido por perto pra atazanar, com o belo visual do Parque da Independência e uma barra de chocolate na mão (não podia beber e o frio combinou com o chocolate). Foi assim que vi o Gang Of Four no Festival da Cultura Inglesa. O show começou morno, mas logo os músicos esquentaram e ai não teve pra ninguém. Uma mistura fantástica de punk rock com new wave que qualquer garoto indie gostaria de alcançar. A cozinha da banda é perfeita e o guitarrista Andy Gill continua espetacular. A presença de palco do vocalista Jon King é um show a parte. Repertório gigante com direito a dois bis e a destruição de um microondas (?) no final do show. Histórico!

Slayer - Via Funchal
Falar sobre Slayer é chover no molhado! Ficar tentando transformar em palavras o que esses caras fazem em cima de um palco é bobagem pura. Repertório estrondoso do começo ao fim e qualidade sonora espetacular. O único momento em que deu problema no som do PA resultou no público esbravejando a letra de "War Ensemble" de maneira uníssona. Lombardo comeu a bateria com farinha enquanto Kerry King e Gary Holt (músico original do Exodus que veio substituindo o Jeff Hanneman) dispararam um riff mais brutal que o outro. Trilha perfeita para um público ensandecido naquele que foi o show mais intenso do ano. Não posso deixar de citar também que neste dia vi o show do Test, banda que vem quebrando tudo em apresentações antes dos shows metal, na rua, de dentro de uma kombi. Sensacional!

Alice In Chains - SWU
O Alice In Chains fez sem dúvida um dos melhores (se não o melhor) show do ano. Jerry Cantrell é um criador de riffs acima da média e executa tudo com um dos melhores timbres de guitarra que eu já ouvi ao vivo. Fora isso, canta como poucos. O substituto do falecido Layne Stayle, o novato William DuVall, interpreta as músicas com alma. Outro músico que merece citação é o baixista Mike Inez, que tem uma pegada fantástica, além de criar linhas extremamente interessantes. Som ótimo, chuva intensa e público realizado (e em alguns momentos emocionado) ao assistir a melhor banda da safra grunge.

Faith No More - SWU
Assisti este show extremamente exausto, molhado, com frio, fome, longe de casa e logo após o excelente show do Alice In Chains. O show do Faith No More tinha tudo para dar errado, mas não deu. Em cima do palco são poucas bandas que conseguem fazer uma apresentação como o Faith No More. Mike Patton é um cantor espetacular. É capaz de entreter uma plateia o tempo inteiro com berros bizarros, pulos frenéticos e palavrões desenfreados. O som também estava ótimo, a cada batida na caixa do Mike Bordin era uma porrada no peito. Outro fato que merece citação foi o clima de terreiro que se instalou no palco. A vestimenta branca e as flores de decoração foram escolhas ousadas e sensacionais. Apresentação memorável!

Esses foram os shows que eu mais gostei. Coloquem nos comentários os que vocês mais gostaram! Abraços!

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

RETROSPECTIVA 2011: Revelações

Como em todo ano, alguns novos artistas ganharam destaque, seja pela música, personalidade ou junção de ambos os fatores. Citarei aqui os que mais chamaram a atenção da mídia musical. Obviamente nenhum deles chegou até aqui de uma hora pra outra. Todos já tinham uma carreira, mas foi somente em 2011 que eles explodiram para o grande público.

1 - Lady Gaga
Calma! Eu sei que a Lady Gaga já toca nas rádios, MTV e estampa capas de revistas há no mínimo três anos. Acontece que foi neste ano que ela confirmou sua relevância no mundo pop. Ela lançou seu segundo disco, o ok Born This Way, e se estabeleceu como uma das principais artistas da atualidade.

2 - Adele
Enquanto a maioria das jovens cantoras fracassam ao tentar imitar a Lady Gaga e apresentam musicas pavorosas (vide Ke$ha e Nicki Minaj), a jovem londrina Adele ganhou aclamação do grande público. Após anos ganhando prêmios e sendo elogiadas por críticos, em 2011 a artista finalmente virou "cantora das massas". Ao misturar r&b, jazz e pop no seu segundo e ótimo disco (21) e unir essa excelência musical a uma personalidade cativante e de dotes físicos que se contrapõem aos padrões de beleza, Adele tornou-se recordista de vendas. A melosa "Someone Like You" evidencia sua precisão enquanto cantora de boas melodias.

3 - Tyler, The Creator
Em tempos onde o hip hop mainstream não aparenta oferecer perigo as estruturas musicais e sociais, o surgimento do coletivo Odd Future e, mais precisamente do "delinquente" Tyler, The Creator, soa revigorante. Suas letras são sujas e os shows do grupo costumam ser caóticos. Um representante verdadeiro do que pode ser considerado o novo gangsta rap. Tyler ganhou fama após o lançamento do clipe polêmico de "Yonkers".

4 - Skrillex
"Justin Bieber quer lançar disco de dubstep", "Korn lança trabalho que flerta com o dubstep", "Keith Flint diz que dubstep é o futuro da música eletrônica". Agora você me pergunta, que raio tá acontecendo pra todo mundo querer saber de dubstep? O que tá acontecendo é que um jovem DJ de passado emo chamado Skrillex tem feito enorme sucesso nos EUA com músicas nocauteantes, vide a espetacular "First Of The Year". A dinâmica e os timbres que ele coloca nas composições virou tendência no mercado. Até agora o trabalho do Skrillex foi extremamente bem feito, cabe descobrirmos qual será o futuro da música eletrônica e como o "dubstep vai dominar o mundo".

5 - Criolo
Na entre safra da MPB e do rock nacional, o hip hop tornou-se a saída. Flertando as rimas do estilo com um instrumental orgânico e cheio de groove (e aqui vale atribuir parte do mérito ao produtor Daniel Ganjaman), o rapper Criolo conseguiu se destacar perante a grande mídia. Ganhou prêmios, foi elogiados por artistas renomados (do Caetano Veloso ao Chico Buarque) e chegou ao grande público. Um alcance surpreendente para um artista verdadeiramente talentoso.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

RETROSPECTIVA 2011

Em breve, aqui no blog, estarei fazendo uma retrospectiva deste belíssimo ano musical que foi 2011. Falarei sobre os bons discos lançados, shows que passaram pelo Brasil e artistas revelações. Não deixarei também de prestar uma homenagem a alguns ídolos que morreram e bandas que encerraram suas atividades. Por tanto, neste mês de dezembro, fiquem atentos para a RETROSPECTIVA 2011.

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

TEM QUE OUVIR: Sonic Youth - Daydream Nation (1988)

O que já era esperado se concretizou: o Sonic Youth encerrou as atividades. Na esteira da separação do casal Kim Gordon e Thurston Moore, o grupo decidiu acabar sem deixar grande expectativa de retorno.

Sempre me atraiu o fato do Sonic Youth ser igualmente amado e odiado, não tentando converter em amor este ódio. Mantiveram-se fiéis as suas características sonoras, independentemente do quão anticomerciais elas pudessem ser. O fato do grupo ter conseguido se estabelecer comercialmente e até mesmo influenciar gerações - vide Nirvana e Pavement - é no mínimo respeitável.

Para homenagear essa banda seminal do rock alternativo, dissecarei o importante Daydream Nation (1988), disco que apresentou para o mundo um estilo barulhento e nada ortodoxo, antes somente visto nos porões de Nova York.


Uma das fortes características do grupo são os ruídos latejantes e as harmonias dissonantes de guitarra, resultado de afinações e técnicas não convencionais. É possível comprovar isso com a faixa que abre o álbum, a estranhamente contagiante "Teen Age Riot".

A influência de punk rock surge na pesada "Silver Rocket", música que adianta o que seria feito anos depois pelo Kurt Cobain. Influenciados também por bandas como Velvet Underground, Television e pelo guitarrista de vanguarda Glenn Branca, o Sonic Youth extrapola os limites do campo harmônico em boas composições, dentre elas a brilhantemente arranjada "The Sprawl" e a furiosa "Cross The Breeze", essa última dona de guitarristas espetaculares.

As colagens de sons em "Eric's Trip" e "Total Trash" formam uma verdadeira parede sonora de guitarras cacofônicas, microfonias intermináveis, harmonias nada convencionais e timbres cortantes. Tudo isso vêm a se contrapor a grande parte do rock que acontecia na década de 1980, onde melodias de fácil assimilação, refrães grudentos e timbres sem ousadia ditavam os rumos da indústria fonográfica.

O esporro continua nas alucinantes "Hey Joni", "Rain King" e "Kissability", repletas de letras paranoicas. Por sua vez, "Candle" soa um pouco mais usual e melódica que as demais, ainda que carregada de dissonâncias.

As experimentações chegam ao ápice na esquizofrênica "Providence", onde qualquer semelhança com música eletroacústica não é mera coincidência. Já a épica "Trilogy" - faixa dividida em três partes e tocada em forma de suíte -, encerra o disco com tudo aquilo que caracteriza a sonoridade do grupo: boas melodias sendo coberta por ruídos, dissonâncias, ritmos retos e momentos de euforia e tensão.

Tive o prazer de assistir o último show da história do Sonic Youth. Ali ficou claro que o som do grupo é diferenciado. Diante de mim estava uma das mais ousadas e influentes bandas americanas. Gostando ou não (e eu gosto muito!) eles fizeram a diferença no rock.

domingo, 20 de novembro de 2011

Trilha sonora para o Dia da Consciência Negra

Como deixei explicito no título do post, hoje é Dia da Consciência Negra. Não vou e nem quero partir para questões políticas e sociais que envolvem o povo negro e suas lutas legítimas. Também não irei entrar no assunto de todos os estilos que os negros criaram e/ou desenvolveram diretamente. Tão pouco falarei do movimento black que aconteceu no Rio de Janeiro. Hoje o papo vai ser reto. São algumas canções que exaltam o orgulho de ser negro. Agora acomode-se (ou vá para as ruas) ao som de verdadeiras pauladas.


James Brown - Say It Loud, I'm Black & I'm Proud
Não teria como começar a lista sem essa música. O nome da canção já diz tudo (algo como: "Diga alto, eu sou preto e tenho orgulho"). O instrumental cheio de groove é de chacoalhar o esqueleto. Obra-prima da black music.

Billie Holiday - Strange Fruit
A espetacular versão da Nina Simone é talvez mais conhecida, mas a da Billie Holiday me emociona mais. As tais "frutas estranhas" que a música se refere eram os corpos dos negros linchados e expostos nas árvores em Indiana.

Nina Simone - To Be Young, Gifted And Black
Falando em Nina, não poderia esquecer essa pérola de uma das artistas que mais lutaram pelos direitos civis.

Nina Simone - Backlash Blues
Seja pela questão musical ou social, Nina Simone merece mais de uma música. Essa é uma paulada.

The O'Jays - Ship Ahoy
Trazendo na sonoplastia chicotes estalando e cordas duramente amarradas, essa canção dita o rumo épico do disco homônimo, que narra a vinda dos negros nos navios que cruzaram o Atlântico rumo a América. É a música funk/soul em de seus momentos mais progressivos e reflexivo.

B.B. King - Why I Sing The Blues
Por trás daquela doce guitarra e da personalidade divertida, B.B. King também era um cronista no racismo que sentiu na pele.

Max Roach - We Insist! (1960)
Vale lembrar que, no auge das lutas pelos direitos civis, o baterista Max Roach lançou o disco We Insist! (1960), com verdadeiras pauladas de cunho politico racial. Combativo desde a capa.

Charles Mingus - Fables Of Faubus
Seja na versão instrumental ou (mais explicitamente) na versão com letra, o que fica registrado é a inquietação de um artista que não se calou diante da politica racista do governador Orval Faubus, que impediu estudantes negros de irem a escola. 

Burning Spear - Slavery Days
Não se deixe enganar pelo som ensolarado do reggae. Essa música traz a tona o sofrimento de um povo duramente massacrado. 

Steel Pulse - Ku Klux Klan
Falando em reggae, a melhor banda do gênero de fora da Jamaica num hino de resistência. Isso numa performance calorosa. 

Public Enemy - Fight The Power
Afinal, o orgulho e a protesto devem sempre andar juntos. Clássico de uma geração via o grupo mais engajado do hip hop americano.

Wilson Simonal - Tributo a Martin Luther King
Encoberto pela sua polêmica envolvendo a ditadura militar, o engajamento politico de Wilson Simonal, principalmente com relação aos problemas raciais, foi esquecido. Um dos artistas mais populares da música brasileira.

Tim Maia - Rodésia
A base dançante quase esconde o conteúdo revolucionário da faixa, que chama o povo negro para a luta. Ótima canção.

Jorge Ben - Negro É Lindo
Uma das interpretações mais belas do Jorge Ben. Com direito a arranjo lindíssimo. Que groove, que beleza!

Dona Ivone Lara - Sorriso Negro
Falando em Jorge Ben, como esquecer dessa parceria com a gigante Dona Ivone Lara. O samba sempre proporcionando encontro históricos.

Gerson King Combo - Mandamento Black
Um verdadeiro hino. Todo o movimento black que invadiu o Rio de Janeiro na década de 1970 está representado neste post por essa obra-prima. A bateria e o baixo da música são uma aula de funk.

Rappin Hood - Sou Negrão
Nesta música temos o competente rapper Rappin Hood em parceria com a Leci Brandão em uma bela mistura de rap com samba. A letra cita vários ídolos negros da política, do esporte e das artes. A versão original feita pelo grupo Posse Mente Zulu (também do Rappin Hood) é de audição obrigatória.

Racionais MCs - Nego Drama
Já cantando por Seu Jorge e até mesmo Eduardo Suplicy, mas principalmente ecoado nas favelas de São Paulo, "Nego Grama" é um perfeito retrato da realidade em forma de música.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Os 60 anos do mestre Lanny Gordin

Um dos maiores guitarristas brasileiros (ele nasceu na China, mas sua vida/carreira foi construída no Brasil) está comemorando 60 anos. Lanny Gordin, artista que felizmente tive a oportunidade de estabelecer um contato pessoal, vai comemorar a data com o lançamento de um CD e DVD ao vivo, que contará com a participação especial de Pepeu Gomes, Luís Carlini e Edgard Scandurra. Mais informações sobre o show e sobre como ajudar o projeto vocês encontram aqui: http://mobberblog.wordpress.com/2011/10/28/mobilizacao-para-os-60-anos-de-lanny-gordin/


Para quem não conhece a carreira deste lendário músico, recomendo que escutem cada uma das canções que postarei abaixo. Seu trabalho é a comprovação de sua genialidade.

1 - Um dos primeiros trabalhos do Lanny Gordin foi com artistas da Jovem Guarda, dentre eles Silvinha Araújo e Wanderlea. Uma das gravações mais interessantes de Lanny neste período foi com Eduardo Araújo. A guitarra carregada de fuzz era uma novidade no Brasil e o Lanny Gordin aplicou muito bem o efeito em uma música bastante pesada para a época (1968). Detalhe para o berro de Eduardo Araújo que antecede o riff. "Mister Lanny" quebra tudo!

2 - Mesmo que tenha começado a se destacar com artistas da Jovem Guarda, Lanny Gordin já era conhecido ainda adolescente por tocar na famosa boate de seu pai, a Stardust, localizada em São Paulo. Por essa boate passaram músicos como Heraldo do Monte e Hermeto Pascoal, sendo que foi com esse último que Lanny Gordin montou o Brazilian Octopus, grupo que continha o também guitarrista Olmir Stocker (Alemão).

3 - A carreira de Lanny Gordin subiu outros patamares quando ele começou a tocar com artistas da Tropicália. Lanny foi responsável em grande parte pela sonoridade rockeira e psicodélica do movimento, sendo reconhecido como o mais talentoso guitarrista do Brasil por ícones como o maestro Rogério Duprat. Dentre todos os discos que Lanny gravou na Tropicália, os prediletos dos guitarristas são os com a Gal Costa, principalmente por serem os mais psicodélicos e experimentais.

4 - Lanny acompanhou os artistas tropicalistas também fora do Brasil. Um dos vídeos mais interessantes que estão no YouTube é o dele tocando com Gilberto Gil e Caetano Veloso logo quando eles voltaram do exílio. Acho imprescindível a audição do Álbum Branco (1969) do Caetano e Expresso 2222 (1972) do Gilberto Gil para entender melhor a música brasileira e o trabalho do Lanny Gordin.

5 - De todos os discos gravados por Lanny (e não são poucos) o meu predileto é o autointitulado álbum de estreia do Jards Macalé, lançado em 1972. Nele há canções geniais, harmonias intrigantes e arranjos fantásticos, executados apenas com bateria (tocada pelo espetacular Tutty Moreno), violão e baixo (que Lanny também tocou). 


6 - Ainda na década de 70, Lanny Gordin tocou com Rita Lee (no bom disco Build Up), Erasmo Carlos (no clássico Carlos, Erasmo), Tim Maia (a guitarra de "Chocolate" é dele), Antônio Carlos & Jocáfi (a guitarra de "Kabaluerê" não poderia ter outro dono), além de ter acompanhado ao vivo Tom Zé, Jair Rodrigues e Elis Regina.

7 - Infelizmente, do final da década de 70 até o final da década de 90, Lanny Gordin viveu praticamente no ostracismo, isso porque passou por problemas mentais relacionados ao abuso de LSD, chegando a ser internado 4 vezes em sanatório e desenvolvendo esquizofrenia. Ainda sim é possível ouvir sua guitarra em trabalhos com o Aguilar e a Banda Performática, Catalau, Itamar Assumpção, Chico César e Vange Milliet. Sua volta por cima aconteceu definitivamente com a ajuda do Luis Calanca, dono da Baratos Afins, que gravou e lançou um disco solo de Lanny em 2001. O trabalho desencadeou no Projeto Alpha e mais recentemente no grupo Kaoll. Lanny também lançou em 2007 um disco chamado Duos, que contém a participação de todos os grandes ícones da Tropicália (Gal, Gil, Caetano, Macalé) e seus fãs da nova geração, dentre eles Zeca Baleiro, Fernanda Takai, Adriana Calcanhoto, Max de Castro e Rodrigo Amarante. Neste período é interessante notar que Lanny praticamente abandonou o fuzz e mergulho de vez em harmonia complexas, solos free e sonoridade contemporânea.

Ao conhecer pessoalmente o Lanny Gordin percebi que ele é ainda maior que sua música, sendo um sujeito de coração doce e que, apesar de toda dificuldade, transmite alegria e conhecimento para todos que o rodeiam. Por isso Lanny é um mestre, mas não apenas da música, mas também da vida. Parabéns, Lanny. Vida longa!

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

TEM QUE OUVIR: Pearl Jam - Ten (1991)

É plausível entender o movimento grunge como restrito a um período, já que muitas bandas ficaram no passado. A exceção talvez seja o Pearl Jam, que sobrevive lotando estádios, lançando discos e comprando brigas na indústria da música. Mas essa força tem como origem o Ten (1991), álbum de estreia do grupo, que chamou atenção logo quando lançado, chegando a vender mais que qualquer outro disco das bandas de Seattle, incluindo o Nevermind do Nirvana.


É interessante notar que, se o Alice In Chains tinha o som bastante calcado no heavy metal e o Nirvana no punk rock, o Pearl Jam se aproximava mais do hard rock. Isso se explica no fato do grupo ter sido formado nos vestígios do Mother Love Bone, grupo atuante da região que terminou com a morte prematura de seu vocalista, o Andrew Wood. Musicalmente, o riff da ótima faixa "Once" já entrega esse tendência hard.

Assim como em outras bandas grunge, o vocalista é peça fundamental para formular o conceito e a imagem do grupo. No Pearl Jam, Eddie Vedder fez isso com primor, como fica claro nos vocais e na letra dramática do hit "Alive". Destaque também para o solo melódico de Mike McCready, que com seus timbres cortantes constrói momentos de grande qualidade guitarristica. Isso pode ser percebido também em "Even Flow", um dos hinos daquela geração, dona de riff e refrão pegajoso.

Tecnicamente, o músico de maior destaque é o baixista Jeff Ament, ora de forma pesada ("Why Go"), ora com sensibilidade e senso melódico incrível ("Black"). No entanto, seu melhor desempenho está na introdução de "Jeremy", gravada com um incrível baixo de 12 cordas. O clipe paranoico da música teve grande rotação na MTV, contribuindo para o sucesso da banda.

Jeff Ament ataca seu baixo fretless na acústica e "zeppelina" (os violões são total Jimmy Page) "Oceans". Na sequência temos "Porch", música com solo extremamente simples e melódico, característica que o grunge trouxe para década de 1990, sepultando a virtuosidade gratuita do hair metal.

Já as letras tipicamente desiludidas e melancólicas do grunge aparecem na ótima balada "Garden" e na esquizofrênica "Deep", mais uma vez repleta de ótimas guitarras.

A longa "Release" encerra o disco da mesma forma que começou, com ritmos tribais, guitarras ruidosas, sussurros de Eddie Vedder e linha de baixo minimalista. Sem dúvida um álbum essencial que abriu as portas mercadológicas para uma nova e excelente safra de bandas, e também para as famigeradas camisas de flanela.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

TOP 5: New Metal (Nu Metal)

Se tem uma vertente musical dentro do rock que é avacalhada injustamente é o new metal. Também conhecido como nu metal, o estilo incorpora o peso do thrash metal (vide Sepultura) com as letras desiludidas do grunge (vide Alice In Chains) e, algumas vezes, elementos do hip hop, como o canto falado, beat retos e a presença de DJs. Afinações baixas e dissonâncias também fazem parte da estética. Sem mais delongas, citarei aqui algumas bandas legais do estilo.

1 - Korn
O Korn é um dos precursores do estilo, sendo que o sucesso deles desencadeou em outras centenas de bandas com a mesma sonoridade. O grupo teve durante muito tempo como base os guitarristas Munky e Head, sendo que ambos construíam arranjos extremamente interessantes com intervalos dissonantes e peso típico das guitarras de 7 cordas. Além disso, a banda tem como membro o ótimo vocalista Jonathan Davis e o bom baixista Fieldy, que tem como característica extrair ritmos e timbres peculiares de seu instrumento.

2 - Deftones
Acho interessante notar que a maioria das bandas de new metal caíram no esquecimento e deixaram de produzir discos relevante, com exceção do Deftones. Mesmo com os problemas internos relacionados ao acidente do baixista Chi Cheng em 2008, a banda não deixou de produzir bons trabalhos, sendo que os dois últimos de produção ultra caprichada. A minha banda predileta do estilo, principalmente por juntar o peso das guitarras de 7 cordas com elementos melódicos herdados do trip hop. 

3 - Slipknot
Eu já disse pejorativamente inúmeras vezes e volto a dizer: "Os 20 malucos dos Slipknot não conseguem o peso dos três do Krisiun". Todavia, a banda tem músicas que mesclam brutalidade com boas melodias de maneira muito coerente. Além disso, por mais caricata que possa ser as máscaras que os integrantes usam, a ideia marketeira funciona muito bem, principalmente ao vivo.

4 - System Of A Down
Essa excelente banda ainda não lançou um único disco sequer ruim. O guitarrista Daron Malakian é uma máquina de riffs e o vocalista Serj Tankian tem um estilo de cantar que lembra muito o Frank Zappa (tanto fisicamente quanto "timbristicamente/melodicamente"). A mistura de metal com música folclórica da Armênia é ao mesmo tempo estranha, divertida e encantadora. Grande banda!

5 - Incubus
No meu modo de ver, Disturbed, Mudvayne, Helmet e Incubus são bandas bem legais, mas não são propriamente new metal. Todavia, como todas elas são chamadas de new metal e eu gosto muito de Incubus e não consigo pensar em nada melhor, deixarei eles aqui no ranking.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

TEM QUE OUVIR: Plebe Rude - O Concreto Já Rachou (1985)

Em meio a ascensão do rock nacional na década de 1980, era comum a distinção de grupos repartindo-os em cenas locais. Daí veio o tal "Rock de Brasília", liderado por Legião Urbana, Capital Inicial e Plebe Rude, sendo essa última, ao meu ver, disparado a banda mais interessante, embora menos lembrada. O álbum O Concreto Já Rachou (1985) comprova isso.


Logo de cara temos a emblemática "Até Quando Esperar", música de texto forte, arranjo de cordas imponente e guitarras marteladas. Uma das grandes características da Plebe Rude é que, apesar do espírito punk, as canções são tão melódicas que a agressividade do estilo vira fator exclusivo das letras.

O engajamento politico continua em "Proteção", uma típica canção de protesto que o Capital Inicial sempre sonhou fazer e nunca conseguiu. Na atemporal "Minha Renda", a Plebe ataca brilhantemente o mercado fonográfico. A participação pontual do Hebert Vianna é genial. Alias, foi ele quem produziu o disco.

"Johnny Vai A Guerra", no auge de sua simplicidade, tem um riff de guitarra consistente, além de ótima linha de baixo. A letra contestadora torna a canção um típico hino juvenil. Vale lembrar que o Brasil ainda vivia o final de sua truculenta ditadura militar.

As influência de punk rock e new wave ficam evidentes nas frenéticas "Sexo e Karatê" e "Meu Jogo". Já em em "Brasilia" são as vozes arranjadas numa métrica irregular - uma mais melódica, outra mais falada - que merecem atenção. Essa característica vocal tornou-se uma das marcas registradas da Plebe Rude.

O disco é curto - um mini-LP, o que hoje talvez seria um EP -, mas tem boa produção e composições melhores ainda. Fez bastante barulho quando lançado. Álbum obrigatório para entender o rock nacional, principalmente no que se refere a famigerada cena de Brasília.

domingo, 30 de outubro de 2011

A "nova" safra da música brasileira

Após o vexame que foi o VMB 2010, festa da MTV Brasil onde o grande premiado foi o Restart, a emissora decidiu focar sua programação em outro conceito e público. Desde o começo de 2011, entraram novos bons programas na grade da emissora e novos artistas começaram a despontar representando o atual cenário da música brasileira. O grande problema é que a maioria destes artistas, apesar de interessantes, não são o que há de mais legal na música atual do país. Algumas cantoras são pseudo-experimentais e baseiam seus arranjos numa mistura que mais parece uma "tropicalia contemporânea cibernética de quinta categoria" (sim, aqui tentei descrever o som da Karina Burh). Sendo assim, venho aqui deixar minha opinião sobre quais são os artistas/bandas mais interessantes na música popular brasileira atual.

Obviamente a música brasileira atual tem MUITOS outros grandes artistas, mas o espaço e o tempo não permite citar todos, portanto, faça sua pesquisa e vá de encontro a outros nomes talentosos.

Hurtmold
Hurtmold é um grupo instrumental que tem produzido ótimos discos, além de acompanhar o Marcelo Camelo em sua carreira solo. Mas o interessante mesmo é o trabalho do grupo longe do eterno Los Hermanos, onde a música é mais trabalhada e ganha movimento ao passar por diversos estilos, dentre eles jazz e post-rock.

Céu
A Céu já é uma cantora experiente quando se comparada as novas cantoras que desapontaram no país recentemente. Sua música tem forte influência do samba, reggae, dub e afrobeat. Ela conseguiu grande sucesso fora do país, principalmente na Europa, chegando até mesmo a gravar com o pianista Herbie Hancock. Seu disco Vagarosa de 2009 é de audição obrigatória para quem gosta de música brasileira.

Cidadão Instigado
Apesar de ser comumente rotulado como uma banda de rock, a mistura de psicodelia com música brega é tão forte que o grupo pode ser também enquadrado dentro da MPB. O líder do grupo é o talentoso Fernando Catatau, um cantor de personalidade, letrista talentoso, guitarrista estupendo e produtor experiente. Seu trabalho não se resume ao Cidadão, tendo participado de discos da Karina Burh, Vanessa da Mata, Céu, Otto e fazendo show no Coletivo Instituto. Como produtor já trabalhou com Los Hermanos e Arnaldo Antunes, mas seu trabalho mais primoroso é mesmo o disco UHUUU! (2009) do Cidadão Instigado.

Marcelo Jeneci
O talentoso compositor e produtor Marcelo Jeneci é uma das principais novidades que despontou da MTV para o grande público. Compositor de sucessos como "Amado" da Vanessa da Mato, ele chega agora com trabalho completamente autoral, tanto na execução, composição e produção. A bela balada "Felicidade" e o respeito entre os artistas o levaram a grandes eventos, como o Rock In Rio.

Criolo
Criolo (ou Criolo Doido) é sem dúvida uma das grandes revelações do ano. Com a ajuda do Daniel Ganjaman e de excelentes músicos de apoio, o rapper despontou para o grande público com o lançamento do ótimo álbum Nó Na Orelha. Apesar de ter os alicerces fincados no rap, seu trabalho não se restringe ao gênero, sendo na minha visão um perfeito relato do que é a música brasileira urbana, com influências que vão do samba à Vanguarda Paulista. De sonoridades múltiplas, arranjos primorosos, letras bem amarradas e convicção emocionante na interpretação, Criolo tem tudo para continuar a oferecer grandes discos.


Romulo Fróes
Sabe aquele "samba perninha", pós-Los Hermanos, classe média, feito por gente que se diz influenciada pelo Nelson Cavaquinho, mas que o maior morro que conhece é alguma lombada da Vila Mariana? Pois então, detesto todos eles. Por sua vez, Romulo Fróes é um dos grandes nomes de uma nova cena paulistana. Seu trabalho é a prova que sempre existe a exceção. Um dos mais talentosos letristas desta geração. 

sábado, 29 de outubro de 2011

TEM QUE OUVIR: The Allman Brothers Band - At Fillmore East (1971)

Nas famigeradas listas dos "maiores álbuns ao vivo da história", um com toda certeza sempre estará lá. Me refiro ao clássico At Fillmore East (1971), gravado pela icônica The Allman Brothers Band com a produção do Tom Dowd. O álbum registra o fechar das portas do Fillmore East, lendária casa de shows em New York do Bill Graham. Todavia, é mesmo o desempenho musical que faz do disco uma obra histórica.


Logo na abertura temos a envenenada "Statesboro Blues", faixa curta - quando se comparada as outras -, mas suficiente para apresentar um dos melhores solos de slide já registrado. O mesmo acontece na ótima "Done Somebody Wrong" (Elmore James).

Os timbres e fraseados cortantes de Duane Allman e Dicky Betts percorrem pelo blues, rock e R&B, casando perfeitamente com o órgão de Gregg Allman, que por sua vez emociona com sua triste voz, provando que a música originalmente negra perde a raça quando interpretada com verdade e emoção.

Mas é na longuíssima "You Don't Love Me" que a magia do disco alcança nível estratosférico, transbordando espontaneidade e competência em improvisos inspirados. Aqui a precisão da cozinha - formada por duas baterias e o baixo envolvente do Berry Oakley - serve de cama para os solistas viajarem por todo o instrumento. O momento solo de Duane Allman é impressionante. O guitarrista faz seu instrumento sorrir e chorar ao executar frases de sensibilidade única. 

A cozinha volta a transbordar competência na ótima "Hot 'Lanta", com direito a um incrível solo de bateria. Nesta música instrumental, o tema principal é dobrado pelas duas guitarras, isso anos antes de bandas como Iron Maiden adotarem tal característica.

"In Memory Of Elizabeth Reed" traz influências latinas para o ritmo da composição, mas é novamente a destreza nas improvisações que mais chama atenção. Os momentos de jam são ainda hoje referência para quem se interessa por música espontânea. As frequentes alterações de dinâmica e andamento no tema da música trazem uma fluidez exuberante. Ainda que a banda seja uma das principais do southern rock, não seria absurdo comparar as improvisações contidas na música com as feitas por mestres do jazz, devido a excelência da execução dos músicos.

Todavia, o apogeu do disco acontece nos mais de 22 minutos da impecável "Whipping Post". Aqui os improvisos chegam a um patamar de tensão ainda hoje incomparável. Em alguns momentos é possível adentrar no território americano, mais precisamente do sul dos EUA, tamanho comprometimento dos músicos com a música que está sendo tocada. Mais que técnica - também impressionante! -, o que ouvimos são artistas entregues a arte de fazer música. Independentemente do quão anticomercial a composição possa ser, o que prevalece é o estado de espirito. Uma lição atemporal.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

TEM QUE OUVIR: Derek And The Dominos - Layla And Other Assorted Love Songs (1970)

Derek And The Dominos foi o projeto do Eric Clapton pós Yardbirds, John Mayall, Cream e Blind Faith. Ou seja, ele já era um músico experiente, que havia ajudado a moldar a guitarra britânica, além de ter renovado o blues e vitaminado o rock com seu fraseado e timbres extremamente influentes. Todavia, a intenção agora era expandir sua musicalidade fundindo o southern rock com a soul music, o blues e até mesmo o pop. Assim nasceu o espetacular Layla And Other Assorted Love Songs (1970), produzido pelo lendário Tom Dowd.


A faixa de abertura é "I Looked Away". Ela remete diretamente a The Band, uma das grandes referências de Clapton na época. 

A impecável "Bell Bottom Blues" tem atmosfera sessentista e linha de baixo ultra melódica do Carl Radle, que casa perfeitamente com a interpretação do Eric Clapton, primorosa tanto vocalmente quanto na guitarra. Linda melodia e profundo refrão. Das melhores baladas do rock.

"Keep On Growing" é um blues rock potente, com introdução que, ritmicamente, remete a música jamaicana, estilo esse que Clapton exploraria futuramente em sua carreira solo. 

O ápice das melodias sentimentais está em "Nobody Knows You When You're Down And Out", canção que emociona logo nos primeiros segundos. A bela letra, os bends bluseiros, o timbre impecável e os teclados e Bobby Whitlock vão direto ao coração. O solo de Clapton é um dos melhores momentos da sua carreira.

Mas não é somente o Deus da Guitarra que brilha quando o assunto é seis cordas. As guitarras de Duane Allman (Allman Brothers Band) saltam aos ouvidos na espetacular "Anyday" e na longa "Key To The Highway". Ambas esbanjam sua interpretação comovente em improvisações fantásticas. No entanto, é a clássica "Little Wing" (Hendrix) que merece mais atenção. Ela foi lançada poucos dias após a prematura morte do autor da faixa, sendo uma homenagem involuntária.

Eis que chegando ao final do disco surge "Layla", sucesso composto por um Clapton apaixonado pela até então esposa de seu amigo George Harrison, Pattie Boyd. Foi encantada pela canção que a musa inspiradora deixou o ex-beatle para ficar com Clapton. A música tem um memorávem riff, grandioso refrão e os melódicos slides do Duane. A parte final da canção, composta pelo lendário baterista Jim Gordon, é de beleza ímpar. É curioso/triste pensar que este grande baterista/compositor, se por uma lado escreveu os ótimos pianos da canção, por outro, em um surto esquizofrênico, assassinou a própria mãe a marteladas. Uma entre tantas maldições que assolaram posteriormente os integrantes do Derek And The Dominos, sendo esse o único registro do grupo. Para muitos, o melhor do Eric Clapton.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Música infantil

Uma opinião é consenso: a educação é fundamental. Ainda mais quando falamos em formação cultural.

Com "educação" me refiro a capacidade de observação, indagação, reflexão e de escolher caminhos para a vida. Essa educação está não somente na escola, mas principalmente no convívio familiar.

Nesta recém passagem do Justin Bieber pelo Brasil, percebi milhares de jovens (e alguns nem tão jovens assim) se descabelando por um ídolo insosso. Nada contra o pop banal ou mesmo quem gosta do astro teen, mas é preciso ter consciência do quão rasteiro ele é ou então você se torna apenas um ectoplasma de pernas.

Esse post pode até ser ingênuo, mas vejo como um serviço de utilidade pública em pequena escala. Postarei alguns projetos musicais destinados ao público infantil. Acredito que se todo pai oferecer músicas interessante aos seus filhos, quando eles crescerem não aceitarão qualquer produto de entretenimento rasteiro, politico demagogo ou mensageiro espiritual salafrário. Tais crianças serão pessoas seletivas. Portanto, eduque seus filhos para que eles não virem marionetes do capitalismo.

Alguns desses projetos fazem apresentações nos SESC's, ou seja, a preço popular. Já alguns discos são facilmente encontrados em sebos, o que pode atrair seus filhos para os formatos físicos, agregando valor à experiência auditiva.

Pequeno Cidadão
O competente letrista Arnaldo Antunes e o excepcional guitarrista Edgard Scandurra encabeçam esse bom projeto que contém a participação de seus filhos. As músicas são verdadeiras viagens lúdicas, explorando a imaginação infantil.

Adriana Partimpim
Adriana Partimpim é nada mais nada menos que a Adriana Calcanhoto em seu projeto de músicas infantis. As músicas em geral são bem tranquilas. Escute a bela e já popular versão que ela fez para "Fico Assim Sem Você" dos subestimados Claudinho & Buchecha.

Patu Fu
O sempre interessante Patu Fu do nada acomodado guitarrista John Ulhoa, lançou ano passado um disco inteiramente gravado com instrumentos de brinquedo. O repertório consiste em clássicos do rock e do pop, interpretados de maneira impar, levando para o palco o experimentalismo do disco. Assista a inacreditável versão para "Live And Let Die" do Paul McCartney.

Os Saltimbancos
Clássico adaptado pelo Chico Buarque com participação de nomes como Nara Leão e os cantores do MPB-4. A história é ótima e gerou canções memoráveis. É fino.

Vinicius Para Crianças - A Arca de Noé
Vinícius de Moraes sendo apresentado via a nata da MPB. Chico Buarque, Milton Nascimento, MPB4, Elis Regina, Alceu Valença, Moraes Moreira, Boca Livre, Ney Matogrosso, Walter Franco... um absurdo!

Grupo Rumo
O álbum Quero Passear (1988) é daquelas maravilhas que só a vanguarda paulista foi capaz de produzir. Letras lúdicas, interpretação vocal singela e divertida, além de arranjo instrumental bem amarrado (e complexo). É demais!

Serge Prokofiev / Roberto Carlos
Pedro e o Lobo (1936) é uma das grandes narrativas infantis da história da música. É uma obra pedagógica que serve como primeira exposição de instrumentos de uma orquestra para uma criança. É uma alegoria musical inteligente e lúdica. E não precisa se intimidar pela aura erudita do compositor russo, visto que a versão narrada pelo Roberto Carlos em 1970 é ultra carismática.

Louis Armstrong
No álbum Disney Songs The Satchmo Way (1969), o espetacular cantor e trompetista Louis Armstrong se joga no repertório dos filmes da Disney. O resultado é tão peculiar quanto sublime. 

The Beatles
Yellow Submarine, o filme, é um dos presentes obrigatórios de todos pai para filho. Psicodelia vem de berço.

Roger Glover
Imagine agora que seu filho já é uma criança crescida e que está começando a se interessar por rock. Apresenta para ele então o fantástico The Butterfly Ball And The Grasshoppers's Feast (ou algo como "O Baile da Borboleta e o Banquete do Gafanhoto"), o disco de estreia do Roger Glover (na época recém saído do Deep Purple) lançado em 1973 com canções teatrais. Participações vocais do disco? Glenn Hughes, Dio e Coverdale. Precisa falar mais?

Uakti
Embora não esteja associado a música infantil, acho que o trabalho do Uakti tem muitos elementos para explorar a imaginação e a percepção de uma criança, principalmente devido o uso de instrumentos não convencionais. É uma forma de introduzir uma forma mais complexa e até mesmo abstrata de composição. Neste caso, ir aos shows e assistir vídeos é melhor do que ouvir os discos. Veja por exemplo essa ótima versão para "O Trenzinho do Caipira" (Villa-Lobos).

Palhaço Carequinha
Pra terminar deixo aqui uma curiosidade: o Palhaço Carequinha tem um disco psicodélico! Tudo bem, não é bem psicodélico, mas tem umas guitarras cheias de fuzz ultra malucas e influência nítida do Ventures. O nome do disco é O Baile do Carequinha (1968). Como não tem nenhuma música do álbum no YouTube, fiquem com a capa do disco. Não é difícil de achar para download.

Uma última sugestão: não apresentem Xuxa ou Peppa Pig para seus filhos. O mundo já é perverso demais e ficará encarregado disso.


*Inclusão pós paternidade:

Mundo Bita
Fiz esse post quando nem sonhava em ser pai. Eis que veio minha filha e descobri o Mundo Bita, projeto brasileiro de música infantil que trouxe para a produção audiovisual infantil canções divertidas, didáticas, lúdicas e que não subestimam a inteligência das crianças. Não há afetação interpretativa, mas sim enredos que abordam o cotidiano dos nossos filhos. Fora que, musicalmente, há uma preocupação em abordar diversos gêneros. Vale ainda dizer que Milton Nascimento, Caetano Veloso e Emicida já contribuíram com o projeto. Eu recomendo.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

TOP 5: Punk Rock Brasileiro

O Brasil perdeu um dos grandes ícones do punk rock. Estou falando do ativista e nada acomodado Redson do Cólera.

Redson era dono de uma atitude musical incrível, mas ao contrário de muitos artistas do estilo, aliava essa energia a belas letras de engajamento social e político.

Para homenagear o músico decidi abordar o punk rock brasileiro de maneira ampla, citando as grandes bandas do estilo e elegendo um TOP 5 do punk rock nacional.

O punk rock brasileiro tem como berço a cidade de São Paulo, ainda que músicos de Brasília reivindiquem o título de precursores do estilo no Brasil. Isto acontece porque alguns jovens músicos que posteriormente vieram a fazer parte do Aborto Elétrico, Detrito Federal, Legião Urbana, Capital Inicial e Plebe Rude (a melhor dentre essas), eram filhos de diplomatas, fato que privilegiou o contato deles com a música de outros países, como a Inglaterra (Sex Pistols) e os EUA (Ramones). Mas o importante é ter em mente que, independentemente do estado de origem, o punk se espalhou por todos o Brasil, indo do nordeste (Camisa de Vênus e Devotos) ao sul (Os Replicantes) do país.

Todavia, foi mesmo São Paulo que teve a maior safra de bandas, dentre elas Olho Seco, 365, AI-5, Restos de Nada e Condutores de Cadáver. Isso tudo em meio a repressão do final de uma ditadura, brigas entre gangues e dificuldades comerciais.

Outra sujeito que merece citação é o Kid Vinil, que no começo da década 1980 teve papel fundamental na divulgação do punk rock e da new wave. Seu programa de rádio era uma das poucas fontes de pesquisa para quem se interessava pelo assunto. Algumas revistas independentes e lojas de discos das galerias também fizeram essa ponte cultural.

Sem mais delongas, vamos para aquelas que na minha opinião são as bandas mais legais do estilo!

1 - Ratos de Porão
Deixando de lado essa baboseira de "traidor do movimento", o Ratos de Porão pode ser facilmente intitulado como a maior banda punk do Brasil. O bom humor, a fúria e sagacidade do João Gordo e as guitarras ultra encorpadas do Jão servem até hoje de inspiração para diversas bandas do estilo, inclusive internacionalmente. Algo interessante no Ratos de Porão é que ainda na década de 1980 eles já flertavam com estilos mais pesados, como o hardcore e o thrash metal, o que faz da banda uma das precursoras do crossover. Brasil (1989) e Ao Vivo (1992) estão entre meus álbuns prediletos da vida.

2 - Inocentes
Ao contrário do Ratos de Porão que prima pelo peso e velocidade, o Inocentes é uma banda "menos" furiosa e mais rockeira - ao menos instrumentalmente -, sendo sua sonoridade a definição clássica do punk rock. O vocalista e guitarrista Clemente é um dos maiores personagens do estilo. Vale lembrar que hoje ele toca também na Plebe Rude. Banda fundamental para começar entender o estilo. Pânico em São Paulo (1986) e Adeus Carne (1987) são clássicos. Até hoje estão na ativa e mandando bem, principalmente em cima do palco.

3 - Cólera
Além de ser um grupo visionário - chegando a lançar discos quando nenhuma outra banda punk brasileira fazia isso e excursionando fora do país ainda na década de 1980 -. o Cólera tem como forte característica as ótimas letra do Redson, que no auge de sua simplicidade retratam o que há de mais honesto e inteligente no punk rock brasileiro. Pela Paz Em Todo Mundo (1986) é a obra-prima da banda, embora eles tenham outros ótimos discos no catálogo quase nunca lembrados, vide o Tente Mudar O Amanhã (1985).

4 - Garotos Podres
Banda oriunda da região do ABC, que por ter surgido no auge das greves e reivindicações operárias, foi diretamente associado ao sindicalismo. Embora politizada e contendo um professor de história a frente do grupo - o icônico Mao -, as letras da banda são bastante humoradas e despertou muitos jovens para o estilo.

5 - Mukeka di Rato
Diferente das outras bandas aqui citadas, o Mukeka não pertence nem ao estado São Paulo nem a década de 1980. Oriundos de Vila Velha (Espirito Santo), eles fazem parte de uma segunda geração, com referências do hardcore e enfrentando um cenário um pouco mais favorável, o que de modo algum torna-os menos legítimos e interessantes. Muito pelo contrário, discos como Pasqualim Na Terra Do Xupa-Cabra (1997) está entre meus discos prediletos do período. Fábio Mozine é o rei da podreira.

Para quem quiser saber mais sobre o punk brasileiro, recomendo o ótimo documentário Botinada: A Origem do Punk no Brasil (Gastão Moreira). Alias, já deixo aqui uma bela frase do Chico Buarque presente no filme: "Se o punk é o lixo, a miséria e a violência, então não precisamos importá-lo da Europa, pois já somos a vanguarda do punk em todo o mundo."

sábado, 1 de outubro de 2011

TEM QUE OUVIR: R.E.M. - Green (1988)

Escolher o melhor dentre tantos grandes álbuns do R.E.M. não é tarefa fácil. Mérito de uma banda de trajetória digna. Todavia, Green (1988) talvez seja o que melhor representa a consistente discografia do grupo, partindo de quando ainda eram ativos no underground, mas já escancarando as portas do mainstream - foi o primeiro a sair por um grande gravadora, a Warner -, equilibrando a atitude rockeira com melodias pop certeiras.


O disco começa com um dos hits da banda, a precisa "Pop Song 89", que teve bastante rotatividade nas rádios americanas. Outra música bastante conhecida é "Stand", faixa em que o guitarrista Peter Buck demonstra todo seu talento melódico e harmônico, fruto da sua influência dos Byrds. Seu ótimo solo recheado de wah-wah é de extremo bom gosto. 

Na bela balada acústica "You Are The Everything", Peter Buck deixa a guitarra de lado e dá o primeiro sinal do seu interesse pelo bandolim, que ele viria a explorar ainda mais posteriormente. Destaque também para o baixo inquieto do Mike Mills.

No entanto, uma das melhores canções do disco é mesmo "World Leader Pretend", onde Michael Stipe coloca para fora o tema central do álbum, a ecologia, assunto que também aparece na ótima "I Remember California", com direito ao tão característico backing vocal do Mike Mills (pra não falar do seu baixo).

Dentre outras canções que chamam atenção está a emblemática "Orange Crush", que passou inúmeras vezes na programação da MTV americana, ajudando a concretizar a fama da banda. Fama essa repudiada na letra de "Turn You Inside Out".

Green representam o auge de um grupo importante e competente, que entrelaça arranjos sofisticados com atitude punk e sonoridade pop. Não por acaso o disco era um dos prediletos do Kurt Cobain.